Banalização da desigualdade

Seria ingenuidade da nossa parte não admitir que estamos vivendo um momento em que muitas pessoas banalizam a desigualdade social, não querendo enxergar que muitos vivem abaixo da linha da pobreza ou miséria, nas grandes cidades do país.

É muito fácil falar da desigualdade social, porém é muito difícil colocar em prática atitudes coerentes para minimizar a necessidade do próximo. Existe uma frase atribuída a Tolstói que diz:

“Se você sente dor, você está vivo. Se você sente a dor das outras pessoas, você é um ser humano.”

Não basta apenas saber que devemos exercitar a caridade para com as pessoas necessitadas, faz-se necessário que cada um de nós realize o que está ao nosso verdadeiro alcance.

Temos consciência que nas grandes cidades do nosso país, assim como do mundo, a população de moradores de rua aumentou consideravelmente, exigindo não apenas do governo, mas das instituições beneficentes, um trabalho redobrado de atendimento solidário. Em alguns momentos não tendo condições de realizar a caridade na acepção da palavra, o fato nos obriga, pela força das circunstâncias, a realizar um assistencialismo momentâneo.

Podemos nos reportar a Saulo de Tarso quando deixou bem claro a importância da caridade: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine”. (1 Coríntios 13)

Precisamos deixar de lado nossos tolos preconceitos e, dentro das nossas possibilidades, termos empatia à dor do próximo.

Em O Livro dos Espíritos, encontramos a seguinte explicação de Allan Kardec, sobre as dificuldades de viver na sociedade em que nos encontramos, sob um olhar da espiritualidade: Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. 1

Entre as grandes chagas da humanidade encontram-se o orgulho e o egoísmo e precisamos nos modificar, promovendo a nossa reforma íntima. A cada um segundo as suas obras, porém, quando tomamos consciência no decorrer da reencarnação, podemos mudar a nossa maneira de interagir com as outras pessoas e o mundo que nos cerca; tudo depende fundamentalmente de cada um de nós.

Nada nos impede de ressignificar nossas atitudes deixando o egoísmo de lado e nos tornando altruístas, nutrindo um desejo sincero de querer se modificar e servir.

Muitas pessoas nas grandes cidades parecem que se acostumaram com a desigualdade social e a miséria humana, a ponto de se tornarem indiferentes, como se os moradores de rua e mendigos fossem invisíveis a todos nós. Isso sem falar nas famílias que moram em comunidades, em condições de vida muito precárias e sobrevivendo com menos que o mínimo de dignidade exige.

Nossa sociedade precisa passar por um processo de moralização para poder evoluir e coletivamente ser merecedora de que o planeta Terra deixe de ser um mundo de provas e expiações, para se tornar um Mundo de Regeneração.

Já possuímos o conhecimento doutrinário e moral de como devemos agir, falta agora colocar em prática, através de atitudes coerentes e solidárias, a ajuda às pessoas necessitadas que passam por experiências reencarnatórias de provas e expiações. Podemos também falar das dificuldades de sobrevivência material, como aqueles que se encontram abaixo da linha da pobreza ou vivendo em condições de miséria extrema nas periferias dos grandes centros urbanos.

Pela mediunidade de Chico Xavier, o Espírito Emmanuel procura nos lembrar que estamos neste orbe de passagem, como um aluno na escola da vida, em busca de aprendizagem para nossa libertação. O fragmento do texto abaixo nos exorta para uma mudança na maneira de ver a estrada da vida, onde nos encontramos:

Vão e voltam viajores.

Sucedem-se os dias ininterruptos.

A árvore útil permanece, à margem do caminho, atendendo, generosamente, aos que passam.

Mergulhando as raízes na terra, protege a fonte próxima, alentando os seres inferiores, que se arrastam no solo. Recolhendo o orvalho celeste, na fronde alta, atende aos pássaros felizes que cortam os céus. 2

A diversidade das pessoas dificulta a convivência social, devido à grande heterogeneidade da nossa sociedade como um todo e muitas vezes acaba afastando uns dos outros devido ao nosso ponto de vista em relação aos valores sociais e à maneira como conduzimos a nossa vida.

Muitos daqueles que vivem nas ruas dos grandes centros urbanos, como indigentes ou moradores de rua, são pessoas que apresentam problemas psicológicos ou psiquiátricos, problemas de vícios ou até estão sob uma influência obsessiva. Fica difícil para um indivíduo comum fazer uma leitura do que realmente se passa com essas pessoas, pois o processo de ressocialização é às vezes muito complicado, devido à história que cada indivíduo traz do seu passado, desta vida ou de outras encarnações.

Nos bastidores da vida de todos nós existem histórias interessantes e nos conta Romeu Grisi, que conviveu muito com Chico Xavier, algumas histórias surpreendentes. Entre elas destacamos o caso do mendigo renitente. Era um morador de rua que dormia na varanda da casa de um colaborador do Centro Espírita. Um indivíduo atormentado por suas emoções, o que lhe dificultava adaptar-se a regras ou normas. Em alguns momentos ficava em um lugar e depois acabava indo para outro local. Chico explicou que toda ajuda seria apenas momentânea e com o tempo ele acabaria se afastando e foi o que aconteceu. 3

Uma das formas de combater a desigualdade social é a solidariedade e uma ação efetiva governamental nos setores da educação, saúde, emprego e segurança pública, isso sem falar nos problemas que afetam nossa sociedade, como os vícios, em particular o uso de drogas naturais e sintéticas.

Devemos educar os jovens para o exercício consciente da cidadania.

A moralização da humanidade através da evangelização do homem e da implantação de uma sociedade mais justa pode, ao longo do tempo, oferecer as condições para se compreender melhor o que se passa com o próximo que vive ao nosso lado.

Fonte:

Referências: Espiritismo na Rede

1) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 2a p.- Cap. II – Objetivo da Encarnação- p.132; FEB.

2) Xavier, Francisco Cândido; Coletânea do Além; A Árvore Útil (Emmanuel); FEB.

3) Grisi, Romeu; Inesquecível Chico; O mendigo renitente – p. 91; Ed, GEEM.

4) Wikipédia (A Enciclopédia livre).

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A visão espírita do Natal

Embora associemos o Natal ao nascimento de Jesus, a tradição da festividade remonta a milênios. As origens do Natal vêm desde dois mil anos antes de Cristo. Tudo começou com um antigo festival mesopotâmico que simbolizava a passagem de um ano para o outro, o Zagmuk. Para os mesopotâmicos, o Ano Novo representava uma grande crise. Devido à chegada do inverno, eles acreditavam que os monstros do caos se enfureciam e Marduk, seu principal deus, precisava derrotá-los para preservar a continuidade da vida na Terra. O festival de Ano Novo, que durava 12 dias, era realizado para ajudar Marduk em sua batalha.

A mesopotâmia inspirou a cultura de muitos povos, como a dos gregos, que assimilaram as raízes do festival, celebrando a luta de Zeus contra o titã Cronos. Mais tarde, por intermédio da Grécia, costume alcançou os romanos, sendo absorvido pelo festival chamado Saturnália, pois era em homenagem a Saturno. A festa começava no dia 17 de dezembro e ia até o 1º de janeiro, comemorando o solstício do inverno. De acordo com seus cálculos, o dia 25 era a data em que o Sol se encontrava mais fraco, porém pronto para recomeçar seu crescimento e espalhar vida por toda a Terra.

Durante a data, que acabou conhecida como o Dia do Nascimento do Sol Invicto, as escolas eram fechadas e ninguém trabalhava. Eram realizadas festas nas ruas, grandes jantares eram oferecidos aos amigos, e árvores verdes – ornamentados por muitas velas – enfeitavam as salas para espantar os maus espíritos da escuridão. Os mesmos objetos eram usados para presentear uns aos outros.

Depois de Cristo

 Nos primeiros anos do Cristianismo, a Páscoa era o feriado principal. O nascimento de Jesus não era celebrado.

No século IV, a Igreja decidiu instituir o nascimento de Jesus com um feriado. Mas havia um problema: a Bíblia não menciona a data de seu nascimento. Então, apesar de algumas evidências sugerirem que o nascimento de Jesus ocorreu na primavera, o Papa Júlio I escolheu 25 de dezembro. Alguns estudiosos acreditam que esta data foi adotada num esforço de absorver as tradições pagãs da Saturnália.

A maior parte dos historiadores afirma que o primeiro Natal, como conhecemos hoje, foi celebrado no ano 336 d.C. A troca de presentes passou a simbolizar as ofertas feitas pelos três reis magos ao menino Jesus, assim como outros rituais também foram adaptados.

Hoje, as Igrejas Ortodoxas grega e russa, celebram o Natal no dia 6 de janeiro, também referido como o “Dia dos Três Reis”, que seria o dia em que os três magos teriam encontrado Jesus na manjedoura.

Data Provável do Natal

 Lemos no Evangelho de Lucas: “E aconteceu, naqueles dias, que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino governador da Síria.”[1] César Augusto reinou de 30 a.C a 14 d.C.

Mas o censo ocorreu em 6 d.C., o que permite ver que a determinação da data está historicamente imprecisa. Há, no entanto, uma tradução proposta, segundo a Bíblia de Jerusalém: “Esse recenseamento foi anterior àquele realizado quando Quirino era governador da Síria.”

Jesus nasceu antes da morte de Herodes, morte esta que aconteceu em 4 a.C., provavelmente entre 8 e 5 a.C. A chamada Era Cristã foi estabelecida por Dionísio, o pequeno, apenas no século 6 e é fruto de um erro de cálculo.

Quando Jesus iniciou o seu ministério ele tinha provavelmente 33 anos, ou até 36. E Dionísio, o pequeno, considerou como se ele tivesse 30 anos, embora Lucas (3:23) fale em “mais ou menos 30 anos”.

Neste ponto a revelação espírita pode, como em tantos outros, contribuir com os historiadores.

Humberto de Campos, em mensagem psicografia por Chico Xavier e publicada em Crônicas de Além-túmulo, aponta o ano 749 da era romana como sendo o ano do nascimento de Jesus, o que corresponderia ao ano 5 a.C.

