Saber não é ser, ser é fazer
Itair Rodrigues Ferreira
O progresso é lei da natureza. Todos temos, sem exceção, a oportunidade de progresso concedida por Deus. Entretanto, nosso mundo vem sendo construído, através dos milênios, por homens e mulheres que se destacaram pela potente vontade de realização. A força do querer impulsionou-os na marcha para o progresso. A humanidade deve-lhes o tributo por semear o exemplo de suas atitudes, mostrando como se faz fazendo: progridem e auxiliam o progresso dos outros.
A capacidade de que somos dotados para o sucesso é surpreendente! Há 2.400 anos, Sócrates, o pai da filosofia grega, ensinou-nos: “conhece-te a ti mesmo”. E Lao-Tsé, em seu Tao Te-King, informa: “Aquele que sabe muito sobre os outros pode ser instruído, mas aquele que se compreende é mais inteligente. Aquele que controla os outros pode ser forte, mas aquele que se domina é ainda mais poderoso”.
O saber é muito importante, pois nos mostra o caminho a seguir em nossas escolhas e nos capacita para a vida, tanto assim que o pai da administração moderna, Peter Drucker, cunhou a expressão para o detentor do saber: “trabalhador do conhecimento”. Todavia, é necessário fazer. Saber não é ser, ser é fazer. O indivíduo é aquilo que executa. Somos o que fazemos, o mais é retórica de vaidade. A nossa realidade é o que fazemos.
Pensamento, palavra e ação formam a sequência correta. Tudo começa no pensamento: somos o que pensamos. Quanto à palavra e à ação, “temos um oceano de palavras e gotas de ação”. (1)
Precisamos de ação no bem para o bem de todos. Ganha mais quem faz o bem. “A vida é um jogo de circunstâncias que todo espírito deve entrosar para o bem, no mecanismo do seu destino.” (2)
Confúcio, filósofo chinês do século VI, a. C, afirmou: “Entre as pequenas coisas que não fazemos e as grandes que não podemos fazer, o perigo está em não tentarmos nenhuma”.
Entre o saber e o fazer há uma grande distância. Sabemos que é necessário servir e queremos fazer algo para mudar o panorama do mundo. No entanto, almejando grandes conquistas, nós nos distraímos e nem as pequenas coisas realizamos, perdendo o tesouro do tempo que nos pertence: o agora.
Léon Denis, o apóstolo do Espiritismo, com a parte filosófica, assim se expressou:
“Todo o poder da alma resume-se em três palavras: — Querer, Saber, Amar!
Querer, isto é, fazer convergir toda a atividade, toda a energia, para o alvo que se tem de atingir, desenvolver a vontade e aprender a dirigi-la.
Saber, porque sem o estudo profundo, sem o conhecimento das coisas e das leis, o pensamento e a vontade podem transviar-se no meio das forças que procuram conquistar e dos elementos a quem aspiram governar.
Acima, porém, de tudo, é preciso amar, porque, sem o amor, a vontade e a ciência seriam incompletas e muitas vezes estéreis. O amor ilumina-as, fecunda-as, centuplica-lhes os recursos. Não se trata aqui do amor que contempla sem agir, mas do amor que se aplica a espalhar o bem e a verdade pelo mundo”. (3)
O Espírito Humberto de Campos, por meio da mediunidade sublimada de Chico Xavier, conta-nos um caso verídico, como o são todos os seus casos:
“Um amigo do mundo espiritual lhe contou que viu Simão Pedro, o antigo discípulo de Jesus, chegar ao Rio de Janeiro, perfeitamente materializado, utilizando preciosos fluidos da natureza, nos bosques floridos que marginam Petrópolis, com o objetivo de verificar as realizações cristãs entre os novos discípulos do Evangelho.
Caracterizado com a aparência que possuía na época, na Galileia, e com a mesma indumentária: alpercatas de pobre, cabelos à nazarena, leve bastão a sustentar-lhe o corpo e singela túnica de estamenha, ia o apóstolo, estranho aos automóveis e aos arranha-céus, em busca dos aprendizes do Senhor, cujas rogativas subiam da Terra para o Céu.
Emocionado, ante o frontispício de admirável organização católico-romana, tocou a campainha. Pretendia trocar ideias com os superiores da casa. Um padre bem-humorado atendeu:
— Quem é o Senhor?
— Simão Pedro, para servi-lo.
O clérigo sorriu. Um dos diretores apareceu e ouviram o visitante humilde, com menosprezo.
— Volte segunda-feira com o atestado policial — declarou o orientador da instituição — e providenciarei seu ingresso no asilo. — O psiquiatra organizará sua ficha.
Sequioso de entendimento, pediu Pedro:
— Tenho sede. Permita-me entrar, por obséquio.
— O quê? Entrar? Na esquina encontrará um café e será atendido na água.
Em vista da porta cerrada, o apóstolo atravessou várias ruas e parou junto de simpática vivenda. Perguntou ao jardineiro pelo ministro da igreja reformada que a ocupava.
Em breves momentos, o pastor o recebeu, juntamente com dois jovens presbíteros.
— Sou Pedro, o antigo pescador de Cafarnaum.
O ministro não lhe deu atenção e um dos rapazes disse que isso era um caso de mania ambulatória, loucura circular, coisa que ele vê muito em hospício, onde vai pregar.
O pastor dirigiu-se a Pedro e declarou:
— Pode retirar-se. Aqui não posso recebê-lo. Procure o culto no domingo pela manhã.
Vendo-se novamente sozinho, o ex-pescador galileu varou largo trecho e parou à frente de nobre domicílio. Bateu, acanhado. O dono da casa veio atendê-lo.
Era o diretor de importante organização espiritista que ali residia.
À inquisição inicial, do diretor, acompanhado por dois confrades, respondeu tímido:
— Sou Simão Pedro, o discípulo de Cafarnaum.
O missionário da Nova Revelação que o apóstolo procurara, nominalmente, afirmou calmo:
— Obsessão evidente. Creio esteja ele atuado por argucioso perseguidor invisível.
O outro, demonstrando o seu saber, com pedantismo, mostrando intimidade com Charles Richet, acrescentou que se tratava de criptestesia.
Adiantando-se, Pedro implorou:
— Irmãos, tenho sede de comunhão fraterna em torno do Cristo, Nosso Senhor. Que me dizem do trabalho evangélico na atualidade do mundo?
O principal do grupo afagou-lhe a destra que se movia suplicante e replicou:
— Procure-me na sessão de sexta-feira, depois das vinte horas. Teremos doutrinação.
Fechou-se a porta e o trinco rodou automático.
O antigo discípulo enxugou as lágrimas a lhe deslizarem copiosas do rosto e perguntou a esmo, fixando o céu tranquilo do crepúsculo:
— Senhor, onde estará pulsando o coração de teus aprendizes?!…
Em seguida, silencioso e taciturno, o velho pescador pôs-se de novo a caminho, na direção do mar…” (4).
Será que estamos preparados para um encontro inesperado com um ente superior? Será que o amor que nos ensinou o Cristo de Deus está sendo colocado acima de tudo?
Pensemos nisso e meditemos… enquanto temos tempo!
Muita paz!
Fonte: Correio Espírita
Notas bibliográficas:
1 – Missionários da Luz, André Luiz, Francisco Cândido Xavier, cap. 3, p.27, FEB.
2 – Há dois mil anos, Emmanuel, Francisco Cândido Xavier, Prim. parte, p. 21, FEB.
3 – O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis, 13ª edição, pág. 367, FEB.
4 – Histórias e Anotações, Humberto de Campos, Francisco Cândido Xavier, p. 87 a 89.