Jorge Hessen
Quando o assunto é “drogas”, percebemos que há um número bastante significativo de pessoas que, instantaneamente, associam essa palavra aos produtos cujo consumo não nos é lícito, quais sejam: a maconha, a cocaína, o crack, etc…. No entanto, esquecem-se de que, tanto do ponto de vista físico quanto espiritual, outros produtos tóxicos, e de livre comércio, são tão prejudiciais ou mais perniciosos, até, do que aqueles, como, por exemplo: a bebida alcoólica, o cigarro, as drágeas confeccionadas em laboratórios, etc.. Quantos lares são desfeitos e quantos crimes são cometidos, cuja causa provém de estados de embriaguês? Quantas doenças incuráveis são diagnosticadas em pessoas que se lançaram à autocrueldade, pela dependência da nicotina? Portanto, o fato de a substância ser legal ou ilegal não tem uma relação direta com o perigo que oferece.
Quantas famílias desejariam que reinasse, nas pessoas a quem muito amam, a serenidade frente às crises que enfrentam na vida, e quantas gostariam que inexistissem hábitos autodestrutivos que, equivocadamente, adotam como suposta solução de seus problemas, causando dor e sofrimento a si mesmas e ao grupo familiar a que pertencem?
Aqueles que já se iniciaram nos maus vícios, mas ainda não estabeleceram um nível de intimidade maior com as drogas, os pais podem e devem ampará-los com serenidade, ajudando-os, fundamentalmente, a não se tornarem dependentes dessas substâncias tóxicas, além de lhes ensinar a manterem acesa a chama da esperança, incutindo neles a idéia de que estão, apenas, vivendo momentos difíceis de ajuste da alma em desalinho. Em razão disso, não devemos abandoná-los à própria sorte, pois ninguém se lança ao vício para ser infeliz, uma vez que todos almejam a felicidade.
Para todo dependente químico existe um tratamento específico. Quando a dependência é única e exclusivamente física, esta é anunciada nas crises de abstinência com reações de menor expressão, e a cura é relativamente fácil. Porém, quando a dependência é psicológica, as reações são bem mais agressivas, e a cura requer muito mais tempo. Daí a necessidade da compaixão, da renúncia e do irrestrito afeto familiar.
Os filhos, quando crianças, registram em seu psiquismo todas as atitudes dos pais, tanto as boas quanto as más, manifestadas na intimidade do lar. Crescem, observando os adultos utilizando tranquilizantes ao menor sinal de tensão ou nervosismo e, quase que imediatamente, presenciam os primeiros sinais de serenidade e equilíbrio exercidos pela ação do medicamento. Quando ouvem os pais se referirem a uma xícara de café para se sentirem estimulados ou a um cigarro para se sentirem mais calmos, essas cenas passam a existir, por muito tempo, em seus escaninhos mentais e, quando se defrontam com as primeiras dificuldades, inerentes a todo ser em evolução, buscam nas drogas a pretensa harmonia existencial.
São atentos, igualmente, às atitudes dos pais dos amigos com os quais se relacionam e a contradição, então, transparece, posto que muitos deles têm maneiras diversas de lidar com um filho. Alguns são totalmente contra o uso de quaisquer drogas, legalizadas ou não, mas a maioria considera socialmente aceitável o consumo de bebidas alcoólicas, o vício do cigarro, o uso de “energéticos”, etc.
Isso tudo, sem falar no grave problema dos benzodiazepínicos, barbitúricos e metadona, cuja ingestão permanente pode causar dependência como qualquer outra droga alucinógena ou não. Na verdade, as drogas não deveriam ser avaliadas, tendo por base a ilegalidade ou legalidade, mas pelos malefícios que elas acarretam à saúde. Os adultos têm sempre “desculpas de ocasião” e formas de justificar esses comportamentos paradoxais.
Contudo, trata-se de um modelo de comportamento que não serve de referencial a alguém, muito menos àqueles que são adeptos aos moldes que Jesus nos veio ensinar.
Foi na década de 60 que surgiram os tranqüilizantes chamados, cientificamente, de “ansiolíticos”, destinados a combater estados de ansiedade, ou melhor, combater estados de desordens psíquicas e questões emocionais da vida cotidiana. O problema ganha proporções imensuráveis, quando pesquisas atuais apontam que uma das tais drogas, o diazepan, tornou-se um dos “remedinhos” mais vendidos da atualidade. A propósito, cabe aqui ressaltar que profissionais competentes e respeitados, ligados à saúde mental, que diariamente lidam com as emoções humanas, já consideram que prescreve-los equivale à clara admissão de um fracasso terapêutico da psiquiatria.