Do mesmo modo, Emmanuel informa-nos em Há 2000 Anos que o ano da crucificação de Jesus foi o 33 a.C. Sendo assim, portanto, Jesus iniciou o seu ministério com 34 ou 35 anos e desencarnou com 37 ou 38.

Um Significado Espiritual

 Diz, então, a sequência do Evangelho de Lucas: “E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu da Galileia também José, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi chamada Belém (porque era da casa e família de Davi)”[2]

Belém situa-se a 6 quilômetros de Jerusalém e a 800 metros de altitude, nos montes da Judeia. Por isso a expressão “subiu da Galileia à Judeia”.

Buscando o sentido espiritual do Evangelho, podemos entender Nazaré como sendo nossas vivências na área da razão. É o racional que hoje, no dia a dia, fala mais alto em nossos procedimentos.

Belém seria assim, a representação de nosso encaminhamento levando em conta o sentimento equilibrado, a intuição, ou o amadurecimento da própria razão pelo equilíbrio desta, através da vivência, com o emocional.

O nascimento de Jesus em Belém significaria, assim, o início de uma nova era em que a justiça se converte em amor, e o racional é espiritualizado através de seu perfeito equilíbrio com o emocional.

Historicamente, não há certeza sobre Jesus ter nascido em Belém ou Nazaré. O que realmente importa, porém, é apropriarmos de seu sentido reeducativo, é saber que, para que o Cristo nasça em nossa intimidade é necessário agir equilibrando sentimento e razão, intelecto e moral, conhecimento e aplicação. Pois, se no plano horizontal necessitamos da ciência em nossas movimentações cotidianas, para verticalizarmos nossas conquistas não podemos prescindir de uma moral elevada consoante os ensinamentos contidos no Evangelho.

Para que o Cristo nascesse, Maria e José tiveram que subir da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi chamada Belém, significando assim a necessidade de subirmos espiritualmente para refletirmos o Cristo em toda sua grandeza.

Prossegue a Narrativa

 O Evangelho de Lucas nos conta, então, que “…a fim de alistar-se com Maria, sua mulher, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos e deitou-se numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.”[3]

Jesus vem à luz por meio de Maria. Assim narra o evangelista: “E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.”[4]

“Virgem” aqui se refere a núbil (mulher em idade para se casar), ou mulher jovem que, em hebraico é almah. Era um termo usado quando se referia a uma donzela ou jovem casada recentemente, não havendo nenhuma referência em particular à virgindade como entendemos hoje.

Gabriel, então, disse: “E eis que em teu ventre conceberás, e dará à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.[5] Maria estava preparada, por isso pôde conceber Jesus em seu ventre, isto é, dentro de si.

E nós, o que estamos cultivando, o que estamos construindo dentro de nós mesmos? Quando estaremos preparados para trazer à luz o Cristo imanente em nós? Aquele que, segundo o texto evangélico, “será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim.[6]

No entanto, Maria indaga: “Como se fará isso, visto que não conheço varão?” E respondendo o anjo, disse-lhe: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.”

A outra possível tradução para “Espírito Santo” é “sopro sagrado”, dando a entender a presença de Deus em nós quando a Ele estamos ajustados. Àquele tempo a presença de Deus (IHVH) era manifesta por uma nuvem, por isso o uso da expressão “cobrirá com sua sombra”

Nasce a Virtude nos Corações

 A descida do “sopro sagrado” representa bem o momento de fecundação da virtude em nós. O valor vem do alto por meio da revelação superior, necessitando ser por nós absorvido e vivenciado para fixação, que se dá com o nascimento do novo ser em que nos transformamos a partir de então. Por isso, o Cristo é sempre fecundado pelo Espírito Santo.

“Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela[7]”. Perfeitamente ajustada aos Desígnios Superiores, Maria se entrega totalmente a eles. É aquele momento em que há perfeito entendimento do mecanismo da vida, quando o Espírito sabe que o mais importante é atender a Vontade do Pai e, então cumpre-a fielmente. É a liberdade-obediência. Encontramos assim em Maria as três qualidades básicas para que o Cristo possa nascer: confiança, consciência e obediência, sintetizadas na fé.

Mais Lições a Serem Aprendidas

 Jesus envolvido em panos nos ensina a lição de simplicidade: enquanto nos preocupamos tanto com os acessórios em nossa vida do dia a dia, os Espíritos superiores ocupam-se com o que verdadeiramente é importante para a vida imortal.

A manjedoura é o tabuleiro em que se deposita comida para vacas, cavalos etc. em estábulos. Segundo Emmanuel em A Caminho da Luz, “a manjedoura assinalava o ponto inicial da lição salvadora do Cristo, como a dizer que a humildade representa a chave de todas as virtudes.”

Por meio de Jesus colocado em um tabuleiro como alimento para animais, o Evangelho ensina-nos que, se quisermos deixar a condição de animalidade em favor de uma espiritualidade mais autêntica, é preciso que tenhamos o Cristo, ou a Boa Nova, por ele proposta, como alimento definitivo de nossas almas. Condição esta confirmada por ele mesmo quando mais adiante nos afirma: “Eu sou o pão da vida[8].” Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.

Outra lição encontrada é a da resignação, “…porque não havia lugar para eles na estalagem[9]. É muito comum este fato, quando nos ajustamos aos desígnios superiores e agimos em favor do amor e da fraternidade, não há para nós lugar onde se instala o interesse imediatista do mundo material.

A Visita dos Magos

 Narrada no Evangelho de Mateus, a visita dos magos e suas dádivas originaram as tradições de presentes no Natal. No entanto, dádivas seriam doações espontâneas de algo valioso, material ou não, a alguém; presente, oferta, mimo, brinde. Não é o que acontece atualmente no Natal.

Os presentes nem sempre são espontâneos, mas fruto de interesses outros. O que não tem valor material não é bem aceito como presente, mostrando assim a faixa de interesses a que estamos ajustados. A expressão “seus tesouros[10] que se refere aos presentes ofertados, dá a entender que estes já lhes pertenciam, ou seja, que já tinham sido por eles conquistados. Então deveríamos dar valores que já são nossos, nossas conquistas individuais, de nós mesmos e espontaneamente.

Os presentes também contêm significados. O ouro refere-se à autoridade sobre as coisas materiais; o incenso, à autoridade sobre as questões espirituais. A mirra é uma planta de cuja casca sai uma resina aromática. De aroma agradável e gosto amargo, na Antiguidade, segundo o Dicionário Houaiss, ela era usada como incenso e remédio.

Pode revelar, desta forma, dois significados. Foi dado a Jesus o poder sobre as enfermidades: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si…“, diz Isaias, 53:4. E representa também a necessidade do testemunho (”gosto amargo”), testemunho este que dá o poder e autoridade sobre as enfermidades e sobre as questões materiais e espirituais.

O Personagem Principal

 Se historicamente não podemos precisar com certeza onde e quando se deu a noite do nascimento de nosso Mestre Maior, é certo que ela aconteceu. Emmanuel assim a descreve em A Caminho da Luz: “Harmonias divinas cantavam um hino de sublimadas esperanças no coração dos homens e da Natureza. A manjedoura é o teatro de todas as glorificações da luz e da humildade, e, enquanto alvorecia uma nova era para o globo terrestre, nunca mais se esqueceria o Natal, a noite silenciosa, noite santa”.

Como já dissemos, o nascimento de Jesus representa o início de uma nova era em que a justiça se converte em amor, e a fraternidade pura através de sua exemplificação, meta a ser alicerçada em nossos corações. Antes era o homem biológico, depois, o homem espiritual.

Na festa que preparamos ao final de cada ano, Jesus deveria ser personagem principal. Assim, como devemos nos preparar para ela, qual a melhor vestimenta a usar?

Aqui deixamos duas passagens evangélicas para refletirmos sobre estes temas: uma de Mateus: “Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer, tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então, os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E, quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E, quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes[11].”

Que façamos em nome do Cristo um Natal diferente. Que saiamos de nós mesmos, de nossos caprichos e desejos pueris, buscando atender as necessidades de nossos semelhantes mais carentes. Reclamamos do “pouco” que temos, mas quão muito é esse pouco se comparado ao enorme percentual da humanidade que muito menos tem, chegando a faltar até o básico necessário? Lembremos destas palavras: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes…”

Em outra passagem narrada por Mateus, lemos: “E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo…[12] Para que possamos estar vestidos com a “túnica nupcial[13] é preciso estarmos ajustados ao fluxo da vida que é a Lei Superior, que é Amor. Os lírios “não trabalham e nem fiam”, mas cumprem a sua missão de enfeitar mesmo tendo nascido em condições adversas (brejo, lodo etc.).

Ao dizer que nem mesmo o Rei Salomão em toda a sua exuberância se vestiu como qualquer deles, a beleza que Jesus observa é a que vem de dentro, aquela gerada pela consciência tranquila do dever cumprido e do ajuste aos Propósitos Superiores.

Nada dá mais segurança e firmeza do que o Evangelho vivenciado. Assim, firmemo-nos em seus ensinamentos de moral superior e estaremos preparados para que o Cristo nasça em nós, e pelos frutos de nossas ações também possamos ser chamados de Filhos do Altíssimo ou Filho de Deus, por quem quer que seja.

