Palingenesia

Palingenesia

Martins Peralva

PALINGENESIA

LE – Questão 167: Qual o fim objetivado com a reencarnação?

– Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a Justiça?

“Não encomendes, pois, embaraços e aversões à loja do futuro, porque, a favor de nossa própria renovação, concede-nos o Senhor, cada manhã, o sol renascente de cada dia.” – Emmanuel

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O apreciador de assuntos transcendentes encontrará, em o Novo Testamento, diversas passagens em que Jesus se refere à reencarnação em termos tão claros que ninguém, em sã consciência, lhes pode atribuir ambígua interpretação.

Dentre elas, é extraordinário, a nosso ver, o formoso diálogo do Celeste Benfeitor com Nicodemos, que culmina na asserção “necessário vos é nascer de novo”.

Deparou a reencarnação, em seu caminho, o que se nos afigura natural, tremendos obstáculos.

E não temos dúvidas de que os encontrará sempre, até que se afirme, plenamente, no consenso universal, impondo-se, como já acontece esporadicamente, pelas constatações irretorquíveis.

Perquirições científicas, criteriosas, umas, apaixonadas, outras.

Obstáculos religiosos e objeções filosóficas.

Preconceitos sócio raciais.

Barreiras humanas que ruirão, no entanto, à medida que os fatos, comprovados pela Ciência e por todos observados, desmoralizarem a negação, ridiculizarem a oposição por sistema, liquidarem as distorções de exegese.

Negar a lógica da reencarnação, tentando esconder-lhe as fulgurações misericordiosas, será, no porvir, tão insensato quanto negar a presença do homem na ribalta do mundo.

Ninguém pode esconder esta verdade: as idéias reencarnacionistas, por mais consentâneas com a razão, ganham terreno no pensamento humano, mercê da ampliação dos valores culturais.

As indagações da Filosofia, as pesquisas da Ciência e as conjeturas da Religião vão conduzindo o espírito do homem para inequívocas, insofismáveis conclusões ligadas ao problema do Amor e da Justiça de Deus.

O Pai não teria nosso carinho e nossa gratidão se, para O entendermos, não nos tivessem fornecido a chave das vidas sucessivas.

Conceitos clássicos, a respeito da Vida, do Homem e do seu destino dentro da Eternidade não podem escapar a reformulações baseadas na filosofia espírita, levando as criaturas mais aferradas às religiões tradicionalistas, ou os céticos inveterados, a meditarem, mais profundamente, sobre problemas do cotidiano que, sem a hermenêutica reencarnacionista, jamais seriam explicados.

As diversidades na paisagem humana.

As diferenciações culturais. O gênio e o idiota.

Os desequilíbrios psicofísicos.

Os seres anatomicamente bem conformados.

Os fenômenos de teratologia, perene desafio à medicina.

Os contrastes raciais. Sociais. Econômicos.

Todas essas aparentes anomalias nos conduziriam a um Deus cruel, impiedoso, frio, pior do que os homens menos justos, não existisse a reencarnação, que a tudo aclara, que a tudo torna simples.

Na mais longínqua antiguidade, encontramos o pensamento reencarnacionista iluminando civilizações.

Na Índia, com os Vedas, há milhares de anos. Bramanismo e Budismo dão-lhe curso glorioso.

O Egito, na opinião de muitos orientalistas, absorveu do povo hindu a civilização e a fé, incorporando ao seu patrimônio cultural a pluralidade das existências.

Na Grécia, a par dos poemas órficos, Platão, o amado discípulo de Sócrates, conclama: “Almas divinas! Entrai em corpos mortais; ide começar uma nova carreira. Eis aqui todos os destinos da vida. Escolhei livremente; a escolha é irrevogável. Se for má, não acuseis por isso a Deus”. Nele encontramos, ainda, o “aprender é recordar”, evidente alusão às vidas preexistentes.

Na Gália, com os druidas.

No Cristianismo e, mais tarde, nas mais notáveis figuras do Catolicismo: Agostinho, Gregório de Nice, Clemente de Alexandria, Orígenes e outros.

Em todos, a Lei sábia, equânime, infalível, plenificada de Amor e Justiça Incorruptível, nas oportunidades de redenção e aperfeiçoamento.

Vem, pois, a reencarnação, de muito longe, no tempo e no espaço.

De muito longe, qual viajor incansável, consciente, a excursionar de maneira estupenda, imbatível, desafiando os temporais do preconceito e diluindo as sombras da intolerância.

O Espiritismo, desenvolvendo, em nossos dias, as idéias contidas em “O Evangelho segundo o Espiritismo” e em “O Livro dos Espíritos”, através do labor mediúnico de Francisco Cândido Xavier, faz com que o princípio reencarnacionista brilhe no coração da Humanidade, empolgue consciências, ocupe lugar de excepcional relevo nas galerias culturais e no pensamento de eminentes homens do nosso século.

A admissão de outros planetas habitados, por exemplo, cria mais um ponto de conexão entre a Ciência clássica e o ensino palingenésico, sabido como é que a evolução, para se completar, envolve conhecimentos e virtudes que num só mundo, como a Terra, ou numa só encarnação, não podem ser obtidos. É pouco tempo, mesmo que centenárias fossem todas as existências, para uma bagagem, de saber e moral, que assegure ao Espírito a condição de perfeito.

Almas que transitaram por aqui e por mundos equivalentes, realizam, atualmente, em planos estelares, fecundas experiências, aprimorando manifestações de Amor, no rumo da universalização para a qual estamos marchando, ao ritmo penoso de provas acerbas.

