Mundos felizes: o que sabemos sobre eles
Anselmo Ferreira Vasconcelos
Ao demonstrar pleno conhecimento da sabedoria celestial Jesus Cristo afirmou “há muitas moradas na casa do Pai” – muito provavelmente esta foi a primeira revelação à humanidade sobre a pluralidade dos mundos habitados.
Hodiernamente, nossos sofisticados telescópios e veículos espaciais esquadrinham o espaço, gerando imagens simplesmente encantadoras de planetas e galáxias, ou seja, extraordinárias criações divinas. Concomitantemente, pesquisadores ufológicos continuam coligindo uma profusão de relatos de contatos diretos entre humanos e alienígenas, bem como vídeos espetaculares de Óvnis. A conclusão insofismável é que não estamos sozinhos no universo, pois a vida estua por toda parte guiada pelo incomensurável amor do arquiteto divino.
Nesse sentido, cumpre esclarecer que há mundos bem mais avançados do que o nosso, assim como atrasados, conforme nos informam os Espíritos mensageiros de Deus. Posto isto, a Terra é mais um mundo no contexto cósmico, que abriga, por força das circunstâncias, uma grande quantidade de almas ora submetidas aos purificadores processos de expiação e provas. Ou seja, há degraus evolutivos que abrangem os mundos tal qual as criaturas que neles vivem, variando, assim, desde planetas primitivos onde a vida inteligente começa, por assim dizer, a brotar, até moradas celestiais dotadas de elementos etéreos sutis, quase imateriais, que abrigam seres purificados onde a felicidade reina absoluta.
Assim sendo, a Terra ainda se encontra nos estágios iniciais da evolução dos mundos, infelizmente. Por conta do nosso acentuado atraso espiritual, nosso planeta continua sendo sacudido por poderosas forças telúricas, que vêm gerando intensa destruição e perda de vidas na atualidade. Terremotos, maremotos, furacões, ciclones, tornados, enchentes, incêndios, entre outros fenômenos meteorológicos, têm vergastado, com frequência assustadora, as nações do mundo inteiro.
Por essa razão, ninguém está isento de sofrer os seus efeitos devastadores que, com maior ou menor grau, têm golpeado a todos nós. No geral, a experiência de viver na Terra tornou-se consideravelmente mais arriscada. Chegamos a um ponto no qual, de um momento para outro, podemos – sem exagero – ser atingidos por uma chuva torrencial – diluviana, poderiam alguns considerar – com potencial de ceifar as nossas existências de várias e inesperadas maneiras. Em suma, o clima no planeta está caótico e a natureza dá sólidas mostras de reação.
O Espírito Joanna de Ângelis, na obra Transição Planetária (psicografada por Divaldo Pereira Franco) refere-se a esse período em que nos encontramos nos seguintes termos:
“As dores atingem patamares quase insuportáveis e a loucura que toma conta dos arraiais terrestres tem caráter pandêmico, ao lado dos transtornos depressivos, da drogadição, do sexo desvairado, das fugas psicológicas espetaculares, dos crimes estarrecedores, do desrespeito às leis e à ética, da desconsideração pelos direitos humanos, animais e da Natureza… Chega-se ao máximo desequilíbrio, facultando a Interferência Divina, a fim de que se opere a grande transformação de que todos temos necessidade urgente.”
Enquanto as desgraças coletivas se sucedem, os chefes das nações têm fracassado fragorosamente no cumprimento dos seus papéis. Surpreendentemente, o que se observa, com extrema clareza, é a prevalência de um cenário geopolítico contaminado por crescentes incertezas que fragilizam ainda mais as relações entre as nações. Com efeito, não se trabalha com o devido afinco para a construção de coesão e integração que permitiria assegurar a eliminação das tensões entre as chamadas grandes potências. Aliás, um exemplo marcante nesse particular é a sinistra aproximação entre a China, Rússia, Coreia do Norte – países governados com mão de ferro pelos seus líderes -, envolvendo estreita cooperação militar, que certamente em nada contribui para arrefecer as desconfianças.
Igualmente preocupante é a volta da corrida armamentista. A propósito, a imprensa mundial anunciou recentemente o desenvolvimento do míssil balístico intercontinental russo Satã 2, que foi concebido para transportar ogivas nucleares com capacidade de cruzar continentes inteiros, e atingir um alvo em praticamente qualquer lugar do planeta, sem que se possa detê-lo. Trata-se de uma arma tão sofisticada que chega a realizar manobras verticais e horizontais, além de superar a velocidade do som. Posto isto, a criação de armas como essa dão uma ideia da precariedade da paz em nosso planeta, pois qualquer movimento mais abrupto por parte dos principais atores mundiais poderá desencadear uma guerra em escala planetária e certamente com trágicas consequências para toda a humanidade.
