Inclusão nas instituições espíritas
Muito se ouve sobre a inclusão nas escolas e nas instituições empresariais, isso porque desde a década de noventa o governo tenta conscientizar e implementar a inclusão principalmente nas redes de ensino.
Foram lembrados os grandes nomes da historia da pedagogia como Pestalozzi[1], Wallon[2], Maria Montessori[3], e finalmente houve a conscientização de que carinho, brincadeiras, e atenção eram essenciais entre professores e crianças.
Baseando-se em princípios de Jean Piaget[4], e Vygotsky[5], muitos estudiosos abriram uma visão inclisivista entre eles Adolphe Ferrière[6] que com sua visão visionaria semeava a “Escola Nova”[7] que chegou ao Brasil em 1882, pelas mãos de do polímata[8] brasileiro Rui Barbosa[9], e exerceu grande influência nas mudanças promovidas no ensino na década de 1920, quando o país passava por uma série de transformações sociais, políticas e econômicas; com métodos construtivistas, e com as portas abertas para todas as crianças fossem negras, brancas, índias, pobres, ricas, deficientes físicas ou mentais… Iniciou-se a inclusão.
Todavia, ainda hoje as dificuldades são grandes principalmente devido ao fato de professores e diretores das escolas, não terem ciência dos motivos e consequências desta metodologia, os educadores ainda hoje em sua maioria usam o método tradicional, e as escolas não tem estrutura para lidar com crianças deficientes ou o Bulliyng[10] gerado pelo preconceito/racismo.
Sob essa ótica, podemos questionar se as instituições espíritas são inclusivas, se estão aptas em abrir as portas para o convívio com o “diferente”. Seria hipocrisia não comentar das instituições espíritas que tem trabalhos sérios e destaque, alguns para inclusão social onde tem creches e/ou escolas que atende crianças carentes, outros que tem atendimento médico ou psicológico para deficientes físicos ou mentais, mas são poucos e parciais em atendimentos específicos, a questão é, as crianças deficientes podem frequentar ou mesmo serem evangelizados em qualquer instituição espírita?
Nos últimos anos esta clara a adaptação das estruturas físicas das instituições para que possam receber cadeirantes, muitos livros já estão sendo adaptados para o Braile[11] ou os famosos “áudio-books”[12], todavia não estaríamos caindo nos mesmos problemas que as instituições escolares ? Nossos expositores, dirigentes, evangelizadores, voluntários ou colaboradores, estão preparados?
Alguns podem indagar que o fato de recebermos pessoas com deficiência em nossas evangelizações tornamo-nos inclusivistas, porem, são poucas as instituições que conseguem manter essa criança com o olhar inclusivista, eles no máximo as integram em um mesmo ambiente e muitas vezes não sabem lidar com as complexas situações que são geradas ou seja em seu despreparo o centro espírita pode desencadear mais problemas ainda, e até mesmo agravar os já existentes, reforçando nessa criança, o autoconceito negativo, a desmotivação, o desinteresse e outros mecanismos de defesa, como a indisciplina, rebeldia ou agressão.
Ocorre que os dois vocábulos – integração e inclusão embora tenham significados semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes e têm por detrás posicionamentos divergentes para a consecução de suas metas.
O processo de integração se traduz por uma estrutura educacional intitulada sistema de cascata, que oferece ao aluno a oportunidade, em todas as etapas da integração, de transitar no sistema escolar ou social. Trata-se de uma concepção de inserção parcial, porque a cascata prevê serviços segregados.
A inclusão se baseia em vários conceitos, dentre eles podemos frisar três em que é necessário que a criança :
- Seja uma pessoa que se encontra dentro de um grupo, no sentido de fazer parte.
- Ou que tenha amigos e relações sociais significativas com iguais, ou sinta-se que participa na vida social , contribuindo com alguma coisa;
- Por fim que seja tratada com igualdade, carinho e respeito como a pessoa única que é.
Resumindo, ela tem que ser inserida de modo a sentir “Bem‑estar pessoal e social”. Fica evidente que a inclusão sem esses conceitos não assegura inclusão social, se as instituições não pensarem e agirem baseados nesses conceitos, as mudanças estruturais para deficientes não terão usuários com deficiência.
