Campos magnéticos. Por Orson Peter Carrara
O leitor naturalmente já ouviu falar de determinados pontos comerciais de nossas cidades onde nada dá certo. Também não é novidade para ninguém o famoso “pisar em brasas sem queimar os pés” durante a temporada das conhecidas festas juninas espalhadas pelo país. Ou mesmo de acidentes onde morre muita gente e onde sempre há um sobrevivente que nenhum arranhão sofreu… Ou ainda de lugares que parecem atrair acidentes, tragédias. E até de determinadas datas ou coincidências em que o folclore popular atribui poderes de onde se originam lendas e tradições populares, culminando muitas vezes com a nomeação de lugares ditos “assombrados”. E também há a questão das cirurgias espirituais sem anestesia, sem dor ou sangue e muitas vezes com cicatrização imediata.
Há também o tema dos “benzimentos”, “leitura” das linhas das mãos, etc., etc.
Assuntos interessantes estes. Mas o que a Doutrina diz destes fatos?
A fé na ação magnética
Busquemos algumas definições e transcrições das obras da Codificação:
“(…) Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações. Sendo tais fenômenos baseados numa lei da natureza, nada têm de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar destes vocábulos. Muitos fatos só são considerados sobrenaturais porque se lhes desconhece as causas; assinando-lhe uma causa, o Espiritismo os faz entrar no domínio dos fenômenos naturais. Entre os fatos qualificados como sobrenaturais, há muitos cuja impossibilidade é demonstrada pelo Espiritismo, que os coloca entre as crenças supersticiosas. Posto que o Espiritismo reconheça em muitas crenças populares um fundo de verdade, de modo algum aceita a solidariedade de todas as histórias fantásticas, criadas pela imaginação. (…) 1
“(…) O poder da fé recebe uma aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer, irresistível. Por isso aquele que, a um grande poder fluídico normal junta uma fé ardente, pode, apenas pela vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura e outros que, outrora, passariam por prodígios e que não são, todavia, senão as consequências de uma lei natural. (…) Mas o Cristo (…) mostrou (…) o que pode o homem quando tem fé, quer dizer, a vontade de querer(…) Ora, que eram esses milagres senão efeitos naturais cuja causa era desconhecida dos homens de então, mas que se explica em grande parte hoje, e que se compreenderá completamente pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo? (…) 2
“(…) O Espiritismo e o Magnetismo nos dão a chave de uma infinidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu muitas fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências, que se resumem numa só, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira causa, é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de crença ridícula. (…)” 3
Magnetismo: como conceituá-lo
E qual a definição de Magnetismo?
Magnetismo: designação comum às propriedades características dos campos de influência magnética das pessoas, dos animais e das coisas. Considera-se magnetismo a influência exercida por um indivíduo ou grupo de indivíduos na vontade ou na organização de outrem. Chamamos também magnetismo ao fenômeno oficialmente aceito e utilizado pela Ciência, que pertence à Física e se define como sendo a propriedade essencial do ímã.(*)
Sem adentrar o domínio das leis materiais do magnetismo – que deixamos ao estudo da Física – pensemos na questão espiritual, baseando-nos nas transcrições acima.
O princípio é o mesmo: há uma atração, uma concentração de forças. Em curas e cirurgias sem anestesia, curas ou salvamentos inesperados em situações de extremo perigo ou nos inúmeros casos relatados ou não no início do artigo, existe a formação do que podemos designar de campo magnético. Trata-se da concentração de forças para determinado fim, alcançado de maneira consciente ou não, induzido ou assessorado por Espíritos ou pela própria capacidade humana individual ou coletiva.
