A Dor é Inevitável, o Sofrimento é Opcional

Uma amiga deu um depoimento muito elucidativo de como a dor e o sofrimento são coisas bem diferentes.

Relatou que por ocasião do Plano Real (1994), ela e o marido possuíam uma construtora. Os negócios estavam indo de vento em popa e, da noite para o dia, eles perderam tudo e ficaram devendo milhares de reais para fornecedores e funcionários. A empresa quebrou.

Eles tinham duas opções: se desesperarem, se revoltarem ou encararem o problema de frente e buscarem a melhor solução.

Optaram por aproveitar a dor e transformá-la em ferramenta de crescimento. Passaram por inúmeras dificuldades, privações, mas não se desesperaram. Reuniram forças e deram a volta por cima.

Uma porta se fecha, muitas outras se abrem. Vida é oportunidade.

Uma outra amiga me revelou que tem dois irmãos separados.

O primeiro, seis meses após a separação, conseguiu se reerguer e voltou a ser o que era antes. Deu a volta por cima.

O outro, diante da dor da separação, optou pelo sofrimento e após 17 anos do ocorrido ainda se encontra deprimido.

A pior das mortes é o que morre dentro de nós enquanto vivemos. Tornou-se um morto vivo, um autômato, um zumbi. Morreu por dentro, não sente mais vontade de viver e aguarda o fim “definitivo”.

Pense num casal que se separou depois de alguns anos juntos. Imagine que um deles sente uma dor terrível no início. É normal? Sim, a dor da separação é natural, é esperada. A dor, vem e vai, ela tem um movimento fluido, ela passa.  Depois de alguns anos, se essa “dor” ainda persiste, na verdade não é mais dor, é “sofrimento”, ou seja, uma dor “arrastada”.

Conheci um casal que perdeu um filho num acidente. Até hoje não se recuperaram. Sofrem dia e noite, num tormento sem fim. Se revoltaram, não aceitam a perda e se colaram nas condições de vítimas da vida.

Outro casal que passou pela mesma perda, decidiu ajudar crianças órfãs e pobres. Encontraram na renovação espiritual o suporte para viver com alegria.

As perdas, todas elas, umas mais outras menos, costumam nos trazer grandes sofrimentos, mas não irremediáveis.

Dor e sofrimento são coisas diferentes.

A dor faz parte da vida, não há como evitá-la. O sofrimento, não. O sofrimento pode ser diminuído e até evitado. Vai depender de nós.

Existem maneiras de atenuarmos e evitarmos o sofrimento, trabalhando com nossos pensamentos e emoções.

O sofrimento é como se fosse uma dor crônica, não tratada, não cuidada, negligenciada.

A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa ser tratado.

A dor não é castigo: é contingência inerente à vida, cuja atuação enobrece o espírito.

O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor: “em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano”.

A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda:

A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo.

“O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria”. “O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida”. “O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação”. “Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador”. “O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida”. “É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor”. (Equipe Feb, 1995)

Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura as aflições se abatem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura. O jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: “Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito”. Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, secundariamente, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.

Fernando Rossit

Bibliografia de apoio:

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967/ KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984/ IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983/ EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995/ http://www.ceismael.com.br/ http://grazielabergamini.com.br.

Fonte: Associação Espírita Allan Kardec (Kardec Rio Preto)

Nota da Redação

Como podemos observar, a fé vivenciada sob o novo prisma da ótica Espírita, assim como a  esperança e a vontade, nos tornam a cada dia, mais resilientes e capazes de transformar toda a dor do mundo, minimizando e utilizando de forma útil o sofrimento pelos quais temos que passar neste plano existencial de provas e expiações, acelerando dessa forma nosso próprio progresso e nos tornando os artificies basilares de uma sociedade nova e mais coerente com  as maravilhas de um universos perfeito, pelo qual, também somos responsáveis.

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Mundos felizes: o que sabemos sobre eles

Ao demonstrar pleno conhecimento da sabedoria celestial Jesus Cristo afirmou “ há muitas moradas na casa do Pai” – muito provavelmente esta foi a primeira revelação à humanidade sobre a pluralidade dos mundos habitados.

Hodiernamente, nossos sofisticados telescópios e veículos espaciais esquadrinham o espaço, gerando imagens simplesmente encantadoras de planetas e galáxias, ou seja, extraordinárias criações divinas. Concomitantemente, pesquisadores ufológicos continuam coligindo uma profusão de relatos de contatos diretos entre humanos e alienígenas, bem como vídeos espetaculares de Óvnis. A conclusão insofismável é que não estamos sozinhos no universo, pois a vida estua por toda parte guiada pelo incomensurável amor do arquiteto divino.

Nesse sentido, cumpre esclarecer que há mundos bem mais avançados do que o nosso, assim como atrasados, conforme nos informam os Espíritos mensageiros de Deus. Posto isto, a Terra é mais um mundo no contexto cósmico, que abriga, por força das circunstâncias, uma grande quantidade de almas ora submetidas aos purificadores processos de expiação e provas. Ou seja, há degraus evolutivos que abrangem os mundos tal qual as criaturas que neles vivem, variando, assim, desde planetas primitivos onde a vida inteligente começa, por assim dizer, a brotar, até moradas celestiais dotadas de elementos etéreos sutis, quase imateriais, que abrigam seres purificados onde a felicidade reina absoluta.

Assim sendo, a Terra ainda se encontra nos estágios iniciais da evolução dos mundos, infelizmente. Por conta do nosso acentuado atraso espiritual, nosso planeta continua sendo sacudido por poderosas forças telúricas, que vêm gerando intensa destruição e perda de vidas na atualidade. Terremotos, maremotos, furacões, ciclones, tornados, enchentes, incêndios, entre outros fenômenos meteorológicos, têm vergastado, com frequência assustadora, as nações do mundo inteiro.

Por essa razão, ninguém está isento de sofrer os seus efeitos devastadores que, com maior ou menor grau, têm golpeado a todos nós. No geral, a experiência de viver na Terra tornou-se consideravelmente mais arriscada. Chegamos a um ponto no qual, de um momento para outro, podemos – sem exagero – ser atingidos por uma chuva torrencial – diluviana, poderiam alguns considerar – com potencial de ceifar as nossas existências de várias e inesperadas maneiras. Em suma, o clima no planeta está caótico e a natureza dá sólidas mostras de reação.

O Espírito Joanna de Ângelis, na obra Transição Planetária (psicografada por Divaldo Pereira Franco) refere-se a esse período em que nos encontramos nos seguintes termos:

“As dores atingem patamares quase insuportáveis e a loucura que toma conta dos arraiais terrestres tem caráter pandêmico, ao lado dos transtornos depressivos, da drogadição, do sexo desvairado, das fugas psicológicas espetaculares, dos crimes estarrecedores, do desrespeito às leis e à ética, da desconsideração pelos direitos humanos, animais e da Natureza… Chega-se ao máximo desequilíbrio, facultando a Interferência Divina, a fim de que se opere a grande transformação de que todos temos necessidade urgente.”

Enquanto as desgraças coletivas se sucedem, os chefes das nações têm fracassado fragorosamente no cumprimento dos seus papéis. Surpreendentemente, o que se observa, com extrema clareza, é a prevalência de um cenário geopolítico contaminado por crescentes incertezas que fragilizam ainda mais as relações entre as nações. Com efeito, não se trabalha com o devido afinco para a construção de coesão e integração que permitiria assegurar a eliminação das tensões entre as chamadas grandes potências. Aliás, um exemplo marcante nesse particular é a sinistra aproximação entre a China, Rússia, Coreia do Norte – países governados com mão de ferro pelos seus líderes -, envolvendo estreita cooperação militar, que certamente em nada contribui para arrefecer as desconfianças.

