Aproximação e fuga

Aproximação e fuga

Desta vez, quero vos ver não somente de passagem, mas espero demorar-me algum tempo convosco, se o Senhor o permitir. [1]

     O “apóstolo dos gentios”, na sua primeira carta aos coríntios , após recomendar-lhes o que era necessário para o cumprimento das atividades da igreja, manifesta seu desejo de permanecer entre os irmãos de fé um pouco mais. Estar na presença daqueles que nos edificam é valiosa oportunidade de evolução .

      Desde os primórdios da Humanidade experimentamos um processo contínuo de aproximação e fuga que colaboraram na nossa estruturação enquanto indivíduos. Aproximamos daquilo que nos interessa e fugimos daquilo que nos ameaça ou cobra-nos novos posicionamentos.

     Os primeiros organismos vivos iniciaram um processo de troca de informações químicas com o meio externo há milhões de anos a fim de nutrir-se de substâncias essenciais à sua subsistência e também de repulsão de fragmentos químicos que lhes seriam danosos para a sobrevivência.” [2]

     De onde vem essa inteligência instintiva desses seres tão primários? São enigmas não resolvidos pela Ciência Moderna. Aproximação e fuga são posicionamentos tão constantes no nosso cotidiano que não percebemos o automatismo dessas ações na nossa vida .

       O espírito pensante vive e evolui num processo semelhante, ora se aproxima das verdades que lhes renovam as energias fisiopsíquicas e espirituais , ora foge desse compromisso individual e intransferível que é a evolução.

     Em todos os períodos da Humanidade temos recebido notícias, ensinamentos e exemplos de missionários que tentam por todos os meios nos aproximar das verdades eternas, conforme nos assevera Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 622. [3]

     A misericórdia divina é sempre rica de recursos.

     Retrocedendo no tempo é possível avaliar como tratamos todos aqueles que de uma forma ou de outra intermediaram essa aproximação com aquilo que é sublime. A verdade sempre nos afronta de tal forma que não conseguimos conviver com seus representantes. O processo de fuga representa um adiamento à aquisição dos valores eternos necessário a todos os espíritos.

     Desde a vinda de Abraão , o primeiro patriarca do povo hebreu, responsável pela tarefa de apresentar-nos o Deus Único, estamos fugindo da proposta espiritual de redenção.

     Assassinamos os profetas da antiguidade, serramos o Profeta Isaias ao meio, queimamos uns tantos outros no azeite, crucificamos alguns no madeiro maldito, decapitamos , ateamos a fogueiras tantos outros que ousavam falar de justiça, ética, perdão e amor ao próximo. Em tempos de ódio, perseguição e guerra a presença do amor e da verdade eram sentimentos insuportáveis. Não poupamos nem mesmo o Cristo Divino, representante inigualável do Amor, assassinamos-os com requintes de loucura e insensatez.

     É de se notar que nosso histórico espiritual não é muito recomendado ,mas assim caminha a Humanidade, com passos de formiga e sem vontade, como entoou o cantor moderno.[4]

       Registra o nobre escritor Humberto de Campos, no livro Crônicas de Além-Túmulo , no capítulo 15, intitulado “A ordem do Mestre” que Jesus interrogava João, o discípulo amado, sobre como andam os deveres cristãos no mundo, onde Ele deixara o exemplo maior do Amor e o Evangelista responde: “- Vão mal, meu Senhor. Desde o Concílio Ecumênico de Nicéia, efetuado para combater o cisma de Ario em 325, as vossas verdades são deturpadas. Ao arianismo seguiu-se o movimento dos iconoclastas em 787 e tanto contrariaram os homens o Vosso ensinamento de pureza e de simplicidade, que eles próprios nunca mais se entenderam na interpretação dos textos evangélicos.”[5]

     Talvez seja por tantos atritos e desentendimentos acerca de uma doutrina sempre tão acessível a todos os entendimentos que continuamos a criar tantas fórmulas de desvios , destruição e violência contra nós mesmos. Continuamos a aniquilar aqueles que representam o amor, a caridade e a paz como fizemos com Martin Luther King, Mohandas Karamchand Gandhi, Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X e tantos outros conhecidos ou não.

     Jesus na sua Sabedoria Infinita percebendo a dureza ainda instalada em nossos corações decide um novo programa , capaz de restaurar a verdade e nos proteger das nossas próprias alienações.

     Um plano audacioso e eficaz. Seu novo plano é enviar alguns dos missionários, já “mortos”, impedindo-nos de matá-los novamente, para serem portadores da 3ª etapa da Revelação Divina , o Consolador Prometido, que chegaria em tempo oportuno e reestabeleceria a paz e libertaria consciências .

     Humberto de Campos registra o primoroso plano do Cristo no citado livro ,dirigindo-se a João: “- Se os vivos nos traíram, meu discípulo bem-amado, se traficam com o objeto sagrado da vossa casa, profligando a fraternidade e o amor, mandarei que os mortos falem na Terra em meu nome.”[6]

     Assim ,Jesus , o Cristo de Deus, envia o Paracleto em tempo mais que necessário, na esperança de não mais destruirmos aquilo que é capaz de nos elevar enquanto criaturas de Deus.

      É tempo de aproximarmo-nos dos ensinamentos do amor para vivê-lo em toda sua plenitude.Fujamos sempre daquilo que nos macula a pureza do coração e nos impede de crescer espiritualmente .Tal qual os primeiros organismos somos hoje espíritos sedendos de substâncias capazes de nutrir nossa alma e edificar nossa vontade de retornar ao aprisco Divino, e se o Senhor assim o permitir demoraremos mais tempo , desta vez, no caminho do amor.

Referências bibliográficas:
[1] 1Coríntios 16:7
[2] Facure, Nubor Orlando. Artigo – “O enigma da consciência”, (coloque aqui o local: editora, ano)
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 2007. Perg. 622
[4]Letra da música composta por Lulu Santos – “Assim caminha a humanidade”.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de Além túmulo ,ditado pelo Espírito Humberto de Campos , cap. 15-Brasília /DF: Ed FEB.
[6] Idem.

Postado por Jane Maiolo em 28/6(Rede Amigo Espírita)
  janemaiolo@bol.com.br
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