Há aqueles que, ao menor sinal de angústia, de desconforto, lançam mão de um “remedinho”, de uma “cervejinha”, de um “cafezinho”, de um “cigarrinho”, para aplacar a ansiedade de forma quase que instantânea. Esse é o princípio básico de paradigma de comportamento dependente, que observamos em um imenso número de adultos e pais, no qual, sem “desconfiômetros”, estão mergulhados. Destarte, introjetam no inconsciente dos filhos, alunos, e jovens em geral, a idéia de que os problemas podem ser resolvidos, como que por um passe de mágica, com a “ajudazinha” de uma “substanciazinha”, originária da cana-de-acúcar, denominada álcool; de uma “plantinha” inocente, do gênero nicotiana (solanaceae), conhecida por tabaco, de um “alcaloidezinho”, também inofensivo, conhecido por cafeína, e assim por diante.
Porém, todos atuam sobre o sistema nervoso central e alteram todo o metabolismo do indivíduo, igualmente.
Para muitos psicólogos, se a questão “drogas” fosse abordada de forma adequada ao nível de compreensão da criança ou do adolescente, deixando de ser algo secreto e misterioso, perderia muito de seus atrativos. Para outros especialistas, o fato de um jovem experimentar drogas não faz dele um dependente. Sim, porém, como ninguém tem como monitorar o que se passa nas idéias das pessoas, e muito menos pela cabecinha de um adolescente, mesmo porque, em se tratando de “drogas”, a atitude dos jovens é extremamente silenciosa, principalmente porque todos eles sabem o quanto a sociedade discrimina quem com elas se afiniza, experimentar não constitui problema algum àqueles que têm suas emoções bem ajustadas no momento da curiosidade, mas, para outros, não tão bem estruturados psicologicamente, experimentar é sinônimo de “continuar experimentando” sempre e a qualquer hora.
Por esta razão, os pais devem estar sempre atentos e, incansavelmente, buscando um diálogo franco com os filhos, sobretudo, amando-os, independentemente, de como se situam na escala evolutiva. Os pais não se devem desesperar, mormente no mundo de hoje. A melhor maneira de tentar neutralizar a atração que as drogas exercem será estimular os jovens a experimentar formas não-químicas de obtenção de prazer. Os “baratos” podem ser obtidos através de atividades intelectuais, artísticas, esportivas, etc…. Cabe aos adultos tentar conhecer melhor os jovens para estimulá-los a experimentar formas mais criativas de obter prazer e sensações intensas, mas dando-lhes exemplos de sobriedade. (1)
Coincidentemente, ou não, os jovens que dependem exageradamente dos tóxicos, são pouco amados pelos pais, sentem-se deslocados no grupo familiar ou se consideram pouco atraentes, etc…. Por estas e muitas outras razões, os pais devem transmitir segurança aos filhos através do afeto e do carinho constantes. Afinal, todo ser humano necessita ser amado, gostado, mesmo tendo consciência de seus defeitos, dificuldades e de suas reais diferenças.
A crença de que a felicidade pode ser comprada num “Shopping Center” e que decepções, angústias, tristezas e solidão têm que ser evitadas a qualquer custo, consubstanciam o modelito de relação que os dependentes químicos (consumidores) estabelecem com as drogas (produtos). Urge que lhes desmistifiquemos a fórmula imposta pela sociedade aos indivíduos, de que a melhor maneira de se viver se constitui na síndrome do consumismo extravagante e exagerado.
Importa que os pais se lembrem de que conflitos e atos de rebeldia fazem parte da instabilidade emocional, natural na adolescência e estes não são indicadores precisos de que os filhos estejam envolvidos com as drogas. Desse modo, convém que dêem um voto de confiança aos filhos e constituam com eles uma inexpugnável parceria, alicerçada na credibilidade mútua e no respeito à vida. A autoridade dos pais (2) não somente é aceita pela maioria das crianças e adolescentes, sobretudo quando presenciam, no ambiente familiar, a confiança e o afeto, mas, também, é extremamente necessária, para que não se sintam inseguros na vida ou que os papéis que competem a cada um, não se invertam.
Outro posicionamento a ser observado é nunca partir para atitudes extremas, como, por exemplo: violência verbal, violência física ou, ainda, movidos por extrema impaciência, expulsar um filho de casa. Qualquer ato precipitado dos pais poderá reverter contra eles mesmos, futuramente, e lançá-los à dor do arrependimento tardio. É óbvio que cada caso é um caso, mas jamais partir para qualquer solução mais severa, sem antes esgotar todas as possibilidades fraternas de ajuste, de bondade, de solidariedade humana, de renúncia, disponíveis no âmago dos corações dos que se dizem fiéis aos ensinamentos do Cristo Jesus. Convém que não se esqueçam, principalmente, de que a oração fervorosa é a mais poderosa ferramenta de que o homem dispõe como solução contra quaisquer sugestões do mal.