[1] Lucas, 2: 1 e 2 – [2] Idem, 3 e 4 – [3] Lucas, 2: 5 a 7 – [4] Idem, 1: 26 e 27 – [5] Idem, 1: 31 –  [6] Idem, 1: 32 e 33 – [7] Idem, 1: 38 – [8] João, 6: 35 – [9] Lucas, 2: 7 – [10] Mateus, 2: 11 [11] Mateus, 25: 34 a 40 –  [12] Mateus, 28 e 29  – [13] Mateus, 22: 11

Fonte: Grupo de Estudos Avançados Espíritas

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O SINAL DE IDENTIDADE DO CRISTÃO

Florilégios Espirituais é um livrinho escrito pelo espírito Francisco do Monte Alverne, pela psicografia de Divaldo Franco, no ano de 1980. Tenho em mãos o exemplar da Editora IDE, Araras, São Paulo, 5ª edição, 1993.  Digo “livrinho” não no sentido depreciativo, pois o que desejo é exaltar a qualidade do conteúdo. É livrinho em relação apenas ao seu tamanho. Internamente se aproveita a totalidade do escrito do eminente sermonista católico que retorna com pensamento renovado pelo conhecimento do Espiritismo. Aliás, muitos católicos desencarnados estão trazendo sua mensagem pela mediunidade antes combatida ou desconsiderada. Apesar de terem professado a religião católica durante as suas últimas encarnações, voltam defendendo o Espiritismo, demonstrando dessa maneira que foram bons cristãos, homens que defenderam com dignidade as idéias que agasalhavam, mas também verdadeiros ao ponto de reconhecerem que, na atualidade o Espiritismo representa, do ponto de vista ético, a restauração do cristianismo de Jesus.

Frei Francisco do Monte Alverne

De acordo com a Wikipédia, Francisco do Monte Alverne é o cognome de Francisco José de Carvalho. O autor nasceu no Rio de Janeiro em 1783. Estudou filosofia e teologia durante quatro anos, junto a uma turma de 11 brasileiros e 11 portugueses, graças à instituição pela qual o mesmo número de brasileiros e portugueses deveriam ter acesso aos estudos religiosos no Brasil. Apresentou-se em 1800 ao Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro. Em 1802 chegou ao Convento de São Francisco de Assis em São Paulo, e em 1008 tornou-se presbítero pela Ordem dos Franciscanos. Neste convento, Frei Francisco do Monte Alverne se tornou pregador itinerante e lente de filosofia. Em 1816 Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde alcançou o posto de Pregador Real. Lecionou Retórica e outras disciplinas no Colégio São José/Rio de Janeiro. Em 1836, tomado pela cegueira, recolheu-se e veio a falecer na casa de amigos em Niterói (1858). o cognome “Monte Alverne”, escolhido pela ordem, remete a um período de reflexão. O Monte Alverne foi o local para onde Francisco de Assis dirigiu-se a fim de refletir sua religiosidade e retornou com a perspectiva da renúncia aos prazeres mundanos e da solidariedade em relação ao próximo.

Frei Francisco foi considerado por Gonçalves de Magalhães como precursor das idéias românticas no Brasil. Foi pregador da Real Capela e do Império do Brasil. Publicou as seguintes obras: Obras Oratórias (1833), em 4 volumes e “Compêndio de Filosofia” (1859), em que defende o ecletismo dos pensadores franceses e as doutrinas de Locke e Condillac, e combate o tomismo e a escolástica. ´a sua época foi expoente do gênero literário sermonístico, juntamente com outros como o Padre Antonio Vieira.

Segundo Maria Renata da Cruz Duran, em http://www.intellectus.uerj.br/Textos/Ano3n2/Texto%20de%20Maria%20Renata%20da%20Cruz%20Duran.pdf, ele:

Foi responsabilizado por Gonçalves de Magalhães como precursor das idéias românticas no Brasil. Como estas idéias consistem, no dizer de autores como Antonio Candido (1969), Silvio Romero (1902) e Sérgio Buarque de Holanda (195), nas letras de fundação da identidade nacional e, ao cabo, na invenção de uma intelectualidade brasileira, […].

Monte Alverne, então, deu a sua contribuição para a formação da cultura e da identidade nacional brasileira. Neste mesmo trabalho a autora afirma que Afrânio Coutinho detectou na obra de Monte Alverne a instrumentalização religiosa da moralidade política. Para as nossas finalidades isso é o que basta para apresentar o autor.

Logo na Introdução alerta:

Não travamos conhecimento direto com as Obras espíritas, enquanto no corpo somático, já que retornamos, quando “O Livro dos Espíritos” estava sendo divulgado em França. Todavia, após o despertar, recuperando os dons preciosos da visão e do discernimento. tomamos conhecimento da Nova Revelação que se espraiava na Terra, dando cumprimento à promessa de Jesus sobre o Consolador.

Após agradecer à Igreja Católica por ter direcionado seus passos, guiando-o para o Bem, ele continua:

Abordando temas sob angulação mais feliz do que antes fizéramos, muitos críticos sinceros irão tentar fazer paralelos de estilo procurando o orador do passado, cuja vaidade intelectual desapareceu com as cinzas do corpo…

Outros críticos, os que se comprazem em acionar os camartelos da destruição, sempre armados para a agressão ácida e a censura perniciosa, encontrarão bons argumentos para os seus tentames e atuações, […].

Do eminente sermonista, todas as dissertações que constam do “florilégios”, captadas pela mediunidade de Divaldo Franco, são totalmente aproveitáveis. Cada frase, cada período, cada oração, cada sentença, contém um apelo, um aviso, uma recomendação aos espíritas. Uma delas atraiu-me a atenção, foi “Sacrifícios”. Passemos a analisá-la, em partes.

Logo no parágrafo de introdução da dissertação Monte Alverne estabelece uma diferença essencial entre o cristianismo de Jesus e o dos homens. Esta diferenciação, embora não pareça, é de fundamental importância. Muitos espíritas recusam a identidade do Espiritismo com o Cristianismo por considerarem que o cristianismo, isto é, o movimento que se institucionalizou, criando hierarquias baseadas em subordinação e tendo por modelo o Império e o exército romano, contrariando o modelo organizacional proposto pelo apóstolo Paulo, principalmente. Este movimento, aliando-se ao Estado, deturpou os ensinamentos originais de Jesus, modificou seus objetivos, que eram de libertação das conscienciais para a dominação política, e inclusive transformou Jesus num mito.

O Cristianismo é a pedra de toque, que rompe o arcabouço escuro da mentira para que fulgure a verdade luminífera. Toda a sua ação se dirige para a transformação moral do homem, […].

Com isso ele diz que a dominação não é objetivo do Cristianismo verdadeiro. E, ainda no mesmo parágrafo, continua:

(O Cristianismo) Não é um movimento isolado na história da humanidade, antes significa o mais audacioso de que se tem notícia através dos tempos. Medrando numa época de semibarbárie, é a sublime aliança da Divindade com a criatura humana, a fim de extrair o homem das paixões dissolventes e içá-lo à grandiosidade das nebulosas siderais.

Não é um movimento isolado porquanto não surgiu em consequência de fatores econômicos e políticos, simplesmente. Mais do que uma reação puramente material a uma situação de extrema violência, o Cristianismo é uma Aliança, um pacto, entre a “divindade” e a humanidade. A ação planejada do plano espiritual é sugerida como a força que move, através dos séculos, os homens na busca da sua humanização.

Disso ressalta-se a nossa responsabilidade, como cristãos e espíritas, na tarefa de cooperadores dos espíritos que dirigem a evolução do planeta.

O Cristianismo, ao inverso dos privilégios concedidos a um povo em detrimento de outro, deu um caráter de generalidade ao ensino, dizendo que são irmãs todas as criaturas sem distinção de credo, de raça, de cor, de posição social.

Ao contrário do Judaísmo, que colocava uma nação como superior a todas as outras, o Cristianismo propõe a derrubada de qualquer barreira, de qualquer fronteira de separação entre as criaturas.

Aqueles que aderem aos Seu pensamento (de Jesus) tornam-se mártires, heróis que já nascem feitos, graças à ardência das motivações que pulsam nas paisagens dos seus sentimentos, convidados pelo Governador da Terra para modificar-lhe as estruturas sociais e filosóficas.

O sacrifício constitui, no Cristianismo, o sinal de identidade entre a criatura e o lídimo ideal que abraça.

Como as culturas atávicas não podem ser dissolvidas num passe de mágica há necessidade daqueles que vivam os seus ideais para fomentar uma nova maneira de entender e viver no mundo. As dificuldades para essa transformação são imensas, o que exige esforços extremos daqueles que foram convidados à tarefa redentora. Por isso não se pode dizer espírita ou cristão aquele que não se identifique com este ideal e o não aplique e viva até as entranhas. As estruturas sociais e filosóficas de que fala Monte Alverne são os planos do pensamento e da prática enraizados no cotidiano de todos nós. Desenvolvendo o parágrafo, Monte Alverne assevera:

Foi pelo testemunho do martirológico que a grandeza desta força ciclópica se insculpiu nas páginas serenas e ao mesmo tempo convulsionadas da história universal. Mesmo hoje, o Cristianismo ainda não perdeu o impositivo do ideal sacrificial que devem manter os que se lhe vinculam, por uma necessidade de trocarem o fastio do século pela ardência da fé, da imortalidade.

Quando escreveu estas palavras, no início da década de oitenta, do século vinte, é possível que Frei Francisco do Monte Alverne estivesse visualizando o futuro, nosso presente, quando muitos que se dizem cristão estão acomodados. Quem de alguma forma se vincula ao Cristianismo de Jesus necessariamente deve considerar o sacrificio como algo comum em sua vida. Como enfrentar e mudar o mundo atual, no sentido da implantação do reinado do bem na Terra, sem essa força interior que leva os cristãos verdadeiros a renunciarem às benesses do mundo para promover o bem? Se o Cristianismo ainda não perdeu o impositivo do ideal sacrifical, porque tantos cristãos e tantos espíritas se amolentaram na conivência com o mal? Será que o Cristianismo que dizem professar é apenas superficial? Será que eles interpretam o Cristianismo de uma maneira muito peculiar? Será que eles querem um evangelho fofo, um evangelho sobre almofadas de cetim?

Jesus sabia que isso aconteceria. Ele previu que os seus discípulos se calariam diante do mal, assim como Pedro o negou e diversos amigos o abandonaram na hora das dificuldades. Se os discípulos da primeira hora o abandonaram por medo já não é o mesmo o que ocorre agora. Hoje, muitos o abandonam para conquistar facilidades transitórias.

“Quando os meus discípulos se calarem, as pedras falarão” – esclareceu Jesus, por compreender que a pusilanimidade humana teria ensejo, um dia, de aderir às questões circunstanciais da governança terrestre.