Igualmente preocupante é a volta da corrida armamentista. A propósito, a imprensa mundial anunciou recentemente o desenvolvimento do míssil balístico intercontinental russo Satã 2, que foi concebido para transportar ogivas nucleares com capacidade de cruzar continentes inteiros, e atingir um alvo em praticamente qualquer lugar do planeta, sem que se possa detê-lo. Trata-se de uma arma tão sofisticada que chega a realizar manobras verticais e horizontais, além de superar a velocidade do som. Posto isto, a criação de armas como essa dão uma ideia da precariedade da paz em nosso planeta, pois qualquer movimento mais abrupto por parte dos principais atores mundiais poderá desencadear uma guerra em escala planetária e certamente com trágicas consequências para toda a humanidade.

Entretanto, dirijo-me no presente artigo aos que já algo perceberam do poder divino, e que aceitam a tese da pluralidade dos mundos habitados. Minha intenção é discorrer sobre o que já sabemos sobre os planetas nos quais o estado de felicidade permanente já foi alcançado. Como estamos longe de viver num autêntico Shangri-la, isto é, uma morada de paz, alegrias, bem-estar e felicidades permanentes, podemos ao menos abrir nossas mentes para algo mais elevado, o que faz sentido, já que na criação divina tudo evoluí. Ademais, é extremamente reconfortante saber que nem tudo se resume aos acanhados limites do nosso (belo) orbe – implacavelmente judiado pela incúria dos seus inconsequentes inquilinos (nós humanos).

Como muito bem ponderou o Espírito Emmanuel, no livro que leva o seu nome no título, psicografado por Francisco Cândido Xavier, “O conhecimento das condições perfeitas da vida em outros mundos, não deve trazer abatimento aos extremistas do ideal. Semelhante verdade deve encher o coração humano de sagrados estímulos”. Com efeito, é muito alentador poder divisar essa possibilidade, especialmente quando encaramos a existência como um processo motivacional no qual podemos desenvolver virtudes rumo ao alcance de tal beatitude.

Por sua vez, Allan Kardec examinou o assunto com extrema seriedade extraindo algumas conclusões que merecem ser destacas. Por exemplo, n’O Livro dos Espíritos (questão nº 55) somos informados pelas entidades espirituais que os mundos são habitados, desfazendo qualquer presunção humana de sermos os mais dotados em inteligência, bondade e perfeição. Kardec acrescentou que:

“Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência. Acreditar que só os haja no Planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil. Certo, a esses mundos há de ele ter dado uma destinação mais séria do que a de nos recrearem a vista. Aliás, nada há, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa induzir à suposição de que ela goze do privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de milhões de mundos semelhantes.”

Mais ainda: suas investigações permitiram-no concluir que não se abriga mais nesses mundos o sentimento de egoísmo, tão comum na Terra ainda e gerador de enormes disparidades e distorções econômicas e sociais. Em tais moradas, ao contrário, reina o sentimento de fraternidade, as guerras foram banidas, ódios e discórdias inexistem, já que não se admite a ideia de prejudicar a outrem. Ou seja, os seres viventes nesses mundos fazem aos outros, de maneira natural, o que desejam para si próprios. Ao que tudo indica, vivem mergulhados sob as diretrizes do mais puro código de ética e moral instituído pelo Criador. E usam a sua inteligência para erigir coisas positivas e benéficas às humanidades que neles habitam.

De modo geral, esclarece Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, as condições morais e materiais dos mundos superiores são muito diferentes das nossas. Os seus habitantes apresentam forma semelhante à nossa – aliás, pesquisas ufológicas reforçam tal conclusão. Entretanto, seus corpos têm outra composição, e, por isso, não estão sujeitos às necessidades, doenças e deteriorações típicas do nosso planeta. Além disso, argumenta o Codificador que:

“Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram, porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores, então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão figurado no nimbo ou auréola dos santos.”

Além disso, a vida nesses orbes é geralmente mais longa do que na Terra porque seus habitantes não desfrutam de existências angustiantes, sem falar do elevado grau de adiantamento obtido. Desse modo,

“[…] A morte de modo algum acarreta os horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir. Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta, expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento”.

Portanto, é de se supor pleno conhecimento da vida espiritual por parte desses seres – algo que se engatinha ainda na Terra. Ao que tudo indica, suas mentes já alcançam o correto entendimento da passagem à dimensão espiritual como um fato normal e em perfeita consonância com as leis cósmicas.

Em tais moradas divinas, as relações entre os povos são marcadas pela harmonia. A diferença entre os seres se dá em virtude da superioridade moral e intelectual, que confere a supremacia por ordem natural. Nelas prevalecem o respeito à autoridade e à justiça. Conforme Kardec, nos mundos felizes, a busca do autoaperfeiçoamento é um imperativo com vistas à conquista da categoria dos Espíritos puros. De modo geral,

“[…] Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos ciúmes, as baixas cobiças da inveja; um laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário, uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos, não existe.”

Nos orbes felizes, imperam a luz, a beleza, a serenidade que conferem uma alegria constante aos indivíduos. Em decorrência disso, pode-se imaginar que as aflições e estresse tenham sido completamente banidas. Além disso, as pessoas não são perturbadas pelas experiências angustiantes da vida material ou pela convivência com os seres maus, que abundam em mundos atrasados como o nosso, mas lá inexistem.

Kardec, por fim, destaca que

“12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade.”

Não obstante a Terra encontrar-se numa categoria muito inferior à dos mundos felizes, eleva-se lentamente – seguindo as determinações do Criador – à condição de mundo regenerado. Trata-se de uma categoria intermediária, na qual a felicidade ainda não é plenamente alcançada, mas as agruras dos povos são consideravelmente arrefecidas. Com o acrisolamento das consciências e a consequente mudança no padrão comportamental, progressos em todas as áreas são factíveis tornando a vida mais suave e harmoniosa.

É importante frisar que nas moradas regeneradas,

“…o homem ainda se acha sujeito às leis que regem a matéria; a Humanidade experimenta as vossas sensações e desejos, mas liberta das paixões desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impõe silêncio ao coração, da inveja que a tortura, do ódio que a sufoca. Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside às relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis.”

Portanto, é nosso destino morar um dia num mundo feliz, mas, para merecer isso, precisamos trabalhar fortemente eliminando as nossas imperfeições e, sobretudo, amando a Deus e aos que nos cercam, como Jesus nos ensinou.

Anselmo Ferreira Vasconcelos

Fonte: Espiritismo na Rede

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Migalhas Emocionais – manipulações

O que são as ‘migalhas emocionais’ usadas para manipular os outros

É padrão de comportamento no qual uma pessoa demonstra interesse por outra de forma intermitente, mas constante, sem ter intenção real de se comprometer emocionalmente

Imagine que você conheceu uma pessoa no Tinder. Vocês começaram a se comunicar e se dão bem, até que você sentiu confiança de compartilhar os seus perfis nas redes sociais.

A conversa então mudou de plataforma e vocês já estão se comunicando há semanas pelo Instagram. De vez em quando, você publica uma história na plataforma e ele deixa um emoji. E, quando você compartilha uma foto, ele curte e deixa comentários.

Às vezes, ele dá bom dia para você por mensagem direta. Em outras ocasiões, ele envia fotos no trabalho para mostrar algo do seu dia a dia.

Até que você acredita que, como ele está conectado com você na rede social e você gosta do seu modo de ser, chegou a hora de dar o passo seguinte. Você o convida para sair, para se conhecerem pessoalmente e, assim, começar um novo tipo de relacionamento.

