Formação dos Mundos
Cláudio Conti
No Livro dos Médiuns, capítulo IV, Kardec trata da teoria das manifestações físicas e encontramos, no item 74, subitem XI, o seguinte: “São aptos, todos os Espíritos, a produzir fenômenos deste gênero? “Os que produzem efeitos desta espécie são sempre Espíritos inferiores, que ainda se não desprenderam inteiramente de toda a influência material.”
Esta colocação dos espíritos se contrapõe ao entendimento histórico, como apresentado no livro Gênese, do Velho Testamento, de que Deus criou o universo material. Pois, é preciso considerar que, se espíritos elevados, já desprendidos da matéria, não produzem os fenômenos de efeitos físicos, o que se poderia dizer sobre Deus? Ele se deteria em tal tarefa?
Sob este aspecto, é preciso analisar detalhadamente a questão 38 d’O Livro dos Espíritos que diz: “Como criou Deus o Universo?” “Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênese – ‘Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita’.”
Assim, por “estas belas palavras da Gênese” deve-se interpretar como uma assertiva referente a um estilo poético e não como uma descrição exata do ocorrido. Contudo, ressalta o fato de que tudo que existe é decorrente da existência precípua de Deus e este ponto também necessita ser considerado nesta análise.
No livro Ação e Reação, ditado pelo espírito André Luiz pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, encontramos o relato de uma orientação do benfeitor Silas que diz: “(…) Vocês não ignoram que o Criador atende à criatura por intermédio das próprias criaturas (…)” Portanto, a ação Divina se faz sempre presente, porém não necessariamente de forma direta, mas através da providência que se caracteriza pela “solicitude de Deus para com as suas criaturas”, segundo Kardec no livro A Gênese, capítulo 2, item 20.
Obviamente que, ao olharmos para as estrelas e, até mesmo, a própria Terra, fica patente se tratar de inteligência acima da humanidade terrestre. No comentário de Kardec à resposta da questão 9 d’O Livro dos Espíritos, temos que “Não podendo nenhum ser humano criar o que a natureza produz, a causa primária é, consequentemente, uma inteligência superior à Humanidade.”
Importa ressaltar que a descrição de espíritos de primeira ordem, também encontrada n’O Livro dos Espíritos, diz que apresentam “nenhuma influência da matéria e superioridade intelectual e moral absoluta com relação aos Espíritos das outras ordens”. Portanto, trata-se de inteligência superior à humanidade terrestre.
Os temos “superior” e “inferior” são sempre relativos, isto é, são utilizados para expressar uma comparação. Porém, o termo “supremo” já designa algo absoluto, como de corrente uso na Codificação para descrever aquilo que é relacionado à divindade.
Sendo a causa primária de todas as coisas, tudo o que existe, conhecido ou não, é decorrente da pré-existência de Deus, portanto Ele está imanente em tudo, inclusive na criação dos mundos. Todavia, o nosso universo conhecido, apesar da grandiosidade, não deixa de ser uma obra material, decorrente da condensação da matéria disseminada no espaço. Assim, podemos considerar a ação de espíritos evoluídos no processo de formação dos mundos servindo de morada para os que se encontram em nível evolutivo inferior.
Um universo para habitação de espíritos deve apresentar leis materiais que o regem e, portanto, precisam ser bem definidas para manutenção da estabilidade e reprodutibilidade, viabilizando que os espíritos possam experienciar a encarnação dentro de certa ordem. Portanto, ao pensarmos em espíritos formando mundos, não devemos considerar como crianças brincando com massa de modelar, formando um de cada vez.
A formação do universo com seus diferentes e diversos orbes deve ser decorrente do estabelecimento de leis materiais que servem de diretrizes para a aglutinação do fluido. Assim, não são as leis que descrevem o comportamento da matéria, mas o segundo que é decorrente do primeiro.
Podemos, desta forma, dizer que a ciência acadêmica estuda hoje as leis materiais estabelecidas pelos prepostos de Deus quando da formação deste universo conhecido e que estará em consonância com a condição dos espíritos que o utilizarão no seu processo evolutivo.
Por “leis materiais” é preciso considerar não apenas as leis da física e da química, mas inclusive a da genética, pois, para cada espírito formar o corpo físico que lhe servirá na encarnação, também deve seguir regras bem definidas.
Cláudio Conti
Fonte: Correio Espírita