(Antônio Carlos Navarro)
Ciência e Verdade
“A verdade é filha do tempo, não da autoridade.” – Francis Bacon
No dia vinte e sete de outubro de dois mil e catorze, S.S. Papa Francisco fez um pronunciamento de cunho científico, que foi amplamente divulgado (1)(2), do qual permitimo-nos transcrever partes:
“O papa Francisco afirmou nesta segunda-feira a acadêmicos que as teorias do Big Bang e da Evolução são reais, não contradizem o cristianismo e fazem parte dos planos divinos. “O Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas a exige”, disse. “O desenvolvimento de cada criatura não contrasta com o conceito de criação, pois a evolução pressupõe a criação de seres que evoluem.”
“O pontífice criticou a interpretação das pessoas que leem o Gênesis e entendem que Deus agiu “como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar todas as coisas”.
“A criação do mundo não é obra do caos, mas deriva de um princípio supremo que cria por amor.”
Os papas João Paulo II e Bento XVI (3) também já haviam se posicionado sobre o assunto, emitindo opiniões em sintonia com a do atual pontífice, onde fica claro que não ensinam mais o criacionismo a partir das tradicionais figuras de Adão e Eva.
Confrontando as declarações com o pensamento do filósofo francês Francis Bacon, que anotamos acima, verificamos que a comprovação da verdade é decorrente da análise dos fatos, e já se disse que contra fatos não há argumentos.
Sem críticas à forma que o catolicismo foi conduzido, mesmo porque é preciso admitir a possibilidade de termos feito parte de suas fileiras em reencarnações passadas, as verdades que nos foram impostas só o foram pela nossa ignorância, dependência e conseqüente permissão em relação a realidade na qual estamos inseridos, e ao longo do tempo temos feito muito pouco esforço para nos esclarecermos, quase que fazendo questão de que outros pensem por nós.
O progresso é inevitável, e o espírito humano encontra-se em um momento de aceleração em relação a conquista do conhecimento, haja vista a quantidade de informações com que somos bombardeados diariamente, e as instituições religiosas também tem a necessidade de se adequarem a ele, atualizando-se, sob pena de permanecerem no primarismo das idéias humanas sobre a obra da Criação.
Que papel nós, os espíritas, deveremos desempenhar nesse contexto? O de confiança na condição de ser a Doutrina Espírita o Consolador prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também a responsabilidade de permanecermos na Sua palavra, seguindo Suas orientações e exemplos, uma vez que o conhecimento da verdade está subordinado a essas condições, segundo o próprio Mestre.
Diante dos profitentes de outras religiões, será preciso fazer uso da humildade, esclarecendo, na medida das possibilidades e respeitando os diversos níveis de entendimento, ajudando-os a pensar, mas deixando ao livre-arbítrio pessoal de cada um a escolha pelo aceite ou não da verdade. Deveremos recebê-los com os braços abertos e acolhedores, sem qualquer recriminação pelas idéias que trazem em si.
Também não poderemos, por nossa vez, nos cristalizar nas conquistas que alcançamos com a revelação espírita, para não incorrermos nos mesmos erros que as religiões praticam, porque também estamos inseridos na Lei do Progresso, tanto que a advertência do codificador da doutrina espírita Allan Kardec, ainda se faz ecoar em nossas consciências:
Também poderíamos perguntar: E a reencarnação? Quando será aceita e ratificada abertamente pelas religiões cristãs? Tomara que seja em breve, afinal de contas a roda do progresso não para de girar, e o máximo que conseguimos fazer é dificultar sua caminhada, mas nunca detê-la.
Pensemos nisso.
Antônio Carlos Navarro
1- http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/papa-francisco-big-bang-e-…
2- http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/10/1540021-fala-do-papa-sob…
3- http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/deus-esteve-por-tras-do-bi…