ESCÂNDALOS
Joanna de Ângelis
Os dicionários definem o verbete escândalo como sendo: “Ocasião de erro ou pecado. Diz-se particularmente da ocasião de pecado, produzido pelo mau exemplo”.
No entanto, há escândalo e escândalo.
“Melhor é entrar na Vida, disse Jesus, sem o membro escandaloso do que com ele…” “O escândalo é necessário…”.
Alcibíades, o general ateniense depois de muita celeuma em torno da própria conduta, mandou cortar a cauda do seu cão de estimação, que lhe custara uma fortuna e todos admiravam, para causar um escândalo.
Cornélia, a célebre dos Gracos, interrogada por uma rica patrícia de Campânia sobre suas jóias, apresentou-lhe os filhos, dizendo: “Eis as minhas jóias e adornos preciosos”, escandalizando a amiga.
Júlio César, ao retornar das Gálias, contraiu altos empréstimos para construir uma residência suntuosa; antes, porém, de habitá-la mandou que a demolissem, erguendo sobre os escombros outro palácio mais luxuoso, para escandalizar Roma.
Guatimozin, o último imperador indígena do México, condenado por Cortês a ter o corpo untado e erguido sobre brasas, escandalizou os espanhóis, quando o seu secretário, que também sofria o mesmo martírio, gritou: “Deixa-me falar. Não suporto mais”. — “E eu, respondeu o imperador, estarei, por acaso, sobre um leito de flores?”.
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A atitude de firmeza que manténs em relação à conduta cristã e espírita a muitos escandaliza.
Mas outro não pode ser o caráter do aprendiz do Evangelho.
Há companheiros que dizem conciliar os interesses do mundo com os objetivos do espírito.
São cristãos, e alguns se afirmam espiritistas convictos e atuantes.
Vivem, porém, conforme os padrões comuns.
Se negociantes, jogam nos torneios altistas, ambiciosos e atormentados.
Se agricultores, exploram a terra e os ajudantes, pensando apenas em si.
Se industriais, negociam por processos escusos.
Se servidores públicos, negam-se ao dever da pontualidade e da execução das tarefas, seguindo os exemplos dos maus funcionários…
Fazem e vivem o que fazem e como vivem aqueles que não se identificaram com as lições da Verdade.
E referem-se aos adeptos sinceros com epítetos deprimentes e zombeteiros, açulando neles mesmos o culto da personalidade, que os arrasta a posições lamentáveis e ociosas.
Crêem diversos obreiros cristãos da atualidade, na impossibilidade de viverem com retidão, quando triunfalmente campeiam a rapina, a ambição desmedida, a desonestidade, o abuso do sexo, a mentira, a leviandade e todo um séquito de “maus exemplos” que, no entanto, já não produzem escândalos.
Ao tempo do martirológio, de tão grandiosos testemunhos, a ocasião de servir ao Cristo não era diferente e as condições sócio-morais da Terra não eram diversas.
Sucede que os cristãos de hoje o são sem Cristo.
Cidadãos do mundo servem-se, apegados a ele.
Por isso, produze tu o escândalo, dando fiel cumprimento aos impositivos da fé, que medra vitoriosamente no solo do teu espírito.
Para ferir-te, argumentarão contigo que é loucura ser pobre, quando facilmente se pode aumentar as posses…
Dirão que os dias de honra já se foram…
Afirmarão que a fé não deve interferir nas atividades da vida cotidiana…
Não os ouça. Demora-te seguro e porfia.
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Nos Atos dos Apóstolos, capítulo vinte e seis, versículo vinte e quatro, consta à anotação: “E aduzindo ele isto em sua defesa”, disse Festo em alta voz: — “Estás louco, Paulo, as muitas letras te fazem delirar”.
Na propagação, defesa e vivência da verdade muitos pereceram não se considerando o número colossal dos que passaram por dementes e loucos, não escapando à classificação o próprio Mestre e seus discípulos. No entanto, graças a eles, respiras no clima mental da esperança evangélica, quando os escândalos da hora presente produzem crimes, conduzindo o homem pelos caminhos sombrios do desrespeito e do autocídio.
Joanna de Ângelis
Médium: Divaldo Pereira Franco
Livro: Dimensões da Verdade – 43