Férias na Casa Espírita
Doris Madeira Gandres
A Espiritualidade tira férias?
Essa época do ano se apresenta para uma boa parte da humanidade como um período de muitas ocupações, com um acréscimo de compromissos que as contingências sociais impõem, sobrecarregando as criaturas de atividades, a que elas se deixam arrastar, sem conseguir resistir-lhes e nem ao menos buscar um pouco de serenidade para avaliar de sua real necessidade.
E, desse modo, muitas vezes, o que considerávamos prioridade vai ficando de lado, enquanto as exigências convencionais, algumas vezes até frívolas, vão ganhando destaque, preenchendo nossa mente e nosso tempo…
Porém, asseguram-nos os Espíritos esclarecidos, somos “seres inteligentes da criação” (OLE q.76); conseqüentemente, nós, espíritas, cientes dessa responsabilidade, precisamos analisar com muito cuidado a nossa postura diante das necessidades do convívio social, inserido dentro da lei de sociedade, leis naturais, divinas, extremamente úteis para nossa evolução ético-fraterna a fim de aprendermos e sedimentarmos em nós o amor ao próximo preconizado pelo Cristo.
Ao levantarmos essa questão de “férias na casa espírita”, primeiramente devemos entender que “a casa espírita” somos nós, seus integrantes trabalhadores, qualquer que seja a nossa função, aí se incluindo os encarnados e os desencarnados; que de nós depende a qualidade de seu funcionamento, de seu atendimento tanto a uns quanto a outros; e que nós é que teremos que responder, à luz da lei de reciprocidade, pelos efeitos originados por nossas atitudes ou por nossa omissão.
Pontos relevantes a serem analisados são: 1) se aqueles que buscam esses núcleos para esclarecimento, apoio e compreensão de seus sofrimentos, incertezas e apreensões podem esperar… 2) Se os Espíritos podem, por sua vez, interromper tratamentos em curso na casa, mediante a colaboração medianímica e/ou ectoplásmica dos encarnados, e também esperar que nós, os “trabalhadores da área terrena”, disponhamos de tempo para dar prosseguimento à tarefa a que, na maior parte das vezes, nos propusemos espontaneamente, “semi-conscientes” da programação reencarnatória previamente aceita …
Jesus, nosso modelo e guia, nos disse que ele e o Pai trabalham sem cessar; talvez essa declaração, envolvendo Deus e tendo em vista o elevado grau evolutivo desse nosso irmão, tenha originado em nosso íntimo, à guisa de desculpa, a idéia de que podemos ser temporariamente “dispensados” das nossas atribuições em função de nossos interesses pessoais porque ambos se encarregarão de suprir a nossa parte…
No entanto, ainda que com conhecimentos incipientes, já podemos compreender o alcance físico e extrafísico dos trabalhos, quaisquer que sejam, realizados nas casas espíritas; já não podemos pretextar ignorância da lei de causa e efeito que tantas vezes atinge irmãos sem que estes compreendam o que com eles se passa; nem desconhecimento das dolorosas relações obsessivas de uns para com os outros, as quais, em inúmeros casos, pelo menos se amenizam diante do esclarecimento oferecido pela doutrina espírita; assim como não podemos mais ignorar a perturbação de Espíritos desencarnados ainda aturdidos em sua nova situação e que vêm procurar explicação para o que está acontecendo com eles…
Enfim, poderíamos continuar enumerando situações e necessidades que estão acima e além dos quesitos materiais e para as quais o tempo e os compromissos terrenos não têm nenhum significado. Portanto, ao final do ano, com a comemoração do Natal, de ano novo, férias escolares, férias no trabalho convencional, os que fazemos parte de um grupo espírita com atribuições nos diversos tipos de atendimento na casa espírita, na sua manutenção como posto de apoio e esclarecimento particularmente, talvez devêssemos pensar um pouquinho mais antes de optarmos pelo fechamento das portas, ainda que por apenas um mês ou dois.
Se todos não podemos ficar ao mesmo tempo nesse período, muitas podem ser as opções de combinação entre os membros, no sentido de formar equipes de plantão, que se revezariam conforme suas possibilidades, já que também sabemos que uma de nossas grandes responsabilidades é a presença e a participação amorosa e prestativa junto à nossa família, entes queridos e amigos. É no lar e com os que chamamos “nossos” que iniciamos e exercitamos o nosso aprendizado na fraternidade e na solidariedade.
Assim, como também já sabemos o cuidado que temos que ter com o “interesse pessoal”, que a Espiritualidade maior nos afirmou ser a origem do egoísmo, essa ocasião é, sem dúvida, uma oportunidade de tentarmos por em prática a lei suprema de amor, justiça e caridade e “fazer aos outros o que desejaríamos que nos fizessem”.
Doris Madeira Gandres
Fonte: Correio Espírita