O reconhecimento e ação no bem para debelar o mal acontece e acontecerá sempre, mesmo que aqueles designados para implantar o reinado do bem na Terra esqueçam dos seus compromissos. Na expressão de Jesus, se estes se calarem até os seres inanimados acusarão e mostrarão o que aqueles não querem ver.

Continuando:

Ainda aqui, neste renascer dos ideais cristãos (o Espiritismo), o sacrifício tem regime de urgência, porque foi no sacrifício dos mártires dos primeiros tempos que a semente do bem fecundou e a árvore generosa desdobrou galhadas para albergar a humildade, a fé e a caridade e para fazer que, contrapondo-se à dominação arbitrária do mundo, homens extraordinários como Vicente de Paulo, aos dezoito anos, organizasse uma Ordem Religiosa para sair a pregar a verdadeira fraternidade e a palavra de Deus. […].

Luiz Gonzaga, […], deu sua vida para atender os pestosos, auxiliando os portadores de cólera quando enfermidade dizimadora se espalhava em clamorosa vitória.

O autor de “Florilégios Espirituais”, na continuidade, faz uma análise do impacto das diversas tecnologias nos comportamentos humanos, e como estes efeitos estão modificando o conceito cristão de sacrifício.

A tecnologia moderna, aliada às ciências da informática, está mudando o conceito do sacrifício dos cristãos novos, que se amolentam no prazer, em desprestígio das austeridades que forjam os verdadeiros heróis e que fazem os lídimos ganhadores do reino dos céus.

Quando os espíritos falam em informática acredito que a maioria de nós remeta o pensamento para os hoje onipresentes computadores. Mas não é somente isso. Eles incluem neste conceito todos os sistemas e equipamentos que produzem ou auxiliam a transmissão automática da informação, como o rádio, a televisão, a telefonia fixa ou móvel, a internet e etc. Com efeito, informática é uma palavra justaposta que quer dizer informação automática. Com o advento dos microprocessadores foi possível a criação de uma infinidade de aparelhos que fazem com grande rapidez e perfeição o trabalho humano. Ela produz desemprego, é verdade, mas também tiram uma carga enorme dos ombros humanos. O problema é que nos acostumamos com a vida fácil e daí para não querer nenhum tipo de esforço o intervalo é muito curto.

A mecanização sistemática, o automatismo arbitrário vem fazendo que o cristão novo se isole do exercício da solidariedade, da verdadeira fraternidade, matando a seiva da caridade que, não obstante dispense as moedas não pode perder o vigor, pela falta de vitalidade emocional, na participação das lides socorristas.

Hoje praticamos “caridade” por procuração; proliferam nos meios de comunicação as campanhas para arrecadação de fundos, e nós, como “bons cristãos” metemos a mão no mouse para acessar e clicar em nossas contas bancárias fazendo a facílima transferência de fundos. Com este ato nos sentimos tranquilos, acreditando ter cumprido com um dever. Mas, Monte Alverne alerta que estes comportamentos, na verdade, nos desvitalizam do essencial combustível emocional.

O Evangelho Segundo o Espiritismo ensina que quando maior a dificuldade para praticar um bem mais meritório ele é. Mas preferimos o caminho mole, fácil, “tranquilo”. Nos esquecemos que a caridade é um exercício que não necessita da presença do amor para ser concretizada. Ela visa, isso sim, despertar aquele potencial poderoso que todos sem exceção carregamos dentro de nós. Há, sem dúvida que pratique a caridade abrasado pelo “sol de mil faces”, o amor. Não é o caso da maioria de nós. Ainda temos necessidade de praticar a caridade como exercício de despertamento desse germe vivaz.  A pratica da caridade é a faísca que acende a fogueira do amor, esse sol interior.

O antigo sermonista não poderia deixar de nos alertar:

O conforto exagerado, a comodidade superlativa vem fazendo que os cristãos se apresentem modorrentos, cansados, sem terem a dinâmica que tipificava os lidadores do passado.

Alguns esclarecimentos se fazem necessários. Já fui acusado, ou melhor, alertado, certamente por pessoas que desejam o meu bem, sobre a utilização de palavras fortes quando me refiro aos comportamentos vigentes em nosso movimento. Mas, veja o leitor que essas palavras “fortes” não são exclusividades minha. Espíritos de escol as utilizam. Se fizermos uma pesquisa atenta veremos que Joana de Angelis faz uso constante dessas palavras, ditas fortes. Emmanuel é rico em expressões “fortes”. O próprio codificador as utilizou. É verdade que Kardec, em “O Livro dos Médiuns” chamou algumas de pessoas de burras, mas com tanta elegância que a maioria nem notou. Por exemplo, quando diz […] é preciso se seja dotado de muito obtuso juízo, para confundir a exageração de uma coisa com a coisa mesma. (cap. IV. item 39). Em resumo, em palavras rebuscadas, o que ele diz é que é presico ser muito burro para confundir uma coisa com a outra. Caso tenha alguma dúvida, consulte um dicionário para verificar o significado da expressão utilizada pelo codificador.

Modorra, em bom português quer dizer sonolência, preguiça. Para vencer essa essa preguiça, ele recomenda:

Ponde sacrifício nas vossas ações. Colocai o esforço da vossa contribuição pessoal, o vosso suor, nas atividades evangélicas para que não a descaracterizem, dando a vossa contribuição pessoal intransferível, a dita dos vossos valores intrínsecos.

Parece que Monte Alverne está gritando em nossos ouvidos a necessidade de nos mexermos, se quisermos realmente modificar esse mundo que está em ruínas morais. Observe que ele fala da necessidade de dar a nossa contribuição de esforço pessoal para que o movimento espírita não seja descaracterizado. Sem esforço, sem sacrifícios, não haverá nenhuma regeneração. Somos cooperadores da providência e devemos assumir nossas responsabilidades.

Há quem pense que sacrifício o é somente o que provoque dor. O conceito de sacrifício está incluso num outro mais abrangente e de fundamental importância para a compreensão do verdadeiro significado de caridade. É o de abnegação. Esta virtude, elemento primacial da caridade, significa o esforço, a renúncia de algo que nos seja agradável, para beneficiar a outrem. Mesmo nas hostes espíritas, pretensos renovadores dos ideais cristãos, essa virtude está muito esquecida. Tente o leitor reunir um grupo de espíritas para trabalhar em prol dos necessitados num dia ensolarado e convidativo para a praia. Muitos se prontificarão, alguns comparecerão e um grupo reduzíssimo permanecerá até o final da tarefa. Afinal, temos muitos compromissos importantes, como assistir ao jogo do nosso time, lavar o carro, ler um bom livro numa rede. Se este convite acontecer no sul do Brasil, no período do frio, então teremos compromissos inadiáveis, como preparar uma boa e gorda picanha, tomar alguns copos de vinho com os amigos diante da lareira para esquentar o corpo… As desculpas são muito mais criativas do que estas que apresentei. A verdade é que sacrifício, hoje, para os cristãos novos, como diz Francisco do Monte Alverne, é um belo de um palavrão.

A pergunta que cutuca a minha mente é a seguinte: se tudo isto está acontecendo não será porque os centros espíritas estão mal organizados para formar uma legítima consciência espírita? Será que não estão se perdendo em mil tarefas divergentes enquanto os sistemas de formação permanecem precários?

Fonte: Espiritismo: Centros e Movimento

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Inspiração e mediunidade

Por Izabel Vitusso

Em seu livro Sobrevivência e comunicabilidade dos espíritos1, o escritor Herminio Miranda aborda um dos assuntos que diz lhe exercer grande fascínio: a interferência dos espíritos no processo de criação através da mediunidade.

Em um capítulo, ele cita inúmeros casos do livro The creative process (O processo criativo)2, do americano Brewster Ghiselin, com depoimentos de intelectuais que contam sobre suas experiências e métodos de criação.

Herminio lembra que para o espírita é natural compreender que muitas das experiências envolvendo o momento da criação sejam autênticos fatos mediúnicos e anímicos. “As grandes inspirações, quase sempre súbitas como um flash, não são mais que fagulhas divinas, que ateiam o fogo sagrado no qual se funde a obra de arte ou a descoberta científica”, destaca.

O poeta e pintor William Blake (1757-1827), considerado como um dos maiores poetas ingleses e um dos pensadores mais originais, declarou que alguns de seus poemas lhe vinham sem nenhum preparo prévio, como se lhe fossem ditados. Sobre ele, o poeta inglês William Wordsworth chegou a comentar: “Não há qualquer dúvida de que este pobre homem é um louco; mas há algo em sua loucura que me interessa mais do que a sanidade de Lord Byron e Walter Scott”, igualmente poetas.

Há inúmeros registros também de experiências mediúnicas envolvendo os grandes nomes da música clássica. Mozart confessava não saber de onde nem como vinha a inspiração, mas informava que, em estado de quietude, ouvia linhas melódicas completas e acabadas, que ele ia retendo em sua magnífica memória.

O poeta Samuel Taylor Coleridge, dizendo-se certa vez indisposto, depois de medicado, adormeceu por cerca de três horas, período em que teve estranhas visões. As imagens levantavam-se diante de seus olhos, como se fossem vivas. Ao acordar, tinha tudo muito claro na memória e se pôs a escrever ansiosamente o poema que lhe ficara na lembrança. Só não foi possível terminá-lo por ser interrompido por uma visita, reconhecendo com tristeza, ao voltar a escrever, que o restante da genial ideia havia se apagado totalmente da memória.

A poetisa americana Amy Lowell declarou certa vez: “Não ouço uma voz, ouço palavras; só que a pronúncia é destituída de som. Parecem ter sido pronunciadas na minha cabeça, mas ninguém as enuncia”.

Extraindo ainda da obra The creative process, Herminio Miranda reproduz em seu livro o que teria dito o filósofo Friedrich Nietzsche sobre a possibilidade de se comunicar com algo fora dos limites corporais. Nietzsche chegou a perguntar se, ao finalizar o século 19, haveria alguém que pudesse ter uma noção distinta sobre o que os poetas de um dos períodos mais vigorosos queriam dizer quando falavam em inspiração. “Mesmo que se possa guardar o mais ligeiro resquício de superstição, é difícil rejeitar completamente a ideia de que somos simples encarnação, porta-voz ou médium de algum poder superior”, conclui o grande pensador.

