Inclusão nas instituições espíritas (Marcos Paterra)

Inclusão nas instituições espíritas

Postado por Marcos Paterra  Exibir blog

Muito se ouve sobre a inclusão nas escolas e nas instituições empresariais,  isso porque desde a década de noventa o governo tenta  conscientizar e implementar a inclusão  principalmente nas redes de ensino.

Foram lembrados os grandes nomes da historia da pedagogia como Pestalozzi[1], Wallon[2], Maria Montessori[3], e finalmente houve a conscientização de que carinho, brincadeiras, e atenção eram essenciais entre professores e crianças.

Baseando-se em princípios de Jean Piaget[4], e Vygotsky[5], muitos estudiosos  abriram uma visão inclisivista  entre eles Adolphe Ferrière[6]    que  com sua visão visionaria  semeava a  “Escola Nova”[7]  que  chegou ao Brasil em 1882, pelas mãos de  do polímata[8] brasileiro Rui Barbosa[9], e exerceu grande influência nas mudanças promovidas no ensino na década de 1920, quando o país passava por uma série de transformações sociais, políticas e econômicas; com métodos construtivistas, e com as portas abertas para todas as crianças fossem negras, brancas, índias, pobres, ricas, deficientes físicas ou mentais… Iniciou-se a inclusão.

Todavia, ainda hoje as dificuldades são grandes principalmente devido ao fato de professores e diretores das escolas, não terem  ciência dos motivos e consequências desta metodologia, os educadores  ainda hoje em sua maioria usam o método tradicional, e as escolas não tem estrutura para lidar com crianças deficientes ou o Bulliyng[10] gerado pelo preconceito/racismo.

Sob essa ótica, podemos questionar se as instituições espíritas são inclusivas, se estão aptas em  abrir as portas para  o convívio com o “diferente”. Seria hipocrisia  não comentar das  instituições espíritas que tem trabalhos sérios e destaque,  alguns para inclusão social onde tem creches e/ou escolas que atende crianças carentes, outros que tem atendimento médico ou psicológico para deficientes físicos ou mentais, mas são poucos e parciais em atendimentos específicos, a questão é, as crianças deficientes  podem frequentar ou mesmo serem evangelizados em qualquer instituição espírita?

Nos últimos anos esta clara a adaptação das estruturas físicas das instituições para que possam receber cadeirantes, muitos livros já estão sendo adaptados para o Braile[11] ou os famosos “áudio-books”[12], todavia  não estaríamos caindo nos mesmos problemas que as instituições escolares ? Nossos expositores, dirigentes, evangelizadores, voluntários ou colaboradores, estão preparados?

Alguns podem indagar que o fato de recebermos pessoas com deficiência em nossas evangelizações tornamo-nos inclusivistas, porem,  são poucas as instituições que conseguem manter essa criança com o olhar inclusivista, eles no máximo as integram em um mesmo ambiente e muitas vezes não sabem lidar com as complexas situações que são geradas  ou seja em seu despreparo o centro espírita pode desencadear mais problemas ainda, e até mesmo agravar os já existentes, reforçando nessa criança, o autoconceito negativo, a desmotivação, o desinteresse e outros mecanismos de defesa, como a indisciplina, rebeldia ou agressão.

Ocorre que os dois vocábulos – integração e inclusão embora tenham significados semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes e têm por detrás posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas.

O processo de integração se traduz por uma estrutura educacional intitulada sistema de cascata, que oferece ao aluno a oportunidade, em todas as etapas da integração, de transitar no sistema escolar ou social. Trata-se de uma concepção de inserção parcial, porque a cascata prevê serviços segregados.

A inclusão se baseia em vários conceitos, dentre eles podemos frisar  três em que é necessário que a criança :

  1. Seja uma pessoa que  se encontra dentro de um grupo, no sentido de fazer parte.
  2. Ou que tenha  amigos e relações sociais significativas com iguais, ou sinta-se  que participa na vida social , contribuindo com alguma coisa;
  3. Por fim que seja tratada com igualdade, carinho e respeito como a pessoa única que é.

