Fábio Gallinaro
Não podemos esquecer que, nos dias de hoje, as drogas constituem o grande mal da sociedade. Assolam o mundo e o nosso país de maneira brutal. Podemos dizer que diversos crimes atrozes como o latrocínio, o homicídio, o estupro, e outros menos graves como o roubo e o furto, são praticados em conseqüência direta do tráfico ilícito de entorpecentes. Atualmente, dependentes químicos roubam, furtam e até mesmo matam para poder sustentar o seu vício. Crimes sexuais são praticados por indivíduos alucinados e que se encontram sob o efeito nocivo da droga. Bandos e quadrilhas extremamente organizados formando coalizões impenetráveis e na disputa pela mercancia da droga, cometem barbáries de proporções alarmantes e as chacinas constituem notícias de primeira página nas publicações periódicas e na rede televisiva. O mercado da prostituição e as contravenções dos jogos de azar, relativamente aceitos pelo meio social em que vivemos, acobertam o mercado das drogas e o enriquecimento por intermédio da mazela alheia.
Diante desse alarmante panorama e frente à inércia do Poder Público, nos deparamos com um tipo de revolta e indignação no pensamento de todos os brasileiros. Por que não matar esses traficantes, deixando que os grupos de extermínio procedam a eliminação desses bandidos? Por que não editar leis mais duras e mais severas como a prisão perpétua ou a pena de morte? Esses tipos de questionamentos nos deixam perplexos e apreensivos.
É preciso deixar claro que a solução para o problema não está na matança de traficantes e nem mesmo no rigor da lei.
Exterminando pessoas não estaremos erradicando o tráfico ilícito de entorpecentes do planeta. Muito pelo contrário. Estamos em um processo vicioso como ocorre no Oriente Médio. Matando dez terroristas, outros vinte ou trinta virão ainda mais revoltados e mais dispostos a aterrorizar seus supostos inimigos. Trata-se de uma vã cultura arraigada e presa aos conceitos étnicos e religiosos daquela região onde, como uma epidemia, adultos, crianças e adolescentes são ensinados a matar, aterrorizar, nem que para isso se exija o sacrifício de sua própria vida, por uma “causa maior”. Com a mercancia das drogas não é diferente: o tráfico hoje sustenta pessoas, famílias, mulheres e crianças. O dinheiro que é ganho, proveniente do comércio das drogas, é muito superior a qualquer emprego honesto e decente que o chefe da família poderia arrumar. Simples intermediário da organização, o pai de família que vende drogas e que muitas vezes também é viciado, quando preso, é imediatamente substituído pela sua esposa e até mesmo seus filhos. Mães separando e pesando a cocaína; filhos embalando-a para que seja vendida ao seu destinatário final. Indubitavelmente, a eliminação de pessoas não é a solução para conter esse quadro alarmante.
O endurecimento das leis também não constitui remédio para o quadro atual. Em 1976 foi editada uma lei efetivamente capaz de punir tanto o usuário como o traficante de drogas. A lei está em vigor até hoje, entretanto, sofreu algumas alterações. Com o avanço da criminalidade, em 1990 o tráfico ilícito de entorpecentes foi equiparado aos crimes hediondos, onde o cumprimento da sanção imposta se dá em regime integralmente fechado, e são insuscetíveis de anistia, graça, indulto, fiança ou liberdade provisória. Todavia, apesar do gravame legal, de 1990 para cá os índices de criminalidade cresceram de forma assustadora, principalmente as prisões pelo comércio de tóxicos. Portanto, tornar a punição mais severa também não se mostra meio eficaz à superação do conflito.
Esquecemo-nos de nossas bases espirituais. Nas lições trazidas pelo Evangelho, aprendemos que Jesus curava os “endemoninhados”. O poder soberano de nosso Cristo Planetário está no interior da cada homem e de cada mulher de boa vontade. Devemos entregar livros escolares nas mãos de uma criança, antes que algum infrator lhe entregue um revólver. Devemos anteciparmo-nos na conversa edificante com um adolescente, antes que ele seja alvo da discriminação e do preconceito. Devemos dar oportunidade ao pai de família desempregado, antes que ele faça do comércio de drogas o seu meio de vida, o seu sustento.
Basta de reclamar do descaso de nossas autoridades. Todos nós somos espíritos comprometidos com nossas ações e a colheita daquilo que plantamos na atual encarnação é inevitável. Façamos a nossa parte, e muito há que ser feito. Enquanto espíritas e cristãos, devemos elucidar as pessoas para que a demanda das drogas seja cada vez mais escassa.
