(Entrevista de Divaldo a Jose Carlos Lucas, publicada em um site português)
DIVALDO FRANCO RESPONDE
José Carlos Lucas – As mortes aparentes têm alguma relação com o espiritismo, nomeadamente as mundialmente conhecidas, estudadas pelo Dr Moody Jr?
Divaldo Pereira Franco – Essas mortes aparentes sempre ocorreram, principalmente no passado quando os estados catalépticos eram dificilmente diagnosticados. A técnica de diagnóstico da morte era muito empírica, normalmente através da respiração e dos batimentos cardíacos. Hoje, graças ao electroencefalógrafo, pode-se detectar com maior profundidade o momento da paragem cardíaca definitiva e da morte real. No entanto, mesmo nesses casos, estudados por Edith Fiore, Elizabeth Kubler-Ross ou Raymond Moody Jr, há sempre o retorno à actividade do coração e consequentemente do cérebro, oferecendo evidências de que no momento da aparente morte da consciência, o ser consciente continua pensando. É dentre as muitas evidências da sobrevivência da alma uma das mais fascinantes, mesmo porque as experiências do Dr Moody Jr, psiquiatra, filósofo, que vem estudando o assunto há mais de 25 anos, ofereceram documentação valiosíssima, variadíssima, toda calcada na imortalidade da alma.
A vida continua e a Reencarnação é uma realidade
JCL – Tem alguma experiência de morte aparente?
DPF – No ano de 1985 eu tive uma lipotímia. Estava a proferir uma conferência, na nossa associação, em Salvador (Brasil) quando um espírito disse-me, um espírito muito amigo, para sair dali porque ia desmaiar e era provável que morresse. Pareceu-me anedótico. Terminei a palestra e dirigi-me a uma das nossas salas, na nossa sede. No momento em que me acercava de um divã, tive uma estranha sensação de paragem cardíaca, a princípio a lipotímia e depois a paragem cardíaca, e, senti-me fora do corpo. Então, um filho médico, a nossa enfermeira universitária e mais dois médicos que estavam presentes na reunião acorreram para me darem assistência. Curiosamente, eu senti um grande bem-estar.
Vi-me fora do corpo e recordei-me de uma afirmação de Joanna de Ângelis (guia espiritual de Divaldo Franco) que me havia dito que no dia em que eu perdesse a consciência e a visse, havia acontecido o fenómeno biológico da morte. Eu olhei à minha volta e não a vi. Vi então a minha mãe, que se aproximou de mim. Perguntei-lhe: “Mãe, eu já morri?” e ela disse-me: ” Ainda não”. Dentro de alguns minutos eu comecei a preocupar-me, pois se passasse muito tempo poderia ter a morte cerebral e ficar apenas em vida vegetativa. Mas, minha mãe, voltou e disse-me: “Seus amigos espirituais dão-te uma moratória, tu viverás um pouco mais.” E eu perguntei-lhe: “Quanto tempo”? Ela respondeu-me: “Não sei”. Então, voltei ao corpo.
O Espiritismo é uma doutrina de cultura
JCL – O Espiritismo é cultura?
DPF – O espiritismo é, quiçá, a doutrina mais complexa e completa, de que tenho, pessoalmente, conhecimento. È uma doutrina simples, embora não seja de fácil assimilação. Exige reflexão, exige profunda entrega e acima de tudo, discernimento, o que não quer dizer que as pessoas modestas culturalmente não possam ser espíritas. Recordemos que Jesus convidou, na Galileia, homens simples e ignorantes, mas não espíritos atrasados e destituídos do saber. O Espiritismo, repetindo o cristianismo, vem convidar as massas, e vai oferecer discernimento. Tenho como exemplo, minha mãe, que era analfabeta, no entanto dotada de uma lucidez intelectual fascinante, que absorveu a doutrina espírita com imensa facilidade. O espiritismo é cultural, porque responde a todas as incógnitas do conhecimento. Uma pessoa portadora de fé espontânea, natural, não necessita de grandes interrogações e contenta-se com a parte consoladora do espiritismo. Mas, o homem do gabinete, de investigação científica, cheio de dúvidas, aflito por inquietações atormentantes, vai encontrar no espiritismo as respostas para as causas de todos os efeitos que ele estuda. O pensador, que traz no âmago os conflitos, que vive padecendo as interrogações não respondidas pelos séculos, vai encontrar na filosofia espírita todas as clarificações indispensáveis para ter a sua plenitude. Então, o espiritismo é uma doutrina de cultura. Até à vista, Allan Kardec no-la apresentou dentro da metodologia dialéctica, como ninguém o fez até hoje, a mais profunda e a mais sábia.
O doente não deve estar presente na reunião de desobsessão
JCL – Numa reunião de desobsessão o paciente deve estar ausente?