É aí que ele começa a dar desculpas. Diz que está muito ocupado, tem a agenda cheia de compromissos ou até que está doente. E nunca pode encontrar você.

Mas, enquanto deixa de aceitar os seus convites, ele continua interagindo com você da mesma forma nas redes sociais. E você continua respondendo, com a esperança de, algum dia, encontrá-lo fora da internet – o que nunca acontece.

Se este comportamento hipotético parece familiar, você pode ter sido vítima do que alguns psicólogos chamam de migalhas emocionais – ou breadcrumbing, em inglês.

Trata-se de um padrão de comportamento no qual uma pessoa demonstra interesse por outra de forma intermitente, mas constante, sem ter intenção real de se comprometer emocionalmente, nem estabelecer um relacionamento formal, segundo o professor de psicologia Raúl Navarro Olivas, da Universidade Castilla-La Mancha, na Espanha.

E é também uma prática de manipulação.

“A pessoa que pratica o breadcrumbing envia sinais à outra porque pretende manter sua atenção ou reforço intermitente”, explica o professor. “Ele procura, com mensagens inconsistentes ao longo do tempo, fazer com que o outro sempre esteja presente.”

É impossível identificar a sua origem, mas sabemos que este não é um fenômeno atual. O que é recente é o uso do termo breadcrumbing.

“Estão aparecendo muitos termos, especialmente no mundo anglo-saxão, que não temos forma de traduzir com precisão. Isso, às vezes, dificulta as pesquisas”, comenta ele.

Além do breadcrumbing, o professor se refere a conceitos como ghosting ou love bombing, usados para designar certos comportamentos que não são novos, mas foram potencializados com as redes sociais.

Alguns desses termos são parecidos e estão relacionados, mas, como explica Navarro Olivas, são separados nas pesquisas para melhor compreensão.

Breadcrumbing já é adotado por especialistas em comportamento de países como a Espanha, a Índia e os Estados Unidos.

Para explicar o termo, o psicólogo compara as migalhas emocionais com o funcionamento das máquinas caça-níqueis dos cassinos. Elas se baseiam na mesma lógica de reforço intermitente.

As máquinas oferecem um prêmio aos jogadores, mas de forma aleatória. Ninguém nunca sabe quando irá acontecer, para que a pessoa continue tentando.

“No breadcrumbing, existe um padrão para premiar a outra pessoa, oferecendo algum tipo de contato e, depois, dar algo negativo ou o silêncio”, afirma Navarro Olivas.

Ele acrescenta que a vítima pode sofrer consequências para sua saúde mental. Por isso, é importante identificar a prática e procurar ajuda para sair desse tipo de relacionamento

Os padrões

Em um estudo de sua autoria, realizado na Espanha e publicado em 2020 na revista acadêmica Escritos de Psicologia – Psychological Writings, Navarro Olivas e outros pesquisadores destacaram que “pouco mais de três a cada 10 participantes” do estudo indicaram terem sofrido breadcrumbing.

A pesquisa também revelou que o uso de aplicativos de encontros, relações de curto prazo ou o hábito de vigiar a conduta online de outra pessoa aumentam a possibilidade de sofrer e exercer este padrão de comportamento.

Tornou-se comum nos últimos tempos que uma pessoa vigie o comportamento da outra nas redes sociais em caso de interesse romântico. Segundo o estudo, esta é uma forma de “reduzir” a incerteza sobre o parceiro. Mas pode também fazer com que alguém questione o relacionamento, gerando tensão e causando o breadcrumbing.

“O desenvolvimento tecnológico fez com que ele fosse mais frequente”, explica o professor. “É mais fácil realizar este comportamento nas redes sociais e aplicativos de encontros, onde não existe necessariamente o contato direto com o outro.”

O padrão mais claro do breadcrumbing é a comunicação intermitente, seja pelas plataformas digitais ou pessoalmente.

“A inconsistência é acompanhada por um comportamento muito errático”, segundo Navarro Olivas. “Quando a pessoa mais interessada na relação propõe planos, o praticante do breadcrumbing não é claro na hora de se encontrar.”

O psicólogo indica que outro padrão comum no breadcrumbing é o fornecimento de informações incompletas.

Para evitar manter compromissos, o “perpetrador” pode omitir detalhes sobre sua família ou amigos, evitando que a outra pessoa passe a conhecê-los. Ele também pode se recusar a ser apresentado ao entorno íntimo da vítima.

“As pessoas que atiram essas migalhas podem fornecer alguns detalhes da sua vida pessoal, para manter a atenção da pessoa, mas não existe comunicação emocional muito profunda”, comenta ele.

Da mesma forma, as pessoas que praticam o breadcrumbing não apresentam planos futuros. “Surgirão desculpas para não se comprometerem a longo prazo, o que não coincide com seu comportamento ao continuar falando com a outra pessoa”, destaca o professor.

 O breadcrumber

A falta de estudos sobre o assunto dificulta a elaboração de perfis dos perpetradores e das vítimas do breadcrumbing.

Mas Navarro Olivas destaca que, embora não goste de rótulos, pelo que se sabe atualmente, costumam ser encontrados traços de personalidade narcisista nas pessoas que liberam as migalhas emocionais.

“Existe certa lógica, porque o que a pessoa quer é receber o reforço positivo da vítima”, explica ele.

Segundo a Clínica Mayo dos Estados Unidos, o transtorno de personalidade narcisista é uma “doença de saúde mental, na qual as pessoas têm um ar de superioridade fora do razoável”.

Por isso, eles procuram chamar a atenção dos demais para que os admirem. Mas, no fundo,são pouco seguros de si próprios e têm dificuldade para compreender os sentimentos dos demais.

“[Alguém que pratica o breadcrumbing] gosta que lhe digam coisas, que fiquem preocupados com ele, mas gosta sobretudo de ter o controle sobre o reforço que será dado”, explica Navarro Olivas.

Algumas pesquisas também indicam que as pessoas com apego evitativo são mais propensas a realizar breadcrumbing. “Porque elas são caracterizadas pela necessidade de aprovação, do reforço dos demais, mas têm dificuldade de realizar conexões emocionais”, afirma Navarro Olivas.

“Estas dificuldades não justificam seu comportamento. Mas eles fazem com que se adaptem mais à ideia de breadcrumbing, de que precisam dos outros, mas têm problemas de se conectar emocionalmente. Eles evitam o compromisso porque produz ansiedade ou estresse.”

A prática também pode estar relacionada ao apego ansioso, que ocorre quando alguém estabelece um vínculo de dependência emocional com outra pessoa, mas receia fracassar na relação ou ser abandonado.

“Não esperávamos que as pessoas que praticam breadcrumbing tivessem apego ansioso, porque pareceria mais um traço das vítimas”, explica o professor.

“Mas concluímos que sim, o que provavelmente está relacionado com fato de que eles precisam se conectar com outra pessoa que atenda às suas necessidades emocionais, mas, como receiam o abandono, nossa teoria é que o breadcrumbing seja uma forma de testar se a outra pessoa está realmente interessada.”

As consequências

As pessoas que sofrem de dependência emocional ou baixa autoestima poderiam estar em risco de permanecer por mais tempo em relacionamentos tóxicos, incluindo os baseados em breadcrumbing, segundo o pesquisador. Mas ele acrescenta que qualquer pessoa pode ser vítima da prática e sofrer consequências emocionais.

“É prejudicial”, afirma Navarro Olivas, “porque ataca nossa necessidade psicológica mais importante, que é a de pertencimento e vínculo com outros seres.”

“E, embora não tenha sido parte dos estudos, acredito que possa gerar susceptibilidade adquirida. Ou seja, quando você fracassa nas suas relações, você acredita que, de alguma forma, isso irá se repetir.”

