TRANSIÇÃO PLANETÁRIA – Richard Simonetti
1 – Enfatiza-se no meio espírita o fato de que estamos em plena transição na sociedade planetária, de Mundo de Provas e Expiações para Mundo de Regeneração. É isso mesmo?
Depende do ponto de vista. Imaginemos que façamos uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro como andarilhos. Desde a saída estaremos em trânsito a caminho do Rio, mas ainda longe de nosso destino. Imagino que o fato de estarmos em transição para o Mundo de Regeneração não significa que estejamos às suas portas.
2 – No que você se baseia?
Basta observar o panorama desolador da sociedade humana, onde grassam as desigualdades sociais, os preconceitos, as guerras, a violência urbana, os vícios, cidades transformadas em selvas cheias de perigos e tentações. Uma sociedade onde prevalece o egoísmo, tanto no sentido individual, promovendo as desigualdades sociais, quanto no sentido coletivo, promovendo guerras, conflitos variados entre as nações não podem caracterizar um Mundo de Regeneração.
3 – Há algum respaldo doutrinário para essa conclusão?
Basta observar o que diz Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo III, sobre mundos de regeneração: Sem dúvida, em tais mundos o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se inscrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis. Pergunto: Porventura estamos perto desse cenário?
4 – E quanto ao Novo Testamento?
Em O Sermão da Montanha, quando trata das bem-aventuranças, Jesus diz: bem aventurados os mansos, porque herdarão a Terra. Parece-me que Jesus estava afirmando que quando houver a promoção de nosso planeta, aqui permanecerão os que houverem conquistado a mansuetude, o que significa que, se acontecer a tempo breve, nosso planeta ficará deserto. O vocábulo manso está tão longe do comportamento humano que usá-lo soa como xingamento.
5 – Por que Jesus situa a mansuetude como a senha para o mundo de regeneração?
A agressividade, filha dileta do egoísmo, é o elemento gerador de todos os males. Agressividade em pensamentos, gestos, palavras, ações. É por ela que os lares se desfazem, que as pessoas se desentendem, os povos entram em conflitos, as guerras dizimam populações.
6 – É uma visão pessimista.
Estou com Albert Schweitzer, o grande missionário alemão, quando diz: A quem me pergunta se sou pessimista ou otimista, respondo que o meu conhecimento é de pessimista, mas a minha vontade e a minha esperança são de otimista. A maldade humana faz o presente; a bondade divina está construindo o futuro de bênçãos.
7 – Na sua opinião, a “viagem” pode demorar um pouco mais do que se concebe, mas chegaremos lá. É isso?
Exatamente. A esse propósito lembro uma observação de Chico Xavier, na euforia dos anos 2.000, como se estivéssemos às portas da civilização cristianizada do Terceiro Milênio: não podemos esquecer que um milênio tem mil anos. Creio que muita água rolará no rio do tempo, até que respiremos ares de regeneração na Terra.
8 – Resumindo: estamos um tanto longe ainda do Mundo de Regeneração.
Coletivamente, sim, mas individualmente nada nos impede de realizar a regeneração em nós. Basta que combatamos a agressividade, a partir do ensinamento básico de Jesus – fazer ao próximo todo o bem que gostaríamos nos fosse feito. Trabalhando pelo próximo, realizaremos o bem em nós e seremos felizes, mesmo vivendo num mundo de provas e expiações.
Richard Simonetti