ESTUDOS ESPÍRITAS
Joanna de Ângelis
“Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”
No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade” – O Espírito de Verdade. (Paris, 1860). (O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. VI, item 5).
No vórtice da vida tecnicista, o homem moderno delira.
Sonhando com os astros que deslizam em órbitas imensuráveis, enclausura-se nas limitadas conjunturas das paixões dissolventes; aspirando à liberdade em regime de plenitude, escraviza-se aos condicionamentos que o vergastam, incessantemente; lutando pela paz do mundo, promove guerras cruentas nas paisagens domésticas; esparzindo ideais, fixa-se às idiossincrasias em que padece atribulações sem conto; heróico nos momentos de valor, recua nos embates insignificantes, que terminam por vencê-lo; detentor da razoa, arrasta-se pelos meandros sórdidos do instinto em que se demora…
As conquistas externas de modo algum lograram acalmá-lo interiormente e a comodidade, na vertigem a que se entrega, não conseguiu felicitá-lo, conforme desejava.
Por tais motivos, legiões de desditosos, diariamente, sucumbem na astenia decorrente dos distúrbios da emoção desgovernada, e o ódio, a ira, a inquietação, a ansiedade, em consequência, matam mais do que o câncer e a tuberculose…
Outros tantos, idiotizados, enlanguescem nos leitos das Casas de Repouso, apáticos, vencidos, enquanto não menor número é internado à força nos Frenocômios. Além desses, multidões desesperadas atropelam-se nas avenidas formosas das hodiernas Megalopolis, tanto quanto nas rotas humildes dos campos, sob as imperiosas constrições da loucura em matizes variados, que as surpreendem…
A seara dos homens, embora recamada de promessas e referia de ilusões douradas, apenas tem ensejado uma sega de exacerbações em sarçal infeliz, cada vez mais ameaçador.
Antecipando estes tormentosos dias, Jesus prometeu o Consolador que, há mais de um século, triunfalmente, inaugurou a Era Espírita entre os homens, conclamando-os à renovação e à felicidade real.
Com Allan Kardec se confirmaram os prenúncios dos dias felizes a que se reporta a Boa Nova. A mensagem de que se fez vexilário restaura a pureza do Cristianismo, retirando os erros que nele foram introduzidos pela estultícia humana, como da ganga o garimpeiro hábil recolhe o diamante precioso.
Estudar o Espiritismo na sua limpidez cristalina e sabedoria incontestável é dever que não nos é lícito postergar, seja qual for a justificativa a que nos apoiemos.
Cada conceito necessariamente examinado reluz e clarifica o entendimento, facultando mais amplas percepções, em torno da vida e dos seus fenómenos.
Foram ditas já as palavras primeiras, favorecendo a multiplicidade de realizações edificantes, concitando o homem à grandeza e à paz.
Seus conceitos fulgentes são convites ao amor e chamamentos à sabedoria, cultura do sentimento e da razão num intercâmbio exitoso para a libertação do coração e da inteligência, através do que o Espírito se alça a Deus.
Os estudos que ora reunimos em despretensioso volume são o resultado de nossas meditações nos ensinamentos superiores de algumas das Obras básicas da Codificação do Espiritismo. Para trazê-los à atenção dos aprendizes da Doutrina Espírita, atualizamos conceitos, compulsamos dados modernos, examinamos conquistas recentes, comparamos observações, tentando sintetizar os resultados que ora apresentamos em forma e estilo diversos dos a que se acostumaram os nossos leitores, num esforço carinhoso para colimar resultados felizes.
Não nos estranhem, portanto, os amigos e irmãos afeiçoados, tais características diferentes das habituais…
Reconhecemos que tais apontamentos nada trazem de novo, nem acrescentam à coroa de diamantes estelares lucilantes do pensamento kardequiano qualquer significativa contribuição (*).
Visamos com eles cooperar de algum modo na Seara Espírita, no sentido de destacar, dentre os múltiplos assuntos já versados, alguns de intensa atualidade, discutidos na praça pública, debatidos nas escolas, cinema e televisão, temas obrigatórios das conversações dos jovens, adultos e anciãos, entre aqueles que, desesperadamente, buscam respostas para os imensos conflitos da razão e da emoção, em todas as partes da Terra de hoje, após a falência das religiões como da ética…
Contam que um jovem sedento de afirmação espiritual procurou certa vez o pensador e sacerdote hebreu Shammai e o interrogou:
– Poderias ensinar-me toda a Bíblia durante o tempo em que eu possa quedar-me de pé, num só pé?
– Impossível! – respondeu-lhe o filósofo religioso.
– Então de nada me serve a tua doutrina – redarguiu o moço.
Logo após buscou Hilel, o famoso doutor, propondo-Ihe a mesma indagação. O mestre, acostumado à sistemática da lógica e da argumentação, mas, também, conhecedor das angústias humanas, respondeu:
– Toma a posição.
– Pronto! – retrucou o moço.
– Ama! – elucidou Hilel.
– Só isso?! E o resto, que existe na Bíblia? – inquiriu, apressadamente.
– Basta o amor – concluiu o austero religioso. – Todo o restante da Bíblia é somente para explicar isso.
À semelhança daqueles dias, os atuais exigem respostas incisivas e concisas.
Diz-se que não há tempo.
A Seara Espírita possui as sementes para todos os seminários e plantações da fé como do raciocínio, na multiplicidade de exigências em que se apresentam.
Adentrar a mente e o coração nas suas leiras ricas de luzes, é o mister a que nos devemos afervorar com devotamento, enquanto a oportunidade é propícia.
Entregando estas páginas ao estudioso das questões espirituais, exoramos a proteção do Senhor da Seara para todos nós, Espíritos necessitados que reconhecemos ser, esperando com elas atender alguém sedento de esperança ou esfaimado de amor, ofertando-lhe a linfa refrigerante e o pâbulo da vida, com ele seguindo pelo caminho de redenção na direção do Reino de Deus.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo P. Franco
Livro: Estudos Espíritas – Introdução
Salvador, 5 de maio de 1973