Esquecimento de Vidas Passadas

Esquecimento de Vidas Passadas

Ana Paula Januário

Será que já fui uma princesa/príncipe? Será que já convivi com fulano em outra vida? Será que já fiz isso ou aquilo? Quem nunca teve essas curiosidades? Todos nós, né? Sempre tem algo que temos curiosidade sobre nossas vidas passadas.

Mas fica o questionamento: Por que não conseguimos lembrar de nossas vidas anteriores?

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”

Com essa citação do livro “O que é o Espiritismo” vale relembrar o que todos nós espíritas já sabemos, a existência da reencarnação. Deus com sua justiça e misericórdia oferece uma nova oportunidade para repararmos os equívocos cometidos em existências anteriores e desenvolver novos aprendizados. É nesse processo que o espírito inicia uma nova vida com uma roupagem diferente, porém com os mesmos conhecimentos e experiências de vidas passadas.

E de novo a pergunta do início do artigo vem à tona: Por que não conseguimos lembrar de nossas vidas anteriores? A resposta está no chamado “véu do esquecimento”, também conhecido como perda temporária da memória de vidas passadas.

O esquecimento do passado quando estamos encarnados na Terra, expressa a misericórdia de Deus em nosso favor, já que no estágio em que nos encontramos atualmente, o nosso passado não é tão agradável assim. Dessa forma, esse esquecimento temporário é necessário e benéfico aos nossos Espíritos como consta na explicação da questão 394 do Livro dos Espíritos:

“A lembrança de nossas individualidades anteriores teria inconvenientes muito graves; poderia, em certos casos, nos humilhar extraordinariamente e, em outros, exaltar o nosso orgulho e, por isso mesmo, entravar o nosso livre-arbítrio. Deus nos deu, para nos melhorarmos, o que nos é necessário e nos basta; a voz da consciência e nossas tendências instintivas, privando-nos do que nos poderia prejudicar, Acrescentemos, ainda, que se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos igualmente dos atos dos outros e esse conhecimento poderia ter os mais deploráveis efeitos sobre as relações sociais. Não havendo sempre motivos para nos glorificarmos do nosso passado, ele é quase sempre feliz quando um véu lhe seja lançado”.

Tendo em mente essas informações, vale ressaltar que o esquecimento do passado, das faltas cometidas não é um obstáculo ao progresso do Espírito, porque, se não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que teve no estado errante e o desejo que tomou de as reparar guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir ao mal. Esse pensamento é a voz da consciência, que é secundada pelos Espíritos que o assistem, se escuta as boas inspirações que sugerem (KARDEC, 2008, questão 399).

Dessa forma, para enfatizar que o esquecimento do passado nada atrapalha a experiência atual, Kardec trouxe-nos uma reflexão no livro “O que é o espiritismo” no capítulo I no item “Esquecimento do Passado” quando é indagado se o homem pode aproveitar a experiência adquirida em outras vidas, levando em consideração que ao esquecer-se delas, parece estar sempre a recomeçar:

“Se, a cada existência, um véu é lançado sobre o passado, o Espírito não perde nada daquilo que adquiriu no passado: ele não esquece senão a maneira pela qual adquiriu a experiência. Para me servir da comparação do escolar, eu diria que: pouco importa para ele saber onde, como, e sob a orientação de que professores ele fez o ano anterior se, alcançando a quarta série ele sabe o que se aprende na anterior. Que lhe importa saber quem o castigou pela sua preguiça e sua insubordinação, se esses castigos o tornaram laborioso e dócil? É assim que, em se reencarnando, o homem traz, por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade. Eu digo em moralidade porque se, durante uma existência, ele se melhorou, se aproveitou as lições das experiências, quando retornar, será instintivamente melhor; seu Espírito amadurece na escola do sofrimento e, pelo trabalho, terá mais firmeza; longe de tudo recomeçar, ele possui um fundo cada vez mais rico, sobre o qual se apoia para progredir mais”.

Em consequência disso, podemos constatar que tudo que Deus fez está bem feito e que não nos cabe criticar-lhe as obras e dizer como deveria regular o Universo (KARDEC, 2008, questão 394). Até porque o Espírito renasce, frequentemente, no mesmo meio em que viveu e se acha em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes fez. Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se revelasse; em todos os casos, seria humilhado diante daqueles que houvesse ofendido (KARDEC, 2009, cap. V)

Entretanto, é importante lembrarmos que o esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal; reentrando na vida espiritual, o Espírito retoma as lembranças do passado, sendo essa interrupção momentânea. Todavia, como já foi citado, ele tem algumas vezes uma vaga consciência e elas podem mesmo lhe serem reveladas em certas circunstâncias; mas é apenas pela vontade de Espíritos superiores que o fazem espontaneamente, com um fim útil e jamais para satisfazer uma vã curiosidade (KARDEC, 2008, questão 399).

Portanto, devemos sempre confiar em Deus e orar para que possamos ter a sabedoria e discernimento para seguir o melhor caminho em direção a evolução. Não há necessidade da curiosidade e ansiedade por lembranças passadas, o que lhe for servir, a espiritualidade superior tomará as providências devidas (RBN).

E para finalizar, trouxe algumas reflexões que podem nos ajudar quando bater aquela curiosidade ou anseio da lembrança de vidas passadas:

  • Estou tendo a oportunidade de recomeçar, adquirir novas vivências e aprendizados sem lembranças perturbadoras que possam atrapalhar meu progresso;
  • Tendo em vista que renascemos frequentemente no mesmo meio em que vivemos, estou tendo a oportunidade de reconciliação com antigos adversários sem o constrangimento das recordações que a poderiam impedir;
  • Estou tendo a oportunidade de superar traumas passados em circunstâncias renovadas.

Percebeu que só temos que agradecer a misericórdia de Deus? Que a cada dia possamos colocar em prática a gratidão em nossa vida!

Ana Paula Januário

Fonte: Blog Letra Espírita

Referências:

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 177. ed. São Paulo: Ide, 2008.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 363. ed. São Paulo: Ide, 2009.

KARDEC, Allan. O Que é o Espiritismo. 75. ed. São Paulo: Ide, 2009.

RBN, Esquecimento do Passado – Espiritismo sem Mistério. Disponível em:

 

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