O espírita perante as manifestações coletivas

O espírita perante as manifestações coletivas

Cláudio Sinoti

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As recentes manifestações públicas no Brasil chamaram a atenção de todo o mundo, quando o povo começou a sair às ruas exibindo o seu clamor, que demonstra a contrariedade dos cidadãos com vários aspectos da vida social e política do País. Dentre as exigências apresentadas, de forma resumida destacam-se cobranças que envolvem os seguintes aspectos:

– Ética, Justiça, Segurança, Saúde, Educação, dentre outros…

Outras pautas foram incluídas nas reivindicações, e o clamor geral exaltava que o “Gigante Acordou” …

Certamente é positivo o despertar para as questões coletivas que envolvem a nacionalidade brasileira, mas na condição de espíritas, e tendo o Cristo como modelo, temos antes o dever de nos questionar:

Qual será o nosso papel nesse movimento? Temos o direito de protestar?

Possuímos o livre-arbítrio, e o Espiritismo não nos proíbe nada. No entanto, ao apresentar seus princípios, fornece ferramentas para que nossas escolhas e atitudes sejam pautadas pelo bom senso. Assim sendo, somos convidados a analisar cada um desses pontos em nossa vida pessoal:

Ética: a ética faz parte da natureza do ser humano, desde o momento que possuímos a capacidade de avaliar nossos atos e discernir entre o bem e o mal. Afinal, como nos apresenta O Livro dos Espíritos, as leis de Deus estão inscritas na consciência 1. E no campo ético, o cristão é chamado a avaliar suas atitudes e verificar se seus atos estão pautados conforme os ensinamentos do Cristo. E uma forma de avaliar a ética pessoal, antes de exigi-la somente dos outros, será perguntar-se:

– Procedo em minha vida pessoal da forma como exijo que os outros façam?

Justiça: a situação da justiça é precária, com seus inúmeros erros e distorções. Mas o espírita deve ter uma visão mais ampla da justiça, pois o seu olhar deve abranger a condição espiritual. E antes de clamar por justiça, deverá perguntar-se:

– Sou uma pessoa justa? Consigo me manter justo e imparcial, mesmo quando isso fira os meus interesses ou dos que me são caros? Lido de forma madura e consciente com os meus conflitos?

Sendo justos e imparciais, nossos gritos por uma justiça melhor e mais eficiente ecoarão com muito mais valor.

Segurança: a população não suporta mais a violência das ruas, e a falta de policiamento é gritante na pátria brasileira. Mas, o que efetivamente irá solucionar a questão?

Se o problema é o combate à violência, a solução deve ir até a raiz, que é a própria violência alimentada pelo ser humano. Ainda não aprendemos a lidar com a raiva e os instintos, e as emoções básicas tomam conta de nós, enquanto deveríamos ser conduzidos pela razão e pelos sentimentos nobres.

Por isso mesmo, enquanto a violência viger em nosso comportamento, os gastos governamentais poderão até amenizar a desordem coletiva, mas não solucionarão a questão da falta de segurança.

Saúde: são fundamentais os investimentos governamentais na área da saúde, proporcionando médicos e hospitais disponíveis ao atendimento da população, além das campanhas preventivas e educativas. Mas será que a saúde depende apenas das instituições governamentais?

A nossa alma está enferma porquanto nos distanciamos dos sentimentos sublimes, das atitudes nobres e da religiosidade, que nos conectam às fontes da vida. E como exigir do governo investimentos para extirpar a nossa maior doença: o egoísmo. Esse, somente nós podemos cuidar, pois não haverá remédio e hospital que extirpem esse câncer da alma.

Precisamos de médicos e hospitais, sem dúvida alguma, mas o Médico de Almas nos faz muito mais falta, para a conquista da saúde integral.

Educação: a precariedade das nossas escolas e universidades, assim como a condição dos profissionais da área de educação é deprimente em nosso País, com algumas exceções. Mas, se desejarmos fazer uma avaliação honesta do nosso processo educativo, antes mesmo de cobrar das autoridades responsáveis, temos por dever nos perguntar:

– Como anda a nossa autoeducação e a educação de valores morais daqueles que estão sob os nossos cuidados?

Existe muita negligência com o processo autoeducativo. As nossas metas, na maioria das vezes, são de conquistas externas e de “um lugar no mundo”, e quase nunca do nosso papel no mundo. Como nos ensina Joanna de Ângelis2, “o ser humano está fadado à autorrealização plena” sob a atração do psiquismo divino. Mas enquanto permanece adstrito ao campo dos interesses egoicos, permanece alienado dessa força divina que o conduz.

É necessário auto educar-se. Educar as nossas emoções em desalinho, os impulsos agressivos e ególatras. (ou egoístas – ver com o autor o que ele prefere) Educar-se também para ampliar os campos do conhecimento, não somente para nos garantir uma cultura que nos propicie melhores condições de trabalho, mas principalmente de vida civilizada.

Educando-nos, veremos certamente o Gigante despertar, pois o gigante que deve despertar na pátria brasileira é aquele que existe em primeiro lugar no nosso mundo íntimo: a nossa essência divina, com todo seu potencial de nobreza e qualidades. Quando nossa consciência despertar, estaremos construindo uma pátria de luz, pautada nos valores da alma. O Brasil é, sem dúvida, uma Nação grande. Quando todos nós, os filhos dessa pátria, nos tornarmos conscientes, há de ser uma Grande Nação, para finalmente poder cumprir os papéis que lhe foram confiados pela divindade.

Cláudio Sinoti

Fonte: Correio Espírita

1 Questão 621 de O Livro dos Espíritos.

2 Vida: desafios e soluções . Ed. Leal, 1997

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