Idade espiritual
Juan Carlos Orozco
A idade pode ser definida como o tempo de vida decorrido desde o nascimento até uma determinada data. A palavra idade também poderá ter outras conotações, tais como: Idade Média; terceira idade; idade crítica etc.
Para as nossas reflexões, vamos abordar a idade espiritual, cuja correlação com a idade do corpo físico será tratada segundo a ótica da Doutrina Espírita.
O primeiro parâmetro para se quantificar a idade de uma pessoa será o tempo de vida, podendo ser material ou espiritual.
O tempo material é representado por um período contínuo de eventos ou fatos que se sucedem, dando uma ideia de passado, presente e futuro, podendo ser uma sucessão de séculos, anos, dias, horas, minutos e segundos, ou um meio contínuo no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos irreversíveis.
Para quantificar o tempo na Terra, usamos como referencial que o nosso planeta leva um ano para percorrer a sua órbita ao redor do Sol e um dia para dar uma volta em torno do seu próprio eixo. Pelo calendário gregoriano, o ano coincide aproximadamente com uma volta da Terra ao redor do Sol, perfazendo um total de 365 dias.
Em A Gênese, no Capítulo VI, Uranografia geral, “O espaço e o tempo”, Allan Kardec expressa que o tempo é uma sucessão das coisas ligado à eternidade, do mesmo modo que as coisas estão ligadas ao infinito, ou seja, o tempo relacionado à eternidade e o espaço ao infinito.
Nesse contexto, o Codificador conduz o raciocínio para a origem do planeta, quando a Terra ainda não existia. Quanto ao tempo, ninguém poderia dizer em que época isso ocorreu, porque o pêndulo dos séculos ainda não havia sido colocado em movimento.
Pode-se dizer que a Ciência estuda o tempo material por meio de sua metodologia, mas o tempo espiritual está ligado à eternidade, que não tem começo nem fim, devendo considerar ainda nessa equação a imortalidade do Espírito, que teve início quando criado por Deus, mas não tem fim.
O tempo para os Espíritos é outro, não como o compreendemos para o corpo físico. A duração para eles pouco importa diante da eternidade, além disso não se pode comparar o tempo nos diferentes mundos em face de suas relatividades.
Ademais, Deus é eterno, não se sujeitando a qualquer tempo, e está presente em toda a parte do Universo. Diante da eternidade divina, o tempo terrestre tem consequência material, em que a nossa mente está presa à sucessão de coisas materiais. Contudo, há o tempo espiritual como instrumento de evolução rumo à perfeição, ou seja, Deus usa o tempo como instrumento de evolução na conquista dos bens celestiais que nos premiarão na eternidade.
Outro aspecto relacionado à idade é as fases da vida corporal, como a infância, a adolescência e a adulta.
Os Espíritos superiores, na questão 189, em O Livro dos Espíritos, dizem que “para o Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua origem, a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si mesmo e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.” Isso porque “em toda parte a infância é uma transição necessária.” (Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questão 183.)
No nascedouro, o Universo não se apresentou na plenitude de sua existência, porquanto nasceu criança e segue o seu destino percorrendo o infinito por toda a eternidade. A Terra também teve a sua infância, quando da sua formação no Sistema Solar.
Ao olharmos a Natureza, veremos as infâncias dos reinos vegetal e animal.
O Espírito também tem a sua infância, iniciando com a sua criação divina e desenvolvendo-se em jornadas evolutivas na busca da perfeição em pluralidade de existências. Na infância espiritual, o ser humano somente aplica a sua inteligência para sobreviver pelo automatismo dos instintos.
Da criação simples e ignorante, o Espírito começa sua jornada evolutiva na busca da perfeição em pluralidade de existências, porque sem a reencarnação não se pode atingir o aperfeiçoamento e a evolução espiritual, pois Deus a impõe com o fim de atingir a perfeição.
A alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acaba de depurar-se sofrendo a prova de nova existência. Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.
Pela reencarnação, abrem-se novas oportunidades de aprendizado e renovação, propiciando impulsos evolutivos significativos, cujos benefícios indicam a manifestação da justiça e da misericórdia divinas, que não condenam o Espírito infrator ao sofrimento eterno. O Pai sempre deixa aberta a porta do arrependimento a seus filhos.
A infância do corpo físico não tem relação direta com a infância do Espírito, como podemos observar pela questão 197, em O Livro dos Espíritos: “Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito de uma criança que morreu em tenra idade? A resposta é: “Algumas vezes o é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.”
Em continuação, Kardec indaga: “Pode então o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o de seu pai?” A resposta é: “Isso é muito frequente. Não o vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?”
Mais adiante, na questão 379: “É tão desenvolvido, quanto o de um adulto, o Espírito que anima o corpo de uma criança? ‘Pode até ser mais, se mais progrediu. Apenas a imperfeição dos órgãos infantis o impede de se manifestar. Obra de conformidade com o instrumento de que dispõe’.”
Assim, a idade do corpo físico é definida pela vida na Terra, enquanto encarnado, mas a idade espiritual está relacionada ao estágio evolutivo do Espírito, estendendo-se por toda a eternidade, diante da imortalidade do Espírito.
Juan Carlos Orozco
Fonte: Espiritismo na Rede
Bibliografia:
BÍBLIA SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.