Família

– COMPORTAMENTO AGRESSIVO NA INFÂNCIA

– A AGRESSIVIDADE DAS CRIANÇAS PODE SER REFLEXO DE OUTRAS ENCARNAÇÕES?

– QUAL O PAPEL DOS PAIS E DOS EVANGELIZADORES NA EDUCAÇÃO DELAS?

Sandra SaIIes

Entrevista realizada no canal IRC #Espiritismo

Como nos orienta a doutrina espírita, somos espíritos em evolução, trazendo conosco as conquistas e as dificuldades acumuladas em vidas passadas. Na infância, o espírito se mostra com uma inocência aparente, porém, suas tendências, inclusive agressivas, vão se acentuando com o passar da idade.

Como pais e educadores, nosso papel é tentar auxiliar a criança em seu processo de auto educação, usando os impulsos agressivos no sentido construtivo, isto é, da luta e da coragem, não da destruição, visando um progresso moral.

Sabemos que o comportamento agressivo é extrema­mente complexo e tentamos aqui apenas iniciar alguma compreensão. Devemos ter o cuidado de não fazermos nenhuma avaliação apressada, pois existem doenças que podem favorecer ou manifestar atitudes hostis. De qualquer forma, lembramos que a agressividade reflete sempre um pedido de socorro, atenção ou ajuda e, enquanto espíritas, nosso compromisso e de não estimulá-la e não permitir que ela nos contagie, pois o melhor combate e aquele que usa o amor, capaz de frustrar e ate neutralizar qualquer atitude hostil.

Normalmente, uma criança com comportamento agressivo é colocada como indesejável por muitos evangelizadores. Qual a postura ideal neste caso?

Sandra Salles — Tal comportamento é um pedido de socorro. Ao pesquisar as motivações da criança, o evangelizador deve se propor, neste momento em que lembramos de Jesus, que não são os sãos, mas os doentes que precisam de remédio. 0 ideal é não rotular a criança de forma alguma e percebê-la como alguém com maior necessidade de atenção, aceitação e empatia. Além disso, sabemos que os modelos positivos tem muito mais persuasão do que qualquer medida de recriminação ou punição.

Como ajudar os pais que pensam que freqüentar um centro espírita modificará o comportamento dos filhos?

Sandra SaIIes — Envolvendo-os e orientando-os nas reuniões de pais, que tem apresentado excelentes resultados, pois possibilitam a troca de experiências e, muitas vezes, mudanças radicais.

A agressividade pode esconder uma carência emocional da criança, como, por exemplo, necessidade de afeição, de toque e de calor humano? Como dar esse carinho que a criança necessita se, ao buscá-lo, ela mesma dificulta com a atitude agressiva?

Sandra SaIIes — Dentro do possível, devemos tentar mostrar urna certa indiferença com o comportamento agressivo em si e transmitir o que temos de melhor, como doçura, aceitação e compreensão, ate ganharmos a confiança da criança e, conseqüentemente, a permissão dela para uma aproximação mais efetiva, tanto fi­sica como emocional. Conheci urna criança que chegou a escola de evangelho cumprimentando a todos com pontapés e tal conduta desapareceu quando se mostrou a criança que poderia ser aceita com carinho independentemente de sua atitude, que, na verdade, era reprodução do tratamento recebido em casa. Entretanto, aprendendo manifestações mais “simpáticas” com outras crianças, como abraçar e dizer “Oi”, Seu comportamento se modificou. Ao mesmo tempo, solicitou-se a criança que não machucasse ninguém, da mesma forma que jamais seria machucada.

O comportamento agressivo sempre está relacionado com as vidas passadas?

Sandra SaIIes — Sim, tendo em vista que somos espíritos e nada do nosso passado é descartado, mas não como uma relação determinista, pois o meio pode exercer uma influência muito importante na manifestação ou não da agressividade. No entanto, é o espírito, com o livre arbitrio, que fará suas escolhas, ainda que, na infância, elas sejam volúveis em função da fase. É neste sentido que não devemos descuidar da evangelização infantil

As vezes, nos centros espíritas, vemos crianças agressivas com o próprio Espiritismo, não sendo, entretanto, agressivas com pessoas em seu trato pessoal. Como lidar com esses casos na evangelização infantil?

