A proposito do tema, iniciamos a nossa reflexão com alguns princípios do espiritismo que Wilson Czerski nos apresenta como sendo cinco: a existência de Deus; a sobrevivência e imortalidade da alma; a comunicabilidade com os Espíritos ou mediunidade; a pluralidade das existências ou reencarnação e; a pluralidade dos mundos habitados.
Mas, há outros três de inegável importância, são eles: o períspirito; o conceito de evolução e; o livre-arbítrio. A evolução e o livre-arbítrio estão de tal maneira intrinsecamente conectados com os demais fundamentos da Doutrina Espírita que, a imortalidade da alma só faz sentido, se ancorada à ideia de liberdade de ação da mesma a qualquer momento para lhe oferecer oportunidade de construção do próprio futuro.
Portanto, a reencarnação é a chave que permite entender um sem-número de situações da vida terrena, mas o conceito de livre-arbítrio, corretamente interpretado é o fio condutor que guia o indivíduo pelos labirintos das intricadas ações humanas, não só do passado com reflexo no presente, porém, ainda as novas de hoje, com repercussão no futuro.
Para Cairbar Schutel não Foi sem razão que o apóstolo Paulo, o doutor dos gentis, disse que o maior e o mais terrível inimigo que teríamos de vencer, era a morte. Quando a pusermos sob o tacão das nossas botas, poderíamos, então, entoar o grande hino da vitória: “Ó morte! Onde está teu aguilhão? Ó Morte! Onde está tua vitória?” Pois bem, esse mistério, indecifrável para as religiões; esse inimigo que os sacerdotes não ousaram enfrentar; essa esfinge que causa pavor aos crentes de todas as igrejas, que se limitam a cantar para as suas vitimas o De Profundis, é que o Espiritismo veio enfrentar e desvendar, mostrando-se já vitorioso na grande luta.
Acreditamos que só o Espiritismo pode responder as questões a seguir. O que é a morte? No que consiste esse fenômeno, que muitos julgam ser o aniquilamento da vida? Como se produz ela? O Espiritismo, mas tão somente o Espiritismo, exclusivamente o Espiritismo responde a estas questões.
Conforme Joana de Ângelis é mediante a cessação dos fenômenos biológicos que tem início o evento da morte orgânica. O Natural processo de desgaste e de degenerescência que é imposto à organização física, constitui mecanismo de transformação das moléculas que, em razão da lei de destruição, se desorganizam para produzir a renovação. Desta forma, todos os seres vivos marcham inexoravelmente para a morte que, de forma alguma, representa o fim ou aniquilamento.
A morte é, portanto, veiculo de transformação renovadora que enseja às expressões orgânicas inúmeras modificações de estrutura no incessante intercâmbio entre os elementos de que se constituem. Assim, que fique claro a todos que efetivam esta leitura, inexoravelmente a morte ocorrerá, e vem sucedendo lentamente em cada instante de vida física, que culminará no momento em que se tornará total, abrindo, então, as portas da Espiritualidade para o Espírito que retorna à Vida em plenitude.
Uma pergunta que os Cristãos, sejam qual for à denominação religiosa deveria se fazer. Qual a Atitude de Jesus Frente à Morte? Por exemplo, diante da morte do Amigo Lazaro. Vejamos o que diz a Bíblia. “Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus, pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, comoveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. Jesus chorou” (João 11:32-35).
Outro momento que Jesus se vê diante da morte e no diálogo na Cruz com o Ladrão, que lhe diz, para “nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:41-43).
Portanto, Jesus chora diante da incredulidade humana que vê a morte como o fim, pois, para ele e para os que lhe rogam perdão, a morte é a porta de entrada no Paraíso. Assim, não acredito que seja errado chorar a morte de quem amamos, mas um choro de saudade. O que não se pode é blasfemar contra Deus, visto que, com os ensinamentos do espiritismo, já é certo que a morte trata-se de uma transformação no estado da matéria e nada mais.
Em o Livro dos Espíritos de Allan Kardec, na questão 941, temos a seguinte pergunta: a preocupação com a morte é para muitas pessoas uma causa de perplexidade; mas por essa preocupação, se elas têm o futuro pela frente? Assim nos responda a espiritualidade.
É errado que tenham essa preocupação. Mas que queres? Procuram persuadi-las, desde cedo, de que há um inferno e um paraíso, sendo mais certo que elas vão para o inferno, pois lhes ensinam que aquilo que pertence à própria Natureza é um pecado mortal para a alma. Assim, quando se tornam grandes, se tiverem um pouco de raciocínio, não podem admitir isso e se tornam ateus ou materialistas. É dessa maneira que são levados a crer que nada existe além da vida presente. Quanto aos que persistiram na crença da infância, temem o fogo eterno que deve queima-los sem os destruir. A morte não inspira nenhum temor ao justo, porque a fé lhe dá a certeza do futuro, a esperança lhe acena com uma vida melhor e a caridade, cuja lei praticou, lhe dá a segurança de que não encontrará, no mundo em que vai entrar, nenhum ser cujo olhar ele deva temer.
Allan Kardec faz o seguinte comentário a esta resposta dos Espíritos. A morte o amedronta, porque ele duvida do futuro e porque acredita deixar na Terra todas as suas afeições e todas as suas esperanças.
Em outra obra de Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo ele nos traz um trecho do Evangelho de Matheus e efetiva os seus comentários a Luz do Espiritismo, vejamos o que diz. “Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos Céus; e o que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos Céus” (Mateus, X: 32-33).
