Wellington Balbo (Bauru – SP)
Aliás, se há uma coisa que o capitalismo ainda não conseguiu colocar à venda foi a tal da vida humana. Não tem como o sujeito perder a vida e depois comprá-la no supermercado ou shopping Center. Por mais que encontremos produtos nesses locais lá não vendem vida, ou seja, vida orgânica, um corpo físico igual ao nosso. Se tivesse, eu ia querer um novo em folha, com certeza.
E em toda fase da minha enfermidade – tive dois infartos há 2 meses – ainda não fui chamado para a cirurgia. Estou esperando, mas sinceramente não sei se espero a desencarnação ou o chamado do hospital. Vamos ver qual dos dois chega primeiro.
Fato é que minha situação hoje não é diferente das que vivem milhares de milhões de brasileiros que dependem do SUS – Sistema Único de Saúde. Posso dizer que essa situação é uma mestra pois nos ensina a ter paciência. Claro, ou o individuo tem paciência e conserva a calma ou desencarna de uma vez.
Uma outra lição importante deixada pela dor é o aprendizado da humildade. Exatamente: somos todos iguais, independentemente dos meus belos olhos castanhos eu sou igual àquele senhor de certa idade que comparece as sessões de quimioterapia já com o corpo físico cansado pelas surras da vida.
Com a enfermidade aprendemos que o orgulho é uma grande bobagem. Estamos no mesmo barco, logo, uma reflexão mais acurada sobre as razões dos sentimentos de superioridade que vez ou outra nos dominam mostra-nos que somos todos iguais em termos de direitos e deveres. Talvez você conteste dizendo que há gente que tem apenas direitos. Mas isso é coisa do homem, para Deus tudo segue na mais absoluta igualdade, pois teremos que prestar contas dos mínimos atos que aqui praticamos.
Porém, basta olhar o lado positivo das coisas que estaremos sempre aprendendo e tirando lições grandiosas.
Quando o médico disse que as minhas coronárias pareciam as de um senhor de 70 anos, embora eu tenha somente 36, aprendi que a sinceridade dói um bocado, mas é uma ferramenta preciosa para o despertar da ilusão de que seremos sempre jovens; jovens aqui no sentido físico. Tem gente que pensa que será jovem para sempre, por isso detona a máquina física e ainda quando a enfermidade bate a porta revolta-se contra Deus, acusando-o de culpado ou, exclama indignado: Que mundo cruel!
Cruel somos nós mesmos que não respeitamos os limites do corpo e nos envenenamos com todos os tipos de substâncias nocivas ao organismo. Eu mesmo jantava salgado todas as noites. Vejam bem o resultado: cirurgia cardíaca.
E dias atrás encontrei com um amigo que me animou:
Que ano esse, hein, rapaz: Dois infartos e 6 meses afastado do serviço, das palestras que você tanto gosta. Que coisa!
Respondi a ele:
Ano maravilhoso mesmo. Aprendi muita coisa em 2011. Tudo o que eu não deveria ter feito na vida foi o ano de 2011 que me ensinou. Ora, já que somos espíritos imortais, como esquecer data tão significativa?
É a vida, caro leitor, o velho e batido ditado, quem não aprende pelo amor aprende pela dor mais uma vez mostrou-se implacável.
Lembro-me dos vários conselhos de amigos: Cuide-se rapaz, cuide-se!
Esses conselhos eram para eu aprender pelo amor. Mas fiz ouvidos moucos e estou aprendendo, ou melhor, assim espero, pela dor.
Vamos ver se num futuro próximo eu possa já ter atingido a maturidade de aprender pelo amor. E olha que meu pai sempre dizia: Juízo, menino, tome juízo! Mas eu não quis, preferi comer salgado.
Wellington Balbo é autor do livro “Lições da História Humana”, síntese biográfica de vultos da História, à luz do pensamento espírita, palestrante e dirigente espírita no Centro Espírita Joana D´Arc, em Bauru.