A inveja como aliada

A inveja como aliada

Martha Triandafelides Capelotto

Pode parecer estranho o título acima, principalmente, por ser a inveja um sentimento negativo de nossa alma, difícil mesmo de ser revelado por quem quer que seja.

Inúmeras expressões metafóricas são utilizadas para nos referirmos a alguém que julgamos ser invejoso: roer-se de inveja, a inveja dói, contaminado pela febre da inveja, cego de inveja, a inveja queima ou envenena, e vai por aí afora.

A característica principal da inveja é a comparação desfavorável do “status” de uma pessoa em relação à outra, muito mais do que estar associada a um objeto. Quando sentimos inveja, estamos supervalorizando a figura do outro e subestimando tudo o que temos ou conquistamos.

É preciso ser o que é. Nem colocarmos as criaturas num pedestal, nem nos rebaixarmos à condição de capachos.

Por outro lado, percebemos com muita tristeza que a civilização moderna impõe necessidades, muitas absolutamente fictícias, sem que as criaturas saibam limitar seus desejos e por isso acabam, por consequência, sentindo inveja daqueles que elas acreditam estarem em patamares superiores aos seus, ou serem mais privilegiados, mais amados, mais queridos, enfim, que a situação dos outros é muito melhor que a delas.

Ermance Dufaux, no livro Laços de Afeto, capítulo 17, diz que “…a inveja é uma das mais cruéis imperfeições morais, porque é filha queridíssima do orgulho e, sendo assim, é dos sentimentos que a criatura menos confessa a si mesmo e que os limites entre a inveja e a necessidade de progresso, o desejo de lograr metas que outros venceram, é muito sutil e demanda autoconhecimento”.

Na verdade, a inveja reflete a fragilidade em que o nosso espírito ainda vive, deixando-se consumir em desejos inconsistentes, até mesmo ilusórios, principalmente de ordem material. Podemos dizer que a inveja é resultante da limitada compreensão da lei de causa e efeito, aplicada a nós mesmos.

Feitas essas considerações, vamos ao ponto mais relevante que é termos a inveja como nossa aliada. De que forma?

Quem nos auxilia neste tópico, mais uma vez, é Ermance, quando ela nos ensina que “a inveja tem por função educativa nos colocar em comparação com alguém e isso não é algo ruim, porque essa função da inveja visa mostrar que aquilo que lhe causa inveja é sinal de vida de uma qualidade ou de um talento seu que está adormecido e você não percebe. A pior consequência dessa comparação é você fechar os olhos para os seus próprios valores e só enxergá-los nos outros”.

Desse modo, depreendemos que invejar pode significar que você tem algo tão bom quanto o que inveja em alguém, ou que pode fazer algo tão bem quanto o que o outro faz.

Se começarmos a pensar que não existem pessoas melhores ou piores, mas diferentes, e que tudo na vida é uma questão de luta, de merecimento, de esforço pessoal, poderemos alcançar nossos objetivos, assim como os outros também alcançam.

Quando a inveja aparecer, perguntemo-nos: O que eu posso fazer a respeito dessa situação para me sentir melhor? O que esse sentimento está querendo me mostrar a meu próprio respeito através dessa pessoa? O que há de bom no outro que pode ser melhor em mim? O que preciso aprender sobre o que falta em mim?

Desse modo, tanto para a inveja como para tantas outras situações vivenciadas por nós na nossa luta existencial, questionemo-nos sempre, procurando saber o que os nossos sentimentos revelam sobre nós, procurando entender que admirar, elogiar, compartilhar e incentivar vitórias é a formação do hábito da solidariedade relacional no coração e exercício afetivo preventivo contra a inveja, combatendo-a.

Admitir sua existência no coração é o primeiro passo. Conhecer suas formas de manifestação, estudar suas razões através da viagem interior, adquirindo o controle sobre as reações emocionais, sabendo servir harmoniosamente com ela, transformando-a para o bem, serão medidas salutares para aceitarmos o que ainda não podemos ter, lembrando que temos o que merecemos e o que semeamos.

Martha Triandafelides Capelotto

Fonte: Espiritismo na Rede

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