Izabel Vitusso

Fonte: correio.news

Referências:

1 Ed. FEB, 1ª edição 1975.

1 Ed. New American Library.

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Abandonando Culpas e Assumindo Responsabilidades

Ana Paula Martins

Várias são as definições de “culpa”: é um sentimento doloroso de quem se arrependeu de suas ações; é um sentimento que surge após a pessoa julgar a si mesma por um comportamento passado; é um sentimento que se manifesta quando a pessoa avalia sua ação e a reprova.

De modo geral, a culpa é um sentimento que se apresenta à consciência quando a pessoa avalia seus atos de forma negativa, sentindo-se responsável por falhas, erros e imperfeições. Assim, a culpa está intimamente ligada à violação de valores morais, ou seja, surge quando se pratica um ato contrário à norma moral.

O Livro dos Espíritos esclarece perfeitamente a compreensão dos valores morais. A questão 629 esclarece que “a moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus” (KARDEC, 2022, p. 244), que está escrita na própria consciência (KARDEC, 2022, p. 241), intimamente ligada a cada um.

Desta forma, se pode dizer que “o bem é tudo o que é conforme a Lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a Lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la” (KARDEC, 2022, p. 244).

Então, violada a Lei de Deus, surgindo o sentimento de culpa, a pergunta que fica é: o que fazer agora?

Manter o sentimento excessivo de culpa, é ficar preso a um estado vibracional baixo, se afetando terrivelmente. Nutrir esse sentimento é se condenar ciclicamente, mantendo presente o erro cometido e se impedindo de perdoar, modificar e progredir. A presença incessante de culpa pode causar consequências graves, resultando até mesmo em doenças (físicas e emocionais), obsessão (já que atrai Espíritos que se satisfazem neste estado de culpa) e auto-obsessão.

No livro Pensamento e Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier, Emmanuel diz que “quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentido de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma. E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abcesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio” (XAVIER, 2019, p. 39).

Manter o peso da culpa é um impedimento para se perdoar pelo erro cometido e o imediato reajustamento para o equilíbrio vibratório.

Conclui-se que, surgindo o sentimento de culpa, é preciso tornar essa culpa em algo positivo o mais rápido possível, ou seja, é preciso perceber qual a função do erro, para se libertar da dor e evoluir em sua caminhada.

Pode-se dizer que, havendo culpa, é necessário que haja arrependimento do ato cometido. Arrependimento significa mudar o pensamento, mudar de direção, é assumir a necessidade de uma vida diferente. Arrepender-se é decidir voltar a agir em conformidade com as Leis de Deus, libertar-se da culpa.

Não se pode postergar o desejo de se arrepender, para não levar para a Vida Espiritual esse sentimento. No Livro dos Espíritos vemos que é possível se arrepender na vida física ou Espiritual, porém, quando se compreende a diferença do bem e do mal, é possível alcançá-lo nesta existência (KARDEC, 2022, p. 358).

Entretanto, não basta se arrepender, mesmo que sinceramente, é preciso a reparação do erro, caminho para a evolução espiritual (KARDEC, 2022, p. 360). Então, encarnado, há tempo para a reparação de erros (KARDEC, 2022, p. 359).

Porém, antes de se falar em reparação do erro, é preciso comentar sobre perdão. “O perdão é um dos antídotos para a culpa; a coragem de pedir perdão e a capacidade de perdoar são dois mecanismos terapêuticos liberadores da culpa” (FRANCO, 2014, p. 54).

Também muito importante é se perdoar! Pode-se errar por estar fazendo o que se julga certo ou por não agir da maneira correta, não importa. O que foi feito, foi feito, seja por um mau julgamento ou por uma má ação. Muitas vezes é necessário ter a mesma compaixão que se tem com o próximo para consigo mesmo.

Como ensinou Jesus: “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes” (MATEUS 18:22). É preciso estar sempre disposto a perdoar!

Cometido o erro, se sentido culpado e se perdoando, é chegada a hora de assumir as responsabilidades.

O Livro dos Espíritos esclarece que “a Lei de Deus é a mesma para todos; porém o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade” (KARDEC, 2022, p. 245). Continua dizendo que “o mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram. Porque, casa um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a quem tenha dado lugar (KARDEC, 2022, p. 246).

O que realmente importa não é apontar culpados, mas assumir a própria responsabilidade pelos atos cometidos. Porém, não basta assumir o erro e não mais praticá-lo, é necessário ir além, seguir no caminho da reparação, que é verdadeiramente um ato libertador.

A reparação pode ser vista de várias formas. Quando o erro não acarreta prejuízo a outra pessoa, será feita pela mudança de comportamento, seja fazendo o que se deixou de fazer, ou realizando deveres ignorados, ou refazendo a tarefa malsucedida de forma mais zelosa.

Quando o erro afeta diretamente outra pessoa, é preciso corrigir o que foi feito de mal. Joanna de Ângelis disse que havendo a consciência do erro e a necessidade de reparação, a forma mais eficiente é assistir o prejudicado, possibilitando a recomposição do dano (FRANCO, 2014, p. 54).

Quando se adquire um débito, este em algum momento deverá ser quitado. Se não nesta, em alguma encarnação futura, já que todas as existências estão interligadas. Aquele que não repara os seus erros nesta vida, por fraqueza ou má vontade, reencontrará, numa próxima existência, as mesmas pessoas a quem prejudicou (KARDEC. 2016, p. 89). O próprio O Livro dos Espíritos ensina que “é possível quitar débitos na própria encarnação e que o mal apenas pode ser reparado pelo bem” (KARDEC, 2022, p. 360-361)

E quando não se tem como reparar o erro cometido com o ofendido? A reparação será feita através de outros, ensinando, auxiliando, amparando. Basta seguir o que o Apóstolo Pedro ensinou: Sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados (PEDRO 4:8).

Somos Espíritos em evolução, atualmente, aqui na Terra, imperfeitos, cometendo muitos erros. O Espírito sofre, na vida espiritual, as consequências de todas as imperfeições das quais não se libertou durante o período em que viveu na Terra (KARDEC, 2016, p. 86). O arrependimento é o primeiro passo para a regeneração, mas ele sozinho não é suficiente. É preciso ainda expiar e reparar as faltas cometidas (KARDEC, 2016, p. 89).

O passado não pode ser alterado, o que foi feito, está feito. Todo mal praticado, é uma dívida contraída, que, em algum momento, deverá ser quitada. A Lei Geral estabelece que toda falta recebe a sua punição e toda boa ação recebe a sua recompensa. O arrependimento suaviza as dores da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação, mão somente a reparação da falta pode anular o efeito, destruindo-lhe a causa (KARDEC, 2016, p. 86).

A Lei do Progresso oferece a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta e de liberta-se do que tem de mau, de acordo com a sua vontade e os seus esforços. Disso resulta que o futuro está ao alcance de todas as criaturas, porque Deus não abandona nenhum de Seus filhos. Ele os recebe em Seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada um o mérito de suas obras (KARDEC, 2016, p. 87).

Ana Paula Martins

Fonte: Letra Espírita

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Referências:

1- FRANCO, Divaldo. Conflitos Existenciais, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 6ª ed. Salvador: Centro Espírita Caminho da Redenção, 2014.

2- KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, adaptação e organização de Claudio Damasceno. 1ª ed. Porto Alegre: Besouro Box, 2016.

3- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes: Letra Espírita, 2022.

4- XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida, pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, 2019.

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Adultério e prostituição

Emmanuel

Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado, disse Jesus. Esta sentença faz da indulgência um dever para nós outros porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita. O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. X, Item 13

É curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas, nos domínios do espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo, para pronunciar a sua inolvidável sentença:

“Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.

Dir-se-ia que no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no cardume das existências consecutivas, aos chamados “erros do amor”.

Penetre cada um de nós os recessos da própria alma, e, se consegue apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indague-se, com sinceridade, quanto às próprias tendências. Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.

Desses embates multimilenares, restam, ainda, por feridas sangrentas no organismo da coletividade, o adultério que, de futuro, será classificado na patologia das doenças da alma, extinguindo-se, por fim, com remédio adequado, e a prostituição que reúne em si homens e mulheres que se entregam às relações sexuais, mediante paga, estabelecendo mercados afetivos. Qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência homicida e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, o adultério e a prostituição ainda permanecem, na Terra, por instrumentos de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida.

Note-se que o lenocínio de hoje, conquanto situado fora da lei, é o herdeiro dos bordéis autorizados por regulamentação oficial, em muitas regiões, como sucedia notadamente na Grécia e na Roma antigas, em que os estabelecimentos dessa natureza eram constantemente nutridos por levas de jovens mulheres orientais, direta ou indiretamente adquiridas, à feição de alimárias, para misteres de aluguel. Tantos foram os desvarios dos Espíritos em evolução no Planeta – Espíritos entre os quais muito raros de nós, os companheiros da Terra, não nos achamos incluídos – que decerto Jesus, personalizando na mulher sofredora a família humana, pronunciou a inesquecível sentença, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a companheira infeliz a primeira pedra.

Evidentemente, o mundo avança para mais elevadas condições de existência. Fenômenos de transição explodem aqui e ali, comunicando renovação. E, com semelhantes ocorrências, surge para as nações o problema da educação espiritual, para que a educação do sexo não se faça irrisão com palavras brilhantes mascarando a licenciosidade. Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.

Emmanuel por Chico Xavier do livro: Vida e Sexo

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Um papo aberto sobre racismo e espiritismo

Por Eliana Haddad

Adolfo de Mendonça Júnior, 54 anos, é historiador e especialista em língua portuguesa. Natural de Franca, SP, tem atuado no movimento espírita como articulista e palestrante. É pesquisador e tem participado de encontros da Associação Brasileira de História Oral e da Liga de Pesquisadores do Espiritismo.