Em outros termos: Aqueles que temeram confessar-se discípulos da verdade, não são dignos de ser admitidos no Reino da Verdade. Perderão, assim, as vantagens da fé, porque se trata de uma fé egoísta, que eles guardam para si mesmos, ocultando-a, com medo dos prejuízos que lhes possa acarretar no mundo. Enquanto isso, os que colocam a verdade acima dos seus interesses materiais, proclamando-a abertamente, trabalham ao mesmo tempo pelo futuro próprio e dos outros. O mesmo acontece com os adeptos do Espiritismo, pois sendo a sua doutrina o desenvolvimento e a aplicação da doutrina do Evangelho do Cristo Jesus, a eles também se dirigem essas palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
Aqui iniciamos a construção da resposta ao nosso questionamento inicial. Seria, pois, a morte: uma perda ou uma conquista? No além tumulo, colheremos o fruto da nossa coragem ou de nossa fraqueza. Pois bem, o além tumulo, ou a morte como a sociedade convencionou em dizer, é constituído pela fé, pela vontade firme, e só carregamos em nossa bagagem o bem ou o mal que praticamos.
Léon Denis em o livro No Invisível, faz uma reflexão sobre como o “homem” posiciona a morte em sua cultura/histórica/religiosa. E nos diz que, “o espírito sopra onde quer”, e fora da igreja, entre os heréticos, prosseguem as manifestações espiritas. Mudaram-se os tempos, constata o autor. No passado, a comunhão das almas (a morte) foi, sobretudo o privilégio dos santuários (igrejas), a preocupação de alguns limitados grupos de iniciados (sacerdotes). O homem, ignorante das leis da Natureza e da Vida, não podia apreender o ensino que sob os fenômenos se ocultava. Afirma que com o advento do espiritismo, o conhecimento da alma e de seus destinos não será mais o privilegio dos iniciados. Portanto, a humanidade toda é chamada a participar dos benefícios espirituais que constituem seu patrimônio, pois, assim como o Sol se levanta visível para todos, a luz do além deve irradiar sobre todas as inteligências, reanimando todos os corações. Para este autor, todos nós podemos e devemos compreender o fenômeno da morte e o prosseguimento da Vida.
Retornemos a Joana de Ângelis que, agora nos fala que o temor da morte é resultado da ignorância a respeito da Vida. Quando se tem consciência do significado da morte, na condição de passaporte para a vida, a alegria da imortalidade substitui a angústia do eterno adeus, ou da promessa do juízo final. A consciência da sobrevivência à disjunção molecular proporciona real alegria de viver e de lutar, visto que, morre-se a cada instante, em razão das continuas transformações que ocorrem no organismo. Em uma lúcida comparação, toda vez quando o sono fisiológico toma o organismo e obscurece a consciência, defronta-se uma forma de morte, sem grande variação a respeito daquela que encerra o ciclo terrestre. Infelizmente, porém, a morte é um dos fatores que empurram as pessoas fracas e despreparadas para os enfrentamentos normais da existência, para a revolta e violência. Ninguém conseguirá driblar a morte, por mais que o intente.
Portanto, sendo certo o fenômeno da morte, que ao contrario de que pensamos nos assola a cada dia, quer seja, pelo sono físico, quer seja, pela perda constante de vitalidade a cada segundo vivido, visto que, o desgaste da matéria que nos constitui é inevitável. Recorremos novamente ao Evangelho Segundo o Espiritismo que nos afirma “Fora da Caridade não há Salvação”. Assim, pois, o que seria necessário para Salvar-se? Temos a seguinte resposta estraida do Evangelho do Cristo Jesus: Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros os que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação: julgai-vos a vós mesmos antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e de que ele mesmo dá o exemplo.
Portanto, qual será a pergunta de Jesus ao lhe receber na porta de seu Reino Celeste? Ele só pergunta por uma coisa: a prática da caridade. E se pronunciará dizendo: “Passai à direita, vós que socorrestes aos vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles”. Ele não indagará pela ortodoxia da fé. Não fará distinção entre o que crê de uma maneira, e o que crê de outra. Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da salvação, mas a condição única. Se ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é porque ele encerra implicitamente todas as outras: a humildade, a mansidão, a benevolência, a justiça, etc…
Concluindo a nossa pequena reflexão, afirmando que a morte só pode ser uma conquista, visto que, só podemos evoluir ou estacionar, retroceder jamais, e tendo a informação que o próprio Cristo Jesus inaugurou o Paraíso – a casa do Pai – com um ladrão que se arrependeu, também para nós haverá uma morada que se assemelha a nossa condição evolutiva. Mas, também é claro como a luz do sol, que o Cristo Jesus é justo e em sua justiça, cada ser recebe conforme as suas obras e só segue para mundos mais elevados os que verdadeiramente praticam a Caridade conforme ele nos ensinou e seu Evangelho de Amor.
Bibliografia:
Destino: determinismo ou livre-arbítrio? – Wilson Czerski
A Vida no Outro Lado do Mundo – Cairbar Schutel
Lições para a Felicidade, Joana de Ângelis, por Divaldo
Evangelho de João e Lucas – A Bíblia
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec
A Coragem Da Fé – E.S.E. – Cap. XXIV
No Invisível – Léon Denis
Entrega-te a DEUS, de Joana de Ângelis, por Divaldo