Segundo um estudo publicado no Journal of Environmental Research and Public Health, sofrer breadcrumbing pode causar insatisfação com a vida e aumentar o sentimento de solidão e desamparo.

Frente a isso, o psicólogo espanhol recomenda estabelecer comunicação assertiva quando alguém estiver interessado em estabelecer um relacionamento com você. Ele explica que não se trata de “fazer um checklist” de coisas que a outra pessoa deve atender, mas sim  deixar claro desde o princípio quais são as expectativas.

Mas, sobretudo, Navarro Olivas é da opinião de que qualquer vítima deve procurar apoio de pessoas de sua confiança e de um terapeuta.

“Fale com seu entorno, comente o que está acontecendo para ter uma visão externa”, aconselha o psicólogo. “Quando você tem interesse romântico, pode ser que você não observe o lado negativo.”

“Na psicologia, costuma-se insistir que a pessoa deve ser resiliente, que ela precisa ter uma fortaleza interior que a faça superar as adversidades. Mas eu gosto de ver a resiliência não como um traço individual e sim como algo que surge graças às pessoas que nos rodeiam”, conclui o professor.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrio/2023/12/o-que-sao-as-migalhas-emocionais-usadas-para-manipular-os-outros.shtml

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Mansuetude e poder

A mansuetude é, por vezes, confundida com fraqueza espiritual, apatia ou indiferença. Pensa-se que a pessoa portadora dessa virtude está impedida de reclamar seus direitos e deve tolerar com passividade todos os abusos.

Acredita-se que a mansuetude não combina com o poder, pois este tem se confundido com prepotência, despotismo e violência.

Contudo, mais uma vez vamos encontrar na natureza lições preciosas a nos dizer que o verdadeiro poder anda de mãos dadas com a mansuetude.

Na natureza tudo acontece com poder e silêncio, com um silêncio poderoso. O sol nasce e se põe em profunda quietude. Move gigantescos sistemas planetários, mas penetra suavemente pela vidraça de uma janela sem a quebrar.

Acaricia as pétalas de uma flor sem a ferir e beija as faces de uma criança adormecida sem a acordar.

As estrelas e galáxias descrevem as suas órbitas com estupenda velocidade pelas vias inexploradas do Cosmo, mas nunca deram sinal da sua presença pelo mais leve ruído.

O oxigênio, poderoso mantenedor da vida, penetra em nossos pulmões, circula discreto pelo nosso corpo, e nem lhe notamos a presença.

A luz, a vida e o Espírito, os maiores poderes do Universo, atuam com a suavidade de uma aparente ausência.

Como nos domínios da natureza, o verdadeiro poder do homem não consiste em atos de violência física, mas sim numa atitude de presença metafísica. Não se trata de fazer algo, mas de ser alguém.

Quando um homem conquista o verdadeiro poder, toda a antiga violência acaba em benevolência.

A violência é sinal de fraqueza, a benevolência é indício de poder.

Os grandes mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mansuetude e a benevolência.

O Criador, que é o Supremo Poder, age com tamanha mansuetude que a maioria dos homens nem percebe a Sua ação.

Essa poderosa força, na qual todos estamos mergulhados, mantém o Universo em movimento, cria novos mundos a cada instante, faz pulsar o coração dos abutres e dos colibris, dos bandidos e dos homens de bem, na mais harmoniosa mansuetude.

Até mesmo a morte, mensageira da liberdade, chega de mansinho e, como hábil cirurgiã, rompe os laços que prendem a alma ao corpo, libertando-a do cativeiro físico.

Assim se expressa o verdadeiro poder: sem ruído, sem alarde e sem violência..

Sempre que a palavra poder lhe vier à mente, lembre-se do sol e de sua incontestável mansuetude.

O sol nasce e se põe em profunda quietude. Move gigantescos sistemas planetários, mas penetra suavemente pela vidraça de uma janela sem a quebrar.

Acaricia as pétalas de uma flor sem a ferir e beija as faces de uma criança adormecida, sem a acordar.

————————

Redação do Blog Espiritismo Na Rede com base no cap. Bem-aventurados os mansos porque eles possuirão a Terra, do livro Sabedoria das parábolas, de Huberto Rohden, ed. Alvorada.

Fonte: Espiritismo na Rede

Publicado em por admin | Deixe um comentário

O ato de bocejar nos centros espíritas

O ato de bocejar nos centros espíritas

Um dos fenômenos que chama a atenção dos observadores atentos é o bocejo que muitas pessoas apresentam quando estão nos centros espíritas. Muito já se falou a respeito, mas quase ninguém conseguiu dar uma explicação lógica para o fato. Em  ossas reuniões mediúnicas observamos que nas ocasiões em que os médiuns estão sob má influência, eles bocejam com certa frequência. Alguma coisa acontece com a organização física-perispiritual dessas pessoas, provocando o fenômeno.

Quer saber também o que acontece quando dormimos? Acompanhe no programa De Coração para Coração pelo Portal Mundo Maior

Leia também o que acontece quando você dorme durante uma palestra espírita

Verificamos também que depois de darem passividade mediúnica, os bocejos cessam imediatamente, o que mostra que a causa se liga diretamente à fenomenologia da mediunidade.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, demonstrou que os fluidos perispirituais podem concentrar-se em alguns órgãos conforme a necessidade momentânea de cada criatura. Assim, por exemplo, se uma pessoa está correndo, os fluidos perispirituais estarão concentrados nos setores mais solicitados do corpo físico, tendo em vista o exercício em questão. Acontece o mesmo com outras atividades orgânicas.

Um outro momento em que o ser humano boceja é quando está com sono. Qual seria o mecanismo para essa ocorrência? Talvez, se explicarmos uma coisa, poderemos encontrar a resposta para a outra.

Pensamos que uma hipótese pode ser levantada para explicar tanto o fenômeno natural quanto o mediúnico. É a do desequilíbrio fluídico do perispírito.

Achamos que o relógio biológico do organismo também funciona no corpo perispiritual. Aprendemos que o corpo físico é uma cópia grosseira do perispírito e, por isso, reflete toda a sua estrutura e mecanismos de funcionamento. Quando vamos dormir, alguma coisa nos coloca em condições para que o sono possa se estabelecer.

Possivelmente, é o relógio biológico que controla o fenômeno da sonolência física. Em determinados momentos e em certas situações, esse controlador natural do ser humano deve acionar um mecanismo fazendo com que haja uma concentração fluídica na área do cérebro, provocando um torpor na percepção da pessoa, predispondo ao sono. Essa concentração fluídica parece provocar o bocejo natural.

Ao chegar o momento de dormir, é comum bocejarmos algumas vezes antes de nos entregarmos ao sono. É sinal de que está chegando a hora de repousar o corpo físico que se encontra esgotado.

Depois que dormimos, o inconsciente assume as funções biológicas do organismo físico e o Espírito, em alguns casos, pode libertar-se das amarras que lhe prende à carne e até ter experiências no além. Durante o repouso a situação fluídica perispiritual tende ao equilíbrio, fazendo com que ao despertar, a criatura sinta uma agradável sensação de bem estar.

No caso do bocejo provocado por Espíritos, possivelmente ocorre algo parecido, por meio das ligações entre o Espírito desencarnado e o médium. Temos conhecimento de que essas ligações se fazem através do psiquismo. Quando um medianeiro está sob má influência ou prestes a dar passividade a uma entidade desajustada, seu psiquismo fica como que impregnado de fluidos pesados, o que provoca um torpor mental semelhante ao sono físico, fazendo-o bocejar.

