O que acontece com o outro me importa

O que acontece com o outro me importa

Sandra Marinho

Tem uma fábula que acredito ser conhecida da maioria, que é a “Fábula do rato e da ratoeira”, que nos conta o seguinte: Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali. Ao descobrir que era uma ratoeira, ficou aterrorizado. Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:

– Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!

A galinha disse: – Desculpe-me, Senhor Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato foi até o porco e disse: – Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!

– Desculpe-me, Senhor Rato – disse o porco –, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranquilo que o Senhor será lembrado nas minhas orações.

O rato dirigiu-se à vaca, e ela lhe disse: – O quê? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para casa abatido, tendo de encarar a ratoeira sozinho. Naquela noite, ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que foi pego. No escuro, ela não viu que a ratoeira havia prendido a cauda de uma cobra venenosa, que a picou. O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Quando voltou, ainda tinha febre. Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. E lá se foi a galinha para a panela! Como a mulher demorava a se recuperar, os amigos e vizinhos vieram em grupos visitá-la. Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco. E lá se foi o porco.

Infelizmente, a mulher não melhorou e acabou morrendo por complicações. E muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar todo aquele povo. E lá se foi a vaquinha.

Essa fábula nos leva a refletir sobre um atributo fundamental para nós humanos que nos encontramos no orbe em escalada evolutiva. O ser humano é na essência um ser social. Precisamos uns dos outros para viver, visto que ninguém aprende e ninguém cresce sem a ajuda do outro. Essa dependência, na verdade, deve-se ao fato de que todos nós, embora sejamos Espíritos únicos, individuais, cada qual com sua própria essência, formamos todos juntos uma rede chamada “humanidade”, mergulhada no Fluido Cósmico. E nessa condição, além da evolução individual, temos a evolução do coletivo, ambas guiadas pelo amor de Deus.

Por essa razão, queiramos ou não, nos encontramos envolvidos uns com os outros. E assim, qualquer coisa que nos ocorre repercutirá não somente em nós, mas, de certa forma, no coletivo também. Tudo isso faz muito sentido na prática do “amar ao próximo como a ti mesmo” ensinado por Jesus. O que significa desenvolver a simpatia pelo outro irmão em humanidade.

Então, o que significa simpatia? A palavra “simpatia” tem origem no grego (sym = união + pathos = emoção, sentimento) e significa “sentir com”. Ou seja, a dor do outro passa a me incomodar, tornando-me capaz de sentir com ele. Tudo o que machuca meu irmão em humanidade passa a ser um problema meu também, porém não no sentido restrito dessa interpretação, até porque quando nos desesperamos com o problema de alguém não ajudamos em nada ou até pioramos. E sim, no sentido mais amplo, isto é, ter sensibilidade suficiente de perceber o outro e com isso ser capaz de intervir de certa forma para a melhoria ou resolução do problema.

Como exemplo, podemos falar de uma questão bem atual, que são os nossos irmãos refugiados de países em guerra ou submetidos a governos tirânicos. A polêmica dos países procurados pelos que deixam seus países de origem, de aceitar ou não esses irmãos e irmãs, está sempre em pauta nas notícias. Mesmo no Brasil, registramos tristes ocorrências de resistência em receber nossos vizinhos venezuelanos, e recentemente a eleita primeira-ministra da Itália já anunciou o fechamento da entrada de refugiados naquele país.

Enfim! É fato que existe a preocupação de que ao recepcionar os refugiados talvez implique em menos oportunidades para os nativos do país que os recebe, mas, por outro lado, somos todos uma única humanidade e estamos certos da pluralidade das existências. O nosso “não” de hoje, ao virar as costas para a dor desses irmãos, não poderá ocasionar um golpe pior para todos amanhã? No futuro não poderemos ser nós os refugiados? E quem pode garantir se já não o fomos e estamos no aqui e agora usufruindo de relativa sanidade e de certa estabilidade graças a mãos fraternas estrangeiras que nos acolheram em algum dia do passado, apesar de “não terem nada a haver com isso?” Pensemos nisso…

Sandra Marinho

Fonte: Folha Espírita

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