PAZ INTERIOR
Divaldo Pereira Franco
Se desejarmos qualificar a questão de mais importância da existência humana, teremos algumas dificuldades em razão da diversidade das aspirações e daquilo que cada qual lhe atribui esse significado.
Eliminando-se os valores normalmente considerados de maior expressão, tais o dinheiro, o destaque social, o poder político ou de outra ordem, existem conquistas outras que proporcionam plenitude e nem sempre são detectadas pelos lutadores e ambiciosos.
Há incontáveis exemplos de indivíduos que se esfalfam por ganhar e projetar-se, que vivem enclausurados nos seus castelos de ilusão, procurando superar os outros, mesmo ao preço de muita amargura e desar.
Há aqueles que se cercam de admiradores da sua juventude venturosa, das suas façanhas algo estranhas, do seu nome nas redes sociais mais famosas, dando a ideia de que as suas são as jornadas mais fascinantes e invejáveis a que se deve aspirar…
Observamos, às vezes, pessoas idosas amarguradas, agressivas, instáveis emocionalmente, porque lhes parece haver perdido com a idade que acumularam os tesouros mais valiosos, tais o prazer sexual, as viagens coloridas, os jogos nas bolsas, o corre-corre instável dos juros que os reduziram a uma situação econômica desagradável.
Em outras ocasiões detectamos pessoas jovens umas e maduras outras, gananciosas e avaras, com os sentidos fixados nas situações relevantes da sociedade, tentando organizar família reluzente ou desfazerem-se da que possuem, para saltos mais audaciosos, vivenciando situações íntimas desesperadoras e sempre insatisfeitos com os próprios feitos, acompanhando com mágoa as glórias alheias.
Encontramos religiosos fanáticos que pretendem viver o esplendor dos Céus na Terra sofredora, assim como céticos que se aferram ao materialismo e vivem como se cada dia fosse o último, necessitando de fruí-lo ao máximo, consumindo-se em condutas extravagantes e com vazios íntimos como resultado de uma vida sem sentido e de breve duração…
Há de tudo na multidão humana sem rumo, assim como naquela que acredita ser a sua a melhor maneira de encarar os acontecimentos e a própria caminhada, vivendo entre contínuas aflições.
É relativamente pequeno o número de quem busca a paz interior, seja na posse ou na escassez, na saúde ou na enfermidade, na juventude louçã ou na velhice tranquila.
A paz interior é um tesouro que se encontra ao alcance de toda a Humanidade sem lutas atrozes nem correrias desnecessárias.
Sócrates sugeriu como caminho seguro o roteiro: Conhece-te a ti mesmo.
Jesus estabeleceu a conduta: Do que vos adianta salvar o mundo e perder-se a si mesmo?
E Allan Kardec propôs: Fora da caridade não há salvação.
Não acha que está na sua hora?
Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 15.10.2020.