Já tivemos a oportunidade de receber tais tipos de influências nas atividades mediúnicas que desenvolvemos regularmente e nos foi possível sentir como elas agem contaminando o organismo perispiritual intensamente. Os bocejos são frequentemente seguidos de um forte lacrimejamento e a sensação é de profundo mal estar.

Normalmente tais fenômenos ocorrem no período que antecede as atividades mediúnicas, principalmente no momento em que se está estudando o Evangelho. Depois do intercâmbio mediúnico, as impressões penosas cessam quase que imediatamente. Isso prova que elas estão ligadas à presença ostensiva de influências magnéticas baixas, que levam o perispírito do médium ao desequilíbrio fluídico. A “sujeira” energética concentra-se junto ao cérebro perispiritual e provoca um torpor artificial.

Quando observamos o fenômeno do bocejo nas sessões mediúnicas, geralmente ele está ligado a certas manifestações mediúnicas que vão acontecer na reunião.

Não são todas as manifestações de entidades necessitadas que provocam os bocejos. Nos casos pesquisados por nós, verificamos que se tratavam de Espíritos muito desesperados ou francamente maus que estavam junto dos médiuns.

Em outras situações, nos momentos que antecedem a palestra,  por exemplo, observamos que o passe pode atenuar as ocorrências do bocejo. Ao derramar sobre o necessitado os fluidos salutares dos bons Espíritos, eles expulsam os fluidos malsãos que causam os bocejos, oriundos da atividade obsessiva.

Uma outra circunstância em que ocorrem os bocejos é nas ocasiões de benzimentos.

Existem um grande número de senhoras, chamadas benzedeiras, que aplicam passes em crianças recém-nascidas que apresentam uma contaminação fluídica, popularmente chamada “quebranto” ou “mau olhado”.

O problema da criança acontece quando pessoas adultas, que possuem uma atmosfera fluídica malsã, ficam com a criança no colo por muito tempo. A energia ruim que circunda a pessoa contamina a atmosfera espiritual da criança. Isso deixa o bebê irritado, prejudica o seu sono e em certas situações pode causar desarranjos orgânicos. Aos estudiosos mais conservadores, pode parecer que estamos falando de fantasias, mas a experiência demonstra que fatos são reais e perfeitamente explicáveis pela Doutrina Espírita.

Depois de alguns passes, normalmente a criança afetada volta à sua normalidade. Nada se faz de mais, a não ser derramar o fluido salutar dos bons Espíritos sobre a atmosfera malsã da criança, limpando-a dos fluidos nocivos.

Algumas benzedeiras têm o hábito de atrair o “mal” para elas.  Depois de ministrarem o passe na criança, começam a bocejar seguidamente.

Afirmam que estão “limpando” a criança, mas na verdade o que fizeram foi agir com o pensamento, atraindo o fluido nocivo para a sua própria atmosfera psíquica, gerando na área do cérebro perispiritual o desequilíbrio fluídico que provoca os bocejos. Em todas as crendices populares existe um mecanismo da grande ciência do Espiritismo, que pode ser pesquisado por observadores.

Pode-se afirmar com certeza, que toda pessoa que boceja seguidamente no momento da reunião mediúnica, se não estiver sob a influência do cansaço, está sob má influência espiritual. A investigação mediúnica desses fenômenos pode ser objeto de estudo das casas espíritas sérias.

Autor:  José Queid Tufaile Huaixan

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Afinal, para quê tudo isso? Reflita com Léon Denis

denis3A alma deve conquistar, um por um, todos os elementos, todos os atributos de sua grandeza, de seu poder, de sua felicidade, e, para isso, precisa do obstáculo, da natureza resistente, hostil mesmo, da matéria adversa, cujas exigências e rudes lições provocam seus esforços e formam sua experiência. (…). É indispensável a luta para tornar possível o triunfo e fazer surgir o herói.

Sem a iniquidade, a arbitrariedade, a traição, seria possível sofrer e morrer por amor da Justiça? Cumpre que haja o sofrimento físico e a angústia moral para que o espírito seja depurado, limpe-se das partículas grosseiras, para que a débil centelha, que se está elaborando nas profundezas da inconsciência, se converta em chama pura e ardente, em consciência radiosa, centro de vontade, energia e virtude. Verdadeiramente só se conhecem, saboreiam e apreciam os bens que se adquirem à própria custa, lentamente, penosamente.

A alma, criada perfeita, como o querem certos pensadores, seria incapaz de aquilatar e até de compreender sua perfeição, sua felicidade. Sem termos de comparação, sem permutas possíveis com seus semelhantes, perfeitos quanto ela, sem objetivo para sua atividade, seria condenada à inação, à inércia, o que seria o. pior dos estados; porque viver, para o espírito, é agir, é crescer, é conquistar sempre novos títulos, novos méritos, um lugar cada vez mais elevado na hierarquia luminosa e infinita. E, para merecer, é necessário ter penado, lutado, sofrido.

Para gozar da abundância, é preciso ter conhecido as privações. Para apreciar a claridade dos dias é mister haver atravessado a escuridão das noites. A dor é a condição da alegria e o preço da virtude, e a virtude é o bem mais precioso que há no Universo. Construir o próprio eu, sua individualidade através de milhares de vidas, passadas em centenárias de mundos e sob a direção de nossos irmãos mais velhos, de nossos amigos do Espaço, escalar os caminhos do Céu, arrojarmo-nos cada vez mais para cima, abrir um campo de ação cada vez mais largo, proporcionado à obra feita ou sonhada, tornarmo-nos um dos atores do drama divino, um dos agentes de Deus na Obra Eterna; trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do destino! Assim, a alma sobe de esfera em esfera, de círculos em círculos, unida aos seres que tem amado; vai continuando as suas peregrinações, em procura das perfeições divinas.

Chegada às regiões superiores, está livre da lei dos renascimentos; a reencarnação deixa de ser para ela obrigação para ficar somente ato de sua vontade, o cumprimento de uma missão, obra de sacrifício. Depois que atingiu as alturas supremas, o Espírito diz, às vezes, de si para si: “Sou livre; quebrei para sempre os ferros que me acorrentavam aos mundos materiais. Conquistei a ciência, a energia, o amor. Mas, o que granjeei, quero reparti-lo com meus irmãos, os homens, e, Para isso, irei de novo viver entre eles, irei oferecer-lhes o que de melhor há em mim, retomarei um corpo de carne, descerei outra vez para junto daqueles que penam, que sofrem, que ignoram, para ajudá-los, consolar, esclarecer”. E, então, temos Lao-Tse, Buda, Sócrates, Cristo, numa palavra, todas as grandes almas que têm dado sua vida pela Humanidade!

Transcrição parcial do capítulo XVIII – Justiça e Responsabilidade – O Problema do Mal, do livro O Problema do Ser, do Destino, da Dor, de Leon Denis.

Fonte: Grupo de Estudos Avançados Espíritas

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Desencarne Coletivo – Deus e a Chapecoense

Ricardo Di Bernardi

Nos dias que se sucederam ao infeliz episódio do desastre aéreo que ceifou dezenas de vidas da querida Chapecoense, nós tivemos a oportunidade de escutar inúmeras opiniões, conceitos e explicações extremamente tímidas no que concerne às causas espirituais do lamentável evento.

Desde as primeiras obras psicografadas por Chico Xavier no século passado já eram mencionados os fenômenos de fluxo das energias, as sintonias entre campos vibratórios do psicossoma e o magnetismo impresso nas moléculas do corpo espiritual. Campos energéticos que atraem outros semelhantes pelo automatismo da Lei de Ação e Reação.   Estamos em pleno século XXI e constrangidos, observamos o deficiente conhecimento desta fenomenologia por significativo segmento de estudiosos do mundo extrafísico.