Trabalhador do Grupo Espírita Luz e Amor, Adolfo é membro do Núcleo de Pesquisadores Espíritas Agnelo Morato, grupo fundado em 2017 e que tem por finalidade aproximar estudiosos e interessados no desenvolvimento de pesquisas sobre a temática espírita em uma perspectiva acadêmica, tendo como referencial teórico a obra de Allan Kardec.

Com artigos publicados no Jornal de Estudos Espíritas (JEE), Adolfo tem se debruçado sobre a questão do racismo. Seu artigo “Allan Kardec, a ciência e o racismo” também foi traduzido para o francês e publicado na Revista Espírita do primeiro trimestre de 2019.

Convidado pelo Correio Fraterno, Adolfo concedeu-nos a seguinte entrevista:

Como analisa a pauta atual sobre racismo no Brasil e no mundo?

A agenda racista, tanto no Brasil quanto no mundo, é ampla, multifacetada e não tem sido totalmente discutida. Ela é fruto da escravidão e de uma narrativa racista

que coloca os brancos como superiores, responsáveis por trazer ‘progresso’ para suas colônias. Para se compreender melhor essa pauta, é necessário analisar a história e a formação estrutural das colônias europeias no século 16. Também é importante examinar as estruturas históricas dos países africanos, asiáticos, americanos e da Oceania, que ainda sofrem as consequências da exploração imposta pelos estados capitalistas no contexto do neocolonialismo no século 19. A suposta superioridade da raça branca foi usada para justificar a exploração e opressão dos povos coloniais, o que explica as raízes do desenvolvimento do racismo estrutural. A exploração econômica, os sistemas opressores e as práticas discriminatórias marcaram profundamente as estruturas sociais, políticas e econômicas das áreas colonizadas. Abordar essa história e a formação estrutural dos países colonizados é fundamental para entender as bases do racismo contemporâneo.

No Brasil, o debate e a conscientização sobre o racismo aumentaram nos últimos anos, ganhando destaque em áreas como ativismo, academia e mídia. Movimentos sociais, coletivos, figuras públicas e independentes têm feito campanhas contra a discriminação racial.

O debate internacional sobre o racismo intensificou-se, impulsionado por movimentos como o Black Lives Matter (Vidas negras importam) nos EUA, que combatem a brutalidade policial e a desigualdade racial. Países estão formando suas forças policiais para lidar com o uso excessivo de força. Empresas e organizações também estão sendo convidadas a examinar suas práticas internas para promover a igualdade.

E no espiritismo? Afinal, como os espíritas devem se posicionar com relação às acusações de que Kardec era racista?

O anacronismo é um conceito histórico importante que devemos considerar ao analisar as sociedades do passado. Aplicar conhecimentos e valores atuais a essas sociedades distorce nossa compreensão. Cada sociedade tem sua própria dinâmica e evolui com base em diferentes fatores. Antes de tirar conclusões ou fazer julgamentos, é necessário ter um conhecimento mais aprofundado da cultura e do ambiente em que vivem essas sociedades.

O racismo é o ódio e o desprezo dirigidos a alguém ou a um grupo étnico considerado inferior. É também uma ideologia da classe dominante, capitalista e predominantemente branca, que pode ser expressa por meio de linguagem ofensiva, insultos, agressões físicas, exclusão social, segregação, etc. O racismo não é apenas ódio pessoal, mas um sistema complexo de opressão e desigualdade que afeta muitos aspectos da vida. As manifestações de racismo podem ocorrer por meio de atitudes abertamente racistas, ou mais sutilmente, por meio de estereótipos, viés inconsciente e discriminação velada.

Portanto, seria injusto e desonesto dizer que Allan Kardec odeia certas pessoas ou grupos. Seria perder de vista a essência de seu ensinamento, pois seu trabalho está intrinsecamente ligado à prática do amor e da caridade, transcendendo qualquer forma de preconceito ou discriminação.

Como historiador, o que você pode nos esclarecer sobre os trechos considerados racistas nas obras de Kardec?

 Allan Kardec era um homem de seu tempo. Ele se utilizou do conceito de racialismo, ou racismo científico, que estava em voga e que apresenta a ideia de desenvolvimento das raças. Em meu entendimento, conforme o estado evolutivo, os espíritos simples e ignorantes tendem a reencarnar em corpos mais grosseiros ou menos grosseiros, enquanto os espíritos mais adiantados reencarnam em corpos supostamente superiores. É por isso que ele chegou a afirmar: “Um chinês, por exemplo, que progredisse suficientemente e não encontrasse mais em sua raça um meio correspondente ao grau que atingiu, encarnará entre um povo mais adiantado” (O que é o espiritismo, cap. III – “Solução de alguns problemas pela doutrina espírita”, item 143: O homem durante a vida terrena). Fazendo uma analogia com o perispírito, que é mais grosseiro ou menos grosseiro conforme o estado evolutivo do ser, assim Kardec preconizava o conceito de raça, uma categorização que pretende classificar o corpo humano, pautando-se em características físicas e hereditárias, como a cor da pele, a forma do ângulo facial, do crânio, dos lábios, do nariz, do queixo etc. Kardec se referia à raça ou ao corpo carnal e não ao espírito. Como historiador não uso anacronismos, ou seja, o conceito de raça preconizado por Kardec era cientificamente aceito em sua época e, se ele for considerado racista, todo pesquisador do século 19 também é racista.

Você é de opinião que a obra de Kardec necessite de revisão nesse sentido?

O livro dos espíritos tem mais de 160 anos. Desde então, muita coisa mudou e a humanidade avançou científica, cultural, econômica, política e socialmente. Conceitos como “povos selvagens” e “civilizados” foram revistos pela academia. Devemos considerar os avanços da ciência e atualizar pontos que por demonstração já foram ultrapassados, continuando o trabalho de Kardec de desenvolvimento da ciência espírita.

Não podemos alterar o texto de um autor, mas podemos, por exemplo, acrescentar notas de rodapé e comentar as atualizações feitas pela ciência. Segundo Kardec, o espiritismo não se afastará da verdade e não tem nada a temer, desde que sua teoria continue sendo baseada na observação dos fatos. O espiritismo ainda tem muito a dizer sobre suas consequências, mas sua base é inquebrantável por estar fundamentada nos fatos, conforme comentários na Revista Espírita de fevereiro de 1865, sobre a perpetuidade do espiritismo.

Como lidar atualmente com teorias científicas do passado que são contestadas pela ciência contemporânea?

O espiritismo não tem nada a temer. A ciência se transforma com os avanços do progresso, estando em constante evolução e buscando validar e aprimorar suas teorias e descobertas por meio de métodos científicos rigorosos. É comum no meio científico que uma nova descoberta ou revelação precise ser validada pela comunidade científica antes de ser amplamente aceita. Nesse sentido, considerando que não cabe à comunidade científica contestar os princípios fundamentais do espiritismo, posto que o objeto de estudo da ciência é o princípio material e o objeto de estudo do espiritismo é o princípio espiritual, cabe a nós, espíritas, utilizar eventos e periódicos espíritas de natureza científica, como o Enlihpe e o JEE, para estabelecer um mainstream espírita e promover a ciência espírita, realizando estudos consistentes, testando e comprovando as novas revelações.

E preconceito no movimento espírita? Existe ou não? Qual sua visão sobre as minorias nas atividades espíritas?

Sim, há preconceito no movimento espírita, assim como há desigualdade social e econômica entre diferentes etnias. Há poucos pretos em cargos administrativos em centros espíritas ou em órgãos federativos e poucos palestrantes pretos espíritas. Tenho a sensação de ser visto como alguém que “conquistou” seu espaço por meritocracia, mas não acredito nessa ideia. Muitos amigos pretos não tiveram as mesmas oportunidades e deixaram de frequentar centros espíritas por causa dos gastos com eventos e palestras. É preciso avançar neste debate. Sou defensor do movimento de unificação e acredito que os dirigentes espíritas precisam considerar as desigualdades sociais ao organizar suas atividades. Apesar das restrições financeiras das federativas espíritas, é preciso incluir os excluídos e dar oportunidades aos que desejam conhecimento, mas não dispõem de recursos financeiros. Devemos envolver as minorias nas atividades espíritas. Elas enfrentam diferentes formas de discriminação e marginalização. É importante combater o racismo e o preconceito de todos os tipos, promover a igualdade, o respeito mútuo e valorizar a diversidade. Isso requer conscientização, educação, políticas antirracistas e engajamento em discussões construtivas para promover a dignidade humana e a justiça social.

Fonte: correio.news

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O ESTUPRO NUMA VISÃO ESPÍRITA

Marcelo Henrique Pereira

Dentre os crimes existentes, mormente no âmbito da natureza sexual, um dos mais aberrantes e horrendos é, sem dúvida nenhuma, o estupro. A legislação humana – particularmente, a brasileira, – impinge-lhe uma severa capitulação, dispondo sobre ele no título reservado aos Crimes contra os Costumes, no capítulo dos Crimes contra a Liberdade Sexual, conforme os artigos reproduzidos no quadro ao lado.

A moderna legislação pátria considera-o, ainda, como crime hediondo (1), o qual significa depravado, vicioso, sórdido, imundo, repelente, repulsivo, horrendo, sinistro, pavoroso, medonho. (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2ª ed., p. 884, Nova Fronteira, 1986).

As características fundamentais do tipo-crime dão-nos conta da atitude criminosa de alguém que constrange outrem à prática de conjunção carnal ou ato libidinoso, por meio de violência ou grave ameaça (artigo 213, do Código Penal Brasileiro).

Deixando de lado os aspectos puramente legais do tema, pretendemos traçar uma abordagem acerca da visão espírita (e espiritual) deste ato, assim como de suas causas e conseqüências, abstratamente falando. Queremos deixar bem claro que nossas posições são pessoais, com base em informações genéricas contidas nas obras básicas da Codificação Kardequiana, em virtude da escassa bibliografia existente.

