Extinção, prejuízo, abandono e “luto”
Jorge Hessen
jorgehessen@gmail.com
Brasília.DF
Um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, descobriu que aqueles que viveram recentemente um quadro de luto [1], especialmente idosos, podem passar por um processo de redução das funções dos neutrófilos.[2] Mas apesar do peso do conhecimento científico sobre o relacionamento entre luto e a doença física, os sintomas costumam ser completamente inesperados.
Para Jessica Mitchell, gerente do serviço de apoio telefônico da ONG Cruse Bereavement Care, as pessoas ficam bastante assombradas com a notícia da morte de um parente e se sentem atormentadas achando que há algo errado com elas. As pessoas realmente não entendem, porque não se discute mais sobre a morte, explica Susan Hughes, da ONG Compassionate Friends, que presta suporte aos familiares após a morte de crianças. [3]
A falta de compreensão do tema “morte e o luto” reflete a dificuldade da sociedade em falar francamente sobre a deserncarnação de alguém da família. Para alguns trata-se de um grande tabu. As pessoas não querem nem ouvir ninguém falar sobre esse assunto.
Ora, em verdade o luto não é essencialmente tão insuportável quanto se imagina. Sabe-se que grande parte dos enlutados consegue suplantar bem a “perda” de um parente; entretanto por que razão algumas pessoas não conseguem superar o trauma? Muitas pessoas atravessam anos sobrevivendo como nos primeiros e mais complicados períodos do luto. Elas não conseguem retomar a vida. Cultuam a dor, em uma espécie de luto crônico, chamado pelos psiquiatras de “luto patológico” ou “luto complicado”. Nas mortes traumáticas, como acidente, suicídio ou assassinato, pode haver uma fase de negação mais prolongada; a culpa e a revolta podem aparecer com mais intensidade.
Para alguns o luto pode provocar uma grave crise doméstica, pois exige a tarefa de renúncia, de excluir e incluir alguns papéis da cena familiar. Percebe-se então que existe aí uma confusão, pois essa crise pode estancar o desenvolvimento dos parentes, fator que pode definir o processo de um luto crônico coletivo.
É importante destacar aqui que o luto não advém apenas pela morte de um ente querido. Há diferentes tipos de lutos, às vezes mais intensos, que acontecem depois da perda de um objeto ou abandono afetivo de alguém a que se tinha apego. É verdade! Muitos adoecem fisicamente, totalmente apegados a algo, circunstância ou alguém. Eis aí a razão de suas desditas e o entrave para a ascensão espiritual.
Talvez o grande preceito da vida, que experimentamos severamente, é desapegarmos de coisas, situações e pessoas. Obviamente desapegar não é desamar ou abater a valor do objeto, da coisa, mas compreender e acolher o fato da transitoriedade das circunstâncias, dos objetos e pessoas. É importantíssimo irmos desapegando do passado remoto ou recente e sintonizarmos as emoções no presente, sobretudo naquilo que é essencial dentre as coisas e pessoas.
O Espiritismo nos esclarece bem sobre a imortalidade. Jesus, há dois mil anos, reafirmou a realidade da sobrevivência do espírito após a morte e a continuidade da vida em outras dimensões. Por isso, alivia-nos os corações sofridos no luto pelas grandes “perdas”, seja pela visita da desencarnação, seja pelo abandono de alguém querido, seja pela perda de ilusórios haveres ou de posição social. Tudo passa! Até mesmo o luto.
Referências:
(1) Luto [do latim luctu] – 1. Sentimento de pesar ou de dor pela morte de alguém. 2. A exteriorização do referido sentimento ou o tempo de sua duração. 3. Consternação, tristeza.
(2) A parte mais abundante dos glóbulos brancos do sangue, responsáveis por combater bactérias como a da pneumonia
(3) Disponível em http://www.bbc.com/portuguese/geral-37030767. Acessão 08/12/2016