Associando-se ao precário estudo, há uma excessiva preocupação a não atribuir-se o fenômeno da “culpa” às vítimas correlacionando o fato às vidas pretéritas. Prefere-se uma postura semelhante às religiões tradicionais, entendendo que o fenômeno decorreu do livre arbítrio de todos e de uma mera fatalidade. A Doutrina Espírita não é assim.

É verdade que a espiritualidade superior não arquiteta uma meticulosa ação que reúne num mesmo lugar, culpados de ontem para se tornarem vítimas de iguais sofrimentos causados a terceiros. Sucede sim, outro fenômeno. A Espiritualidade Superior procura amparar amorosamente àqueles que trazem em sua estrutura, em seus tecidos perispirituais o magnetismo que os ligará, automaticamente a um determinado fato.

Os campos vibracionais do corpo espiritual são geradores de ondas que exteriorizam arquivos pretéritos e essas energias buscam, pelo automatismo da natureza, situações pontuais.

Também, é verdade que atribuir a mera causalidade fatos de tamanha gravidade como desencarnes coletivos, seria demonstrar o desconhecimento da Lei Universal e do mecanismo perfeito e automático da dinâmica energética que rege a todos os Seres que geram com atos, pensamentos e sentimentos.

Em função da falta de profundo mergulho em obras como “Mecanismos da Mediunidade” e  “Evolução em Dois Mundos “ lemos posturas, aparentemente modernas, de críticas às explicações do resgate coletivo, tais como no circo em Niterói R.J.,   quando o emérito  Chico Xavier recebeu, psicograficamente, informações de que também em um circo romano aquelas pessoas teriam participado de atrocidades.

Existem no corpo astral, de cada um de nós, trilhões de núcleos energéticos que armazenam os detalhes do “modus vivendi” das mais longínquas encarnações. Cada núcleo destes emite uma frequência de onda com características específicas. O conjunto dessas energias gera uma vibrante psicosfera que determinará fragilidades, tendências, vocações e valores, os quais pela “Lei de “Ação e Reação” proporcionam altíssimas probabilidades de sermos atraídos a determinados eventos. Isto é o que pode ter acontecido.

Acima de tudo, é o momento de irradiarmos energias de amor, carinho e amparo a simpaticíssima delegação da Chapecoense que continua viva, na dimensão extrafísica, sendo acolhida por parentes e amigos do mundo astral.

A movimentação psíquica de solidariedade que receberam de todo o planeta os facilitará a se adaptarem mais rapidamente a nova vida, que com certeza será bela e agradável após a recuperação do trauma.

Quiçá, muitos destes atletas, dirigentes e jornalistas podem ter sido instrumentos de Deus para mobilizar as melhores energias mentais no planeta, sim, pois há tempo não se via tantas pessoas no mundo emanarem amor, em ondas de luz e essas energias   contribuíram em uníssono para a melhoria da psicosfera do planeta.

Queridos amigos da chapecoense: muito obrigado!

Felicidades a todos!

A morte não existe!

Dr Ricardo Di Bernardi – Homeopata

Fonte: Espiritualidade e Medicina

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Perdão que alivia

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.  O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 1 Coríntios 13:4-7

O amadurecimento nos leva a repensar atitudes e relevar muitas coisas que eram tidas como extremamente importantes. A intencionalidade por trás dessa atitude pode ser diversa, mas todas as vezes que abrimos mão da mágoa, da tristeza e de lembranças negativas saímos ganhando.

É importante compreender que o perdão não é um sentimento, mas um estado de espírito, uma disposição interna de realizar algo. Mas eu só consigo colocar em prática uma intenção se estou realmente convencido de que essa é a atitude correta a ser feita.

Paulo, na sua carta aos Coríntios fala sobre o amor. O amor é um sentimento. É através desse sentimento que poderemos chegar à conclusão verdadeira que a melhor atitude para nós mesmos é conseguir perdoar. Enquanto não tivermos essa convicção íntima a energia não flui de maneira adequada e não nos traz a paz e a certeza de que precisamos para tomar as atitudes necessárias.

Mas como tudo na vida, perdoar é um processo. E como todo processo, tem começo, meio e fim e pode ser treinável. Eu posso educar a minha mente, o meu espírito, o meu cérebro a agir de forma a ficar com a melhor parte. Basta entender.

Vamos fazer uma analogia. Imagine a sua memória como uma imensa caixa de brinquedos. Ali tem coisas novas e velhas, boas e ruins, bonitas e feias. O problema é que todas as vezes que meu espírito pensa, para que esse pensamento chegue à minha mente ele precisa passar pela minha caixa de memórias. Então é fácil entender que ele sai do meu espírito de forma pura e cristalina na sua essência, mas ao passar pelo emaranhado de memórias que carregamos ele se “contamina” e chega no cérebro já modificado pelas coisas que guardo, que armazeno em meu interior.

É por isso que todas as religiões dizem que perdoar é o caminho para a leveza interior. Porque se consigo limpar essa caixa, os meus pensamentos passam a alcançar meu cérebro sem tanta coisa pendurada e aí consigo ter mais foco, mais agilidade e mais conexão com o alto.

No processo de perdoar é importante compreender que nossa memória funciona como uma resistência elétrica. Imagine um ferro de passar roupas. Se você o ligar na tomada ele ficará quente. Enquanto ele estiver conectado a tomada, continuará quente. Porém, mesmo que você o desligue e ele permaneça desligado por meses, no instante em que ele for conectado à tomada se aquecerá novamente. Assim é nossa memória e seus conteúdos. Eles não vão desaparecer. Sempre que houver uma conexão as lembranças boas ou ruins vão encher nosso cérebro nos trazendo as mesmas sensações.

É preciso ressignificar, ou seja, dar um significado novo àquela lembrança. Uma das formas de fazer isso é entrar em contato voluntário com a lembrança dentro de um estado meditativo, nos colocando como observadores do processo, abertos para ver a nossa parte e de coração escancarado para entender os porquês do outro.

Jesus nos lembra no evangelho de Mateus que a estrada é estreita, mas que o jugo é leve pra quem se dispor a trilhar esse caminho que traz verdade e vida. Nunca vai ser fácil perdoar verdadeiramente. O crescimento espiritual é das tarefas mais difíceis que temos. Mas as consequências de se tomar essas atitudes volitivamente são maravilhosas. A cada conquista uma alegria imensa.

No processo de perdoar comece por você mesmo. Pegue leve. Tudo vai dar certo. Abra mão das listas de defeitos alheios, das listas de frases ditas nas brigas, das lembranças de atitudes tomadas no calor das discussões. Sejamos menos históricos, não precisamos voltar vinte anos atrás sempre que surge um determinado assunto. É tempo de seguir em frente com leveza.

Paz e luz!

Postado por Sérgio Vencio

Fonte: Medicina e Espiritualidade

Publicado em por admin | Deixe um comentário

Contato com Espíritos no presídio

Wellington Balbo

Alguns anos atrás que minha filha, Olívia, começou a queixar-se de influência espiritual.

Segundo ela, o Espírito de uma menina a perseguia causando-lhe embaraços de todos os tipos. Falava com ela e aparecia-lhe em sonhos.

Como na época morávamos juntos, resolvi, certo dia, conversar com o Espírito que perseguia minha filha.

Fomos até a sala, oramos, e eu, em voz alta, iniciei a fala. Disse para o Espírito sobre Jesus, abordei a questão do amor, perdão, vida após a morte e pedi que seguisse seu caminho, deixando Olívia em paz.

A situação resolveu-se e, desde então minha filha não mais acusou a presença da entidade que apoquentava sua vida.

