Bernardino da Silva Moreira
Jesus é a porta e diante dela estão todos a clamar e alguns preferem reclamar, enquanto os teólogos discutem acaloradamente as delicias do céu, que imaginam em suas mentes febris e os ateus tecem loas ao acaso e os materialistas reduzem tudo ao átomo e suas subpartículas.
Todos querem abrir a porta, alguns dizem ter a chave e prometem o paraíso a muitos sem juízo, outros dizem que aqueles que tiverem fé na Bíblia abrirão a porta com o milagre de Deus que garantem conhecer. O tempo passa e a porta não abre, até mesmo para aqueles que dizem “Senhor, Senhor” em desespero e a consciência pesada. Afinal! Quem irá abrir a porta?
Kardec tem a chave que não pode dar a todos, apenas aqueles que souberem conquistá-la. Se eu quiser a chave para abrir a porta e seguir Jesus, tenho que compreendê-lo e por isso tenho que entender da ciência espiritual que me explica as Leis de Deus e sua justiça soberana. Tenho que deixar de lado a ressurreição e aceitar a reencarnação.
A porta é estreita de difícil passagem e não dá para entrar com bagagens, apenas com o coração iluminado pela razão. Com os vícios só posso entrar pela porta larga que é de fácil acesso. Preciso fazer a reforma íntima! Fora da Caridade não há salvação!
Alguns dizem que Jesus não é necessário e sim secundário, pregam a razão sem coração, dizem que todos os religiosos são carolas, que a fé na religião caducou e só a ciência tem o caminho pra verdade. Ora! Pra que Chave se não há Porta pra abrir!
VISÃO ESPÍRITA DO CÉREBRO
Crânios com perfurações feitas em vida, com sinais de cicatrização, foram encontrados em sítios que datam de até 10.000 anos atrás. No famoso papiro cirúrgico de Edwin Smith, que foi escrito no Egito por volta de 1.600 A.C., foram registradas as primeiras suturas cranianas, da superfície externa do cérebro, do fluido cerebroespinal e das pulsações intracranianas.
Na cultura ocidental no sec. V A.C., Alcmaeon de Crotona foi o primeiro a localizar no cérebro a sede das sensações. Para ele, os nervos ópticos, que seriam ocos, levavam a informação ao cérebro, onde cada modalidade sensorial teriam seu próprio território de localização. Ainda no século V A.C., Demócrito Diógenes, Platão e Teófrasto punham no cérebro o comando das atividades corporais. Também entre os gregos, Herófilo (335-280 A.C.) dissecou e escreveu sobre o cérebro e foi o primeiro a descrever suas cavidades, os ventrículos cerebrais, que ele associou com as funções mentais.
Hipócrates (460-379 A.C), o pai da medicina, também acreditava que o cérebro era a sede da mente. Aristóteles (384-322 A.C), divergiu de seus contemporâneos e afirmava que o coração era o órgão do pensamento, das percepções e do sentimento, enquanto o cérebro seria importante para a manutenção da temperatura corporal, agindo como um agente refrigerador.
Galeno (130-200 D.C) rejeitou as idéias de Aristóteles, argumentando que não tinha sentido acreditar que o cérebro tivesse uma função de esfriar as paixões do coração. Nemésio (320 D.C), bispo de Emesia, na atual Síria, tomou as idéias de Galeno e baseou nos ventrículos as faculdades intelectuais.
Só no século XVI, Andreas Vesalius (1514-1564), autor do monumental tratado de anatomia “De Humani Corporis Fabrica”, rompe com a teoria da localização ventricular dos processos mentais argumentando que outros mamíferos (como o asno) têm a mesma organização anatômica e não possuem as mesmas capacidades intelectuais. Contudo, ele continuou a acreditar que os ventrículos cerebrais eram um local de armazenamento dos espíritos animais, de onde eles partiam para, através dos nervos, atingir os órgãos sensoriais ou de movimento. No século XVII os espíritos animais ainda dominavam as funções mentais. Nesta época René Descartes (1596-1650) escolheu o corpo pineal não propriamente como a sede da alma, mas como o local da sua atividade.
A idéia de que “espíritos animais” percorriam os nervos, que tinha origem nos gregos, permaneceu corrente até o século XVIII, quando ficou demonstrada a natureza elétrica na condução nervosa, destacando-se para isso o trabalho de Luigi Galvani (1737-1798) e, já no século seguinte, o de Emil du Bois-Reymond (1818-1896).
