Compreendendo a Prática Homossexual
Adésio Alves Machado
“O Livro dos Espíritos”, o livro básico do Espiritismo, tem como característica principal um conjunto de princípios fecundos, muito bem sintetizados, servindo de apoio para futuros desdobramentos, tendo em vista que longe estamos de conhecer além de nossas possibilidades de reflexionar.
Poderiam ser mais explícitos, os Espíritos responsáveis pela elaboração deste livro, detalharem tudo o mais possível, facilitando, assim, o nosso trabalho para entendê-lo.
Temos, e isto é inconteste, a necessidade de compreender assuntos mais complexos e obscuros, pois habitamos, em decorrência da nossa inferioridade moral-espiritual, um mundo de provas e expiações. Aqui expia-se e se é provado.
Apreciando o aspecto pedagógico de “O Livro dos Espíritos” percebe-se, claramente, que os Espíritos Orientadores não nos trouxeram soluções prontas e acabadas para os inextricáveis problemas existenciais humanos. Necessário que o espírito encarnado se trabalhe intelectualmente, raciocine sobre o que lê, e vença as suas dificuldades através do encontro de saídas, mesmo que saiba, de antemão, que será ajudado e assistido, não de forma bem objetiva, direta, mas através de uma forma um tanto velada, como vemos na resposta à pergunta 501 do livro básico do Espiritismo. Para nos adiantarmos necessitamos de experiência que exercite nossas forças. Assim sendo, regulam, os Espíritos incumbidos de nos adiantarem na senda evolutiva, os conhecimentos trazidos, agindo didaticamente, de tal forma, que não tolham o nosso livre arbítrio. Sem responsabilidade não iríamos avançar pelo caminho conducente a Deus.
Poderiam os Mentores fazerem longas exposições sobre várias questões suscitadas pelo Codificador, propondo alternativas, sugerindo procedimentos e recomendando soluções tais e quais, como muitos desejam.
Na resposta à pergunta 244 de “O Livro dos Espíritos” disseram que só os Espíritos Superiores vêem a Deus e O compreendem. Levando a resposta em seu sentido literal, que se apreende da resposta? Que vamos ver Deus da mesma forma que vemos nossos irmãos em humanidade, vemos uma paisagem, um carro passando, etc. É isso que acontecerá? Claro que não. Vamos sentir, perceber Deus através da visão profunda que tivermos de Suas obras, isto sim. Assim como esta pergunta e resposta são tantas outras. Daí surgem as divergências em nosso movimento. Percebam o esforço do Codificador quando tentou desdobrar, “espichar” o mais possível o que recebeu sintetizado no livro básico, quando procurou dar vida às demais obras componentes do pentateuco espírita.
Queremos, com este prólogo, chegar a seguinte indagação existente na maioria das mentes humanas: a prática homossexual pode ser tida como normal ou não?
Antes de darmos o nosso parecer, recorramos aos que sabem mais.
Disseram os Espíritos que as almas não têm sexo como entendemos; que Deus não criou almas masculinas e femininas, muito menos fez estas inferiores àquelas; que as afeições que unem os Espíritos nada têm de carnal, sendo por isso mais duráveis e estáveis; que o sexo somente existe no organismo, por ser necessário à reprodução dos seres materiais; que sendo os Espíritos criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, daí porque o sexo seria inútil no mundo espiritual; que um Espírito pode renascer num sexo durante muitas encarnações; que pode optar pela mudança de sexo, dependendo de suas condições evolutivas; que as características do sexo, de sua escolha, se tornam as dominantes de sua personalidade; que a diferença, desta forma, só há no organismo, conservando, no entanto, o reencarnante, as inclinações, os gostos e o caráter inerente ao sexo que acabou de deixar, enfim, que carregamos, todos nós, o lado masculino e feminino. Predominando uma ou outra polaridade, estaremos num corpo masculino ou feminino. Conclui a ciência, portanto, que o ser humano nunca é cem por cento masculino ou feminino. O Espiritismo também.
