A Parábola dos Talentos e a Lei do Progresso

Jesus

 Mateus, XXV,14-30 e O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Cap. VI, Obra codificada por Allan Kardec

 Pesquisa: E. Mollo

 1 – A parábola dos “talentos” (Mateus, XXV,14-30)

 Porque assim é como um homem que, ao ausentar-se para bem longe, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens.

 E deu a um cinco talentos, e a outro dois, e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu logo.

 O que recebera pois cinco talentos, foi-se, e entrou a negociar com eles e ganhou outros cinco.

 Da mesma sorte também o que recebera dois ganhou outros dois.

 Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou na terra, e escondeu ali o dinheiro de seu senhor.

 E passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os a contas.

 E chegando a ele o que havia recebido os cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco talentos dizendo: Senhor, tu me entregaste cinco talentos, eis aqui tens outros cinco mais que lucrei.

 Seu senhor lhe disse: Muito bem servo bom e fiel, já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor.

 Da mesma sorte apresentou-se também o que havia recebido dois talentos, e disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos, eis aqui tens outros dois que ganhei com eles.

 Seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel, já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor.

 E chegando também o que havia recebido um talento, disse: Senhor, sei que és um homem de rija condição; segas onde não semeaste, e recolhes onde não espalhaste; e temendo me fui, e escondi o teu talento na terra; eis aqui tens o que é teu.

 E respondendo, seu senhor lhe disse: Servo mau e preguiçoso sabias que sego onde não semeei, e que recolho onde não tenho espalhado; devias logo dar o meu dinheiro aos banqueiros, e, vindo eu, teria recebido certamente com juro o que era meu.

 Tirai-lhe, pois o talento, e dai-o ao que tem dez talentos; porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e a ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem.

 E ao servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.

 2 – O que é talento:

– moeda antiga usada no tempo do Cristo  na  Grécia e em Roma;

 3 – A essência da parábola dos talentos, isto é, os ensinamentos morais que ela encerra segundo Jesus:

– os dois primeiros servos, que receberam cinco e dois talentos respectivamente, representam os homens que sabem cumprir bem seus deveres na terra, desenvolvendo os dons que a Misericórdia do Pai lhes concedeu e, o servo que recebeu um talento e o enterrou deixando-o improdutivo, representam os homens que com medo de enfrentar todas as vicissitudes da vida, se escondem na ociosidade ou se deixam dominar por outras criaturas, perdendo a oportunidade de multiplicar seu único talento, que é o melhor momento que o Pai lhes concede a fim de desenvolverem suas potencialidades intelectuais e espirituais.

 4 – Segundo a Doutrina dos Espíritos:

– o homem que as distribui é Deus;

– os servos são os espíritos que encarnam na terra;

– ao encarnar-se, segundo o processo que realizou, cada espírito traz uma tarefa a cumprir em benefício de seus semelhantes;

– a uns é concedida uma tarefa de repercussão ampla;

– outros apenas no seio da família;

– mas todos trazem uma tarefa a cumprir;

– os homens que cumprem bem suas tarefas na terra são os que multiplicam os talentos e os que deixam de cumpri-la são os que enterram os talentos.

 5 – Outros exemplos:

 – os 5 talentos: SAÚDE, RIQUEZA, HABILIDADE, DISCERNIMENTO E AUTORIDADE

  a) talento SAÚDE

      Respeitando a SAÚDE, adquiriremos o TEMPO

 b) talento RIQUEZA

     Espalhando a RIQUEZA, aliciaremos a GRATIDÃO

  c) talento HABILIDADE

     Usando a HABILIDADE, receberemos a ESTIMA

  d) talento DISCERNIMENTO

     Movimentando o DISCERNIMENTO, conquistaremos o EQUILÍBRIO

  e) talento AUTORIDADE

     Distribuindo a AUTORIDADE de maneira equilibrada, ganharemos a ORDEM

 – os dois talentos: INTELIGÊNCIA E PODER

 a) talento INTELIGÊNCIA

     Elevando a INTELIGÊNCIA, obteremos o TRABALHO

 b) talento PODER

     Submetendo o PODER a sábia vontade do Pai, atrairemos o PROGRESSO

 – o único talento: A DOR

 – são as dificuldades que se encontram pelos caminhos da vida e, que o desânimo ocasiona no viajor desatento: a preguiça, o medo; de trabalhar, de servir, de fazer amizades, de desapontar, etc. ocasionando a SUBSERVIÊNCIA, que também é um grande empecilho na multiplicação deste talento, e que é o motivo de  desenvolvermos está  exposição.

 6 – o significado da palavra subserviência:

 – servilismo,  bajulação,  adesão,  anuência, condescendência servil, submissão voluntária a alguém ou alguma coisa.

 7- Motivos em que a subserviência impede a multiplicação do talento:

 – através da bajulação; por não ter coragem de mostrar os pontos de vistas e os conhecimentos próprios, por medo de ser criticado;

 – através da submissão voluntária, por não ter coragem de enfrentar (no bom sentido)(*) com sua maneira de pensar e agir;

– o companheiro ou a companheira;

– o pai ou a mãe;

– o irmão ou a irmã;

– seus superiores no seu local de trabalho;

– o enfrentar a vida sozinho, etc. e etc.

 (*) Esse enfrentamento, não significa que devemos ofender alguém, e sim, de mostrar – através de diálogos ou exemplos – que esse alguém, com suas atitudes, está impedindo que outras criaturas desenvolvam seus talentos, mesmo tendo, às vezes, de sermos enérgicos, e essa energia não pode ser ofensiva, mas educativa.