Sandra SaIIes — Algumas crianças vão obrigadas para a evangelização e, por isso, mostram-se resistentes. Acre­ditamos que seja importante insistir com elas para que participem, mas devemos escuta-las para entender melhor tanta negativa, pois, normalmente, as atividades de evangelização são muito agradáveis e bem aceitas. As vezes, isto reflete um desejo de contrariar os pais, daí a importância de tentarmos cativar a criança de tal maneira que ela goste do trabalho e esqueça de seus “conflitos particulares”.

Na educação de uma criança, principalmente a com comportamento agressivo, é importante que ela fre­quente um centro espírita para tentar conduzi-Ia de forma correta sob as leis morais de Cristo. Mas se ela impõe uma resistência, devemos insistir ou desistir?

Sandra Salies — Devemos insistir, assim como insistimos para outras atividades também importantes, como a es­cola. Porém, tal insistência deve se revestir do estímulos agradáveis e conversas que visem esclarecer a criança do quanto tal participação será importante para ela, ainda que hoje não consiga avaliar. Bezerra do Menezes afirma que este é o cuidado que não deve falhar, reforçando a orientação da doutrina de que a paternidade é uma missão e que devemos fazer tudo o que jul­gamos benéfico para os nossos filhos.

Como um evangelizador deve proceder quando uma criança é violenta e agride os demais, inclusive os maiores que tentam acalmá-la dentro do grupo infantil?

Sandra SaIles – O evangelizador deve procurar ser bastante tolerante, mas deixar claro os limites, o que é educativo para tal criança. Nestes casos, é interessante contar com o apoio de outro evangelizador e com muita paciência, já que o trabalho no bem é sempre apoiado e nossa perseverança haverá de ser recompensada.

O comportamento agressivo de muitas crianças tem origem em seu espírito ou na educação recebida peio meio que a cerca?

Sandra SaIIes— Em ambos, pois, enquanto espíritos encarnados, não podemos descartar nenhuma influência.

Por vezes, adultos agressivos e ate mesmo psicopatas foram crianças aparentemente calmas e retraídas. Se queremos evitar adultos violentos, como diagnosticar essa agressividade na criança se ainda não exterioriza?

Sandra SaIles — Em 0 Evangelho Segundo o Espiritismo, capitulo XIV, item 9, temos que “desde pequenina, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz do sua existência anterior. Ao estudá-los, devem os pais se aplicarem. Todos os males se originam do egoísmo e do orgulho. Espreitem, pois, os pais os menores indícios re­veladores do germe do tais vícios e cuidem de combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas”. Por­tanto, precisamos ser amorosos, mas não iludidos, para que não deixemos de perceber tais instintos.

Há crianças que são extremamente violentas em alguns momentos e, em outros, muito carinhosas. Por que essa mudança de comportamento?

Sandra Sailes – Isto revela uma instabilidade emocional típica da criança insegura e que se “protege” com a capa da agressividade. Devemos ajudá-la a adquirir mais auto-confiança e segurança, para que não precisa­se recorrer a tais comportamentos.

Uma criança violenta por motivos obsessivos já diagnosticados deve ser afastada da evangelização infantil durante o tratamento de passes e desobsessão?

Sandra Sailes— Não. A evangelização é para todos e não aprovamos nenhuma atitude discriminatória. Entretanto, se sua presença impede que o trabalho seja realiza­do, a criança deverá receber uma assistência de outro evangelizador, de tal maneira que a atividade não acabe sendo interrompida.

Aquelas “palmadinhas” no bumbum das crianças quando ainda são bem pequeninas ajudam a combater ou agravam a agressividade infantil?

Sandra Sailes – O que conta é o sentimento que a gen­te exterioriza. Os limites são importantes em qualquer processo educativo, desde que não sejam colocados sob o império da cólera e da violência.

Entrevista Extraída da Revista Internacional de Espiritismo nº 15

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