Chega-se, pelos estudos que se faz sobre a temática sexual, que as conclusões dos Espíritos e dos cientistas não divergem, são convergentes e coincidentes.
Mesmo que possa haver definições diferentes sobre sexualidade, caminhamos, particularmente, com uma: é uma energia divina que aqui está sendo trabalhada pelo Espírito atrasado, deste exigindo uso responsável. Agora, responsabilidade somente se adquire com estudo e compreensão. Com ignorância, desconhecimento, não.
O instinto sexual surgiu quando bactérias e células estavam sendo experimentadas em reprodução agâmica, ou seja, assexuada, quando determinado grupo apresentava no imo da própria constituição qualidades magnéticas positivas (masculinas) e negativas (femininas) desfechadas que foram pelos Orientadores Espirituais encarregados do progresso do planeta (1).
Saibamos que a sede do sexo, da sexualidade, da libido, ou do instinto sexual não se acha no veículo carnal, mas no Espírito, em sua estrutura complexa.
Mesmo reconhecendo o pouco que foi dito até aqui, podemos entrar mais firmemente no problema da homossexualidade.
Nas sociedades antigas a prática homossexual era considerada normal em 64% delas, inclusive na Grécia. Nos séculos XI e XII antes do Cristo, as práticas homossexuais eram punidas com a castração. Onde a legislação o proibia nem mesmo a pena de morte conseguiu erradicar o homossexualismo. Compreende-se, perfeitamente, tal dificuldade, tendo em vista que o homossexualismo tem origem no instinto que não se anula do dia para a noite, como hoje querem fazer desaparecer a violência, quando ela instalou-se no Espírito (homem) pelos complexos canais do instinto.
Na Idade Média enterrava-se vivo ou executava-se o homossexual. Quanta barbaridade, quanta ignorância!
O Apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, cap.1, vs.26/27, afirma que “…igualmente os homens, abandonando o uso natural da mulher, abrasaram-se em desejos uns pelos outros, cometendo a infâmia de homem com homem, recebendo em si mesmos a recompensa merecida de seu extravio”.
Ocorre-nos, na oportunidade, quando se quer compreender problema de tão magna significação e complexidade, anotar que está surgindo a hipótese de que, como no reino animal o homossexualismo é uma realidade devidamente constatada na Natureza, portanto, normal, no reino hominal deve ocorrer o mesmo, isto é, a normalidade do homossexualismo, como se tem a da prática heterossexual.
Para quem está se movimentando para validar tal idéia e aceitá-la, devemos recordar “O Livro dos Espíritos”, item “Os Animais e o Homem”, pergunta 592, quando na resposta encontramos, entre outras colocações: “…Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito abaixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto”. “…mas ao Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis distinguir-vos deles? Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus” (realçamos).
Precisamos acrescentar mais alguma coisa para tais pessoas, as quais, em essência, estão querendo comparar e igualar o ser humano ao animal?
Seria a prática homossexual – a pederastia e o lesbianismo – um distúrbio de ordem psíquica imposta por uma predisposição orgânica? Não cremos, não aceitamos porque assim seríamos marionetes. Onde encaixaríamos o livre arbítrio? Tê-lo-íamos, como patrimônio divino, para quê? Na mesma situação estariam os criminosos, assassinos, viciados, corruptos, etc, que imputariam suas deficiências morais ao organismo. Aliás, esta questão genética, como também hereditária, como causas desses distúrbios morais humanos, estão devidamente anuladas pelos próprios modernos homens de ciência.
Lemos, de um articulista inteligente, desejando deixar um exemplo, possuidor de uma dialética bem avançada, com argumentação notadamente a favor da normalidade da prática homossexual, escrevendo em um jornal espírita de Pernambuco, que dois espíritos tiveram uma vivência amorosa recíproca e reencontraram-se numa outra encarnação. Até aí tudo bem. Mas ele pergunta: “Deverá ser vetado aos dois vivenciar esse amor que carregam dentro de si por estarem momentaneamente em corpos semelhantes?” Claro que não, meu irmão! Podem e devem, só que não precisam aderir à prática da pederastia ou do lesbianismo, no caso de estarem homem ou mulher, respectivamente. É essa a diferença, meu irmão! Um homem pode amar outro homem, a mulher pode amar outra mulher, não precisam é descer à prática do homossexualismo.