Bem provável ter sido o caso de um Espírito ainda sem conhecer sua real condição. Parecia-me, realmente, uma entidade muito mais perdida do que má.

Por que contei este fato?

Porque algumas pessoas consideram que não se deve estabelecer contato com os Espíritos fora do ambiente do centro espírita.

Esquecem, todavia, que os Espíritos estão entre nós, a todos os instantes, e basta o pensamento para que os imortais estejam mais próximos.

Aliás, Kardec trouxe um Espiritismo com Espíritos, sem grande cerimônia para contatar os imortais.

Segundo Kardec bastava o sentimento fervoroso e o desejo sério de instruir-se para, então, ser digno de receber os bons Espíritos, fosse onde fosse, estivesse onde estivesse.

Muito mais do que a geografia, ensina Kardec que o importante é o coração puro.

No que concerne a manifestação dos Espíritos, Kardec narra pitoresco fato:

Conta ter recebido carta de um presidiário que se convertera ao Espiritismo.

A missiva está na Revista Espírita, fevereiro de 1864. O detento informa que o Espiritismo teve o poder de levá-lo à reflexão.

Ele, então, ao conhecer o Espiritismo pode perceber o mal que havia feito, sendo, pois, despertado para uma nova vida por meio da fé.

Mas eis que o presidiário informa estar contatando os bons Espíritos no presídio.

E eles, os bons Espíritos, não lhe faltavam a assistência e compareciam, ditando-lhe palavras reconfortantes.

Ou seja, o presidiário era médium e fazia o contato com os Espíritos na própria em que se encontrava.

Kardec encerra o texto de forma primorosa, informando-nos que nenhum obstáculo, nem mesmo o fato de se estar na prisão é impeditivo de confabular com os bons Espíritos, pois estes manifestam-se aqui, ali e acolá…

Quer o homem queira ou não, os Espíritos são livres e não aceitam que neles se coloquem amarras de qualquer tipo.

E como são livres, estarão onde bem quiserem e entenderem, não sendo, pois, apenas o centro espírita palco para a presença das entidades desencarnadas.

Elas estão por toda parte e a nós cabe entender como se processa este contato para, então, colaborar de alguma forma, caso se faça necessário nosso concurso.

Pensemos nisso.

Wellington Balbo

Fonte: Espiritismo na Rede

Publicado em por admin | Deixe um comentário

“Ninguém nunca viu a Deus”

Para a mística a verdade é sempre interior.

Márcia Junges e Ricardo Machado 

O italiano Marco Vannini discute a mística, trazendo a experiência do nada e do mistério como elementos importantes para pensar a problemática

Marco Vannini, um dos principais nomes sobre o tema no mundo, não considera que a mística seja uma experiência do mistério. “O assim chamado mistério é colocado por nós, e a nós são dadas as respostas. Certamente, há coisas que ignoramos, e a realidade de Deus é uma delas, pelo que podemos falar sempre e em qualquer caso somente da nossa experiência, evitando como a peste a tentação de dizer que ela é a ‘experiência de Deus’”, sustenta Vannini em entrevista por e-mail à IHU On-Line. “A experiência do espírito é o conhecimento da nossa mais real essência, que é a essência humana, além de cada distinção acidental de cultura, religiões, modos de vida, todos relacionados com a contingência espaço-temporal, e também além da diferença de gênero, que subsiste em nível corpóreo e, em certa medida, também em nível psíquico, mas é inexistente no nível espiritual”, complementa.

Na avaliação de Marco Vannini, a experiência da ausência é, na realidade, a mesma do “nada”. “A experiência do nada não é somente negativa, trágica, mas pode ser sim extremamente frutífera, como purificadora de todos os ídolos, de toda a pretensa certeza”, considera. Para o pensador, vivemos em momento histórico em que a história e a ciência erodiram a crença que a fé proporcionava. “‘O deserto cresce’, Nietzsche já advertia há um século e meio que cada parte é responsável pela a ausência de propósito, o nada no seu sentido mais trágico”, sustenta. “Quando várias correntes místicas compreendem cada uma o específico da outra, entendem que são gotas do mesmo mar”, avalia o entrevistado.

Marco Vannini é um dos maiores estudiosos italianos da mística especulativa. Além de ter editado Mestre Eckhart e muitos outros místicos, ele é autor de La morte dell’anima. Dalla mistica alla psicologia (Ed. Le Lettere, 2004); Storia della mistica occidentale (Ed. Mondadori, 2005); Mistica e filosofia (Ed. Le Lettere, 2007); La mistica delle grande religioni (Ed. Le Lettere, 2010); Prego Dio che mi liberi da Dio (Ed. Bompiani, 2010), dentre outros. Em português, foi traduzida a sua Introdução à mística (Edições Loyola, 2005).

Neste ano Marco Vannini publicou os seguintes livros: Lessico Místico. Le parole della saggezza (Le Lettere: Firenze, 2013), Oltre il Cristianesimo. Da Eckhart a Le Saux (Bompiani: Milão, 2013) e, juntamente com Corrado Augias, Inchiesta su Maria. La storia vera della fanciulla che divenne mito (Rizzoli: Milão, 2013).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que sentido a mística é uma experiência do Mistério? Como a modernidade compreende essa vivência?

Marco Vannini – Não direi absolutamente que a mística seja a experiência do mistério. O assim chamado mistério é colocado por nós, e a nós são dadas as respostas. Certamente, há coisas que ignoramos, e a realidade de Deus é uma delas (Deum nemo vidit unquam, diz São João)  , pelo que podemos falar sempre e em qualquer caso somente da nossa experiência, evitando como a peste a tentação de dizer que ela é a “experiência de Deus”. Podemos, todavia, dizer que é experiência de uma profundidade — ou de uma altura — vertiginosa que vivemos como experiência da realidade mais essencial de nós mesmos, e, juntamente, como experiência de uma bem-aventurança de outra maneira absolutamente desconhecida. Por certo, ela se refere implicitamente à luz eterna, ao Bem, ou seja, ao que chamamos comumente Deus, mas não podemos, a rigor, deduzir nenhuma teologia e, nesse sentido, o mistério permanece um mistério.

Acredito que a modernidade não aceita — e com razão — as afirmações dos teólogos, ou dos que se dizem místicos, de apresentar sua própria vivência como experiência de conhecimento de Deus, experiência de Deus, mas, em vez disso, compreende perfeitamente, e até aceita de bom grado, por seu caráter de verdadeiro conhecimento mil vezes superior ao das psicologias superficiais, a experiência mística como experiência de nós mesmos, no sentido recém-indicado.

IHU On-Line – Quais são as palavras fundamentais, o léxico que pode descrever a mística?

Marco Vannini – No meu Léxico Místico, publicado este ano, descrevi umas sessenta palavras importantes para a mística, mas também poderíamos acrescentar outras. Elas são todas importantes, pelo menos no sentido de que a realidade é uma só, pelo que todas as palavras e os conceitos estão indissoluvelmente ligados uns aos outros, e não é possível isolá-los, por assim dizer, e descrevê-los isoladamente, sem, em conjunto, referirem-se também às outras. Se eu devo fazer uma hierarquia, direi que algumas das principais palavras-chave são: amor, desapego, humildade, Uno, vazio.

IHU On-Line – Em outra entrevista à nossa publicação , o senhor afirmou que a experiência do espírito vai muito além das distinções espaço-temporais e de gênero. Qual é a importância de se pensar uma mística para além dessas categorias?

