Autoconhecimento: conhecendo o interior para entender o exterior

Autoconhecimento: conhecendo o interior para entender o exterior

Ludmila de Almeida Rosa

O autoconhecimento faz parte da evolução humana. Nem todos se conhecem e, com isso, abrem portas para o sofrimento e desespero.

Tudo que não se conhece causa torpor na mente e no coração. Conhecer a si mesmo faz parte do saber interno, do ato de ter controle, uma vez que o externo não se controla. Em tudo é preciso conhecimento para que a evolução seja um caminho leve de ser percorrido, caminho este que, só com amor e por amor, fará com que cheguemos mais alto.

Jesus Cristo é um grande exemplo de autoconhecimento, suportou a tudo sabendo que a missão era muito maior. Suportar com resignação, caridade, amor, perdão, sentimentos tão nobres que fazem falta no dia a dia devido a correria da vida moderna.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo “Bem-aventurados os aflitos” sobre as causas atuais das aflições, Allan Kardec cita as vicissitudes da vida, ou seja, os eventos inesperados que mudam os caminhos e que muitas vezes são causados pelo caráter do homem:

“Quantos homens tombam por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta e por não terem limitado seus desejos! Quantas uniões infelizes porque são de interesse calculado ou de vaidade, com as quais o coração nada tem! Quantas dissensões e querelas funestas se teria podido evitar com mais moderação e menos suscetibilidade. Quantos males e enfermidades são a consequência da intemperança e dos excessos de todos os gêneros! Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não combateram suas más tendências no princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram se desenvolver neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade que secam o coração; depois, mais tarde, recolhendo o que semearam, se espantam e se afligem pela sua falta de respeito e ingratidão” (KARDEC, 2009, p. 54).

Diante das adversidades e decepções da vida quantos param e analisam as atitudes e a consciência? Quantos olham para dentro de si buscando onde errou, por que doeu, onde feriu ou o que poderia ter feito diferente? Tudo que acontece tem uma razão de ser e quase sempre culpa-se o outro pelas aflições, esquecendo-se que o maior causador dos males é o próprio ser humano, só ele é responsável, mais ninguém. A mudança começa a acontecer quando se deixa de apontar o outro como responsável pelos tormentos que o próprio indivíduo buscou, e entende que não adianta tentar mudar o externo para arrumar a bagunça interna. Olhar para dentro, sem julgamentos, requer coragem!

A criatura ainda carrega no íntimo o orgulho, ambição, vaidade, inveja, egoísmo, ciúmes, raiva, descrença e tantos outros sentimentos e emoções de baixa vibração que afetam o homem profundamente quando se trata de causa e efeito, aprimoramento intelectual e moral. Diante dos dissabores da vida, o autoconhecimento é fundamental para evitar que se caia em armadilhas que poderiam ter sido evitadas, a partir do momento que se olha de dentro para fora com compaixão.

A vaidade cega as boas virtudes, pois ao invés de colocar a humildade como base para o reconhecimento das mazelas e assim trabalhar a reforma íntima, se vê mais prudente o papel de vítima, e esse nada mais é do que a falta do amor-próprio, e ele só pode ser reconhecido quando, com seriedade, se permite uma autoanálise. Em “O Livro dos Médiuns”, na dissertação de um Espírito sobre a influência moral, elucida que a mudança pode ser alcançada por todos:

“Expurguem-se, pois, os que desejam esclarecer-se, de toda a vaidade humana e humilhem a sua inteligência ante o infinito poder do Criador. Esta a melhor prova que poderão dar da sinceridade do desejo que os anima. É uma condição a que todos podem satisfazer” (KARDEC, 2023, p. 201).

É um processo saber o que se passa no interior, se autoconhecer para permitir a transformação de caráter, temperamento, valores, vícios, hábitos e desejos, detalhes que interferem no crescimento pessoal e que exigem uma nova ética nas relações consigo e com a vida. O primeiro passo é amar ao próximo como a ti mesmo. Uma vez se amando, não fará ao outro o que não deseja para si, e já terá avançado a passos largos no caminho da evolução.

Outras sugestões que fazem a diferença no processo autotransformador foram extraídas do livro “Reforma Íntima Sem Martírio” (DUFAUX, 2003):

  • Sempre há algo para aprender e conceitos a reciclar, o que fará com que saia da zona de conforto e do estado de autossuficiência, evitando assim cair nas arapucas do orgulho e vaidade;
  • Selecionar ambientes e pessoas, impondo limites quando necessário em nome da saúde mental, do respeito e da autoestima, evitará acesso de cólera;
  • Aceitação dos erros e autoperdão, sem se martirizar e recomeçando quantas vezes seja necessário;
  • Cultivar o hábito dos bons pensamentos e atentar as músicas, leituras e conversas para que sejam enriquecedoras;
  • Socializar com empatia, é através da caridade que a criatura encontra a salvação, sai do seu mundo e vai de encontro ao exercício do verdadeiro amor praticando a benevolência.

Ninguém muda do dia para a noite! Isto requer disciplina e não será reprimindo os instintos, e sim educando-os. Um passo de cada vez e será hoje, melhor do que ontem.

Quem nunca ouviu “se não vem pelo amor, vem pela dor”? Muitas vezes o sofrimento que assola as criaturas que no momento não entendem o porquê de tantas provações, tem um papel importante na mudança interior, é a vida pedindo passagem para novos ares e novas conquistas. Adiar o crescimento só fará machucar. É por meio do autoconhecimento que o indivíduo busca evoluir a cada dia que passa.

“O homem corre o mundo inteiro em busca da verdadeira felicidade. No entanto, ela está tão perto e tão dentro dele mesmo! Esta grande e tão valiosa joia que é a felicidade, nada mais é senão a tua própria consciência. Encontra-se, porém, fechada e bem lacrada, envolta pelas emanações escuras dos teus erros e da tua imperfeição. Hoje mesmo, poderás começar a fazer a limpeza em teu interior. Joga fora todos os entulhos que fazem parte de um passado que já morreu e que não mais deve te amedrontar com os seus fantasmas. Sempre é hora de recomeçar e de redimir-te. Quanto mais te retardares no burilamento de tua consciência, mais tarde será o teu encontro com a grande amiga de toda a humanidade, a FELICIDADE” (TORRES, 2012, p. 93 e 94).

O trecho acima foi extraído do livro “Relicário”, ele contém gotas de esperança que incentivam o progresso. E se conhecer faz parte de uma caminhada pautada no bem e na paz. Nem sempre o se conhecer é parte das tarefas diárias, mas ele pode barrar as entradas de sentimentos e emoções contrárias a evolução. Aceitar-se é conhecer o interior para entender o exterior, e ser feliz é se encontrar!

Ludmila de Almeida Rosa

Fonte: Letra Espírita

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Referências:

DUFAUX, Ermance de La Jonchére (Espírito). Reforma Íntima Sem Martírio. Psicografia de Wanderley Soares de Oliveira – Belo Horizonte: SED, 2003.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 365° edição, 2009.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. Campos dos Goytacazes, RJ, Letra Espírita. 2023.

TORRES, Elma Layde Lamounier. Lamounier. Relicário/ pelo espírito Tomás; Belo Horizonte: Itapuã, 2012.

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