Banalização da desigualdade
Seria ingenuidade da nossa parte não admitir que estamos vivendo um momento em que muitas pessoas banalizam a desigualdade social, não querendo enxergar que muitos vivem abaixo da linha da pobreza ou miséria, nas grandes cidades do país.
É muito fácil falar da desigualdade social, porém é muito difícil colocar em prática atitudes coerentes para minimizar a necessidade do próximo. Existe uma frase atribuída a Tolstói que diz:
“Se você sente dor, você está vivo. Se você sente a dor das outras pessoas, você é um ser humano.”
Não basta apenas saber que devemos exercitar a caridade para com as pessoas necessitadas, faz-se necessário que cada um de nós realize o que está ao nosso verdadeiro alcance.
Temos consciência que nas grandes cidades do nosso país, assim como do mundo, a população de moradores de rua aumentou consideravelmente, exigindo não apenas do governo, mas das instituições beneficentes, um trabalho redobrado de atendimento solidário. Em alguns momentos não tendo condições de realizar a caridade na acepção da palavra, o fato nos obriga, pela força das circunstâncias, a realizar um assistencialismo momentâneo.
Podemos nos reportar a Saulo de Tarso quando deixou bem claro a importância da caridade: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine”. (1 Coríntios 13)
Precisamos deixar de lado nossos tolos preconceitos e, dentro das nossas possibilidades, termos empatia à dor do próximo.
Em O Livro dos Espíritos, encontramos a seguinte explicação de Allan Kardec, sobre as dificuldades de viver na sociedade em que nos encontramos, sob um olhar da espiritualidade: Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. 1
Entre as grandes chagas da humanidade encontram-se o orgulho e o egoísmo e precisamos nos modificar, promovendo a nossa reforma íntima. A cada um segundo as suas obras, porém, quando tomamos consciência no decorrer da reencarnação, podemos mudar a nossa maneira de interagir com as outras pessoas e o mundo que nos cerca; tudo depende fundamentalmente de cada um de nós.
Nada nos impede de ressignificar nossas atitudes deixando o egoísmo de lado e nos tornando altruístas, nutrindo um desejo sincero de querer se modificar e servir.
Muitas pessoas nas grandes cidades parecem que se acostumaram com a desigualdade social e a miséria humana, a ponto de se tornarem indiferentes, como se os moradores de rua e mendigos fossem invisíveis a todos nós. Isso sem falar nas famílias que moram em comunidades, em condições de vida muito precárias e sobrevivendo com menos que o mínimo de dignidade exige.
Nossa sociedade precisa passar por um processo de moralização para poder evoluir e coletivamente ser merecedora de que o planeta Terra deixe de ser um mundo de provas e expiações, para se tornar um Mundo de Regeneração.
Já possuímos o conhecimento doutrinário e moral de como devemos agir, falta agora colocar em prática, através de atitudes coerentes e solidárias, a ajuda às pessoas necessitadas que passam por experiências reencarnatórias de provas e expiações. Podemos também falar das dificuldades de sobrevivência material, como aqueles que se encontram abaixo da linha da pobreza ou vivendo em condições de miséria extrema nas periferias dos grandes centros urbanos.
Pela mediunidade de Chico Xavier, o Espírito Emmanuel procura nos lembrar que estamos neste orbe de passagem, como um aluno na escola da vida, em busca de aprendizagem para nossa libertação. O fragmento do texto abaixo nos exorta para uma mudança na maneira de ver a estrada da vida, onde nos encontramos:
Vão e voltam viajores.
Sucedem-se os dias ininterruptos.
A árvore útil permanece, à margem do caminho, atendendo, generosamente, aos que passam.
Mergulhando as raízes na terra, protege a fonte próxima, alentando os seres inferiores, que se arrastam no solo. Recolhendo o orvalho celeste, na fronde alta, atende aos pássaros felizes que cortam os céus. 2
A diversidade das pessoas dificulta a convivência social, devido à grande heterogeneidade da nossa sociedade como um todo e muitas vezes acaba afastando uns dos outros devido ao nosso ponto de vista em relação aos valores sociais e à maneira como conduzimos a nossa vida.
Muitos daqueles que vivem nas ruas dos grandes centros urbanos, como indigentes ou moradores de rua, são pessoas que apresentam problemas psicológicos ou psiquiátricos, problemas de vícios ou até estão sob uma influência obsessiva. Fica difícil para um indivíduo comum fazer uma leitura do que realmente se passa com essas pessoas, pois o processo de ressocialização é às vezes muito complicado, devido à história que cada indivíduo traz do seu passado, desta vida ou de outras encarnações.
Nos bastidores da vida de todos nós existem histórias interessantes e nos conta Romeu Grisi, que conviveu muito com Chico Xavier, algumas histórias surpreendentes. Entre elas destacamos o caso do mendigo renitente. Era um morador de rua que dormia na varanda da casa de um colaborador do Centro Espírita. Um indivíduo atormentado por suas emoções, o que lhe dificultava adaptar-se a regras ou normas. Em alguns momentos ficava em um lugar e depois acabava indo para outro local. Chico explicou que toda ajuda seria apenas momentânea e com o tempo ele acabaria se afastando e foi o que aconteceu. 3
Uma das formas de combater a desigualdade social é a solidariedade e uma ação efetiva governamental nos setores da educação, saúde, emprego e segurança pública, isso sem falar nos problemas que afetam nossa sociedade, como os vícios, em particular o uso de drogas naturais e sintéticas.
Devemos educar os jovens para o exercício consciente da cidadania.
A moralização da humanidade através da evangelização do homem e da implantação de uma sociedade mais justa pode, ao longo do tempo, oferecer as condições para se compreender melhor o que se passa com o próximo que vive ao nosso lado.
Fonte:
Referências: Espiritismo na Rede
1) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 2a p.- Cap. II – Objetivo da Encarnação- p.132; FEB.
2) Xavier, Francisco Cândido; Coletânea do Além; A Árvore Útil (Emmanuel); FEB.
3) Grisi, Romeu; Inesquecível Chico; O mendigo renitente – p. 91; Ed, GEEM.
4) Wikipédia (A Enciclopédia livre).