REFLEXÕES DE KARDEC
Allan Kardec
“Estas reflexões nos são sugeridas como um princípio geral, e seria erro ver nelas uma aplicação qualquer. Entre os numerosos escritos publicados sobre o Espiritismo, sem dúvida alguns poderiam dar lugar a uma crítica fundada; mas não nos pomos a todos na mesma linha; indicamos um meio de os apreciar e cada um fará como entender.
Assim, preferimos esperar que o Espiritismo seja melhor conhecido e, sobretudo, melhor compreendido. Então nossa opinião, apoiada em base geralmente admitida, não poderá ser suspeitada de parcialidade.
Cremos que as proposições seguintes tem este caráter:
- – Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão o bem; assim, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um bom Espírito;
- – Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente superiores não podem ensinar coisas absurdas; assim, toda comunicação manchada de erros manifestos ou contrários aos dados mais vulgares da ciência e da observação, só por isso atesta a inferioridade de sua origem;
- – A superioridade de um escrito qualquer está na justeza e na profundidade das ideias e não nos enfeites e na redundância do estilo; assim, toda comunicação espírita em que há mais palavras e frases brilhantes do que pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito realmente superior;
- – A ignorância não pode contrafazer o verdadeiro saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; assim, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá, é responsável por fraude;
- – É dá essência de um Espírito elevado ligar-se mais ao pensamento do que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do Espírito está na razão da elevação das ideias; assim, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, numa palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;
- – Um Espírito realmente superior não pode contradizer-se; assim, se duas comunicações contraditórias forem dadas sob um mesmo nome respeitável, uma delas necessariamente é apócrifa, e se uma for verdadeira, será aquela que em nada desmente a superioridade do Espírito cujo nome a encima.
A consequência a tirar destes princípios é que, fora das questões morais, só se deve acolher com reservas o que vem dos Espíritos, e que, em todo caso, jamais devem ser aceitas sem exame. Daí decorre a necessidade de ter a maior circunspeção na publicação dos escritos emanados dessa fonte, sobretudo quando, pela estranheza das doutrinas que contem, ou pela incoerência das ideias, podem prestar-se ao ridículo. É preciso desconfiar da inclinação de certos Espíritos para as ideias sistemáticas e do amor-próprio que buscam espalhar.”
Allan Kardec
Nota: O texto foi extraído da Revista Espírita de 1860-julho, pág. 232