Maria de Nazaré Sob a Luz da Doutrina Espírita

Maria de Nazaré Sob a Luz da Doutrina Espírita

Carla Silvério Barbosa e Rafaela Paes de Campos

Quem foi Maria de Nazaré e qual o seu significado para a Doutrina Espírita?

O nome Maria tem origem no aramaico “Maryām” – senhora soberana, a pura (SIGNIFICADO DOS NOMES, 2021).

Segundo os relatos bíblicos, Maria foi a mãe de Jesus, esposa de José e grande divulgadora das mensagens do grande Mestre após o seu retorno ao plano espiritual.

[…] O anjo Gabriel saúda Maria dizendo:

– Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!

[…] Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu seio e dará à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim. (BÍBLIA SAGRADA, 2006, 1:28-33).

Maria, enquanto mãe de Jesus, cuidou de sua criação e da formação de sua personalidade no caminho do bem até que chegasse o momento de caminhar por si rumo à sua valorosa missão de redenção da humanidade.

Foi mulher israelita, originária da cidade de Nazaré (hoje capital do distrito Norte de Israel), daí o seu nome ter sido registrado historicamente como “Maria de Nazaré”, haja vista que, em seu tempo, as pessoas não tinham sobrenome e comumente eram conhecidas por suas cidades natais ou por suas famílias – “filha de”, “irmã de”, e teria vivido entre o final do Século I a.c. e início do Século II a.c. (BROWN; FITZMYER; DONFRIED, 1978, p. 140).

Na cultura popular judaico-cristã, Maria é entendida como sendo a mulher que concebeu Jesus por meio de um milagre (anunciação do anjo Gabriel e unção do Espírito Santo), jamais tendo conhecido ou praticado qualquer ato sexual com seu marido José, seja antes ou após o nascimento de Jesus.

Segundo a cultura judaica, Maria teria dado à luz a Jesus com cerca de 13 anos de idade. Naquela época essa era a faixa etária para as mulheres se casarem e constituírem suas famílias (DAVES; ALLISON, 2004, p. 12).

Maria de Nazaré é citada nos evangelhos canônicos e nos apócrifos, bem como no Alcorão (livro sagrado dos mulçumanos) sempre como a mãe de Jesus, o salvador (para os cristãos) ou grande profeta (para os mulçumanos), com profundo respeito à sua figura e tudo que representa, como sendo a mulher mais pura que já esteve encarnada no planeta Terra.

Para os cristãos da Igreja Católica Romana, Ortodoxa, Ortodoxa Oriental, Anglicana e Luterana, sendo a mãe de Jesus, Maria é a mãe de Deus e a Teótoco (a portadora de Deus), uma vez que Jesus Cristo é o próprio Deus.

A figura de Maria é venerada desde os primórdios do Cristianismo.

Segundo o Espiritismo

Maria é um Espírito puro de mais alta evolução, sendo exemplo de amor, abnegação e sacrifício, trabalhando ao lado de Jesus em prol da humanidade.

Somente um Espírito da hierarquia evolutiva de Maria poderia desempenhar com absoluto sucesso a valiosa missão de ser a mãe do grande Governador de nosso orbe, o emissário de Deus para os homens, que se fez menino para se transformar “no modelo da perfeição moral que a Humanidade pode pretender sobre a Terra” e suportar com fé no Criador todas as mazelas e dores ao ver seu filho atravessar o suplício do calvário, sem vacilar, tendo em vista suas elevadas virtudes já conquistadas ao tempo da vinda de Jesus ao plano material onde nos encontramos:

[…] As figuras de Simeão, Ana, Isabel, João Batista, José, bem como a personalidade sublimada de Maria, têm sido muitas vezes objeto de observações injustas e maliciosas; mas a realidade é que somente com o concurso daqueles mensageiros da Boa Nova, portadores da contribuição de fervor, crença e vida, poderia Jesus lançar na Terra os fundamentos da verdade inabalável. (XAVIER, 1996, p. 106, grifo nosso).

A figura de Maria de Nazaré como Espírito de mais alto grau evolutivo é relatada pela vasta literatura espírita como exemplo de abnegação e dedicação ao auxílio dos Espíritos atormentados e sofredores, sejam desencarnados ou ainda encarnados, zelando com grande amor por toda a humanidade (ANUÁRIO ESPÍRITA, 1986, p. 13).

Para a Doutrina Espírita, Maria é Espírito imaculado não no sentido virginal, bio-fisiológico do termo, mas sim um ser evoluído ao grau de Espírito puro, sem máculas a serem sanadas por meio da marcha evolutiva a que todos nós estamos sujeitos. Até mesmo porque, para o Espiritismo, Jesus teria sido concebido e nascido pelas vias naturais de reprodução humana (sexuada), conforme dita a Lei de Reprodução.

Nesse sentido, sendo a Lei de Reprodução uma Lei Natural (Questões 614 e 686, de O Livro dos Espíritos) e portanto, Lei de Deus, é um grande contrassenso se imaginar que Maria de Nazaré, Jesus e José se sujeitariam a pactuar com uma afronta à Lei de Deus agindo por “milagres” e não respeitarem a Lei de Reprodução (KARDEC, 2007, p 399 e 433).