Dentre as liberdades de que a criatura humana é detentora, na qualidade de direitos fundamentais, talvez a mais significativa seja a liberdade sexual. Afinal de contas, baseada em padrões de moralidade, distintos entre si e peculiares a cada individualidade, a escolha de parceiros sexuais não obedece a nenhum padrão. O ser, baseado em sentimentos e (ainda) em instintos, deixa aflorar sua sexualidade, partindo para a busca e o encontro de um companheiro para satisfazer seu prazer, na permuta de energias sexuais.

Por isso, quando se tem notícia de que ocorreu um estupro, isto é, a conjunção carnal forçada, imposta pela força física ou pela coação moral (psicológica), estamos diante da maior violência que se pode praticar contra o ser, excetuando-se, é claro, o aborto, onde a vítima é totalmente incapaz de defender-se.

No estupro, o que conta não é a possibilidade (ou não) de resistência da vítima às ações do agressor. Isto é secundário. Tampouco se deve verificar se a primeira, por sua ação ou intenção, manifesta em gestos, comportamentos, olhares, sinais, ou, ainda, em sua forma de trajar ou sua conversação, tenha provocado o aflorar dos desejos sexuais de outrem. Ou, ainda, se o criminoso possuía um estado psicopatológico anterior que o mantinha intimamente ligado à idéia da relação sexual, ou, até a sua vinculação mental (fixação mental) ao objeto de seus desejos. O que realmente conta é a atitude desmedida, agressiva e irracional, e a enorme carga de responsabilidade que resulta do ato cometido, que agride a função sexual da vítima e interfere na energia contida nas gônadas femininas.

Em alguns encontros espíritas, presenciamos discussões que procuravam delimitar o estupro perante a Espiritualidade, isto é, tentavam analisar se, dentre as provas e expiações a que o homem se sujeita, em razão de seu grau evolutivo e da sua passagem por este planeta, não poderia estar planejada uma situação em que ocorreria o estupro, como forma de resgate de erros pretéritos, por parte da vítima.

O exame das obras básicas é, como dissemos, fundamental e constitui o primeiro passo, para entender tal situação.

Então, o que constitui o Planejamento Encarnatório?

Do exame de “O Livro dos Espíritos” (2), podemos extrair a cristalina idéia de que nem todas as tribulações que experimentamos na vida foram previstas e escolhidas por nós. A escolha se resume ao gênero da prova. Exemplificadamente, o Espírito de Verdade nos adverte: “Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, sabia a que tentações se expunha, mas ignorava cada um dos atos que viesse a praticar. Estes atos são efeito de sua vontade, ou de seu livre arbítrio.”

A regra norteadora, como sempre é a liberdade de ação, com a necessária atenção para a responsabilidade quanto ao reflexo destes, o resultado.

Fazendo, pois, uma analogia com o suicídio, encontramos na literatura espírita a consideração de que todos os desencarnes são previstos pela Espiritualidade, à exceção daquele, quando o ser renuncia voluntariamente à oportunidade de vida, abreviando sua existência.

Assim, afirmamos que há certa resistência de nossa parte em aceitar que uma brutalidade como o estupro possa estar incluída como uma prova escolhida pelo espírito reencarnante, tendo em vista que, deste modo, quem seria “escalado” para ser o algoz, o estuprador? Não estaria sendo ele, instrumento de uma severa e dolorosa forma de “resgate”?

Poderiam afirmar alguns: quem sabe a vítima, numa vida, poderia retornar para ser o agressor em outra? Pois bem! Onde fica a Lei de Justiça, Amor e Caridade? Ou, quem sabe, voltaríamos nós à época da barbárie, onde a Lei de Talião era a severa espada da justiça, isto é, o que se fez, da mesma maneira se sofre? A razão espírita repudia tais considerandos…

Todavia, há que se mencionar, também, a questão da “necessidade dos escândalos” (Mateus: 18, 6-11), tão bem enfocada por Jesus. Mas, “ai de quem seja instrumento dos escândalos”, diz a passagem, demonstrando claramente que a Lei Natural presente no Universo aproveita as situações surgidas pela vontade humana, filtrando-as e enquadrando-as no contexto das encarnações dos seres. Uma guerra ocorre por vontade humana, dos dirigentes das nações e sua efetivação ceifará muitas vidas, entre civis e militares. Portanto, as pessoas atingidas pela desencarnação violenta decorrente das guerras, assim como aquelas que terão seqüelas físicas e psicológicas, aproveitam o acontecimento funesto para resgatarem dívidas de ontem. Mas, e quanto a seus algozes, os guerreiros que provocaram mortes e ferimentos? Evidentemente, por suas atitudes, serão julgados pelo tribunal da consciência e carecerão de novos reajustes, onde saldarão seus débitos, em outras existências.

O estupro, assim, não obedece a nenhum planejamento espiritual. Todavia, em acontecendo, vítima e agressor submetem-se aos desígnios da Lei Maior, sujeitos à completa análise espiritual da questão, resultando para a primeira, por suportar a prova com coragem e resignação, condição de progresso espiritual e, para o segundo, dolorosa senda de refazimento de seus atos, esperando contar, ainda, com o perdão da primeira como forma de ajuda para superar suas próprias deficiências.

E para nós, que ainda nos revoltamos quando presenciamos notícias sobre a ocorrência de um estupro, bradando justiça, entendamos que nada escapa aos desígnios da Providência e, antes de nos transformarmos em juízes dos infelizes seres que cometem tal atrocidade, lembremos da mensagem do Nazareno do “atire a primeira pedra”, recolhendo-nos à meditação e à prece em seu favor, para que os mesmos possam sair do mar de lama em que se encontram, arrependendo-se sinceramente de seus atos, reivindicando, assim, nova oportunidade benfazeja de reparação, para, ao final, alcançar a paz e a serenidade.

Marcelo Henrique Pereira

(1) Lei Federal n.o 8.072/90.

(2) Questões 258 a 273.

Código Penal Brasileiro

Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça:

Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.07.90)

Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 9.281, de 04.06.96)

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 8.069, de 13.07.90)

Art. 223. Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.07.90)

Parágrafo único: Se do fato resulta a morte:

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 25 (vinte e cinco) anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.07.90)

Art. 224. Presume-se a violência, se a vítima:

  • a) não é maior de 14 (catorze) anos;
  • b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
  • c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

Fonte: Espiritismo na Rede

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A Obesidade mental

Ricardo Di Bernardi

Ao contrário do que a designação “obesidade mental” possa sugerir, não trataremos aqui do aspecto do ganho de peso excessivo causado por questões emocionais, mas adotaremos a expressão “obesidade mental ” para enfocar o excesso de volume ou “gordura desnecessária” de dados armazenados pelo nosso psiquismo.

Uma questão se impõe nos dias de hoje: o excesso de informações poderia trazer prejuízos ao nosso psiquismo e a nossa espiritualização?

Sim, quando se fala em excesso, não há dúvida que o agressivo volume de informações, quando nos impacta e nos impregna, torna-se acúmulo de dado que não conseguimos processar de forma organizada e psiquicamente saudável. São partículas ou ondas de informação que promovem em cada um de nós um fenômeno totalmente específico, pois cada um reage de forma diferente.

O excesso de informações cria reservas de energia em nossa intimidade psíquica, nosso inconsciente, e essas reservas pulsam, gerando campos vibratórios em nossa mente com consequências imprevisíveis para cada pessoa.  Este volume de campos energéticos armazenados seria a “obesidade mental”.

Atualmente, estamos sujeitos ao bombardeio energético de informações através da internet, TV, telefone celular e outros veículos de informações. Cumpre a nós o bom senso de não nos alienarmos da vida moderna, não nos isolarmos, mas convivermos de forma equilibrada com a tecnologia.

Em qualquer forma de obesidade, mais importante do que o tratamento seria a profilaxia, ou seja, adotarmos um conjunto de medidas preventivas.

A medida preventiva mais eficaz seria, sem dúvida, uma dieta adequada. A dieta que sugerimos teria itens na prescrição. Analogamente à dieta preventiva da obesidade física, onde a redução de determinados alimentos, tais como carboidratos é recomendável, além da diminuição do volume de todos os alimentos, deve-se adotar na “obesidade mental ” uma dieta psíquica. Esta dieta psíquica prescreve, inicialmente, a redução quantitativa de estímulos mentais como primeiro item de orientação médica.

Assim, já nos deparamos com jovens que, simultaneamente, veem TV, digitam o teclado do computador, conversam com a pessoa ao seu lado, observam pela janela o que ocorre lá fora e pasmem: atendem o celular ou mantem um fone de ouvido… Caberia muito bem, neste caso, uma boa dieta. Uma redução na “ingestão” de alimentos psíquicos, montar um prato com uma montanha menor de alimentos psíquicos.

O segundo item da nossa prescrição seria, além da dieta quantitativa, uma dieta qualitativa. Da mesma forma como,  na obesidade física, recomendamos reduzir a ingestão de carboidratos, e aumentar a ingestão de alimentos ricos em  vitaminas,  seria, de fundamental importância, selecionarmos os programas, adequar o gênero de informações que estamos captando, inúmeras vezes ao dia, de forma repetida, ( insisto: sistematicamente repetida), e preenchermos parte deste tempo com leitura, música suave e contato com a natureza.

O último item da nossa prescrição constaria de uma transfusão, não uma transfusão sanguínea, mas uma transfusão de energia afetiva, social e familiar. O amor é fundamental em nossas vidas.

Dr. Ricardo Di Bernardi é médico pediatra, homeopata. Fundador e presidente do ICEF em Florianópolis. Autor de vários livros entre eles – Gestação Sublime intercâmbio. http://www.estantevirtual.com.br/autor/ricardo-di-bernardi

Fonte: Medicina e Espiritualidade

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Entrevista com Ricardo Luiz Capuano – Médico veterinário.

Procuramos através deste pequeno questionário esclarecer as dúvidas mais frequentes em relação à espiritualidade dos animais, tendo como base as obras de Allan Kardec, Chico Xavier, Marcel Benedeti e outros grandes autores espíritas.

Se você ama os animais e deseja saber mais sobre a espiritualidade dos animais

Acompanhe o Podcast Bichos que Fazem História pelo Portal Mundo Maior

Ouça também o programa Nossos Irmãos Animais

Pergunta 1 – Os animais têm alma?