Cresce, dizem os estudos e pesquisas, o número de homossexuais. Não olharíamos assim tal crescimento, mas sim que a prática homossexual está vindo à baila sem que os envolvidos, lésbicas e pederastas, tenham de enfrentar tantos preconceitos.
Descartadas também foram os distúrbios neurológicos e psicóticos como origem do homossexualismo. Quantas pessoas homossexuais existem perfeitamente ajustadas psicologicamente? Conheço várias. É perfeitamente descartada, assim sendo, tal argumentação.
É necessário que se saiba o seguinte: não é pelo fato do homem aceitar como normal o homossexualismo ou outra prática qualquer, que deixará de ser um desvio de comportamento, ou seja, prática anômala.
Digamos que expressões como “desvio de comportamento”, “comportamento não convencional”, “distúrbio de ordem psicológica” são eufemismos usados para encobrir-se que o homossexualismo não é prática normal. É a realidade. Agora, em pleno século XXI, temos é que usar de assertividade, sermos objetivos, esquecendo as perífrases, as meias palavras. O tempo urge.
Vamos tocar mais uma vez na mesma tecla a fim de bem fixá-la em nós: os Espíritos Superiores, que nos orientam, não nos eximem da responsabilidade de pensar, escolher, discernir, concluir e decidir sobre os nossos atos, pelo uso do livre arbítrio, consequentemente. Não disse Léon Denis que “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens? Perguntemo-nos: que estamos fazendo do Espiritismo e do Evangelho de Jesus? Vivendo-os porque os entendemos?
Manoel P. de Miranda, livro “Loucura e Obsessão”, psicografia de Divaldo P. Franco, p. 70, traz a palavra de um mentor abordando o homossexualismo: “…temos o transexualismo, que, empurrado pelos impulsos incontrolados do eu espiritual perturbado em si mesmo ou pelos fatores externos, pode marchar para o homossexualismo, caindo em desvios patológicos, expressivos e dolorosos…” Perguntamos: quem vive tais situações teve atitudes, comportamentos sexuais normais?
Hermínio Miranda, no livro “O Espiritismo e os problemas humanos”, edição U.S.E., página 177, depois de recordar que em “O Livro dos Espíritos”, na questão 693, os Espíritos disseram que “Tudo que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral”, afirmou, peremptoriamente: “Mesmo se admitindo a dificuldade de caracterizar com relativa precisão e nitidez os conceitos de normalidade e anormalidade no comportamento humano, e matizá-los com propriedade, não encontramos apoio científico ou doutrinário para considerar normal a prática homossexual masculina e feminina. É um comportamento anômalo, como assinalam os especialistas”.
Hermínio, à página 179, é taxativo: “É evidente, portanto, que, por mais difundidas que sejam as práticas homossexuais e por maior que seja o respeito dedicado aos que se envolvem nelas, o homossexualismo é um comportamento delinquente do ponto de vista espiritual, ainda que não entendido assim pela legislação humana. E nisto estão de acordo Espíritos e cientistas encarnados que consideram a prática como “ato anômalo”, em conflito com a “a lei magna” por pessoas de “frágil estrutura psicológica”, em “precário equilíbrio emocional”.
Destacou Hermínio que o Espírito Emmanuel colocou, no livro “Vida e Sexo”, capítulo 21 – Homossexualidade, edição FEB, que devemos ter atenção e respeito, em pé de igualdade, com os homossexuais como temos com os heterossexuais, levando muitos espíritas a ver no homossexualismo uma prática normal, quando não foi o que desejou expressar o Espírito comunicante responsável pelo livro.