Entretanto, dirijo-me no presente artigo aos que já algo perceberam do poder divino, e que aceitam a tese da pluralidade dos mundos habitados. Minha intenção é discorrer sobre o que já sabemos sobre os planetas nos quais o estado de felicidade permanente já foi alcançado. Como estamos longe de viver num autêntico Shangri-la, isto é, uma morada de paz, alegrias, bem-estar e felicidades permanentes, podemos ao menos abrir nossas mentes para algo mais elevado, o que faz sentido, já que na criação divina tudo evoluí. Ademais, é extremamente reconfortante saber que nem tudo se resume aos acanhados limites do nosso (belo) orbe – implacavelmente judiado pela incúria dos seus inconsequentes inquilinos (nós humanos).
Como muito bem ponderou o Espírito Emmanuel, no livro que leva o seu nome no título, psicografado por Francisco Cândido Xavier, “O conhecimento das condições perfeitas da vida em outros mundos, não deve trazer abatimento aos extremistas do ideal. Semelhante verdade deve encher o coração humano de sagrados estímulos”. Com efeito, é muito alentador poder divisar essa possibilidade, especialmente quando encaramos a existência como um processo motivacional no qual podemos desenvolver virtudes rumo ao alcance de tal beatitude.
Por sua vez, Allan Kardec examinou o assunto com extrema seriedade extraindo algumas conclusões que merecem ser destacadas. Por exemplo, n’O Livro dos Espíritos (questão nº 55) somos informados pelas entidades espirituais que os mundos são habitados, desfazendo qualquer presunção humana de sermos os mais dotados em inteligência, bondade e perfeição. Kardec acrescentou que:
“Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência. Acreditar que só os haja no Planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há de ele ter dado uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes.”
Mais ainda: suas investigações permitiram-no concluir que não se abriga mais nesses mundos o sentimento de egoísmo, tão comum na Terra ainda e gerador de enormes disparidades e distorções econômicas e sociais. Em tais moradas, ao contrário, reina o sentimento de fraternidade, as guerras foram banidas, ódios e discórdias inexistem, já que não se admite a ideia de prejudicar a outrem. Ou seja, os seres viventes nesses mundos fazem aos outros, de maneira natural, o que desejam para si próprios. Ao que tudo indica, vivem mergulhados sob as diretrizes do mais puro código de ética e moral instituído pelo Criador. E usam a sua inteligência para erigir coisas positivas e benéficas às humanidades que neles habitam.
De modo geral, esclarece Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, as condições morais e materiais dos mundos superiores são muito diferentes das nossas. Os seus habitantes apresentam forma semelhante à nossa – aliás, pesquisas ufológicas reforçam tal conclusão. Entretanto, seus corpos têm outra composição, e, por isso, não estão sujeitos às necessidades, doenças e deteriorações típicas do nosso planeta. Além disso, argumenta o Codificador que:
“Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos.”
Além disso, a vida nesses orbes é geralmente mais longa do que na Terra porque seus habitantes não desfrutam de existências angustiantes, sem falar do elevado grau de adiantamento obtido. Desse modo,
“[…] A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento”.
Portanto, é de se supor pleno conhecimento da vida espiritual por parte desses seres – algo que se engatinha ainda na Terra. Ao que tudo indica, suas mentes já alcançam o correto entendimento da passagem à dimensão espiritual como um fato normal e em perfeita consonância com as leis cósmicas.
Em tais moradas divinas, as relações entre os povos são marcadas pela harmonia. A diferença entre os seres se dá em virtude da superioridade moral e intelectual, que confere a supremacia por ordem natural. Nelas prevalecem o respeito à autoridade e à justiça. Conforme Kardec, nos mundos felizes, a busca do autoaperfeiçoamento é um imperativo com vistas à conquista da categoria dos Espíritos puros. De modo geral,
“[…] Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; um laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário, uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.”
Nos orbes felizes, imperam a luz, a beleza, a serenidade que conferem uma alegria constante aos indivíduos. Em decorrência disso, pode-se imaginar que as aflições e estresse tenham sido completamente banidas. Além disso, as pessoas não são perturbadas pelas experiências angustiantes da vida material ou pela convivência com os seres maus, que abundam em mundos atrasados como o nosso, mas lá inexistem.
Kardec, por fim, destaca que:
“12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade.”
Não obstante a Terra encontrar-se numa categoria muito inferior à dos mundos felizes, eleva-se lentamente – seguindo as determinações do Criador – à condição de mundo regenerado. Trata-se de uma categoria intermediária, na qual a felicidade ainda não é plenamente alcançada, mas as agruras dos povos são consideravelmente arrefecidas. Com o acrisolamento das consciências e a consequente mudança no padrão comportamental, progressos em todas as áreas são factíveis tornando a vida mais suave e harmoniosa.
É importante frisar que nas moradas regeneradas,
“…o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.”
Portanto, é nosso destino morar um dia num mundo feliz, mas, para merecer isso, precisamos trabalhar fortemente eliminando as nossas imperfeições e, sobretudo, amando a Deus e aos que nos cercam, como Jesus nos ensinou.
Anselmo Ferreira Vasconcelos
Fonte: Espiritismo na Rede