Resposta: Sim. Considerando que a inteligência é um dos atributos essenciais do espírito, tão importante que um se confunde com o outro, podendo até serem considerados a mesma coisa e como os animais agem demonstrando Inteligência Racional ou não Racional (na forma de instintos), eles possuem um principio independente da matéria que sobrevive ao corpo e pode ser considerado seu espírito e quando encarnado sua alma.

Justificativas:

 L. dos Espíritos – Pergunta 24 – A inteligência é um atributo essencial do espírito um e outro, porem, se confundem num principio comum, de sorte, que para vós, são a mesma coisa.”

L. dos Espíritos – Pergunta 73 – “O instinto é uma espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio”.

L. dos Espíritos – Pergunta 597 – “Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação. Haverá neles algum principio independente da matéria? – Há e que sobrevive ao corpo”.

Pergunta 2 – A alma dos animais difere da alma dos humanos?

Resposta: – Não, no sentido de sua origem. A alma dos humanos e dos animais só estão em fases evolutivas diferentes, onde as almas humanas tem uma aquisição muito maior.

Justificativas:

 L. dos Espíritos – Pergunta 540 – “Tudo se encadeia na natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo.”

L. dos Espíritos – Pergunta 606-A  “Então emanam de um único principio a inteligência do homem e dos animais? Sem duvida.”

Pergunta 3 – O que acontece com os animais ao desencarnarem?

Resposta: – Quando os animais desencarnam seu espírito é recebido por espíritos  incumbidos de tutelá-los no mundo espiritual. Ele é curado de suas enfermidades (muito mais rápido que os humanos) e é logo reconduzido para animar novos seres. Alguns animais, por suas características próprias e valores adquiridos servem ao homem também no mundo espiritual. Vemos, pois, cães, aves, e outros animais que são descritos nas obras espíritas, mas não são espíritos errantes, pois não possuem essa liberdade. Os espíritos dos animais no mundo espiritual ficam sob a tutela dos humanos, que se incumbem deles.

Justificativas:

 L. dos Espíritos – Pergunta 600 – “A alma do animal depois da morte é classificado pelos espíritos a quem incumbe essa tarefa e é utilizado quase imediatamente.”

L. dos Médiuns – Pergunta 283 – “Depois da morte do animal o principio inteligente que nele havia se acha em estado latente e é logo utilizado, por Espíritos incumbidos disso, para animar novos seres, em os quais continua a obra de sua elaboração, assim , no mundo dos espíritos não há errantes Espíritos de animais, porem unicamente Espíritos humanos.”

Nosso Lar – André Luiz – ”Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e de quando em quando pousavam agrupadas nas torres muitas alvas…”

                “Os cães são auxiliares preciosos nas regiões escuras do Umbral”

                “Animais que mesmo de longe pareciam iguais aos muares terrestres”

Pergunta 4 – Se os animais reencarnam eles evoluem como nós humanos?

Resposta: Os animais evoluem, mas não como nós, eles evoluem pela “força das coisas”, ou seja, por situações que são alheias a sua vontade. Como ainda não têm um livre arbítrio desenvolvido igual aos humanos à maioria das situações de aprendizado são motivadas por forças externas a sua vontade.

Deste modo os animais não tem que expiar suas dívidas, apenas aprender com suas experiências. O termo por “força das coisas” refere-se às organizações de Espíritos superiores agindo sobre os animais, que não poderiam se conduzir por si mesmos.

Justificativas:

 L. dos Espíritos – Pergunta 602 – “Os animais progridem como o homem, por ato da própria vontade, ou pela força das coisas? – Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação.”

Revista Espírita março de 1864 – “Há uma lei geral que rege os seres da criação, animados ou inanimados; é a lei do progresso. Os espíritos estão submetidos a ela pela força das coisas.”

Programa “Alma Querida” – Adão Nonato- “Os animais evoluem dentre as espécies até se aproximarem do homem, é pelo contato com o ser humano, que os animais irão fazer sua evolução para humanizar-se.”

Pergunta 5: Os animais sentem dor? Possuem sentimentos?

Resposta: Sim e cada vez mais a ciência vem confirmando esses fatos que aquelas pessoas que convivem com os animais nunca tiveram dúvida.

Justificativas:

“Lato, logo existo” – O Estado de São Paulo – 217\2012 – “Ante evidências de que os animais têm consciência e sofrem é hora de o homem tratá-los com respeito”…,…“Com o respaldo de uma década e meia de estudos do fenômeno da consciência, do comportamento animal, da rede neural, da genética e da anatomia do cérebro, cada vez mais refinado por novas tecnologias de investigação, concluiu-se que as estruturas nervosas ativadas no cérebro de um bicho assemelha-se às de um humano quando também sente prazer, medo, dor e até piedade.”

Mandato de Amor – Chico Xavier  “Quem ignora que a vaca sofre imensamente a caminho do matadouro? Quem duvida que minutos antes do golpe fatal, os bovinos derramam lágrimas de angústia? “

Qual sua Dúvida para o tema “A Espiritualidade dos Animais” – Marcel Benedeti – “Os animais, assim como nós, possuem sistema nervoso que serve para fornecer informações sobre o meio ambiente em que está . . .A dor que é uma interpretação desse sistema corporal, serve para indicar a presença de perigo ou risco para sua sobrevivência”

Pergunta 6 – Por que os animais sofrem tanto?

                Resposta: Os animais sofrem, não para compensar ou resgatar seus erros, pois seu livre arbítrio é muito restrito, mas sofrem para que sua consciência se expanda e alcancem maior conhecimento.

Justificativas:

 Léon Denis – “Todos os seres têm de passar pelo sofrimento. Sua ação é benfazeja…,… O sofrimento é, de modo geral, como agente de desenvolvimento, condição de progresso.”

Qual sua Dúvida para o tema “A Espiritualidade dos Animais” – Marcel Benedeti – “À medida que os Espíritos na condição animal, por exemplo, expandem sua consciência pela dor, expandem também sua condição de desenvolver sentimentos relacionados ao amor ao próximo, tornando –os aptos a entrar em outra faixa evolutiva: a humanidade.”

 Emanuel – Chico Xavier – “Nem sempre o sofrimento está atrelado ao resgate do passado, mas toda a vivencia atrelada ao sofrimento leva ao aprendizado.”

Pergunta 7: Como os animais reencarnam com certa rapidez é possível que retornem para a mesma família?

Resposta: Sim, e até muito provável que durante o percurso de nossa vida carnal, que é bem mais longa que a da maioria dos animais de estimação, reencontremos amigos que desencarnaram e que se apresentam em novos corpos para continuarem seu aprendizado a nosso lado.

Justificativas:

Qual sua Dúvida para o tema “A Espiritualidade dos Animais” – Marcel Benedeti – “Os animais principalmente os domésticos, aprendem conosco, que somos, além de irmãos, seus professores. Durante o tempo em que permanecem conosco, passam por várias experiências, como encarnados, e quando já for o suficiente, provavelmente ele reencarnará em outra família e em outra localidade onde aprenderá coisas que não podemos oferecer. Mas em geral retornam varias vezes ao mesmo lar.”

 Emanuel – Chico Xavier – “Chico, pare e preste atenção neste cãozinho. É o Dom Pedrito que está voltando para você!”

A Questão Espiritual dos animais – Irvênia Prada – “A reencarnação pode favorecer o reencontro afetivo entre animais e homens para continuarem juntos o aprendizado de amor”

Pergunta 8: Se os animais evoluem, eles um dia se tornarão humanos?

Resposta: Sim, como já foi comentado, a evolução se dá do “Átomo ao Arcanjo”,  assim a alma passa por uma evolução constante, cada vez galgando um degrau mais elevado. Tudo depende do aprendizado e chegará uma hora que os animais adentrarão no reino hominal, assim como o homem evoluindo se tornará um dia um arcanjo.

Justificativas:

A Gênese – Allan Kardec – “Todas as almas têm a mesma origem e são destinadas ao mesmo fim. A todos o Supremo Senhor proporciona os mesmos meios de progresso, a mesma luz, o mesmo amor.”

A Gênese – Allan Kardec – “A alma dos animais segue uma lei progressiva como a alma humana; e que o Princípio Inteligente de que são dotados (…) finalmente estes passarão um dia do reino animal para o reino hominal.”

Programa “Alma Querida” – Adão Nonato- “Os animais evoluem dentre as espécies até se aproximarem do homem, é pelo contato com o ser humano, que os animais irão fazer sua evolução para humanizar-se.”

Revista Espírita – Março de 1860 – “Pode (um animal) aperfeiçoar-se a ponto de se tornar um Espírito Humano? – Ele pode, mas depois de passar por muitas existências animais, seja no nosso planeta terrestre, seja em outros.”

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“Nossos benfeitores espirituais nos esclarecem que é preciso que todos consideremos que os animais diversos, a nós rodearem a existência de seres humanos em evolução no planeta Terra, são nossos irmãos menores, desenvolvendo em si mesmo o próprio princípio inteligente.(…) Eles, os animais aspiram ser, num futuro distante, homens e mulheres inteligentes e livres. Assim sendo, nós podemos nos considerar como irmãos mais velhos e o mais experimentado dos animais. (…) Tudo isso se resume em graves responsabilidades para os seres humanos; a angústia, o medo e o ódio que provocamos nos animais lhe altera o equilíbrio natural de seus princípios espirituais, determinando ajustamentos em posteriores existências (…) A responsabilidade maior recairá sempre nos desvios de nós mesmos, que não soubemos guiar os animais no caminho do Amor e do Progresso, seguindo a Verdade de Deus” – Chico Xavier – Mandato de Amor.

Autor: Ricardo Luiz Capuano- Médico veterinário- Apresentador do programa    “Nossos Irmãos Animais” e do quadro “Consciência Animal” na Rádio Boa Nova – Colaborador da Mundo Maior Editora – E-mail: r.l.c@ig.com.br – Site: www.wix.com\vetsantoestavão\clinica

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