Diferença entre Umbral e Cidades Trevosas

Diferença entre Umbral e Cidades Trevosas

Elaine Lopes

Inicio o texto trazendo até vocês a definição da palavra Umbral. Segundo o Dicionário Informal, Umbral (2021) tem o seguinte significado: “Ombreira da porta que separa um cômodo do outro”. Lugar através do qual se consegue entrar, ir para o interior de; porta, entrada, limiar. Mas, com relação ao texto tratado aqui no atual momento, falaremos sobre o Umbral segundo a Doutrina Espírita.

No livro Nosso Lar (XAVIER, 2006), no capítulo 12, Lísias explica para André Luiz que o “Umbral começa na crosta terrestre, é a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos”. Completa dizendo:

“Todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais. Então sendo assim, o Umbral funciona, portanto, como região destinada ao esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena”. (XAVIER, 2014).

Já no livro Umbral, projeções mentais, testemunhos e resgate espiritual (GLASER, 2019), o médium Abel Glaser, pelo Espírito Cairbar Schutel, nos traz a seguinte definição:

“O Umbral não é o inferno, um ambiente subterrâneo, habitado pelos desencarnados, em completa bagunça, além de permeado de sofrimentos infligidos por criaturas diabólicas, onde se passará o restante da eternidade. Está longe disso. Trata-se de um lugar mais sombrio que as colônias espirituais, mas não se trata de um lugar de tortura proposital de Espíritos conduzida por outros Espíritos designados para isso, como a alegórica imagem do inferno retratado por outros entendimentos filosóficos ou religiosos.” (GLASER, 2019).

O Espiritismo aponta o Umbral como uma zona vibratória específica, que congrega muitos desencarnados sofredores, mas sem criaturas diabólicas para praticar torturas sem medidas. Trata-se de um cenário lúgubre, pois inspira tristeza e dor, sentimentos emanados dos próprios Espíritos que ali habitam transitoriamente.

Allan Kardec (2018), no livro O Céu e o Inferno, nos diz:

“O Evangelho não faz menção alguma do purgatório, que só foi admitido pela igreja no ano de 593. É incontestavelmente um dogma mais racional e mais conforme com a justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana, o princípio do purgatório funda-se na equidade, pois é a detenção temporária a concorrer com a perpétua condenação, que julgar de um país que só tivesse a pena de morte para todos os delitos?” (KARDEC, 2018).

O Espiritismo não nega, mas confirma a penalidade futura; o que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis.

No Livro dos Espíritos (KARDEC, 2018), na pergunta 1.012, Allan Kardec pergunta aos Espíritos: Haverá no Universo lugares circunscritos para penas e gozos dos Espíritos, segundo seus merecimentos?

“Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinados a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos adiantado o mundo que habitam”. (KARDEC, 2018).

Allan Kardec continua: “De acordo então, com que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?”

“São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia, mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos“.

A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.

Então, devemos deixar bem claro aqui que o Umbral é uma região fluídica, como todo ambiente espiritual, e os desencarnados habitantes desse local influem, e muito, nesse ambiente, através de suas emanações mentais, muitas das vezes em desequilíbrio. Devemos deixar claro também que não ficarão nesse lugar para sempre, mas o tempo suficiente para se depurar de toda sujidade trazida da encarnação em que viveram de um modo arbitrário anteriormente, principalmente tratando dos seus fluidos mentais e do seu perispírito.

Com relação à diferença de Umbral e Cidades Trevosas, ela se dá da seguinte maneira: pense no Umbral como uma Cidade e nas Cidades Trevosas como um bairro, mantendo suas conjunções, suas características herdadas pelo meio social e pela comunidade ali existente. Pense no Umbral como uma cidade onde se tem prefeitos, vereadores e seus subordinados em seus relativos cargos. Já as Cidades Umbralinas têm seus representantes, aqueles que são responsáveis para que tudo corra bem e dentro da ordem estabelecida pelos elos maiores, a quem devem obediência. Vemos aqui, então, que muito se assemelha a uma cidade no plano físico.

Em Guerra No Além – Interação entre os dois Planos da Vida (GLASER, 2010), vemos o seguinte:

“As comunidades se formam, pois, também em zonas Umbralinas. A partir e em função delas surgem os líderes e os grupos dirigentes. Estruturam-se estas cidades tal como as existentes no plano físico, visto que os Espíritos, quando desencarnados, carregam consigo a memória de suas últimas vivências na crosta. Tudo depende do grau evolutivo atingido pelos Espíritos. Os mais embrutecidos raramente aceitam viver em grupo, pois falta-lhes qualquer senso de disciplina e obediência. Por outro lado, Espíritos mais esclarecidos e inteligentes, embora norteiem seus atos ao mal, buscam formar organizações para conviver, tais como cidades ou vilas”. (GLASER, 2010).

Nessas Cidades Umbralinas, além de haver uma organização assim como no plano físico, os Espíritos dividem-se também por graus de superioridade, desde os mais embrutecidos aos mais inteligentes e organizados. Nessa cidade, há também muitas formas de organização, existe rivalidade, e grupos inimigos lutam entre si, visando alcançar a hegemonia de uns sobre os outros, além de buscar atacar cidades espirituais evoluídas e seus Postos de Socorro. Outra de suas atividades é acompanhar de perto a vida dos encarnados. As construções edificadas em zonas do Umbral, erguidas com matéria-prima rudimentar, encontrada nessa região, buscam espelhar-se naquelas existentes na crosta terrestre, apesar de não o conseguirem plenamente, tornando-se meras caricaturas, geralmente disformes.

No livro Memórias de Um Suicida (PEREIRA 1982), a médium Yvone do Amaral Pereira, através do relato do Espírito Camilo, vem nos relatar um pouco sobre a vibração e a força mental, elementos primordiais para se criar o ambiente e as Cidades Umbralinas. O Espírito comunicante relata que:

“cada um de nós vibrando violentamente e retendo com as forças mentais o momento atroz em que nos suicidamos, criávamos os cenários e respectivas cenas que vivêramos em nossos derradeiros momentos de homens terrestres, tais cenas, refletidas ao redor de cada um, levavam à confusão a localidade, espalhavam tragédia e inferno por toda parte, seviciando de aflições superlativas os desgraçados prisioneiros”. (PEREIRA, 1982).

O Umbral é um lugar de passagem. Lembremos que nem só os suicidas vão para o Umbral, e, como já dissemos anteriormente, para lá irão todos aqueles que tenham necessidade de se depurarem, se limparem, aumentarem suas vibrações e assim se tornarem mais leves para, a partir desse ponto, serem socorridos pela equipe espiritual e receberem os tratamentos necessários de suas chagas causadas por eles mesmos através de suas ligações mentais deturpadas.

Elaine Lopes

Fonte: Blog Letra Espírita

REFERÊNCIAS

  • GLASER, Abel, Guerra no Além – interação entre os dois planos da vida. 1ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 2010.
  • GLASER, Abel. UMBRAL; projeções mentais, testemunhos e resgate espiritual. 1ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 2019.
  • KARDEC. Allan Kardec. O Céu e o Inferno. Tradução de Matheus Rodrigues de Camargo. 1ed.eletrônica. Capivari: Editora EME, 2018.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Matheus Rodrigues de Camargo. 1ed.eletrônica. Capivari: Editora EME, 2018.
  • PEREIRA, Yvone do Amaral. Memórias de um suicida. Espírito Camilo Cândido Botelho. Edição eletrônica. Rio de Janeiro: Editora FEB,1982.
  • UMBRAL. Dicionário informal. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/umbral/. Acesso em 26 abr. 2021.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. 56. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
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