O Centro espírita simples é e sempre será o baluarte da Terceira Revelação
O Espiritismo sonhado por Kardec era o mesmo Espiritismo que Chico Xavier exemplificou por mais de setenta anos, ou seja, o Espiritismo do Centro Espírita modesto; da visita e socorro aos desprovidos de bens, da distribuição da roupa, do pão, da “sopa fraterna”, da água fluidificada, do Evangelho no Lar. O grande desafio da Terceira Revelação deve ser o crescimento, sem perder a simplicidade que a caracteriza como revelação..
Reafirmamos sempre que o movimento Espírita institucionalizado e “oficial” se estrutura sob direção hierarquizado, elitista, mercantilista e vocação vaticanista de infalibilidade. O que os Espíritas precisam é observar, com mais critério, os fundamentos doutrinários que nos impele à íntima reforma moral. Nessa tarefa, individual, intransferível e impostergável, está a nossa melhor e obrigatória colaboração para com o avanço moral do Planeta em que vivemos, pois, moralizando-se cada unidade, moraliza-se o conjunto.
Um grande exemplo de espírita que viveu longe do chamado Espiritismo “oficial” e anti-burocrático foi Chico Xavier. Que dizia sempre sobre a necessidade da preservação do Espiritismo tal qual nos entregaram os Mensageiros do amor, bebendo-lhe a água pura, sem macular-lhe a cristalina fonte. A maior frustração de Paulo de Tarso se deu exatamente no Aerópago de Atenas, quando os sabichões de então o dispensaram, alegando que haveriam de ouvi-lo em outra oportunidade.
O filho de Pedro Leopoldo lembrava que o Espiritismo desejável é aquele das origens, o que nos faz lembrar Jesus, ou seja, o Espiritismo Consolador prometido, o Espiritismo em sua feição pura e simples, o Espiritismo do espírita pobre, desempregado, que hoje não pode pagar taxas e ingressar nos pomposos eventos. O Espiritismo desejável é aquele dos velhos, das crianças, da natureza, do “céu aberto” ou debaixo das árvores. Por que não?
Chico Xavier, em 1977, advertiu: “É preciso fugir da tendência à ‘elitização’ no seio do movimento espírita (…) o Espiritismo veio para o povo. É indispensável que o estudemos junto com as massas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos (…). Se não nos precavermos, daqui a pouco estaremos em nossas Casas Espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais (…).” [1]
Elogiemos os congressos, simpósios, seminários, encontros importantes para a divulgação e à troca de experiências doutrinárias, mas não podemos esquecer que a Doutrina Espírita não se tranca nos salões luxuosos, não se enclausura nos anfiteatros acadêmicos e nem se escraviza à liderança “oficial”. À semelhança do Cristianismo dos tempos apostólicos, o Espiritismo é dos Centros Espíritas simples, muitos deles localizados nas periferias das grandes cidades, nos morros, nas favelas, nos subúrbios.
Graças a Deus!, há muitos Centros Espíritas bem dirigidos em vários municípios do País. Graças a esses Espíritas e médiuns humildes, o Espiritismo haverá de se manter simples e coerente, no Brasil e quiçá no Mundo, conforme os Benfeitores do Senhor o entregaram a Allan Kardec.
A liderança “oficial” do movimento espírita brasileiro não acompanha a expansão da base, ou seja, dos centros espíritas (não estou fazendo referências aos centrões espíritas luxuosos). Há muito a ser realizado para a compreensão da união entre os espíritas – como laço moral, solidário e espiritual. O respeito à diversidade das situações e condições dos centros espíritas, e o conhecimento dessas realidades para o melhor atendimento e apoio às reais demandas das diversificadas instituições. O trabalho de união deve ser constantemente adequado às bases do movimento, ou seja-os legítimos centros espíritas.
Em suma, reafirmamos que o progresso da Doutrina dos Espíritos não advirá por meio de lideranças hierarquizadas, místicas e mercantilistas à semelhança dos vendilhões do templo. O grande desafio será difundir o Espiritismo gradualmente através do intercâmbio fraterno do “boca a boca”, “pessoa a pessoa”, “consciência a consciência”, “ombro a ombro”, sem absoluta necessidade das algemas burocráticas de instituições e lideranças “oficiais” que se apropriaram do Movimento doutrinário com precários lastros de amor, desprendimento e humildade.
Pensemos nisso!
Referência:
[1] Entrevista concedida ao Dr. Jarbas Leone Varanda e publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e publicada no Livro intitulado Encontro no Tempo, org. Hércio M.C. Arantes, Editora IDE/SP/1979