 8 – A subserviência impede:

 – a oportunidade de corrigir a diminuição humilhante do sexo feminino, típica das sociedades patriarcais;

 – o desenvolvimento de uma empresa, um estado, um país, etc., por não ter a devida coragem de impor uma idéia, uma atitude;

 – o desenvolvimento das potencialidades mentais;

 – o não cumprimento dos próprios desígnios do Pai;

 9 – Algumas soluções:

 – o conceito igualitário absoluto é impossível no mundo, dada a heterogeneidade das tendências, sentimentos e posições evolutivas no círculo da individualidade. A FRATERNIDADE, PORÉM, É A LEI DA ASSISTÊNCIA MÚTUA E DA SOLIDARIEDADE COMUM, SEM A QUAL TODO PROGRESSO, NO PLANETA, SERIA PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL.

 – A fraternidade pode traduzir-se por cooperação sincera legítima, em todos os trabalhos da vida, e em toda cooperação verdadeira, o personalismo não pode subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre alguma coisa de si mesmo, dando o testemunho de abnegação, sem a qual a fraternidade não se manifestaria no mundo, de modo algum.

 – Amar a nós mesmos não será a vulgarização de uma nova teoria de auto-adoração. Para nós outros, a egolatria já teve o seu fim, porque o nosso problema é de iluminação íntima, na marcha para Deus. Esse amor, portanto, deve traduzir-se em esforço próprio, em auto-educação, em observação do dever, em obediência às leis de realização e de trabalho, em perseverança na fé, em desejo sincero de aprender com o único Mestre, que é Jesus.

 – Quem se ilumina, cumpre a missão da luz sobre a Terra. E a luz não necessita de outros processos para revelar a verdade, senão o de irradiar espontaneamente o tesouro de si mesma.

 – O amor é a lei própria da vida e, sob o seu domínio sagrado, todas as criaturas e todas as coisas se reúnem ao Criador, dentro do plano grandioso da unidade universal.

 – No caminho dos homens é ainda o amor que preside a todas as atividades da existência em família e em sociedade.

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 DA LEI DO PROGRESSO

O LIVRO DOS ESPÍRITOS – CAPÍTULO VI – Obra codificada por Allan Kardec

 Estado da natureza

 Não são coisas idênticas o estado de natureza e a lei natural, o estado de natureza é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado de natureza, ao passo que a lei natural contribui para o progresso da Humanidade.” (776)

 O estado de natureza é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. Sendo perfectível e trazendo em si o gérmen do seu aperfeiçoamento, o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza, como não o foi a viver eternamente na infância. Aquele estado é transitório para o homem, que dele sai por virtude do progresso e da civilização. A lei natural, ao contrário, rege a Humanidade inteira e o homem se melhora à medida que melhor a compreende e pratica.

 O homem, no estado de natureza tem menos necessidades, se acha isento das tribulações que para si mesmo cria do que num estado de maior adiantamento. É a felicidade do bruto. É ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes do que os homens feitos. (777)

 O homem não pode retrogradar para o estado de natureza, o homem tem que progredir incessantemente e não pode volver ao estado de infância. Desde que progride, é porque Deus assim o quer. Pensar que possa retrogradar à sua primitiva condição fora negar a lei do progresso. (778)

 Marcha do progresso

O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contacto social. (779)

O progresso moral decorre do progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente. O progresso intelectual pode engendrar o progresso moral fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.  Muitas vezes, sucede serem os povos mais instruídos os mais pervertidos. Contudo, o progresso completo constitui o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos, só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes haja desenvolvido o senso moral, pode mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do mal. O moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a equilibrar-se. (192-365-751-780)

O homem não tem o poder de paralisar a marcha do progresso, mas tem, às vezes, o de embaraçá-la. Os que tentam deter a marcha do progresso e fazer que a Humanidade retrograde são pobres seres, que Deus castigará! Serão levados de roldão pela torrente que procuram deter. (781)

 Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do homem opor-se-lhe. É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada, por leis humanas más. Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se esforcem por mantê-las. Assim será, até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a justiça divina, que quer que todos participem do bem e não a vigência de leis feitas pelo forte em detrimento do fraco.

Os homens que de boa-fé obstam ao progresso, acreditando favorecê-lo, porque, do ponto de vista em que se colocam, o vêem onde ele não existe, assemelham-se a pequeninas pedras que, colocadas debaixo da roda de uma grande viatura, não a impedem de avançar. (782)

Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma. (783)

 O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas idéias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações.

Nessas comoções, o homem quase nunca percebe senão a desordem e a confusão momentâneas que o ferem nos seus interesses materiais. Aquele, porém, que eleva o pensamento acima da sua própria personalidade, admira os desígnios da Providência, que do mal faz sair o bem. São a procela, a tempestade que saneiam a atmosfera, depois de a terem agitado violentamente.

Se engana quem vê a perversidade do homem predominar neste mundo e diz que, pelo menos do ponto de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos, mas se observar bem o conjunto, verá que o homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos. Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas. (784)

O maior obstáculo ao progresso é o orgulho e o egoísmo. Fazendo referência ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais duradoura. (785) (Vide: Egoísmo, cap. XII.)

 Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de alguns séculos atrás, só um cego negaria o progresso realizado. Ora, sendo assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será impossível que entre o dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da perfeição, o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a experiência desmente.

 (Artigo reproduzido com autorização do autor)

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