UMBRAL – A Dimensão Paralela
Na literatura espírita e dentre alguns no Movimento Espírita, sempre nos deparamos com o termo complexo e controverso…o “Umbral”, o qual a maioria das vezes passa uma imagem de lugar ruim, com seres horríveis e que em nada é agradável.
Não pretendemos com esse artigo mistificar ou desmitificar, a crença no “Umbral”, apenas realizamos uma breve pesquisa com intuito de averiguar e informar; sem a pretensão de nortear contra ou a favor a sua idoneidade dentro do Movimento Espírita.
Devemos deixar claro que a palavra “Umbral” não é exclusiva do espiritismo, na carpintaria a palavra refere-se à soleira colocada na parte inferior de uma porta; sobre o piso ao nível do chão da porta onde pode-se entrar em um local. Nas construções antigas, e ainda hoje, costuma-se colocar uma pedra (de vários tipos, mármore, granito, ardósia, lajota, madeira etc.), com a mesma largura da porta para funcionar no nível do piso como demarcação de separação entre os dois ambientes; essa pedra representaria o “Umbral”.
Na Doutrina Espírita, a palavra “Umbral” aparece pela primeira vez na Obra de Chico Xavier/André Luiz: “Nosso Lar”[i], onde descreve como um lugar transitório por onde passam as pessoas que não souberam aproveitar a vida na Terra, André Luiz nos afirma : “O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes, que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, […]”( André Luiz. p.71. 1999).
Seria equivalente ao purgatório um conforme a visão católica, sob o prisma da carpintaria seria a separação entre duas dimensões, a do corpo físico e a do corpo espiritual.
Conforme a obra supracitada, André Luiz enfatiza: “O Umbral – continuou ele, solícito – começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos […]” (André Luiz. p.69. 1999).
Devemos salientar de que o “Umbral” não consta nas obras espíritas produzidas pelo codificador Allan Kardec e que surgem algumas duvidas, por exemplo, no Livro dos Espíritos[ii] na questão 224, Kardec questiona aos Espíritos: P: o que é a alma nos intervalos das encarnações. R: – “Espírito errante, que aspira a um novo destino e o espera.”.
Sob essa ótica André Luiz, estaria na condição de espírito errante, aguardando uma nova encarnação.
Todavia no mesmo livro encontramos na resposta da questão 234 a replica para essa duvida: P: Existem como foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso aos Espíritos errantes? R: Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente, espécie de acampamentos, de lugares em que possam repousar de erraticidades muito longas, que são sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros mundos, graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que podem atingi-los, e que gozam de maior ou menor bem-estar.
Na questão 236 percebemos que os espíritos não permanecem nesse mundos :
P: Os mundos transitórios são, por sua natureza especial, perpetuamente destinados aos Espíritos errantes? R: – Não, sua superfície é apenas temporária.
Kardec reconhecia que havia “Dois mundos” conforme sua afirmação na Revista Espírita[iii]: “Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto dos Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo; o mundo espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum designado. Em razão mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar de se locomoverem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que o retinham cativos”. (Kardec. p. 99.1865)
Em diversas obras espiritualistas (e algumas espíritas) existem afirmações de que há, no plano espiritual, diferentes faixas vibratórias, ou seja, varias dimensões (regiões), inferiores e superiores.
Basicamente, dividem-se em três todas essas dimensões:
1) Astral Inferior (com suas subdivisões),
2) Astral Mediano (com suas subdivisões),
3) Astral Superior (com suas subdivisões).
Conforme essas obras nestas dimensões, encontram-se cidades, lugarejos, etc., nos quais convivem espíritos com o mesmo padrão vibratório. Desse modo, conclui-se que não existe um local chamado Umbral, mas, sim, muitas, dimensões extrafísicas ou colônias espirituais.
Nas questões 1011 e 1012 do LE Kardec, nos trás informações pertinentes sobre esse assunto:
P. 1011. Um lugar circunscrito no Universo está destinado às penas e aos gozos do Espíritos, segundo o seus méritos?
R : “- Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo o princípio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda a parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos felizes ou infelizes segundo o grau de evolução do mundo que habitam.
P. 1012. De acordo com isso, o Inferno e o Paraíso não existiriam como os homens representam?
R: “- Não são mais do que figuras: os Espíritos felizes e infelizes estão por toda a parte. Entretanto, como já o dissemos também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.”
Analisando essas respostas concluímos o “Nosso Umbral” é criado pela mente dos espíritos encarnados e desencarnados. Quando pensamos, nossa mente desfecha um processo pelo qual somos capazes de moldar as energias mais sutis do universo, criando formas que correspondem exatamente àquilo que somos intimamente, ou seja no “Umbral”, tudo o que está fora de nós é consequência do que está dentro. Tudo o que existe e nos acontece é reflexo do que trazemos na consciência. Portanto sob esse prisma, o Umbral nada mais é que uma faixa de frequência vibratória a que se ligam os espíritos desequilibrados, cujos interesses, desejos, pensamentos e sentimentos se afinam.
Aqueles que estão no Umbral não são hostis; são espíritos que precisam de compreensão e ajuda. Momentaneamente perderam o rumo do crescimento espiritual, mas, são irrecuperáveis.
O estigma de ser um purgatório e/ou inferno deve ser descartado, a cada dimensão existe uma vibração, sob esse prisma o “Nosso Lar” narrado por André Luiz também seria um “Umbral”, onde espíritos ( de outra faixa vibratória) já conscientes de seus erros e perseverantes em continuar a evolução, reaprendem sobre a necessidade de reencarnar e tentar passar por novas provas, cultivando a esperança de em novo desencarne, a nova dimensão seja condizente com sua nova aprendizagem.
REFERENCIAS
[i] XAVIER, Francisco C. – NOSSO LAR Ed. FEB. Rio de Janeiro. 1999.
[ii] KARDEC, Allan. LIVRO DOS ESPÍRITOS. Ed. FEB. Rio de Janeiro. 2002
[iii] KARDEC, Allan. REVISTA ESPÍRITA. Março de 1865.
Autor: Marcos Paterra