Ainda sobre Internet… A guerra das narrativas

Ainda sobre Internet… A guerra das narrativas

Rosto de um homem assustado, com marcações de desenho - a guerra das narrativas sobreposta

“As mudanças, dentro e fora da gente, acontecem a partir da nossa capacidade de ouvir, de refletir e de espalhar as histórias por aí.”

Com a evolução dos meios de comunicação, a disputa pela narrativa tomou um outro rumo. Deixamos o diálogo de lado, partimos para a guerra verbal, e, segundo o nosso entendimento e nossas crenças, a “nossa verdade” é a que prevalece.

Mesmo copiando mensagens e textos e divulgando por meio dos vários meios de comunicação, não podemos julgar que estamos isentos de responsabilidade. O narrador ou divulgador carrega em si o conjunto de valores da sua existência.

Devemos nos perguntar constantemente: como anda a minha capacidade de ler, ouvir e, sobretudo, refletir antes de espalhar histórias por aí? São questões importantes e funcionam como um exame de consciência.

Antes de entrarmos de cabeça em uma “enrascada”, seja ela qual for, precisamos responder a algumas questões importantes:

  • Quem escreveu isso?
  • Qual o contexto?
  • Qual a intenção?
  • Essa mensagem tem alguma evidência como base?
  • Essa mensagem foi publicada em outro lugar?

Qual a diferença entre fake news, pós-verdade e deepfakes?

Fake news

É informação intencionalmente tomada por erros ou falsidades, emitida e reproduzida para construir uma narrativa e atingir determinado objetivo.

Pós-verdade

Desenho em preto e branco - penso logo existo

“Pós-verdade” foi o termo do ano do Dicionário Oxford em 2016. Na definição da própria obra, significa uma situação em que os fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que apelos nacionais, teses comprovadas e conclusões pessoais. Não importam as evidências de que a Terra é redonda, os aviões e navios que comprovadamente partiram, deram a volta ao planeta com escalas e chegaram, pelo outro lado, ao mesmo lugar. O importante é a verdade individual, a minha verdade, a verdade que desmente o fato comprovado. Em resumo, a pós-verdade. A onda é a de não analisar mais nada; apenas emitir opinião, seja ela qual for e de qualquer maneira.

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E as deepfakes, o que são?

São a manipulação levada ao extremo, normalmente de áudio, imagem estática e vídeo, por produtores de fake news, com a intenção de tornar difícil, até mesmo impossível ao primeiro contato, a percepção de que o material foi adulterado e não corresponde à verdade. Com a evolução, democratização e o barateamento da tecnologia, as deepfakes serão cada vez mais comuns, volumosas e disseminadas na sociedade. Caminho evidentemente perigoso, mas claramente sem volta. Elevarão as fake news a um patamar imprevisível.

Um dos primeiros casos mundiais clássicos foi aquele do filme em que Barack Obama aparece falando coisas que jamais disse, com uma perfeição técnica extremamente convincente. Uma das propostas, ao menos para os veículos sérios, é identificar e descrever minimamente os casos em que houve edição daqui para frente, mesmo que com objetivos estéticos. Agora, o resultado final da manipulação tende a ficar tão perfeito em tão pouco tempo que poderá haver o discurso contrário. Imagine a seguinte situação: alguém é filmado fazendo algo que o comprometa e sai com a desculpa de que o filme verdadeiro é manipulado. O real e o adulterado ficarão tão próximos que será extremamente difícil identificar um ou outro neste mundo com desequilíbrios técnicos e de todas as ordens.

Obsessão e distúrbios de comportamento

Até agora, estamos refletindo somente do ponto vista material, ou seja, uma visão materialista. Nós, espíritas, não podemos ignorar a realidade espiritual, pois fatalmente seremos levados à obsessão e aos distúrbios de comportamento, além de dar origem a muitos crimes, escândalos e suicídios.

Nunca é demais retomarmos o estudo do capítulo 15, intitulado “Forças viciadas”, do livro Nos domínios da mediunidade, de André Luiz:

“Em mesa lautamente provida com fino conhaque, um rapaz, fumando com volúpia e sob o domínio de uma entidade digna de compaixão pelo aspecto repelente em que se mostrava, escrevia, escrevia, escrevia…

– Estudemos – recomendou o orientador.

O cérebro do moço embebia-se em substância escura e pastosa que escorria das mãos do triste companheiro que o enlaçava.

Via-se-lhes a absoluta associação na autoria dos caracteres escritos.

A dupla em trabalho não nos registrou a presença.

– Neste instante – anunciou Áulus, atencioso –, nosso irmão desconhecido é hábil médium psicógrafo. Tem as células do pensamento integralmente controladas pelo infeliz cultivador de crueldade sob a nossa vista. Imanta-se-lhe à imaginação e lhe assimila as ideias, atendendo-lhe aos propósitos escusos, através dos princípios da indução magnética, de vez que o rapaz, desejando produzir páginas escabrosas, encontrou quem lhe fortaleça a mente e o ajude nesse mister.

Após inclinar-se alguns momentos sobre os dois, o instrutor elucidou com benevolência:

– Entre as excitações do álcool e do fumo que saboreiam juntos, pretendem provocar uma reportagem perniciosa, envolvendo uma família em duras aflições. Houve um homicídio, a cuja margem aparece a influência de certa jovem, aliada às múltiplas causas em que se formou o deplorável acontecimento, O rapaz que observamos, amigo de operoso lidador da imprensa, é de si mesmo dado à malícia e, com a antena mental ligada para os ângulos mais desagradáveis do problema, ao atender um pedido de colaboração do cronista que lhe é companheiro, encontrou, no caso de que hoje se encarrega, o concurso de ferrenho e viciado perseguidor da menina em foco, interessado em exagerar-lhe a participação na ocorrência, com o fim de martelar-lhe a mente apreensiva e arrojá-la aos abusos da mocidade…

– Mas como? – indagou Hilário, espantadiço.

– O jornalista, de posse do comentário calunioso, será o veículo de informações tendenciosas ao público. A moça ver-se-á, de um instante para outro, exposta às mais desapiedadas apreciações, e decerto se perturbará, sobremaneira, de vez que não se acumpliciou com o mal, na forma em que se lhe define a colaboração no crime. O obsessor, usando calculadamente o rapaz com quem se afina, pretende alcançar o noticiário de sensação, para deprimir a vida moral dela e, com isso, amolecer-lhe o caráter, trazendo-a, se possível, ao charco vicioso em que ele jaz.”

Vamos refletir!

Fonte: Folha Espírita

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Referências

AME-SP – A obsessão e suas máscaras. Fernando Lima, 2019. Disponível em:  https://www.youtube.com/playlist?list=PL1KxQTZwocOujsXPH4Qlah4OMTpCCNiLU. Acesso em: 26 nov. 2022.

BARBOSA, Mariana (org.). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

LUIZ, André (Espírito). Nos domínios da mediunidade. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 1955. (Coleção A Vida no Mundo Espiritual, 8).

MARINI, Eduardo. As diferenças entre fake news, pós-verdade, deepfakes e o papel da escola. Educação, 18 maio 2020. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2020/05/18/fake-news-deepfakes-escola/. Acesso em: 30 nov. 2022.

NOBRE, Marlene. A obsessão e suas máscaras. 3. ed. São Paulo: FE Editora, 1997.

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