Enfrentamos uma paradigma cultural que vem dos conceitos Eugenistas[13]., onde o que é diferente ou deficiente deve ser “excluído”, Kardec em “A Gênese”[i] nos ensina: “[…] na reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade”(Kardec, Allan. A Gênese, pág. 31).
O planejamento de políticas sócio educacionais na estrutura doutrinária e práticas pedagógicas inclusivas nas evangelizações, tendo como priori garantir à permanência, a formação de qualidade, a igualdade de oportunidades e o reconhecimento das diversas e complexas deficiências assim como orientações sexuais e identidades de gênero [e étnico-raciais], contribuem para a melhoria do contexto dentro das instituições espíritas.
Adenauer de Novais em sua obra “Mito Pessoal e Destino Humano”[ii] nos brinda com essa frase:
“Ser espírita não significa apenas adotar uma postura cordata diante da vida, acomodando-se a pequenas conquistas, muito embora importantes, no campo da educação doméstica. A insatisfação quanto à injustiça, a ignorância e a miséria humanas devem permanecer na consciência de todos que adentrem o Espiritismo. O processo de transformação assinalado pelo Espiritismo como fundamental a todo espírita, inclui, além de seu próprio mundo interno, sua participação na construção de uma sociedade mais equilibrada e harmônica. Não basta ele sozinho se transformar interiormente, sem uma efetiva participação nas mudanças que a sociedade requer. Sua consciência de cidadão, pertencente ao mundo, deve alertá-lo quanto ao seu papel social” ( NOVAES. 2005. P. 144[14])
[1] J. Heinrich Pestalozzi, Educador suíço. Grande inovador, estabeleceu as bases da pedagogia moderna com seu sistema de ensino prático e flexível.
[2] Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879 – 1962) foi filósofo, médico, psicólogo e político francês.
[3] Maria Montessori (1870 —1952) foi médica, pedagoga e feminista italiana; Conhecida pelo método educativo que desenvolveu e que ainda é usado hoje em dia em escolas públicas e privadas mundo afora.
[4] Jean Piaget: foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.
[5] Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador foi contemporâneo de Piaget, e nasceu e viveu na Rússia; autor de dois livros básicos: Pensamento e Linguagem e A Formação Social da Mente se tornaram um marco nos estudos do desenvolvimento humano.
[6] Adolphe Ferrière (1879 1960) Pedagogo suíço cujo trabalho está estreitamente ligado ao movimento da Escola Nova, como um dos seus fundadores e eventualmente o seu maior ideólogo.
[7][7] Escola nova, também chamada de Escola Ativa ou Escola Progressiva, foi um movimento de renovação do ensino, que surgiu no fim do século XIX e ganhou força na primeira metade do século XX.
[8] Polímata (do grego πολυμαθής, transl. polymathēs, lit. “aquele que aprendeu muito”) é uma pessoa cujo conhecimento não está restrito a uma única área. Polímata: alguém que detém um grande conhecimento.
[9] Ruy Barbosa de Oliveira (1849 —1923) foi destacou-se principalmente como jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador. Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo; foi um dos organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República
[10] Bullying (anglicismo, bullying, pronuncia-se AFI: [ˈbʊljɪŋ]) é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bully, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.
[11] Braille ou braile: sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris.
[12] Áudio-book, áudio-livro ou livro falado é uma gravação do conteúdo de um livro lido em voz alta.
[13] Eugenia – é um termo cunhado em 1883 por Francis Galton, significando “bem nascido”. A eugenia é a filha dileta de Darwin: se as espécies se transformam por “seleção natural”, há raças inferiores e raças superiores.
[14] Cap. O Espiritismo e o sentido da vida
[i] KARDEC, Allan. A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Ed. FEB. Rio de Janeiro. 2007.
[ii] NOVAES, Adenáuer Marcos Ferraz. Mito Pessoal e Destino Humano. Ed. Fundação Harmonia. Salvador/BA 1999.