Kardequizar sem elitizar

Kardequizar sem elitizar

Nazareno Tourinho

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Com formação intelectual eminentemente pedagógica, Allan Kardec estruturou a nossa doutrina de maneira didática, como vemos em sua primeira e principal obra, O Livro dos Espíritos, que começa tratando da existência de DEUS, seguida da dissertação sobre a Criação, a Natureza, o Universo, a Vida, da descrição do mundo do Espíritos, dos comentários sobre as leis morais e finalmente a enumeração das esperanças e consolações da nossa crença.

O Espiritismo, portanto, apesar dos seus fundamentos científicos e das suas consequências religiosas, é, acima de tudo, uma filosofia, de conteúdo ético e não especulativo, comprometida com o bem, ou seja, com os valores que dignificam os seres humanos e os tornam mais felizes ou menos desventurados neste planeta de provas e expiações.

Assim sendo, precisamos integrar o raciocínio lógico ao sentimento amoroso, evitando cair no poço sem fundo do misticismo dogmático ou na vala lodosa do intelectualismo estéril.

Não podemos embarcar na canoa furada dos irmãos cristólatras, nem no barco à deriva dos companheiros laicos, porque ambos navegam em águas turvas, sem a bússola do bom senso doutrinário.

Impõe-se-nos, daqui para a frente, kardequizar o nosso movimento ideológico sem elitizá-lo.

As gerações que nos precederam tiveram o encargo de plantar a árvore do Espiritismo nesta nação e a fizeram crescer para ofertar seus frutos aos pobres e sofredores. Compete a nós, doravante, não deixar que as ervas venenosas do roustainguismo católico e do laicismo sem Deus, enroscadas nos seus galhos floridos, continuem lhe contaminando a seiva com dois vírus aidéticos: o do fanatismo e o do agnosticismo.

Ao tentar destruir tais ervas venenosas, sejamos, porém, moderados e caridosos, não esquecendo que a árvore dadivosa da doutrina espírita deve ser útil preponderantemente para os já citados pobres e sofredores, no geral de pouca cultura, incapazes de compreender os preceitos e conceitos filosóficos da Codificação de Allan Kardec, se não soubermos transmiti-los através de uma linguagem simples, de fácil entendimento, despojada de preciosismos verbais.

Kardequizar o Movimento Espírita Brasileiro é uma coisa boa absolutamente necessária e, aliás, urgente; contudo, elitizá-lo é outra coisa, muito má, pois significa torná-lo pior do que já se encontra.

Nazareno Tourinho

Fonte: Correio Espírita

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