O MEDO QUE EU DESCONHECIA EM MIM
Adriana Machado
Mais uma vez, percebemos como a vida é sábia.
Somente quando somos testados pelas alegrias e adversidades, somente quando os nossos interesses são glorificados ou colocados em “perigo” é que deixamos emergir para a superfície de nossas ações aquilo que ainda trazemos em nossos corações, aquilo que ainda nos acompanha como parte de nossa essência.
Enquanto vivemos uma existência sem tormentos, enquanto vivenciamos um mar de tranquilidade antes as circunstâncias que nos rodeiam, não temos noção das mazelas que carregamos nas profundezas de nossa alma, tampouco a nossa capacidade de fazer o bem.
Mas, não é para isso que viemos aqui neste planeta escola? Não é para nos conhecermos e nos lapidarmos, para nos conhecermos e nos aprimorarmos?
A espiritualidade há muito tem nos avisado que passaríamos por momentos de aprendizado; que deveríamos nos preparar para enfrentar os nossos temores mais íntimos; que também nos escandalizaríamos com as nossas boas e não tão boas ações e pensamentos, porque as máscaras iriam cair e que nos enxergaríamos por inteiro.
O momento chegou. O momento de turbulência está aí para quem quiser admitir!
O nosso povo está dividido, realmente, dividido. Uns mais exaltados, outros mais comedidos, outros preocupados e outros tantos não estão nem aí, mas o que conta é o que flagramos em nossos corações.
Pense com honestidade, sem buscar justificativas: o que está acontecendo aí dentro do seu Eu? Quais os sentimentos que estão borbulhando, que estão se fazendo presentes a cada experiência boa e não tão boa que vivencia? Elas o incomodam? Se sim, o que fará a respeito?
Percebo muitas em mim! Me surpreendo com algumas que antes eu mesma afirmava (ou até condenava) ser inconcebível para um ser cristão! Elas estão aqui e o que faço? Tenho de me envergonhar por tê-las? Não.
Como não?
Não tenho de me envergonhar porque elas são aquilo que estou, mas não significa que eu as aceitarei por muito tempo em meu ser. Se eu as estou abominando em mim, posso trabalhá-las pacificamente para transmutá-las. Diante de tantas lutas externas que assolam o nosso mundo, não preciso criar outra batalha dentro de mim para me lapidar. Posso fazer isso no silêncio de minha vontade, na minha vontade de querer mudar.
Mas, além das circunstâncias, o que fez ressurgir e alimentar tais sentimentos em cada um de nós?
Eu acredito que o maior impulsionador de nossos sentimentos exacerbados é o nosso medo!
Estamos com medo! Medo desta instabilidade, medo da violência, medo do nosso presente, medo de vermos que, efetivamente, a nossa vida está na mão de outras pessoas e de uma doença ainda não contida que poderão moldar um futuro que nos parece aterrorizador.
Somente agora, ante as adversidades vivenciadas pelo mundo, muitos estão aprendendo que não podemos nos alienar ou nos isentar de nossas responsabilidades. Muitos de nós tomaram consciência de seu papel como cidadão do mundo, como pessoa e que a escolha do coletivo fará diferença para a condução de sua vida e do mundo. Mas, são todos? Infelizmente, ainda não.
O engraçado é que esse nosso papel na coletividade nunca fugiu deste contexto. Pela nossa ignorância das verdades espirituais, não dávamos o devido valor ao nosso comportamento e, por isso, sempre estivemos à mercê de qualquer decisão mal direcionada por nós, podendo-nos trazer o caos e a decadência. Ademais, tomamos consciência que tais decisões interferem no todo porque somos parte da mesma moeda, onde um for, o outro lado vai também!
Se o medo nos “assusta e paralisa”, também nos mostra como estamos nos vendo intolerantes em relação àqueles que não querem enxergar o momento perturbador, mas de muito aprendizado, que todos estamos vivenciando. Por temermos um futuro sombrio podemos usar da intolerância, da agressividade como escudos de proteção.
O medo nos leva a acreditar que o caos impera. O medo nos leva a agir com violência verbal ou física contra aqueles que acreditamos que concretizarão o que mais tememos. O medo nos faz enxergar um inimigo a cada esquina.
Voltemo-nos para o Cristo. Voltemo-nos para quem realmente nos ampara a cada momento e ajamos conforme Ele ensinou [1]:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.”
Nesta passagem bíblica, Ele nos dizia que precisamos fazer a nossa parte. Não podemos cruzar os braços, mas, agirmos seguindo os Seus ensinamentos no império da paz, do consolo e da compreensão.
Voltemo-nos para o nosso Ser. Busquemos compreender o medo que nos assola para que a nossa fé seja mais forte do que ele. Vibremos na energia do amor para que construamos um campo de saúde e paz para o nosso planeta.
Assim, com esse novo entendimento, mataremos de fome o medo que nos inunda e incomoda e fortaleceremos a nossa fé na Providência Divina de que toda experiência tem o seu tempo e esta, em que vivemos, também terá.
[1] Matheus, 7:7-8
Adriana Machado
Fonte: Adriana Machado