À página 91 escreveu Emmanuel: “O homem que abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas com a destruição de uniões construtivas e lares diversos, em muitos casos é induzido a buscar nova posição no renascimento físico, em corpo morfologicamente feminino, aprendendo, em regime de prisão, a reajustar os próprio sentimentos, e a mulher que agiu de igual modo é impulsionada à reencarnação em corpo morfologicamente masculino, com idênticos fins”. Ressalta, em seguida, casos em que Espíritos cultos e sensíveis, aspirando a realizar tarefas específicas na elevação de grupamentos humanos, rogam uma vestimenta carnal oposta à estrutura psicológica…”.
Perguntamos: “quem abusou das faculdades genésicas, arruinando a existência de outras pessoas”, agiram dentro de preceitos morais que possam ser aceitos como normais?” Quem aprende em “regime de prisão” errou ou acertou? Praticou algo normal ou anormal? Quem está “reajustando os próprios sentimentos” (no caso os sexuais) feriram ou não a normalidade da prática sexual?
Emmanuel, mais adiante, ainda fala que os homossexuais são necessitados de “amparo educativo adequado”. Viviam conduta sexual normal aqueles que tinham necessidade desse tipo de amparo?
Aprendemos em Espiritismo, e isto dito por mais de um Espírito Nobre: aquele que abusa de suas funções sexuais quando num corpo masculino virá num feminino para aprender em “regime de prisão” a não ferir seu semelhante no sexo oposto. O mesmo acontecendo com o Espírito que reencarna num feminino. Existe, sim, as exceções, isto é, o caso em que o Espírito, pelo fato de vir em missão, não deseja casar, preferindo, para tanto, a polaridade oposta a da sua individualidade psicológica. Quantos homens e mulheres utilizam-se da beleza física para oprimir, corromper e dominar o(a) próximo(a) através do uso de sua sexualidade em desequilíbrio? A lei divina, ou de causa e efeito, impõe, ao espírito infrator, envergando essa ou aquela polaridade sexual, humilhações, desgostos e vexames sob o império de uma sexualidade em contraste à sua morfologia hetero ou homo. Enfrentará um estado anômalo sexualmente falando, isto através de uma abstinência sexual imposta e educativa, não lograda como acontece com os Espíritos que se elevaram moral-espiritualmente. São os anseios de mulher num corpo masculino e os de homem em feminino. É o que se chama, na Doutrina Espírita, de “inversão sexual”.
Chico Xavier, entrevistado, esclareceu: “O que o homossexual precisa evitar é a pederastia e o lesbianismo, a prática sexual com alguém do mesmo sexo. A pederastia e o lesbianismo, sim, são problemas suscitados pela ânsia de experimentar sensações. Já a homossexualidade está vinculada a um processo afetivo entre homens e mulheres do Planeta, de modo que é um estado natural, em que as almas se afinam para fazer o bem. Vamos dar ao assunto a cor que o assunto traz: todo homem deve fugir da pederastia. Toda mulher pode, perfeitamente, ficar fora do lesbianismo. Nada de menosprezo, de maledicência, de deboche, de preconceito ou escárnio” (2).
Necessário deixarmos bem definido: não temos nada, absolutamente nada contra os homossexuais, são espíritos irmãos em humanidade. Tenho, sim, que ser claro, objetivo, assertivo e dizer aos tímidos como devemos considerar a prática do homossexualismo, o que muitos não fazem escudados num falso sentido de caridade. Já imaginaram se todos os pais disserem aos seus filhos e filhas que tal conduta é normal? Que teremos na face da Terra daqui há alguns séculos? Adito: dou-me muito bem com um casal homossexual masculino. Carrego preconceito?
Será que precisamos escrever textualmente que consideramos anormal o homossexualismo, que é uma prática sexual anômala, até prova em contrário vinda do Mundo Espiritual Superior através de um médium confiável?
(1) Livro “Evolução em dois mundos”, página 48, André Luiz, Espírito, Chico Xavier, FEB.
(2) Revista Espírita Allan Kardec, ano XII, nº 45, páginas 11/12.
Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição de agosto de 2005 e reproduzido com autorização do autor