O consenso da maioria, em nossa época, representa atualização da tese reencarnacionista.

Indivíduos ferrenhos inclinam-se a aceitá-la por único recurso capaz de logicamente explicar o mundo e a vida, os seres e a evolução que lhes compete efetivar, ao preço de consecutivas experiências e laboriosas acumulações de ordem moral e cultural.

Para que se harmonizem Amor de Deus e fenômenos humanos, em suas múltiplas manifestações, necessária se torna a aceitação do postulado básico, pedra angular da filosofia espírita: “Necessário vos é nascer de novo”, preceito evangélico que a Doutrina dos Espíritos realça, em páginas indeléveis.

Os salutares efeitos da reencarnação se fazem sentir no passo-a-passo, no dia-a-dia da existência.

Nos lares que se organizam e se sustentam nas motivações reencarnacionistas, apesar da distonia de seus componentes, misericordiosamente reunidos no cadinho da vivência em comum, entre as quatro paredes de uma casa, para que se reestruture o passado.

Nos grupos de trabalho que se esforçam na compreensão mútua, ao preço da contenção de impulsos, a fim de que obras respeitáveis não sofram solução de continuidade.

Fenômenos os mais surpreendentes, no campo social, reformulando estruturas antigas, aclaram-se, tão logo lhes apliquemos o prisma reencarnacionista.

Com a explicação das vidas que se interligam, neste e noutros mundos, em perfeito encadeamento, tudo se faz claro, tudo se torna simples.

Teimam alguns homens em não aceitar a reencarnação. Mas, em cada ser humano que pense com isenção, sem má-fé, nem preconceito, o imperativo é formal: reencarnação, reencarnação…

Assim o cremos.

Por ela, o triunfo espiritual de todos nós.

Leiamos Allan Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Com a reencarnação e o progresso a que dá lugar, todos os que se amaram tornam a encontrar-se na Terra e no Espaço e juntos gravitam para Deus. Se alguns fraquejam no caminho, esses retardam o seu adiantamento e a sua felicidade, mas não há para eles perda de toda esperança. Ajudados, encorajados e amparados pelos que os amam, um dia sairão do lodaçal em que se enterraram. Com a reencarnação, finalmente, há perpétua solidariedade entre os encarnados e desencarnados, e daí o estreitamento dos laços de afeição”.

Escreve o mestre lionês, em “O Livro dos Espíritos”: “Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova”.

Emmanuel concita-nos no sentido de que, entendendo a vida e os problemas a ela afetos, busquemos o farol do amor e do entendimento, do bom ânimo e da paz, da solidariedade e do amparo aos que partilham, conosco, os caminhos evolutivos: “Não encomendes, pois, embaraços e aversões à loja do futuro, porque, a favor de nossa própria renovação, concede-nos o Senhor, cada manhã, o sol renascente de cada dia”.

O sentido de eternidade do Evangelho reside na própria afirmativa do Divino Mestre: “Passarão o céu e a terra, porém jamais passarão as minhas palavras”.

“O Evangelho segundo o Espiritismo”, como repositório das lições morais do Cristo e pelo exame que faz, em alguns capítulos, do problema reencarnacionista, desafia o tempo e sintetiza leis que se não derrogam.

Ê a própria Lei de Amor que, na Terra e em todos os mundos, rege o destino das humanidades, conduzindo o Espírito imortal às culminâncias da luz.

“O Livro dos Espíritos”, condensando a filosofia do Espiritismo, oferece a chave explicativa dos aparentemente inexplicáveis fenômenos humanos.

Emmanuel, popularizando o ensino evangélico-doutrinário, supre a humanidade, em nossos dias e para o futuro, do alimento espiritual de que tanto carecemos.

O mais evidente testemunho do prestígio e atualidade desses livros é a sua preferência, pelo público brasileiro, dentre as demais obras da Codificação.

Se houvesse superação de seus ensinos; ou se fossem livros que não atendessem às profundas necessidades humanas, estariam, decerto, nas prateleiras das livrarias, desestimulando os editores e entristecendo-nos a todos.

Edições esgotam-se, vertiginosamente, tão logo entregues ao mercado, constituindo, inclusive, lisonjeiro registro quando surge a reclamação de que ambos estão em falta nas livrarias! E assim, exemplar a exemplar, ou aos montes, vão sendo postos à cabeceira de famílias e mais famílias, espíritas ou não, cultas ou apenas alfabetizadas, que lhes absorvem, sequiosas, todas as noites, como prelúdio do sono, o sublime conteúdo.

Benditas as inteligências e os corações desencarnados que os transmitiram, para as sombras da Terra, ausentando-se, temporariamente, em missão sacrificial, dos Celestes Páramos.

Nosso tributo de gratidão a Allan Kardec, valoroso missionário que os corporificou para o mundo sedento de luz.

Nosso reconhecimento, na mesma dimensão, às almas generosas e lúcidas que, pelos condutos da mediunidade sublimada, dão-lhes, em nossos dias, incontestável atualidade, possibilitando caírem sobre as pepitas luminosas das obras codificadoras lições refertas de orientação e consolo.

Nossas almas, em comovedora genuflexão, agradecem a Deus e a Jesus.

Abençoado o formoso diálogo de Jesus com Nicodemos e glória a “O Livro dos Espíritos”, no dedicar opulentos capítulos à palingenesia.

Martins Peralva

Livro: O Pensamento de Emmanuel – 7

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