Carnaval Segundo o Espiritismo

Carnaval Segundo o Espiritismo

Por: Geane Lanes

O Carnaval (Carnaval (do latim “carnis levale” = retirar carne). Existem hipóteses de que o vocábulo carnaval seja uma referência ao jejum da quaresma) é uma festa de origem pagã que remonta à Antiguidade. Segundo historiadores, essas festividades, possivelmente, têm raízes nas festas greco-romanas dedicadas ao deus do vinho (Baco para os romanos e Dionísio para os gregos) e datam de mais de três mil anos.

No século VIII, com o crescimento do cristianismo, a Igreja instituiu a quaresma, intervalo de quarenta dias entre o carnaval e a Páscoa, em que os cristãos se preparam espiritualmente para celebrar a ressureição de Jesus. Embora a quaresma tenha ajudado a limitar o carnaval e, consequentemente, os exageros cometidos nessa época, ela é um período de jejum e controle dos comportamentos, o que fez com que muitas pessoas passassem a ver o carnaval como uma oportunidade de cometer os excessos de que logo se privariam.

No Brasil, registros históricos indicam que o carnaval foi introduzido por portugueses no período colonial, no século XVII. Chamada, na época, de entrudo (Intrudo (do latim “introitus” = entrada). Possivelmente é uma referência à entrada do período de carestia religiosa), essa festividade era baseada em brincadeiras nas quais as pessoas sujavam umas às outras, sendo mais praticadas pelos escravos e pelas camadas populares.

Ainda nos dias atuais, o carnaval é marcado por excessos no consumo de substâncias entorpecentes e por comportamentos lascivos, o que, segundo Bezerra de Menezes (FRANCO, 1982) mostra o vestígio da barbárie e do primitivismo ainda reinantes e que um dia desaparecerão da Terra.

Embora o carnaval seja carregado de alegria, emoção extremamente benéfica a todos os seres, as ações imprudentes cometidas nesse período podem gerar sérias consequências físicas e espirituais, tanto aos encarnados que as promovem, quanto aos desencarnados que as compartilham. Como observado em uma situação descrita pelo autor espiritual Manoel P. de Miranda (FRANCO, 1982), durante o carnaval, milhares de pessoas imprevidentes, estimuladas pela música frenética, pretendendo extravasar as ansiedades represadas, cedem ao império dos desejos mais mundanos e suas mentes, em torpe comércio de interesses subalternos, produzem uma psicosfera tóxica, na qual se nutrem irmãos desencarnados viciados e dependentes de tais emanações.

A descrição de Manoel P. de Miranda nos mostra como as ações irresponsáveis que muitas pessoas têm durante as festividades do carnaval vão muito além da matéria, pois espíritos em desequilíbrio se associam aos encarnados para obter aquilo por que tanto anseiam, estimulando-os a se entorpecerem e a agirem de forma cada vez mais lasciva e violenta. Contudo, devemos nos lembrar que, segundo a Lei da Liberdade, descrita por KARDEC (2004), todo o indivíduo é dotado de livre-arbítrio e, portanto, tem a liberdade de pensar e agir de acordo com sua verdade. Assim, embora desencarnados possam influenciar as ações dos encarnados, são estes que os chamam para próximo de si por meio de suas emanações energéticas e também são eles que decidem ceder a tais influências.

Em acréscimo, como apontado por XAVIER (2004), o nosso livre-arbítrio está intimamente atrelado à Lei de Causa e Efeito, a qual determina que para cada ação existe uma consequência, sendo que esta não deve ser interpretada como uma forma de punição, e sim como uma oportunidade de aprendizado. Como ensinado por nosso Mestre Jesus (“Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” – BÍBLIA – Mateus 18:7), os escândalos são úteis em nossa jornada de crescimento, porém as consequências de nossas ações equivocadas podem trazer situações de extrema dor e sofrimento a todos os envolvidos, encarnados e desencarnados.

Além   dos aprendizados oportunizados pelos efeitos das ações imprudentes que são cometidas no carnaval, a relação estabelecida entre encarnados e desencarnados durante as festividades permite que o auxílio seja levado a muitos irmãos. A descrição dada por Manoel P. de Miranda (FRANCO, 1982), mostra que, antevendo as situações que comumente se desenrolam em virtude do carnaval, as equipes espirituais instalam vários postos de socorro em locais estratégicos, revezando-se de forma infatigável na busca de acolher desencarnados que se cumpliciam na farra irresponsável ou aqueles que tentam auxiliar seus afetos desatentos ao bem e à vigilância, minimizando a soma de infortúnios que podem advir da situação. Ainda segundo Manoel P. de Miranda, mesmo quando as providências espirituais sobre esses irmãos não parecem ter resultados exitosos, elas não representam fracassos, pois o contágio do bem sempre deixa impregnação amena.

Levando em consideração que o Espiritismo promove o respeito ao livre-arbítrio (Lei da Liberdade) e reconhece o valor dos aprendizados advindos das consequências de nossas ações (Lei de Causa e Efeito), quando o autor espiritual André Luiz nos traz que a conduta espírita aponta a necessidade de nos afastarmos de festas como o carnaval (“Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança.” – VIEIRA, 1979), ele não está dizendo que a doutrina espírita proíbe ou condena tais festividades, apenas está nos alertando sobre as consequências que determinadas ações tomadas durante esse período podem gerar.

Ademais, seguindo os ensinamentos cristãos de não julgar o próximo (“Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” – BÍBLIA – Mateus 7:1,2), KARDEC (2001) mostra que a doutrina espírita também promove a indulgência, apontando a necessidade de jamais nos ocuparmos com os maus atos dos outros, a menos que seja para prestar um serviço, mas, mesmo neste caso, tomando o cuidado de atenuá-los tanto quanto possível.

Segundo Bezerra de Menezes (FRANCO, 1982), uma expressiva faixa da humanidade terrena ainda transita entre os limites do instinto e o prenúncio da razão, mais ávidos de sensações do que ansiosos pelas emoções superiores, portanto é natural que muitos se permitam, nesses dias (período do carnaval), os excessos que reprimem por todo o ano, sintonizados com entidades que lhes são afins.

Dessa forma, a espiritualidade aconselha a nos afastarmos das festas do carnaval por entender que ainda somos portadores de desvirtudes e que estamos sujeitos a cair diante das “tentações” que tais festas oportunizam. Contudo, se ainda desejarmos participar das festividades do carnaval, devemos nos impor frente às instigações tóxicas que encontramos durante esse período, colocando em prática todo o nosso aprendizado, não nos deixando seduzir por desejos mundanos que ainda residem em nosso ser.

No carnaval e em todos os dias de nossas vidas, devemos nos manter vigilantes, alimentando pensamentos e ações positivas e condizentes com os ensinamentos cristãos. Buscando pensar e agir de forma ponderada e responsável, evitamos prejuízos desnecessários e cultivamos o nosso bem-estar físico e espiritual.

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Geane Lanes

Fonte: Letra Espírita

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Referências:

FRANCO, Divaldo P. Nas fronteiras da loucura. Ed. 1: Editora e Livraria Alvorada. 1982.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile. Ed. 271: Editora IDE. 2001.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Tradução de J Herculano Pires – Ed. 64: Editora LAKE. 2004.

VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita. Ed 7. FEB. 1979.

XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação. Ed 25: Editora FEB. 2004.

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