ESQUIZOFRENIA OU OBSESSÃO?
Eliana Haddad
A discussão sobre a causa da esquizofrenia não é nova, principalmente se o assunto for analisado à luz do Espiritismo, que considera a concepção do homem não apenas pela visão mecanicista, que nasce, cresce, reproduz e morre, mas como um ser trino, imortal, formado de corpo físico, perispírito e alma, cujos componentes se interrelacionam e desempenham funções específicas. Em O Livro dos Médiuns, comenta-se um dos pontos mais importantes, que ainda causa muita dúvida sobre as doenças mentais. Pergunta Kardec aos Espíritos se a mediunidade poderia produzir a loucura. A resposta é clara. “Não mais que todas as outras coisas, quando não há predisposição para a fraqueza do cérebro. A mediunidade não produzirá a loucura, quando o princípio não exista; mas, se o princípio existe, o que é fácil de se reconhecer pelo estado moral, o bom-senso diz que é preciso usar de cautela sob todos os aspectos, porque toda causa da agitação pode ser nociva.”
Mas essa distinção não é tão simples, pois uma linha muito tênue separa uma coisa da outra, como se fosse possível dividir esse homem de aspecto trino, em três homens diferentes — o homem-espírito, o homem-perispírito e o homem-corpo – com suas doenças e dificuldades específicas. É justamente essa visão compartimentada que provoca sempre a mesma pergunta aos especialistas da área, sejam psiquiatras, neurologistas ou pesquisadores do binômio cérebro/mente, numa tentativa incansável de se encontrar a verdadeira causa das manifestações e desequilíbrios psíquicos.
PARA ENTENDER MELHOR
Aspectos importantes sobre o assunto são abordados nesta edição numa espécie de entrevista coletiva, com os principais depoimentos dos expoentes espíritas sobre o assunto:
Afinal, é obsessão ou loucura?
Dr. Nubor O. Facure
A resposta do neurocirurgião e pesquisador espírita Nubor O. Facure, diretor do Instituto do Cérebro de Campinas e ex-professor titular de Neurocirurgia da UNICAMP é bastante coerente. “Não é fácil dar uma certeza no diagnóstico quando os sintomas são subjetivos, por exemplo, no caso de enxaqueca e na doença do pânico, quadros em que pode haver sensações de tonteira e deslocamento corporal, sem que algum exame específico possa constatar as alterações.” Ele acrescenta ainda que mais complicado será o diagnóstico diferencial destes quadros tipicamente orgânicos com aquelas manifestações que ocorrem no início das chamadas manifestações mediúnicas. “É o tempo que vai nos mostrar ou a eclosão das potencialidades mediúnicas ou a caracterização mais típica da enxaqueca ou do pânico.” Apesar, segundo ele, de serem constantes e facilmente detectadas as diversas alterações que ocorrem no organismo dos médiuns durante as manifestações espirituais, nenhuma delas têm a propriedade de afirmar categoricamente a presença de entidades espirituais, já que todas estas alterações são inespecíficas e podem ocorrer em diversas outras situações tipicamente orgânicas. Facure esclarece, porém, que os quadros de alucinação das diversas manifestações psicóticas são quase sempre de conteúdo repetitivo, predominantemente uma alucinação auditiva, com vozes quase sempre condenatórias e de conteúdo persecutório. O psicótico revela também um contexto sintomático relativamente fácil de ser reconhecido pelo seu caráter delirante e pela desagregação do pensamento que o dissocia por completo da realidade. “O médium, com suas percepções visuais ou auditivas, em nenhum momento vai referir ideias persecutórias ou dissociações com a realidade. O bom senso vai revelar a lucidez do médium e o maior ou menor significado da mensagem que ouve ou observa pela vidência.”
Para Facure, outro ponto importante a ser destacado é que o Espiritismo é uma doutrina que introduz um vastíssimo campo de estudo, ampliando diagnósticos e introduzindo uma nova compreensão para justificar a razão do sofrimento que a doença nos traz. “Eliminar problemas espirituais implica reeducar o espírito”.
Avaliação sobre diagnóstico e tratamento para os transtornos mentais
Dra. Marlene Nobre
A médica ginecologista, escritora e presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME) e da AME Internacional, Dra. Marlene Nobre, diz que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como o estado de completo bem-estar do ser humano integral: biológico, social, ecológico e espiritual. No entanto, em qualquer lugar do mundo, a preparação dos médicos ainda é extremamente reducionista, não sendo eles alertados para os problemas psicológicos e espirituais do paciente, embora o Código Internacional de Doenças (CID) contemple a existência dos estados de transe, fazendo a distinção entre os normais, os que acontecem por incorporação ou atuação dos espíritos, dos que são patológicos, provocados por doença.