Assim é que, por força magnética, médiuns curam; lugares frequentados por Espíritos em situação de apego criam os chamadas “casas assombradas”; pontos comerciais ou locais impregnados por fluidos emanados de mentes equivocadas estabelecem ambientes onde nada dá certo…; cirurgiões espirituais utilizam médiuns em curas sem anestesia; homens “pisam” em brasas sem se queimar – isolando a planta dos pés; pessoas são isoladas neste campo e nada sofrem em pavorosos acidentes; determinados lugares “parecem” atrair acidentes; “ledores” das linhas das mãos descrevem situações – quando embasados na honestidade – e “benzedores” alcançam curas que a Medicina não conseguiu resolver… E nestes dois últimos exemplos há que se considerar que não são as linhas das mãos (**) ou o conhecido “galhinho de arruda” que determinam os efeitos. Estes são apenas apetrechos dispensáveis, verdadeiras muletas. Na verdade é a alma que enxerga, que cura, que tem “vontade de querer”, como citou Kardec.
Como agem os Espíritos protetores
A esta altura fica oportuno relermos o item a) acima. Os fenômenos de origem mediúnica ou anímica prendem-se às qualidades da alma, esteja encarnada ou desencarnada. A potencialidade na produção de fenômenos conscientes ou inconscientes está no espírito, que alcançou este estágio através de seu esforço nas sucessivas reencarnações. Não há, portanto, nada de sobrenatural em fatos aparentemente inexplicáveis. Ficamos apenas na pendência de conhecer para julgar melhor. E neste caso considere-se que muitos fatos e fenômenos ainda escapam à compreensão humana.
O fato final, porém, é que os pensamentos, a potencialidade da alma alcançada pelo esforço e experiência determinam o ambiente próprio em que o ser se movimenta. Sua própria vontade persistente, suas conquistas anteriores possibilitam-lhe realizar ações ou provocar fenômenos – e aqui é importante repetir, consciente ou inconscientemente – nem sempre compreendidos, mas perfeitamente enquadrados nas Leis Naturais.
É pela aplicação desta fabulosa possibilidade que agem os Espíritos protetores – na manipulação fluídica em favor do homem – utilizando-se dos próprios homens na produção de fenômenos inesperados ou direcionando inúmeros fatos que despertem o homem dessa sonolência espiritual em que muitos ainda nos vinculamos. É por esta lei que os afins se atraem, que um ambiente onde se reúnam pessoas amigas e simpáticas entre si provoca grande bem estar ou o oposto; é por ele que os sonhos se concretizam – cria-se um campo magnético que é alimentado pelo esforço diário e continuado para alcance desse sonho; é também, infelizmente, onde se engendram grandes tragédias – justamente pela força direcionada. Mas é também por ele, finalmente, entre tantas outras situações, que há permanente solidariedade entre os seres e os mundos, pois estamos todos ligados entre si -mesmo que a distâncias incomensuráveis – pois que filhos do mesmo Bondoso Pai de Amor, caminhamos para a felicidade e o progresso.
Ligação entre Magnetismo e Espiritismo
Os escritores Eliseu F. da Mota Junior, em artigo publicado nesta Revista em fevereiro de 1997 – Magnetismo e Espiritismo – (ano LXXI – nº 1), e Gil Restani de Andrade com artigo de mesmo nome, na edição de agosto de 1999 (ano LXXIV – nº 7), aprofundam o assunto inclusive com aspectos históricos e ricos em informações. Eliseu destaca o uso na cura das doenças e Gil discorre mais sob o aspecto histórico. Ambos, porém, se valem da profunda vinculação entre o Magnetismo e o Espiritismo, inclusive citando afirmação de Allan Kardec na Revista Espírita 4: “O Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e os rápidos progressos desta última Doutrina são devidos, incontestavelmente, à vulgarização dos conhecimentos sobre o primeiro. Dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um passo; sua conexão é tal que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar do outro.”
De ambos os trabalhos citados, transcrevemos parcialmente:
“(…) Mesmer, ao se doutorar, em Viena, em 1765, defendeu a tese “De Planetarium Influxu”, baseado, principalmente, nas pesquisas de Paracelso. Em 1779, já em Paris, publica “A Memória sobre a descoberta do Magnetismo Animal”, cujos principais proposições são: a) A influência dos astros, uns sobre os outros e sobre os corpos animados; b) O Fluido Universal é o grande agente dessa influência; c) Essa ação recíproca está submetida a leis mecânicas; d) Os corpos gozam de propriedades análogas às do ímã; e) Essas propriedades podem ser transmitidas a outros corpos animados e inanimados; f) A moléstia é apenas a resultante da falta ou do desequilíbrio na distribuição do magnetismo pelo corpo. (…)” 5
Observe o leitor os itens c) e e) da transcrição acima. Nas duas proposições está a causa dos fenômenos que estamos comentando.
