Desencarnes tranquilos

– Francisco Aranda Gabilan

– Chama a atenção dos espíritas curiosos, bem assim daqueles altamente preocupados com o “fim” desta jornada, a forma como desencarnarão: por modos violentos, sofridos, demorados, dolorosos?Isso é um pouco influência da literatura espírita e de muitas das comunicações de desencarnados, que contam os dramas do momento de abandono da matéria, da morte, na linguagem geral e comum. Espíritos contam com pormenores os “horrores” por que passaram naquele momento e nos que se seguiram: uns, fruto de inaceitável doença prolongada e grave, seguidas de medos, sustos, sobressaltos; outros, passaram por desastres individuais ou coletivos, acidentes com máquinas velozes; não poucos vítimas de assassinatos horripilantes, difíceis de avaliar se derivados de expiação ou provas; outros ainda, induzidos ou decididos ao suicídio, descrevendo todos os desequilíbrios daí derivados; outros mais, “vítimas” de infartos fulminantes, de cânceres corrosivos, etc., etc., etc.Parece um verdadeiro circo dos pavores, como se apenas tais circunstâncias valeriam a pena descrever, para avisar “os que ficam”, para que se preparassem!Mas, para consolo de todos nós, algumas criaturas nos dão exemplos de desencarne manso, tranqüilo, edificante, meritório, comprovando que tal é possível e está mais ao alcance nosso (de nós todos!) mais amiudemente do que se imagina.Para confirmar, uma pequena história — absolutamente verdadeira — que nos foi contada por companheiros bem chegados na Doutrina e confirmada por militantes do Centro Espírita LAR DO AMOR CRISTÃO, lá do bairro do Ipiranga. Trata-se de uma Casa antiga, onde militou por muitos anos o extraordinário confrade LUIZ RODRIGUES DA CRUZ.É ele — o LUIZ CRUZ, como o chamamos por décadas – o personagem central desta história edificante.Espírita de “quatro costados”, altamente evangelizado e evangelizador, incentivador de toda atividade doutrinária, que conheci na Federação Espírita do Estado de São Paulo, lá pelos anos 70, quando iniciei minhas lides como expositor. Uma das minhas primeiras turma de trabalho foi exatamente dirigida por ele, que fora diretor da Fraternidade dos Discípulos de Jesus, companheiro de trabalho do Comandante Edgard Armond, além de Conselheiro e diretor da FEESP. Pois, essa turma (uma das muitas que ele comandou) saiu “formada” da FEESP e assumiu, literalmente, a direção de um Centro na Moóca, que se encontrava em fase de desativação por falta de trabalhadores: o C. E. Emmanuel. Lá também fiz exposições, a convite do mesmo Luiz Cruz.

Quantas e quantas aulas e palestras não fiz a convite desse denodado companheiro, especialmente no Lar do Amor Cristão, nas turmas de Aprendizes do Evangelho, que eram sua especialidade dirigir e levar adiante, preparando milhares de trabalhadores na Seara do Mestre e divulgando o kardecismo, tanto no País como na França, na Espanha, em congressos de que participou, e também legando-nos obras como “Aprendendo com as Epístolas” e “André Luiz em Reflexão”. Criatura mansa, pacífica, de fala amorosa e doce, de gestos comedidos, elogiado e admirado por todos — alunos, diretores, expositores, trabalhadores e assistidos –, dada sua simpatia, dedicação, meiguice, afabilidade e ternura no trato com as pessoas. E, com tal postura, trabalhou toda sua vida dando exemplo de reforma do Ser, reformando os seres e preparando-os para um mundo de regeneração efetivo e real – um verdadeiro espírita, como o definira Kardec.Pois é, mas o Luiz Cruz (só o soubemos depois, pelos amigos, daí porque não fomos dar-lhe o adeus no descenso do corpo físico) desencarnou, como é obrigatório a todos nós na escalada dos estágios evolutivos. Mas, até nesse momento nos deu um exemplo consolador: consta que ele e a esposa estavam fazendo sua caminhada diária no parque do Ibirapuera, quando ele parou e chamou a atenção para o alarido que os pássaros estavam fazendo, cantando alto e vibrante. Nesse instante, dirigiu-se para uma árvore, abraçou-a serenamente e, ali, manteve-se calado, inerte, sereno, tranquilo, brando, plácido, em paz… e desencarnou!Assim, liberou-se do corpo físico, sem traumas, sem alarde, sem dores profundas, sem horrores contundentes. Passou para a pátria espiritual como para tal se preparara: mansamente!Assim, amigos, tomemos para paradigma esse espírito exemplar: se quisermos ser “premiados” com um desencarne pacífico e manso, como o do Luiz Cruz, temos que lutar para tê-lo, temos que construí-lo — hoje, já, agora, na jornada da vida terrestre – temos que angariar méritos para isso… Sabem como? – levando firmemente a cabo os ensinos dos Espíritos (baseados na moral do Cristo): amar ao próximo como a si mesmo; cada um dando e fazendo aquilo que estiver ao seu alcance na encarnação que cursa, sejam quais qualidades forem – fruto da inteligência, das artes, dos ofícios, dos dons espirituais e morais. Lembremo-nos que está ao alcance de cada um de nós e a todos angariar aqueles méritos, pois que cumpre ao homem “fazer o bem no limite de suas forças; porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” (L.E., questão 642), sendo que “fazer o bem não consiste, para o homem, apenas ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.” (Idem, questão 643).

Fim.

(bvespirita.com)

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