VELHO ARRIMO
Joanna de Ângelis
Emaranhado nos cordéis das próprias limitações, o candidato à Boa Nova gravita em volta de interesses subalternos, mesmo depois de notificado sobre as legítimas aspirações que devem animar o espírito encarnado. E perde ocasiões de serviço precioso, em que poderá agir com segurança, construindo a alavanca que o impulsionaria a alturas morais expressivas.
A linguagem do Cristo, no entanto, não enseja qualquer equívoco:
“Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça falou, incisivo, o mestre, e tudo o mais vos será acrescentado”.
A busca, todavia, entre os homens por enquanto, com raras exceções, resume-se, invariavelmente, na perseguição a mordomia dos bens transitórios.
“Devo acautelar me e preparar o amanhã” – afirmam, previdentes, muitas vozes.
“Creio e necessito de Jesus, mas a família me impõe deveres de preservar algo para o futuro” – esclarecem, seguros, diversos aprendizes.
“Buscar primeiro o Reino dos Céus… Mas não esquecer que se vive na terra”, – informam, sardônicos, os mais acomodados.
Passa o tempo e as oportunidades de realização íntima se transferem, sem que se reatem com a segurança que seria de desejar para uma ação elevada e libertadora.
Arrimados ao velho desculpismo, no qual ocultam a indolência e a própria aceitação da inércia, preocupam-se com o futuro que não passa de um hoje um pouco mais elástico.
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Busca-se amontoar dinheiro, sem que, no entanto, com ele se consiga a paz.
Busca-se alimentar vaidades de variada catalogação, e o tempo se encarrega de despojar dos cendais da ilusão.
Busca-se poder, e nele empedernece-se o sentimento.
Busca-se autoridade, falindo desastradamente nas diretrizes de aplicação.
Busca-se prestígio social e político, para despertar se com o caráter envilecido.
Busca-se admiração, fugindo-se a si mesmo.
As buscas não vão além dos vagos e atormentados limites do imediato.
Todos os bens, em primeira plana, pertencem a nosso Pai, e ele sabe o que mais nos é necessário para o lídimo progresso.
O homem inteligente não se afadiga pelos tesouros que sobrecarregam de preocupações inúteis e não podem ser transportados.
Os valores evangélicos são-lhe meta, as realizações da terra constituem meios de uso que se consomem, e se empenha na conquista do continente a desbravar do próprio Espírito.
Nessa busca – o Reino de Deus dentro de nós – tudo encontra por misericórdia acrescentado.
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Quando Teresa D’Ávila, a abnegada da Mística espanhola, deu início a campanha para angariação de meios, a fim de erguer um mosteiro para ensinar austeridade moral e dignificação cristã às jovens noviças, saiu como esmoleira.
Visitando garboso nobre a quem solicitou auxílio, deste não recebeu a mínima consideração.
“Do que valem Teresa e três coroas?” – Teria inquirido, sarcástico, considerando os arcos bens de que dispunha a lutadora cristã.
Inspirada, no entanto, respondeu a monja: “De nada valem e nada podem fazer Teresa e três coroas, mas Deus, Teresa e três coroas tudo podem” e, buscando o Reino de Deus, seguiu o rumo das suas nobres tarefas, tendo-lhe sido “tudo o mais acrescentado”.
Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo P. Franco
Livro: Dimensões da Verdade – 47