Assim, a virgindade imaculada de Maria, para o Espiritismo é uma alegoria da cultura de “pecado” estabelecida pelo cristianismo ao longo dos séculos.

Para a Doutrina Espírita, os eventos tidos como “milagres” são explicados pela razão, conforme nos ensina Kardec, na obra A Gênese – 2ª parte, cap. XIII – Deus faz milagres?”:

[…] o poder de Deus não se manifesta de maneira muito mais imponente pelo grandioso conjunto das obras da criação, pela sábia providência que essa criação revela, assim nas partes mais gigantescas, como nas mais mínimas, e pela harmonia das leis que regem o mecanismo de Universo, do que por algumas pequeninas e pueris derrogações que todos os prestímanos sabem imitar?  Que se diria de um sábio mecânico que, para provar a sua habilidade, desmantelasse um relógio construído pelas suas mãos, obra-prima de ciência, a fim de mostrar que pode desmanchar o que fizera?

[…] mas, ponderando que Deus não faz coisas inúteis, ele emite a seguinte opinião: Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como são perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se ainda há fatos que não conhecemos, é que ainda nos faltam os conhecimentos necessários. (KARDEC, 2006, p. 289-290).

Assim, o Espiritismo tem profundo respeito por Maria de Nazaré.

Imaginemos, em nossa restrita compreensão que nós, meros seres imperfeitos, assumimos grande responsabilidade ao recebermos no seio de nossos lares uma criança, um ser em formação, e que deverá ser educado e orientado por seus responsáveis. Eleve-se isso a uma potência incompreensível para o nosso estágio evolutivo, ao racionalizar a responsabilidade assumida pelos pais de Jesus, “em especial por Maria de Nazaré, que se dedicou com amor, carinho, compreensão e renúncia àquele filho que lhe vinha dos mais altos planos da vida, e que desempenharia espinhosa e árdua missão entre os homens” (FEESP, 2021, s.p.).

Segundo o registo de Yvone Pereira, na obra Memórias de um Suicida, Maria de Nazaré tem fundamental papel no resgate e cuidado com os Espíritos sofredores que sucumbem em suas dores e ceifam as próprias vidas. É ela a amorosa assistente a esses irmãos sofredores, atuando por meio da Legião dos Servos de Maria, abnegados trabalhadores do Hospital Maria de Nazaré, cujo comando e direção geral são por ela desenvolvidos (PEREIRA, 2006, s.p.).

Muito mais importante que a discussão a respeito de uma virgindade que não altera em nada os importantes fatos históricos que são oriundos da concepção de Jesus por Maria, é a compreensão do amor infinito percebido por este Espírito ao assumir posição tão marcante de responsabilidade imensurável diante das profundas modificações que a vinda de Jesus trouxe para a humanidade.

Ainda nos dias de hoje, segue no exercício de sua missão de amor incondicional, acolhendo os Espíritos que mergulham nas trevas das dores e inconsequência, oferecendo braços amorosos em prol da compreensão e evolução de todos os Espíritos criados e amados por Deus.

Carla Silvério Barbosa e Rafaela Paes de Campos

Fonte: Blog Letra Espírita

REFERÊNCIAS

ANUÁRIO ESPÍRITA. Diversos autores. Ano XXIII, nº 23. Item: Fatos mediúnicos (Notícias de Maria, mãe de Jesus). Araras: IDE, 1986.

BÍBLIA SAGRADA, edição luxo – tradução da Vulgata Latina por Pe. Antônio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Ed. DCL, 2006.

BROWN, Edward Raymond; FITZMYER, Joseph A.; DONFRIED, Karl Paul.  Mary in the New Testament – A Collaborative statement by Protestant, Anglican and Roman Catholic scholars. Filadélfia: Fortress Press, 1978.

DAVES, W. D.; ALLISON, Dale C. Matthew: A Shorter Commentary. 1ª edição. Nova York: Ed. Continnuun-3PL. 2005.

FEESP. A difícil missão da mãe de Jesus. 2016. Disponível em: https://www.feesp.com.br/2016/12/23/a-dificil-missao-da-mae-de-jesus-paulo-oliveira/. Acesso em: 29 set. 2021.

KARDEC, Allan.  A Gênese.  1ª edição de bolso. Rio de Janeiro: Ed, FEB. 2006.

KARDEC, Allan.  O livro dos Espíritos – tradução de Evandro Noleto Bezerra.  1ª edição comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2007.

PEREIRA. Yvonne A.  Memórias de um Suicida. Pelo Espírito Camilo Candido Botelho. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2006.

SIGNIFICADO DOS NOMES. Significado do Nome Miriam. 2021. Disponível em: https://www.significadodosnomes.com.br/miriam. Acesso em: 29 set. 2021.

XAVIER. Francisco Cândido. A Caminho da Luz.  Pelo Espírito Emmanuel. 22ª edição. Rio de Janeiro: Ed. FEB. 1996.

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