 Resumindo, ela tem que ser inserida de modo a sentir “Bem‑estar pessoal e social”. Fica evidente que a inclusão sem esses conceitos não assegura inclusão social, se as instituições não pensarem e agirem baseados nesses conceitos, as mudanças estruturais para deficientes não terão usuários com deficiência.

Enfrentamos uma paradigma cultural que vem dos conceitos Eugenistas[13]., onde o que é diferente ou deficiente deve ser “excluído”, Kardec em “A Gênese”[i] nos  ensina: “[…] na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade”(Kardec, Allan. A  Gênese, pág. 31).

O planejamento de políticas sócio educacionais na estrutura doutrinária e práticas pedagógicas inclusivas nas evangelizações, tendo como priori garantir à permanência, a formação de qualidade, a igualdade de oportunidades e o reconhecimento das diversas e complexas deficiências  assim como  orientações sexuais e  identidades de gênero [e étnico-raciais], contribuem para a melhoria do contexto dentro das instituições espíritas.

Adenauer de Novais em sua obra “Mito Pessoal e Destino Humano”[ii]  nos brinda com essa frase:

“Ser espírita não significa apenas adotar uma postura cordata diante da vida, acomodando-se a pequenas conquistas, muito embora importantes, no campo da educação doméstica. A insatisfação quanto à injustiça, a ignorância e a miséria humanas devem permanecer na consciência de todos que adentrem o Espiritismo. O processo de transformação assinalado pelo Espiritismo como fundamental a todo espírita, inclui, além de seu próprio mundo interno, sua participação na construção de uma sociedade mais equilibrada e harmônica. Não basta ele sozinho se transformar interiormente, sem uma efetiva participação nas mudanças que a sociedade requer. Sua consciência de cidadão, pertencente ao mundo, deve alertá-lo quanto ao seu papel social” ( NOVAES. 2005. P. 144[14])

 

 

[1] J. Heinrich Pestalozzi, Educador suíço. Grande inovador, estabeleceu as bases da pedagogia moderna com seu sistema de ensino prático e flexível.

[2] Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879 – 1962) foi filósofo, médico, psicólogo e político francês.

[3] Maria Montessori (1870 —1952) foi médica, pedagoga e feminista italiana; Conhecida pelo método educativo que desenvolveu e que ainda é usado hoje em dia em escolas públicas e privadas mundo afora.

[4] Jean Piaget: foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência  infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.

[5] Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador foi contemporâneo de Piaget,  e nasceu e viveu na Rússia;  autor de dois livros básicos: Pensamento e Linguagem e A Formação Social da Mente  se tornaram um marco nos estudos do desenvolvimento humano.

[6] Adolphe Ferrière (1879 1960) Pedagogo  suíço cujo trabalho  está estreitamente ligado ao movimento da Escola Nova, como um dos seus fundadores e eventualmente o seu maior ideólogo.

[7][7]  Escola nova, também chamada de Escola Ativa ou Escola Progressiva, foi um movimento de renovação do ensino, que surgiu no fim do século XIX e ganhou força na primeira metade do século XX.

[8] Polímata (do grego πολυμαθής, transl. polymathēs, lit. “aquele que aprendeu muito”) é uma pessoa cujo conhecimento não está restrito a uma única área. Polímata:  alguém que detém um grande conhecimento.

[9] Ruy Barbosa de Oliveira (1849 —1923) foi destacou-se  principalmente como jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador. Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo;  foi um dos organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República

[10] Bullying (anglicismo, bullying, pronuncia-se AFI: [ˈbʊljɪŋ]) é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.

[11] Braille ou braile: sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris.

[12] Áudio-book,  áudio-livro ou livro falado é uma gravação do conteúdo de um livro lido em voz alta.

[13] Eugenia – é um termo cunhado em 1883 por Francis Galton, significando “bem nascido”. A eugenia é a filha dileta de Darwin: se as espécies se transformam por “seleção natural”, há raças inferiores e raças superiores.

[14]  Cap. O Espiritismo e o sentido da vida

Referencias:

 

[i] KARDEC, Allan. A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Ed. FEB. Rio de Janeiro. 2007.

[ii] NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Mito Pessoal e Destino Humano. Ed. Fundação Harmonia. Salvador/BA 1999.

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