É imperioso esclarecer mentes, elucidar o espírito encarnado, que desempenha um papel importantíssimo na face do planeta Terra. Nesse particular, saindo da esfera material e jurídica, e adentrando no aspecto espiritual, principalmente no que se refere ao vício e à dependência química, devemos atentar para as Leis de Conservação e Destruição, previstas respectivamente nos capítulos V e VI do Livro dos Espíritos.
Segundo a Lei de Conservação é dado ao homem, através da natureza, todos os meios necessários à sua subsistência. Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, faz a terra produzir o necessário a todos os seus habitantes, porque só o necessário é útil, o supérfluo não o é jamais.[1] Mas, a imprevidência do ser humano faz com que se destrua tudo que há de bom e necessário na natureza. As riquezas naturais provenientes de nosso planeta são mais escassas a cada dia: as águas são contaminadas, o solo cada vez menos fértil, o ar cada vez menos respirável. Se não fosse o bastante, homens inescrupulosos ainda manipulam substâncias, tornando-as nocivas e viciosas, e vendendo-as a um número infinitamente grande de destinatários, destruindo crianças, jovens e suas respectivas famílias.
É nosso dever enquanto encarnados conservar o veículo físico que nos fora emprestado para o aprimoramento das habilidades do nosso espírito. Nosso corpo é o instrumento eficaz ao amadurecimento e aprendizado do espírito, onde, retornando à vida corporal é submetido a desafios e provas que, bem suportadas, o levam diretamente ao caminho da evolução.
Prazeres momentâneos e ilusórios como as drogas, além de destruírem e contaminarem nosso organismo físico e perispiritual, prejudicam a evolução dos seres, afastando a criatura do seu Criador. E não podemos nos olvidar ainda dos gravíssimos processos obsessivos que são instalados quando do consumo de drogas.
Quanto à Lei de Destruição, esta pode ser necessária ou abusiva. É necessária quando se destrói para renascer e regenerar, objetivando a renovação e melhoramento dos seres vivos.[2] Entretanto, a destruição deve sempre chegar na época necessária, porque toda destruição antecipada entrava o desenvolvimento do princípio inteligente, e é exatamente por isso que a natureza nos cerca de meios de preservação e conservação.[3]
No que concerne à destruição abusiva, temos que é a predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapasse os limites da necessidade, é uma violação da lei de Deus. Os animais não destroem senão por suas necessidades; mas o homem, que tem o livre arbítrio, destrói sem nenhuma necessidade aparente. Ele prestará contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, porque é aos maus instintos que ele cede.[4]
As drogas constituem um dos maiores flagelos da humanidade. Destroem abusivamente todo o organismo físico e espiritual de um indivíduo. Disseminam relacionamentos e famílias. Causam dor e sofrimento a inúmeras pessoas e afastam o espírito de seu objetivo encarnatório.
Elucidar mentes, eis o remédio. Lutemos como verdadeiros irmãos em Cristo para o combate às drogas. Esclarecendo jovens e crianças, a começar pela nossa família, estaremos contribuindo para erradicar essa problemática do convívio social. O mais forte deve trabalhar pelo mais fraco e, na falta da família, a sociedade deve tomar-lhe o lugar. Esta, é a verdadeira lei da caridade.
Como bem explica o Livro dos Espíritos, “há um elemento que comumente, não entra na balança e sem o qual a ciência econômica não é mais que uma teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral, e não, ainda, a educação moral pelos livros, mas aquela que consiste na arte de formar os caracteres, a que dá os hábitos, porque a educação é o conjunto de hábitos adquiridos. Quando se pensa na massa de indivíduos jogados cada dia na torrente da população, sem princípios, sem freios e entregues aos seus próprios instintos, deve-se espantar das conseqüências desastrosas que resultam? Quando essa arte for conhecida, cumprida e praticada, o homem ocasionará no mundo hábitos de ordem e de previdência para si mesmo e os seus, de respeito por tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar, menos penosamente, os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse é o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos” (comentários à questão 685).
Tomando por base os ensinamentos acima traduzidos, estaremos mais preparados para solucionar o problema da dependência de drogas em nosso âmbito familiar. Reputamos de suma importância o entendimento dessas lições de educação, convívio e relacionamento para que possamos ajudar aquele que necessita deixar o vício. Estaremos curando não só o corpo, mas também o espírito, que traz com ele toda espécie de tendências e inclinações que devem ser corrigidas na atual existência.
Que o Mestre Jesus seja o nosso grande médico, o amparo de todas as horas, e o braço forte a nos apoiar nos momentos difíceis de nossa vida!
Fábio Gallinaro
22 de novembro de 2003