Em busca da paz
Itair Rodrigues Ferreira
A Terra, deusa Gaia, segundo a mitologia grega, passa por transformações físicas bem observadas pela Ciência e por nós: o aumento dos eventos catastróficos de origem climática, a destruição das camadas de ozônio, a mudança no polo magnético, etc.
Os cientistas britânicos Jan Zalasiewics e Mark Williams, em um artigo publicado pela revista científica Geological Society of America, sugerem que estamos em transição para um período geológico – o antropoceno, marcado pela influência do homem. Há provas geológicas suficientes para reconhecer um novo período.
O homem, com a obra predadora, oriunda do seu egoísmo, contribui com a alteração do equilíbrio ecológico da crosta terrestre.
Se a ação do homem com seu orgulho, poderio e violência, através dos milênios, trouxe o caos para o planeta, que sua influência, agora, seja em busca da paz, por meio da educação dos sentimentos, que é o desenvolvimento dos valores morais, como afirmaram os Espíritos Superiores a Allan Kardec: “moral é a regra de bem proceder. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus”.
Dia 30 de janeiro de 2012 completará sessenta e quatro anos que Gandhi, o apóstolo da não violência, foi assassinado. Viveu 79 anos, dos quais, cinquenta e cinco destinados à luta em prol da paz do mundo, utilizando a ahimsa, não violência, influenciando grandes líderes como Martin Luther King, Nelson Mandela, Desmond Tutu e tantos outros.
Mahatma Gandhi conta que ao se deparar com a injustiça e a opressão exercidas contra os desfavorecidos, quis reagir, mas não sabia como. O “olho por olho, dente por dente”, preconizado pelas escrituras, somente poderia resultar em um mundo de cegos e desdentados, até que encontrou, no Sermão da montanha, a diretriz a tomar, quando Jesus diz: “Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. Estava resolvida a questão. Assim surgiu a doutrina da não violência.
Não aceitar a opressão, porém nunca combater o mal com outro mal. Responder à violência com antiviolência seria uma violência oposta. Ahimsa é a negação da violência e não seu oposto. Revidar a agressão é agir do mesmo modo, o que acaba se tornando um círculo vicioso e a pessoa nunca se satisfaz pois a cada ação violenta, sente-se em prejuízo e quer a vingança, indefinidamente.
Certa feita os repórteres lhe perguntaram: “Senhor Gandhi, qual o caminho para a paz?” Ele respondeu: “O caminho para a paz? A paz é o caminho!”.
Não devemos esperar que o mundo se transforme para que a mudança ocorra em nós. Somos células da sociedade. Os grandes feitos surgem das pequenas atitudes nobres que acabam por influenciar a produção de um bem maior. Uma grande distância é vencida com os primeiros passos.
O século XXI é o Século do Sentimento. No século XVIII, a partir do ano de 1700, foi criada a tecnologia com a Revolução Industrial. Ao século XIX coube a Revolução da Produtividade e ao século XX, a Revolução do Conhecimento. O século atual, cuja primeira década atinge o número exorbitante de sete bilhões de habitantes, necessita de algo além das tecnologias existentes. Precisa que o indivíduo olhe para si, de forma holística, buscando entender o porquê das coisas, do destino e de toda a complexidade da vida.
A autoeducação é a questão básica para a construção da paz. Precisamos aprofundar a sonda da investigação mental no reino subjetivo dos sentimentos e mapear nossa vida moral; trabalhar ativamente pela construção das virtudes, combatendo em nós os maus pendores, como as Entidades Sublimadas responderam, em O Livro dos Espíritos: “Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores”.
Jesus, o Príncipe da Paz, como o denomina o profeta Isaías, prometeu-nos a paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não a dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.
Jesus não mentiu, nem se enganou. Ele nos dá a Sua paz, não a paz do mundo, e para que a tenhamos é necessário estarmos receptivos. Com o sentimento, quilômetros à retaguarda de nosso conhecimento, e com o conflito interior que agasalhamos, jamais poderemos percebê-la. Quanto à paz do mundo, é conquista nossa.
Tenhamos mais paciência no lar, no trânsito, nas ruas, na sociedade, no relacionamento com os familiares. Uma palavra ofensiva, pronunciada impensadamente, desencadeia vibrações que se estendem atingindo, com sua ressonância, outros que se encontram em sintonia com esses padrões de nível mental, gerando a discórdia e a turbulência.
Treinemos o sorriso. A neurociência provou que quando sorrimos, mesmo que não estejamos sentindo nada, o cérebro libera uma substância chamada betaendorfina. Há uma conexão direta entre o sorriso e o sistema nervoso central, trazendo um grande bem estar para todo o nosso cosmo orgânico. E mais: para sorrir usamos apenas 28 músculos e para franzir a testa numa atitude de mau humor, 32. Até por economia, compensa a escolha desse bom hábito.
O ano de 2012, com seus maus prognósticos, é uma oportunidade que Deus nos concede para valorizarmos a vida, e a vida é o eterno presente. Que saibamos viver com destemor e fé, que é a vontade de querer. Assim, conquistaremos a paz.
Muita paz!
Fonte: Correio Espírita