“Ficamos tristes com a conduta dos colegas que, habitualmente, rotulam todas as pessoas que dizem ouvir vozes como psicóticas e tratam-nas com medicamentos pesados pelo resto de suas vidas. …Muitos são considerados psicóticos por ouvirem espíritos e, na realidade, são médiuns.”
O processo obsessivo e os transtornos psicóticos
Dr. Sergio Felipe de Oliveira
O mestre em Ciências, estudioso da estrutura da glândula pineal humana, afirma que é preciso “discriminar no diagnóstico qual o papel da obsessão espiritual na doença que a pessoa está vivendo, já que todo transtorno psicótico, como a esquizofrenia, possui o componente obsessivo-espiritual.” Lembra que a alucinação é um sintoma que pode surgir tanto no transtorno mental anímico, a partir de neuroses graves que marcam o subconsciente, quanto na interferência de fatores externos. Esses fatores externos podem ser químicos e orgânicos, como na ingestão de drogas ou nas desordens orgânicas – febre muito alta, uremia, desordens cerebrais – ou espirituais.
Também cita que o manual de estatística de desordens mentais da Associação Americana de Psiquiatria – DSM IV – alerta que o clínico deve tomar cuidado para diagnosticar pessoas de determinadas comunidades religiosas que dizem ver ou ouvir espíritos de pessoas mortas, porque isso pode não significar uma alucinação ou psicose. “A distinção entre alucinação, clarividência ou clariaudiência é uma situação bastante complexa”, comenta Dr. Felipe , lembrando que há melhora acentuada, nos casos em que há uma predominância do fator obsessivo-espiritual, com a magnetização e a desobsessão – o que traz novos horizontes para a Psiquiatria. Nos casos em que há predominância anímica ou orgânica, a melhora está mais associada à transformação do paciente.
Os sintomas de Fabrício
André Luiz
As obras do médico e autor espiritual André Luiz são exemplos vivos do interesse da Ciência Espírita no campo da pesquisa e da saúde. Um dos relatos citados por ele no livro No Mundo Maior descreve o quadro esquizofrênico do personagem Fabrício. “O cérebro apresentava anomalias estranhas. Toda a face inferior mostrava manchas sombrias. A esquizofrenia, originando-se de sutis perturbações do organismo perispirítico, traduz-se no vaso físico por surpreendente conjunto de moléstias variáveis e indeterminadas. A imaginação superexcitada detinha-se a ouvir o passado… O doente ouvia as vozes internas, ansioso, amargurado. Desejava desfazer-se do pretérito, pagaria pelo esquecimento qualquer preço, ansiava fugir a si próprio, mas em vão: sempre as mesmas recordações atrozes vergastando-lhe a consciência.”
Doença da alma
Dr. Jorge Andréa
Para o Dr. Jorge Andréa – professor, cientista espírita, autor do livro Visão Espírita nas Distonias Mentais, “as psicoses são autênticas doenças da alma ou do Espírito em severas respostas cármicas, quase sempre demarcando toda a jornada carnal… Os sintomas, por não terem o devido esgotamento no campo do exaustor físico (personalidade) perduram e refletem-se em outra reencarnação.”
Dr. Bezerra de Menezes
Segundo o Dr. Bezerra de Menezes – médico e autor espiritual de vários livros sobre o assunto, como A Loucura Sob Novo Prisma, “o esquizofrênico não tem destruído a afetividade, nem os sentimentos; tem dificuldade em expressá-los, em razão dos profundos conflitos conscienciais, que são resíduos das culpas passadas. E porque o espírito se sente devedor, não se esforça pela recuperação, ou teme-a a fim de enfrentar os desafetos, o que lhe parece a pior maneira de sofrer do que aquele em que se encontra.”
Referências:
KARDEC, Allan – O Livro dos Médiuns – Cap. XVII-5. Ed. FEB Jornal Folha Espírita – junho/2004 – Revista Psychic World – www.nuborfacure.blogspot.com – www.cvdee.org.br
Eliana Haddad
Publicado no jornal Correio Fraterno – edição 427
Fonte: Correio.News