Marco Vannini – Como dizia acima, a experiência do espírito é o conhecimento da nossa mais real essência, que é a essência humana, além de cada distinção acidental de cultura, religiões, modos de vida, todos relacionados com a contingência espaço-temporal, e também além da diferença de gênero, que subsiste em nível corpóreo e, em certa medida, também em nível psíquico, mas é inexistente no nível espiritual. É evidente que esse conhecimento estabelece uma comunhão entre todos os seres humanos, em todos os lugares (e em todos os tempos), infinitamente superior àquela que se desejaria fundar sobre categorias de caráter político-social (por exemplo, a do direito) ou moral-religioso (por exemplo, o assim chamado ecumenismo), pois estão elas mesmas sujeitas ao condicionamento espaço-temporal.

IHU On-Line – Por que é preciso partir da antropologia clássica para compreender a mística?

Marco Vannini – Porque a antropologia clássica — bem como a cristã que dela se deriva — tem a experiência do ser humano como corpo, alma, espírito, enquanto aquela que prevalece em nossos tempos ignora simplesmente a realidade espiritual, e permanece no dualismo corpo-alma, de fato, corpo-psique. Assim o espírito, em vez de ser o que é, ou seja, o constituinte essencial do homem, desaparece em meio à névoa da indeterminação — também em nível teológico (o Espírito Santo). É necessário, portanto, primeiro ter uma experiência do espírito, e isso somente é possível ao se recuperar a conexão entre filosofia e misticismo, sem o que essa se perde no sentimentalismo.

IHU On-Line – Por que a instituição eclesiástica sempre suspeitou da mística enquanto tal?

Marco Vannini – Em primeiro lugar, porque a mística é como a filosofia — na verdade, a mística é filosofia, como acertadamente revela Pierre Hadot  — e, como tal, não reconhece nenhuma autoridade acima da correta razão. Em segundo lugar, porque para a mística a verdade é sempre interior, e o próprio Deus interior intimo meo, como disse Agostinho , para o qual a relação com Deus existe somente na interioridade, sem mediação alguma, e isso, obviamente, tira não só o peso da Igreja, como também da Escritura. Em terceiro lugar, enfim, para a mística, a experiência paulina da unidade e da liberdade do espírito é intrínseca: quid adhaeret domino, unus spiritus est, e ubi spiritus domini, ibi libertas  , e esse segundo elemento, a liberdade, é sempre percebido como perigoso, tanto pela autoridade eclesiástica, quanto pela civil.

IHU On-Line – Qual é o legado místico de Etty Hillesum , Ângela de Foligno  e Marguerite Porete ? Quais são as peculiaridades da relação dessas mulheres com a transcendência?

Marco Vannini – Trata-se de três figuras femininas muito distantes não somente no tempo — Ângela e Marguerite do século XIII ao século XIV, Etty do século XX — mas também de características pessoais, meio ambiente, cultura, até mesmo religião, visto que Etty era de família judia. Diria em primeiro lugar que elas, juntas, mostram como a experiência mística tem sempre elementos essenciais comuns, não obstante as diferenças espaço-temporais, como disse anteriormente. Com a transcendência há uma relação apenas no sentido da ausência que poderíamos expressar, utilizando as palavras de outra grande mulher mística de nosso tempo, Simone Weil : “O contato com as criaturas nos é dado pelo sentido da presença, o contato com Deus nos é dado pelo sentimento da ausência. Em comparação com essa ausência, no entanto, a presença é mais ausente que a ausência”. Essa é também a herança mais importante que recebemos delas.

IHU On-Line – Qual é a importância do Nada na mística dessas três mulheres? E qual é a atualidade dessa compreensão e relação com a transcendência?

Marco Vannini – A resposta a essa pergunta está, pelo menos implicitamente, já contida na precedente. A experiência da ausência é, na realidade, “a mesma do nada e não há dúvida de que ela seja de singular atualidade no tempo presente, quanto o era na época do niilismo”. Essas mulheres mostraram que a experiência do nada não é somente negativa, trágica, mas pode ser sim extremamente frutífera, como purificadora de todos os ídolos, de toda a pretensa certeza. Acontece, portanto, que se mantém a orientação da inteligência, de toda a alma, em direção ao Absoluto, ou seja, a fé. Como não lembrar o que ensina São João da Cruz ? A fé não produz certezas, mas conduz na noite, isto é, no nada, mas é precisamente nessa noite, nesse nada, que resplandece a luz.

IHU On-Line – Como tais experiências místicas podem inspirar e dar sentido à existência em nosso tempo?

Marco Vannini – Também essa pergunta conecta-se às duas precedentes, e a resposta é similar. Estamos realmente em um momento em que a história e a ciência erodiram a crença de que a fé proporcionava até ontem. “O deserto cresce”, Nietzsche  já advertia há um século e meio que cada parte é responsável pela a ausência de propósito, o nada no seu sentido mais trágico. Eis então que um testemunho como o de Etty, que descobre a presença de Deus no meio do campo de concentração nazista onde ela mesma está trancada por ajudar os seus compatriotas, e naquele horror foi capaz de pensar e escrever que estava bem assim, que tudo estava bem, assume um relevo verdadeiramente extraordinário, muito mais autêntico e convincente do que tanta teologia, para não falar das psicologias.

IHU On-Line – Qual é a principal peculiaridade sobre a mística de Maria, mãe de Jesus  ?

Marco Vannini – Maria é mesmo o arquétipo da mística pelos traços que lhe caracterizam a figura — a única testemunhada nos Evangelhos — ou seja, humildade e desapego. São esses os elementos que compõem o vazio na alma, ou seja, matam o amor a si próprio e deixam o espaço à graça de Deus. Não é coincidência que ela é, desde o princípio, chamada de “cheia de graça”. Os grandes místicos de todos os tempos, de Orígenes  a Meister Eckhart a Angelus Silesius , compreenderam muitíssimo bem como o nascimento do Filho, do Logos, não estava somente uma vez no ventre de Maria, mas em todo o tempo, em cada instante, em cada alma humilde e distante, que criou o vazio em si própria.

IHU On-Line – Que aproximações poderiam ser tecidas entre a mística cristã, a brahmane  e a budista? Nesse sentido, quais são as sutilezas da mística de Mestre Eckhart e Herni Le Saux ?

Marco Vannini – Diria que, se for verdade, como é verdade, a mística é sempre substancialmente igual a si mesma, de modo que os grandes místicos de todos os tempos assemelham-se “desde quase a identidade”, como dizia Simone Weil; por outro lado, é também verdade que os vários místicos colocam ênfase em diferentes aspectos da experiência única. Reconhecer a realidade do espírito, matar o egoísmo de apropriação, extinguir o desejo, tornar vazio a si próprio são elementos presentes em cada mística, porém desenvolvidos e enfatizados em alguns mais que em outros. Sob esse aspecto diria que o cristianismo, o bramanismo e o budismo são complementares.

Coloquei De Eckhart a Le Saux como subtítulo do meu último livro Oltre il cristianesimo (Milano: Editora Bompiani, 2013) para evidenciar como, da Idade Média até hoje, a experiência de um “eu sou” no fundo da alma, é completamente idêntica a das palavras de Jesus: “Antes que Abraão existisse, eu sou”, constituía o núcleo essencial do cristianismo — “mais além” o cristianismo como teologia ligada aos tempos e lugares. A importância de Le Saux não é maior que a de Eckhart, mas, para nós, talvez, a mais significativa, uma vez que se trata de um nosso contemporâneo, com uma imagem de mundo que certamente não é medieval, e então passada por intermédio da cultura e da espiritualidade da Índia, que foi a que revelou o verdadeiro significado do cristianismo.

Quando várias correntes místicas compreendem cada uma o específico da outra, entendem que são gotas do mesmo mar.

Fonte: ihuonline.unisinos.br/artigo

Publicado em por admin | Deixe um comentário