Por falar em solução, existem várias maneiras paralelas de ajuda aos que dependem da droga: tratamento médico; terapias cognitivas e comportamentais; psicoterapias; grupos de auto-ajuda, a considerar: Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, etc…. Na opinião dos experts, especialistas da área, o tratamento do dependente de drogas não requer internação, na grande maioria dos casos, pois as respostas não têm sido favoráveis a que eles apresentem melhora nessas condições de isolamento, distantes do convívio familiar. Muito pelo contrário, constatam a ineficiência do tratamento nessas condições, com um significativo aumento do consumo, a que os dependentes se lançam, após saírem da clínica.
A questão é de educação na família cristalizada, na escola enobrecida, na comunidade honrada, e não nas políticas de repressão policial, estabelecendo mais violência do que solução. Todos nós sabemos que violência gera violência. As famílias que se deparam com um drama desses no lar, em primeiro lugar devem procurar forças em Deus, Pai misericordioso e justo, e em Jesus, porque Ele não veio somente para os sãos, mas, fundamentalmente, para os enfermos; em segundo lugar, não devem se acovardar diante do fato em si, pois, por trás de toda queda moral existe um grito recôndito de “socorro!”. Conversemos, esclareçamos, orientemos e assistamos os que se hajam tornado vítimas das drogas, procurando os recursos competentes da Medicina como da Doutrina Espírita, a fim de conseguirmos a reeducação e a felicidade daqueles que a Lei Divina nos confiou para a nossa e a ventura deles. (3)
É importante que os pais ensinem seus filhinhos queridos a manterem permanente vigilância pela oração embasada numa fé raciocinada e o Espiritismo propõe, dentre outras bênçãos, o fortalecimento e o equilíbrio mental. Uma coisa é certa: o Espiritismo não propõe soluções específicas, reprimindo ou regulamentando cada atitude, nem dita fórmulas mágicas de bom comportamento aos jovens.
Prefere acatar, em toda sua amplitude, os dispositivos da lei divina, que asseguram a todos o direito de escolha (o livre-arbítrio) e a responsabilidade conseqüente de seus atos.
Sob o enfoque espírita, sabemos que irmãozinhos nossos do mundo espiritual que usaram drogas enquanto encarnados, muitos ainda continuam escravos do vício.
Unem-se aos seus afins, os viciados encarnados, imantando-se nos seus perispíritos, para sorverem as emanações perniciosas provenientes do uso das drogas.
As energias deletérias dos viciados do além podem, a longo prazo, causar, nos viciados de “cá”, distúrbios orgânicos graves, como: câncer de pulmão, problemas no fígado, no aparelho circulatório, no sangue, no sistema respiratório, no cérebro e nas células, principalmente as neuroniais (4), devido ao enfraquecimento dos centros vitais do viciado, ainda encarnado. Os efeitos destruidores da obsessão e das drogas são tão intensos que extrapolam os limites do organismo físico do viciado, alcançando e comprometendo, substancialmente, o equilíbrio e a própria funcionalidade do seu perispírito. Se a morte os surpreender, antes mesmo de se regenerarem, conservam, na espiritualidade, os estigmas da prática nociva que os levou à degeneração dos seus respectivos centros vitais, visíveis no perispírito.
Por todas essas razões, precisamos aprender a servir e perdoar; socorrer e ajudar os jovens entre as paredes do lar, sustentando o equilíbrio dos corações que se nos associam à existência e, se nos entregarmos realmente no combate à deserção do bem, reconheceremos os prodígios que se obtêm dos pequenos sacrifícios em casa por bases da terapêutica do amor. (5)
Confiemos em Deus, primeiramente, e optemos, pois, pela drágea do afeto, o comprimido do carinho, a gota de renúncia, o chá do amor em família, por serem os mais eficazes remédios na cura das patologias de quaisquer procedências. Esses medicamentos consubstanciam-se pela maior atenção dos pais para com os filhos, demonstrados pela sadia preocupação que têm com a formação moral deles e o suprimento de suas necessidades afetivas.
Fiquemos alerta! Nossos filhos são a jóia mais rara e preciosa que possuímos, não os abandonemos!
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Disponível no site www.senado.gov.br/publicações acessado em 08/09/2007
(2) Autoridade não deve ser confundida com autoritarismo, arbitrariedade ou rigidez
(3) Franco, Divaldo Pereira. “Após a Tempestade”, ditado pelo espírito Joanna de Angelis. Bahia: Editora LEAL, 2ª Edição
(4) Os neurônios guardam relação íntima com o perispírito, segundo André Luiz em “Mecanismos da Mediunidade”
(5) Xavier, Francisco Cândido. “Caminhos de Volta” –
Espíritos Diversos