O primeiro Centro Espírita do mundo

O PRIMEIRO CENTRO ESPÍRITA DO MUNDO

 Marcus De Mario

marcusdemario@gmail.com

Com o lançamento de O Livro dos Espíritos, em abril de 1857, e a reunião paulatina dos adeptos da doutrina espírita, Allan Kardec observou que o trabalho de pesquisa, estudo e divulgação requeria a aglutinação de esforços, a centralização de atividades, pois o Espiritismo não era obra dele, e sim dos Espíritos, através do intercâmbio mediúnico, com a contribuição dos homens. Foi assim que cresceu a ideia, certamente inspirada pelos benfeitores espirituais, da criação de uma sociedade espírita.

Sabedor que o fenômeno espírita requer, para atingir bons objetivos, a concentração, a seriedade, o estudo, a observação atenta, logo o Codificador percebeu que não poderia continuar frequentando reuniões mediúnicas aqui e ali, havendo necessidade de um local próprio, que recebesse a devida preparação espiritual, na comunhão de pensamentos elevados e sinceridade de propósitos ligados ao bem. Durante um ano Kardec amadureceu a ideia, conversou com os companheiros adeptos da doutrina, até que tudo fosse organizado e passado para o papel.

Foi assim que, no dia 1º de abril de 1858, Allan Kardec inaugura em Paris, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro centro espírita do mundo.

O próprio Allan Kardec, no final da edição de maio de 1858 da Revista Espírita explica a criação da Sociedade:

“A extensão, por assim dizer, universal que  tomam, cada dia, as crenças espíritas, fazem desejar vivamente a criação de um centro regular de observações; essa lacuna vem de ser preenchida. A Sociedade, da qual estamos felizes por anunciar a formação, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenção, e animadas do desejo sincero de se esclarecerem, contou, desde o início, entre seus partidários, homens eminentes pelo saber e posição social. Ela está chamada, disso estamos convencidos, a prestar incontáveis serviços para a constatação da verdade. Seu regulamento orgânico lhe assegura homogeneidade sem a qual não há vitalidade possível; está baseada na experiência de homens e de coisas, e sobre o conhecimento das condições necessárias às observações que fazem o objeto de suas pesquisas. Os estrangeiros que se interessam pela Doutrina Espírita encontrarão, assim, vindo a Paris, um centro ao qual poderão se dirigir para se informarem, e onde poderão comunicar suas próprias observações”.

As reuniões em seu primeiro ano de funcionamento, eram realizadas às sextas-feiras, na Rua de Valois, 35, Palais-Royal, em Paris.

A partir de 20 de abril de 1960, a Sociedade ficou definitivamente instalada num imóvel alugado na Rua Sainte-Anne, 59, para onde também foi transferida a redação da Revista Espírita.

Periodicamente Kardec publicava relatório sobre as atividades da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sendo que em abril de 1862 ela tinha 87 associados pagantes, recebendo, em média, 1.500 visitantes por ano.

Em 1861, quando da publicação de O Livro dos Médiuns, e com o intuito de entregar aos espíritas um roteiro de como constituir um Centro Espírita, ele publica no capítulo 30 o Estatuto da Sociedade, que revela a preocupação do Codificador em manter uma estrutura enxuta e calcada nos sérios objetivos do Espiritismo, como podemos observar no seu artigo 1º:

“A Sociedade tem por fim o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e sua aplicação às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas. As questões de política, de controvérsia religiosa e de economia social lhe são interditas. Ela toma por nome: Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”.

Estudar os fenômenos para conhecer-lhes as causas, e aplicar esse conhecimento em todas as ciências, para que estas possam transcender o viver material e alcançar o verdadeiro sentido da vida, eis o objetivo maior de qualquer centro espírita.

Naturalmente, como qualquer obra humana, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, mesmo tendo em sua direção o espírito iluminado de Allan Kardec, passou por dificuldades, não apenas financeiras, como doutrinárias, lembrando que o Espiritismo estava em formação, mas igualmente de relacionamento entre seus membros, mas tudo sempre foi superado com o uso da fraternidade e a atuação firme do Codificador.

Conhecer a história e os objetivos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro centro espírita organizado, é muito importante para qualquer espírita, mas principalmente para os dirigentes espíritas, quando poderão avaliar os rumos do Centro Espírita que dirigem, que deve ser legítimo representante do Espiritismo.

Marcus Alberto De Mario é membro da Rede Amigo. É Educador, Escritor e Consultor Educacional e Empresarial. Colabora no Centro Espírita Humildade e Amor, da cidade do Rio de Janeiro. É programador e apresentador na Rádio Rio de Janeiro, a emissora da fraternidade.

Tem cinco livros publicados: É Preciso Amar (estudos do evangelho); Visão Espírita da Educação (educacional); Espiritismo e Cultura (estudos); Vida e Felicidade (auto-ajuda) e Além das Aparências (contos). Ainda este ano serão publicados: O Homem de Bem (estudo do evangelho) e Pedagogia da Sensibilidade (educacional)

contato: marcusdemario@gmail.com

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