“(…) O Magnetismo e o Espiritismo são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e explicam uma pela outra, e das duas, a que não quer imobilizar-se não pode chegar ao seu complemento sem se apoiar na sua congênere; isoladas uma da outra, detêm-se num impasse; são reciprocamente como a Física e a Química, a Anatomia e a Fisiologia. (…)” 6
A fé divina e a fé humana
Isto tudo porque estamos imersos num permanente campo de forças que se concentram, atraem ou se dispersam por influência do pensamento, mas também regido pelas leis físicas do Universo, determinantes do equilíbrio deste em todas as áreas e conhecimentos. Basta ao homem aprofundar esse conhecimento. O leitor poderá encontrar muitas referências do Codificador em tão empolgante assunto. Em todas as obras da Codificação, bem como na Revista Espírita, há estudos e citações. É um assunto para vasta pesquisa que não se resume apenas nas leis físicas, mas tem alcance moral pelo uso que permite. São forças da alma que concentradas ou atraídas permitem a formação de um campo magnético que envolve lugares ou pessoas, com poder de ação nas diversas situações da vida humana.
Finalmente, até para deixar ao leitor uma referência extraordinária, sugerimos leitura e estudo do capítulo XIX de O Evangelho segundo o Espiritismo, especificamente no subtítulo A Fé Divina e a Fé Humana, onde vamos encontrar essa perola de esclarecimento trazido por um espírito que assinou Um Espírito Protetor, no último parágrafo do texto citado: “(…) a fé é humana e divina; se todos os encarnados estivessem bem persuadidos da força que têm em si se quisessem colocar sua vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que, até o presente, chamou-se de prodígios, e que não é senão um desenvolvimento das faculdades humanas.”
Infelizmente, ainda, porém, usamos essa força que trazemos em nós nas manipulações de bastidores, no desejo de controle sobre os outros, na tola ilusão da permanência em cargos ou posses – como se fôssemos donos de algo –, no desespero centralizador ou nas arrogâncias da vaidade, realizando os prodígios contrários que a fraternidade e a Lei de Progresso propõe com tanta clareza…
Ainda temos muito o que aprender, não é mesmo, leitor?
Orson Peter Carrara
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*Do livro Léxico Kardequiano, de L. Palhano Jr., editora CELD; grifos nossos.
** Sugerimos leitura em Obras Póstumas (pág. 277 – 1ª edição IDE – tradução Salvador Gentile, capítulo Minha primeira iniciação no Espiritismo, segunda parte), onde o Codificador faz interessantes colocações sobre leitura de mãos no subtítulo A tiara espiritual, em comunicação de 6 de maio de 1857.
Referências:
1.Revista Espírita, de setembro de 1860 (vol. 9, ano III), Edit. Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho. O mesmo artigo foi transcrito pelo Codificador para composição do capítulo II de O Livro dos Médiuns
2. O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIX, itens 5 e 12 (páginas 245 e 250 da 107ª edição IDE-Araras-SP, tradução Salvador Gentile.
3. O Livro dos Espíritos, comentário de Kardec à questão 555, 3ª edição FEESP, tradução J. Herculano Pires.
4. Revista Espírita, de março de 1858 (ano I, vol. 3), Editora Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho.
5. Gil Restani de Andrade, Revista Internacional de Espiritismo, agosto de 1999 (ano LXXIV, nº 7).
6. Eliseu F. da Mota Junior, Revista Internacional de Espiritismo, fevereiro de 1997 (ano LXXI, nº 1).
FONTE: http://www.oconsolador.com.br/ano10/500/especial.html