Bullying. Você já praticou?
Texto extraído do livro Espiritismo atual e educador – Editora CEAC. Wellington Balbo – Bauru – SP
Todos os dias a mesma situação: ao adentrar a sala de aula, alguns garotos iniciavam:
– Gorduchoooo! Gorduchooooo! Gorduchooooo!
E não parava por ai, não raro era agredido fisicamente. A vergonha, o medo e a insegurança lhe impediam de denunciar os algozes à diretoria. Com isso, vivia sem amigos, relegado ao desprezo. Sem a interação com os demais colegas de classe seu rendimento escolar era pífio. Sua mãe, percebendo que algo andava errado com o filho, procurou auxílio psicológico, porquanto o garoto andava ansioso em demasia, não querendo ir a escola e urinando na roupa, embora já contasse 8 anos.
Esse garoto era vítima de bullying, palavra de origem inglesa que significa: gozações sucessivas, humilhações, tiranização.
Quem nunca presenciou alguém humilhando, constrangendo, ridicularizando alguém em público? O que para muitos é brincadeira ingênua que seduz a turma fazendo brotar gargalhadas, para a vítima do bullying é um terrível pesadelo, que não raro o faz se isolar, sentindo-se a pior das criaturas.
No Rio de Janeiro, em pesquisa com 5.482 alunos de escola pública de 5º a 8º série, foi constatado que mais de 40% dos alunos admitiram ter sofrido ou praticado bullyng. Dados entristecedores, não é mesmo, caro leitor? Cabe-nos então tentar descobrir a razão de tanto prazer em ridicularizar alguém? Por que isso ocorre?
Os fatores são inúmeros e vão desde conquistar o respeito da turma para poder ser admitido naquela “roda de amigos”, esconder o próprio medo provocando o medo nos outros, a se julgar inferiorizado e empreender frenética competição onde a violência física e moral irá lhe trazer a auto afirmação. Vou além, e digo que a prática de bullying não se restringe apenas à escola e as crianças e adolescentes. Nossa sociedade pratica o bullying a todos os momentos, rotulando pessoas, alimentando mesmo que veladamente o preconceito, criando padrões de beleza. Óbvio que há regras que devem ser respeitadas para o bem do convívio social, no entanto, não me refiro a elas, mas sim a maneira que muita gente se impõe para tentar ganhar o respeito do grupo social que faz parte. Se o homem é um pouco mais delicado logo o rotulam de homossexual, se não atende aos imperativos impostos pela sociedade é um fracassado, se não gosta de carro ou roupas de marca, um alienígena.
As piadas nesse particular merecem capítulo à parte, a pretexto de brincadeira e diversão o preconceito vai sendo popularizado e se entranhando no cotidiano das pessoas. Não raro fazem sucesso, divertindo uns a custa de outros, fazendo sofrer nessa malha negros, pobres, loiras, ricos, portugueses, mulheres, homossexuais… e vamos assim, sorrindo e ridicularizando ao mesmo tempo.
Até no cotidiano das empresas notamos a prática do bullying, onde líderes que ocupam cargos de destaque em suas organizações lamentavelmente agem de forma que não condiz com a postura de um líder real. Muitas vezes constrangem seus liderados, impondo o medo, ameaçando e coagindo, criando um clima de insegurança a contribuir para que o ambiente profissional seja baseado em uma competição predatória, onde o mais forte engole o mais fraco.
Outro ponto a se abordar é: os comentários maldosos que são lançados sem piedade, acrescidos de gargalhadas por parte da platéia, que, muitas vezes assiste omissa ao espetáculo da depreciação do ser humano.
Em “Obras Póstumas”, no capítulo intitulado “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, Kardec tece alguns comentários que, se observados com atenção, traçarão uma nova forma de relacionamento entre os seres humanos, baseado no respeito e tolerância. Diz Kardec:
“A fraternidade, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres dos homens relativamente uns aos outros; ela significa: devotamento, abnegação, tolerância, benevolência, indulgência; é a caridade evangélica por excelência e a aplicação da máxima: “Agir para com os outros como gostaríamos que os outros agissem conosco.” A contrapartida é o Egoísmo. A fraternidade diz: “Cada um por todos e todos por um.” O egoísmo diz: “Cada um por si.” Sendo essas duas qualidades a negação uma da outra, é tão impossível a um egoísta agir fraternalmente, para com os seus semelhantes, quanto o é para um avarento ser generoso, a um homem pequeno alcançar a altura de um homem grande. Ora, sendo o egoísmo a praga dominante da sociedade, enquanto ele reinar dominador, o reino da verdadeira fraternidade será impossível; cada um quererá da fraternidade em seu proveito, mas não a quererá para fazê-la em proveito dos outros; ou, se isso faz, será depois de estar seguro de que não perderá nada”.
Notável comentário! Como podemos perceber é o velho egoísmo humano que nos faz adentrar no tortuoso caminho do desrespeito ao semelhante. Mas há o remédio eficaz: a fraternidade.
Em uma sociedade ideal, a pratica do bullying não pode existir, e os responsáveis por extinguir essa moléstia que causa dor, sofrimento, danos psicológicos e infinitos males a um sem número de pessoas, devem ser os pais; porque será observando, repreendendo e orientando o comportamento de seus filhos que irão educá-los a viver em um mundo onde o respeito reina soberano. Achar bonito e engraçado criança contando piadas que desmerecem determinadas pessoas, religiões, grupos sociais, é alimentar a popularização do bullying, por isso, necessário atenção total para o comportamento do filho.
Crianças que aprendem no seio familiar valores como fraternidade e respeito ao próximo, certamente serão adultos conscientes, e que, saberão acima de tudo respeitar as diferenças; e respeitando as diferenças, inexistirão constrangimentos, humilhações, ridicularizações que fazem a tristeza de muita gente.