DPF – Sem dúvida nenhuma. Ele não tem a menor condição de ali estar. Kardec recomenda a sessão espírita séria, com pessoas responsáveis, que se conheçam entre si e que conheçam bem a doutrina espírita. Como pode o paciente, com tormentos físicos ou psíquicos participar de uma experiência de profundidade tão rica de delicadezas?
JCL – Qual a actualidade do espiritismo?
DPF – Enfrentar a razão face a face nesta época de misérias morais e de dificuldades de afirmação de comportamentos filosóficos e científicos.
JCL – O que os espíritos benfeitores dizem do porvir, já que o mundo está virado do avesso?
DPF – Eles são optimistas. Este é o momento da grande transição em que a Terra deixará de ser um mundo de provas para passar a ser um mundo de regeneração. Kardec fazendo análise do período de luta, na “Revista Espírita”, diz que este é o quinto período, é o período que seria nomeado de intermediário. O sexto período será o da renovação social. Quando nos amarmos como verdadeiros irmãos a dor lentamente baterá em retirada por desnecessidade evolutiva.
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Que os transplantes salvam vidas, já todos sabemos. Que a doação de órgãos é um ato de altruísmo, também. Abordamos na semana passada esta temática. Vamos ver pois, o que pensa deste assunto uma personalidade do movimento espírita mundial, Divaldo Pereira Franco, conferencista de renome.
Divaldo Franco, conferencista de renome mundial, um dos maiores divulgadores do espiritismo pelos quatro cantos do mundo, e internacionalmente respeitado, esteve entre nós em Dezembro passado (1994). Aproveitamos para uma pequena conversa de onde ressaltaram comentários relativos à doação de órgãos. Vejamos pois a sua opinião, dentro dos horizontes que o espiritismo nos abre.
José Lucas – No que respeita à doação de órgãos, existe incompatibilidade perispiritual, isto é, entre o corpo espiritual do falecido e o daquele que recebe o órgão?
Divaldo Franco – Na realidade não, porque o perispírito (corpo espiritual) receptor consegue adaptar as futuras células à sua própria organização. Muitas vezes, quando ocorre a rejeição, estamos diante da Lei do Carma, que funciona biologicamente, pois, se assim não fosse, a continuidade dos transplantes daria ao indivíduo a vida imortal na Terra, o que não é possível.
JL – Então a rejeição que existe é apenas física?
DF – Exatamente, é física, graças à necessidade da desencarnação (falecimento) do paciente, já que ninguém consegue ludibriar as leis divinas. O êxito, neste campo, invariavelmente, trata-se de uma moratória que a divindade permite seja dada ao receptor, a fim de prolongar a existência com finalidades nobres.
JL – O espírito desencarnado (falecido) que ainda está ligado ao corpo (cadáver), sofre com a extração dos órgãos, poderá ficar ressentido por fazerem isso ao “seu” corpo e envidar por uma perseguição?
DF – Na realidade não, porque aí entram as leis soberanas da misericórdia divina. Consideremos no passado, os cadáveres de mendigos que eram levados para as faculdades de medicina, a fim de facultarem aos estudantes o conhecimento dos órgãos e as melhores técnicas cirúrgicas para o prolongamento da vida. Aqueles cadáveres, eram de pessoas desconhecidas, invariavelmente, que se transformavam sem quererem, em benfeitores da humanidade. No caso da pessoa ser forçada a doar os órgãos, isto pode produzir-lhe um choque emocional, não contra quem vai receber, mas, contra as leis, entrando inevitavelmente num bloqueio de consciência, e, pelo bem que vai fazer, mesmo sem o querer, recebe os frutos sempre que necessite desses benefícios que se transformam, para ele, em verdadeira graça de Deus. Só o fato de oferecer órgão saudáveis a pessoas que estariam a encerrar a sua jornada terrena, já os faz dignos do amparo divino.
Quanto a sentir dores, a acompanhar o processo de sofrimento, é inevitável, tal como aconteceria também na inumação cadavérica, em que ficaria a acompanhar a disjunção molecular, ou na cremação, com o pavor, porque as sensações permanecem. É o que Kardec examina em “O Livro dos Espíritos” quando aborda a perturbação espiritual.
JL – No caso das autópsias, o espírito também sofre?
DF – Muitos sofrem. Os sensualistas, os escravos dos prazeres terrestres, sentindo ainda os fluidos materiais, acompanham com horror as cenas, especialmente quando as autópsias são feitas num clima de ironia, de ridículo, de desrespeito pelo ser, por consequência, de desrespeito pelo cadáver. Os espíritos a eles vinculados, agridem-se e agridem, desesperam-se e enlouquecem de dor, o que lhes aumenta por consequência o sofrimento.
Muito mais haveria a dizer sobre esta temática. No entanto, para uma melhor compreensão deste assunto remetemos o leitor para “O Livro dos Espíritos” e “O Céu e o Inferno” , ambos de Allan Kardec, que poderão encontrar nas principais livrarias do país.