– Elio Mollo –
Na Moderna Enciclopédia Brasileira encontramos que: “o arrependimento é sentimento de pesar causado por violação de uma lei ou da conduta moral: resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações. Essa é a definição da ética, e refere-se mais particularmente à lei e à moral humanas. Segundo a religião (sobretudo segundo o Cristianismo) é o sentimento de pesar que se apossa em virtude de falta cometida por atos, palavras ou pensamentos, os quais ela preferiria não ter praticado, dito ou concebido, e que a conduz ao propósito de mudar de atitude ou de comportamento e ao desejo de penitenciar-se. Na verdade, a simples disposição de evitar futuras violações, ou de penitenciar-se., cheio de unção e contrição, é de valor relativo. Válido sob todos os aspectos é o arrependimento que leva à reparação da falta cometida. Sentir-se pesaroso, bater o “meã culpa” e entregar-se a penitências pode ter, de fato tem um valor meramente subjetivo: ameniza a angústia do que errou. Mas o que realmente se espera é que este repare seu erro de modo objetivo: se por palavras ofendeu, busque o perdão do ofendido; se por atos causou dano ou destruiu, indenize o prejudicado, reconstrua o destruído; se por pensamentos desejou o mal ou prevaricou, conscientize-se disso fundamente, reeduque-se, conheça-se a si mesmo e moralmente se transforme para viver em paz com a própria consciência.”
No Evangelho em Lucas 23:39-43, falando do “bom ladrão”, um dos malfeitores suspensos à cruz o insultava, dizendo: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: “Nem sequer temes a Deus, estando na mesma condenação? Quanto a nós, é de justiça: estamos pagando por nossos atos; mas ele não fez nenhum mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estará comigo no Paraíso”.
Não é útil “o somente arrepender-se” dos atos errados que fizemos até agora. É necessário refazer o caminho para acertar daqui para frente.
Muitos de nós dizemos: eu errei, estou arrependido, muitas vezes até pedimos perdão a Deus, só que as coisas ficam por aí mesmo, não fazemos mais nada.
Na Lei Universal de Deus, as coisas não podem ser dessa maneira, pois, como dizem os Espíritos superiores a Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos, q. 999”. “O arrependimento auxilia a melhora do Espírito, porém, o erro deve ser expiado”.
Como podemos observar através da passagem do Evangelho de Lucas, a primeira impressão que temos e, que Jesus ao dizer “eu te digo, hoje estará comigo no Paraíso” que o “bom ladrão” já estaria livre de pagar o seu passado, porém, não é bem assim que se passa, pois como diz Emmanuel no livro “Pão Nosso, com o tema, no Paraíso”:
“Naquela hora de sacrifício culminante, o “bom ladrão” rendeu-se incondicionalmente a Jesus-Cristo. O leitor do Evangelho não se informa, com respeito aos porfiados trabalhos e às responsabilidades novas que lhe pesariam nos ombros, de modo a cimentar a união com o Salvador, todavia, convence-se de que daquele momento em diante o ex-malfeitor penetrará o céu.”
O “bom ladrão” entendeu as lições de Jesus, as responsabilidades que lhe pesariam nos ombros, de modo que deveria refazer o caminho para vencer seus maus pendores, foi assim que ele compreendeu as palavras de Jesus, e com isso sentiu ânimo, confiança no futuro para mudar. Aquilo que poderia ser sofrimento para si, tornou-se esperança, e Jesus compreendendo esse novo estado de ânimo nele, e vendo paz em sua alma, o levou a dizer, “hoje estarás comigo no Paraíso”.
Daquela hora em diante, o “bom ladrão”, ao invés, de pensar em somente tirar as coisas dos seus semelhantes, iria agir diferente, numa maneira de refazer o seu passado delituoso, doando ao mundo os seus esforços de reconstrução.
Com Pedro, também obtemos um bom ensinamento sobre o arrependimento, no anúncio da negação e da conversão (Lucas 22:31-34):
“Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos”. Disse ele: “Senhor, estou pronto a ir contigo à prisão da morte”.
Ele porém replicou: “Pedro, eu te digo: o galo não cantará hoje sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me”.
E isso realmente acontece como podemos verificar em Marcos, 14:66-72: Quando Pedro estava embaixo, no pátio, chegou uma das criaturas do sumo sacerdote.
E, vendo a Pedro que se aquecia, fitou-o e disse: “Também tu estavas com Jesus Nazareno”. Ele, porém, negou, dizendo: “Não sei nem compreendo o que dizes”. E foi para fora, para o pátio anterior. E o galo cantou. E a criada, vendo-o, começou de novo a dizer aos presentes novamente: “Este é um deles!” Ele negou de novo! Pouco depois, os presentes novamente disseram a Pedro: “De fato, és um deles; pois és galileu”. Ele, porém, começou a maldizer e a jurar: “Não conheço esse homem de quem falais!” E, imediatamente, pela segunda vez, o galo cantou. E Pedro se lembrou da palavra de Jesus que lhe havia dito: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes”. E começou a chorar.
E Pedro arrependido chorou amargamente, porém, não desanimou, após a morte do Cristo, trabalhou arduamente para se modificar, trabalhou em prol de seus semelhantes, vivenciando as lições do Mestre e morrendo heroicamente por espalhar as Suas lições por andava.
Como podemos verificar na q. 171 de “O Livro dos Espíritos”, os Espíritos superiores nos dizem que “o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento”. Assim, podemos concluir que Deus também nos oferece todas as ferramentas necessárias para refazermos o caminho, e buscarmos a nossa felicidade.
(Artigo reproduzido com autorização do autor – bvespirita.com)