No século XIX, Theodor Schwann (1810-1882), propôs que todo o corpo seria formado de células e em 1891 Wilhelm von waldeyer (1836-1921) cunhou o termo “neurônio” para designar a unidade anatômica e funcional do sistema nervoso e finalmente, veio a descoberta, por Charles Scott Sherrington (1857-1952), dos espaços existentes nas junções entre células nervosas ou entre estas e as células musculares. Sherrington chamou essas estruturas de “sinapses”.
Eis aí em poucas linhas uma sinopse dos fatos mais importantes registrados na História da Neurociência. Lamentavelmente as idéias da “escola biológica” prevaleceram e a “escola psicológica”, espiritual e espírita ficaram relegadas ao segundo plano, daí predominam nas conclusões sobre o assunto o ponto de vista biológico, que trás como conseqüência o reducionismo sufocante dos cientistas materialistas e ateus. Questões como essa levou Allan Kardec, o Codificador Espírita, a perguntar:
“Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?
– Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.” (Questão 370 de O Livro dos Espíritos).
O cérebro não é causa da inteligência e sim uma conseqüência desta, pois, a inteligência é “atributo essencial do Espírito”. Nós espíritas não somos ingênuos, por isso não confundimos psicologismo com mediunismo, como poderemos ver neste trecho de “O Livro dos Médiuns” na pág. 149:
“Desde que os sentidos entram em torpor, o Espírito se desprende e pode ver longe, ou perto, aquilo que lhe não seria possível ver com os olhos. Muito freqüentemente, tais imagens são visões, mas também podem ser efeito das impressões que a vista de certos objetos deixou no cérebro, que lhes conserva os vestígios, como conserva os dos sons. Desprendido, o Espírito vê no seu próprio cérebro as impressões que aí se fixaram como chapa daguerreotípica. A variedade e o baralhamento das impressões formam os conjuntos estranhos e fugidios, que se apagam quase imediatamente, ainda que se façam os maiores esforços retê-los.” *
Impressões cerebrais não são visões espirituais, Espíritos não são produto da imaginação e muito menos, resultado de alucinação ou seja lá o que for. A mediunidade é uma faculdade física, mas é apenas o meio de comunicação entre os Espíritos. O papel do cérebro no fenômeno mediúnico é essencial, como poderemos ver em uma nota de Kardec, na pág. 232:
“Os Espíritos insistiram, contra a nossa opinião, em incluir a escrita direta entre os fenômenos de ordem física, pela razão, disseram eles, de que: “Os efeitos inteligentes são aqueles para cuja produção o Espírito se serve dos materiais existentes no cérebro do médium, o que não se dá na escrita direta. A ação do médium é aqui toda material, ao passo que no médium escrevente, ainda que completamente mecânico, o cérebro desempenha sempre um papel ativo.”
O cérebro é essencial no fenômeno mediúnico inteligente, no físico não. Ainda bem que a materialização dos Espíritos são realizadas através dos médiuns de efeitos físicos, senão poderiam pensar os contraditores do Espiritismo que os Espíritos materializados em nosso meio, fossem apenas resultado de um fenômeno ideoplástico, isto é, um produto do cérebro do médium.
Na pág. 278 os Espíritos esclarecem a importância do cérebro no processo mediúnico inteligente:
“Assim, quando encontramos em um médium o cérebro povoado de conhecimentos adquiridos na sua vida atual e o seu Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em vidas anteriores, de natureza a nos facilitarem as comunicações, dele de preferência nos servimos, porque com ele o fenômeno da comunicação se nos torna muito mais fácil do que com um médium de inteligência limitada e de de escassos conhecimentos anteriormente adquiridos.”
A moral é um poderoso auxiliar no processo mediúnico, mas, não é tudo, pois o intelecto fornece os meios necessários para uma boa comunicação.
E para concluir, animais não são médiuns, nem mesmo o papagaio, como poderemos ver na pág. 304:
“Sabeis que tomamos ao cérebro do médium os elementos necessários a dar ao nosso pensamento uma forma que vos seja sensível e apreensível; é com auxílio dos materiais que possui, que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Ora bem! Que elementos encontraríamos no cérebro de um animal? Tem ele ali palavras, números, letras, sinais quaisquer, semelhantes aos que existem no homem, mesmo o menos inteligente? Entretanto, direis, os animais compreendem o pensamento do homem, adivinham-no até. Sim, os animais educados compreendem certos pensamentos, mas já os vistes alguma vez reproduzi-los? Não. Deveis então concluir que os animais não nos podem servir de intérpretes.”
* Os grifos são do autor.