BEZERRA DE MENEZES: O APÓSTOLO DA CIÊNCIA ESPÍRITA

BEZERRA DE MENEZES: O APÓSTOLO DA CIÊNCIA ESPÍRITA

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Vitor Ronaldo Costa

(vitorrc@brturbo.com.br)

O respeitado médico espírita brasileiro pode ser considerado o pioneiro das pesquisas sobre obsessão espiritual. No século retrasado, ele sustentava conceitos inovadores e se utilizava de técnicas avançadas no desafiador campo da desobsessão espírita

O Dr. Adolfo Bezerra de Menezes é tido na conta de um dos precursores da medicina espírita brasileira. Entre os inúmeros aspectos da doutrina, tão bem vivenciados por ele, destaca-se a sua participação no campo experimental da mediunidade. Ele era um estudioso sistemático da obsessão espiritual e, por ter sido médico, preocupava-se com a terrível repercussão dessa enfermidade pandêmica capaz de levar à loucura. Doença desconhecida dos psiquiatras, a obsessão, em todas as épocas, sempre acometeu incontável número de pacientes que se amontoavam nos hospícios, sujeitos às impregnações psicotrópicas, porém, desprovidos daquela assistência e orientação condizentes, puramente morais, assinaladas na codificação espírita.

No modo de ver do conceituado médico, dois fatores poderiam contribuir para deturpar o pensamento do alienado mental: lesão encefálica ou influência obsessiva dos desencarnados.

Bezerra de Menezes nasceu em 1831, mas, em 1886, diante de uma distinta platéia de aproximadamente duas mil pessoas da sociedade carioca, declarou-se espírita e passou a defender a tese que o imortalizaria na condição de lídimo pesquisador do campo científico da doutrina: “A Loucura Sob Novo Prisma”, à disposição dos leitores em consagrada edição da FEB.

Levando-se em conta, à época, a influência da religião dominante, a postura inflexível da ciência para com a espiritualidade, era preciso muita grandeza de alma para sustentar uma tese revolucionária, capaz de abalar não só os alicerces da Medicina, mas descortinar, sobretudo, novos horizontes para a ciência espírita. “A alma é quem possui, no homem, a faculdade de pensar, tendo, por suas relações com o corpo, enquanto lhe estiver presa, necessidade do cérebro, para transmiti-lo, donde a inevitável coação, toda a vez que o instrumento não estiver em boas condições” (1).

A codificação espírita acena com a realidade pluridimensional do ser encarnado ao admiti-lo constituído de alma, perispírito e organismo físico. Do espírito provém a energética propulsora da vida. O pensamento é atributo da alma, e não do cérebro, como entendem os neuro cientistas afeiçoados aos postulados materialistas. A alma, na qualidade de reflexo da divindade, mantém-se íntegra, jamais enlouquece, sendo assim, se o pensamento apresenta-se gravemente perturbado, deve-se a duas hipóteses: presença de lesão cerebral ou interferência externa no livre curso do pensamento, a exemplo do que acontece na loucura por obsessão espiritual. Uma disfunção do metabolismo neurotransmissor ou a presença de lesão congênita do encéfalo podem justificar o surgimento de transtornos psicóticos e de retardo mental. Todavia, o Dr. Bezerra de Menezes salientava em sua tese a existência de casos bem caracterizados de alienação mental na ausência de lesão encefálica, elucidando que os obsessores costumam lançar mãos de artifícios sofisticados contra as suas vítimas, a exemplo do emprego da sugestão hipnótica, cujo objetivo não é outro senão interferir no livre curso do pensamento, distorcendo-o a ponto de torná-lo incoerente, em tudo semelhante aos transtornos psicopatológicos descritos nos manuais de psiquiatria.

Aprofundando a exaustiva análise sobre o assunto, pondera o ilustre médico espírita que a obsessão de longa data não tratada adequadamente pode deixar como sequela, apreciável embotamento da atividade intelectual do sujeito. E com a humildade típica de um grande cientista, ele comenta o grave transtorno obsessivo que acometeu o seu próprio filho e as consequências decorrentes da ação nociva engendrada pelo vingador: “O moço era vítima de seus abusos noutra existência, continuou a sofrer a perseguição, e por tanto tempo a sofreu, que seu cérebro se ressentiu, de forma que, quando o obsessor, afinal arrependido, o deixou, ele ficou calmo, sem mais ter acessos, porém não recuperou a vivacidade de sua inteligência. O instrumento ainda não se restabeleceu.” (2) Tem-se aqui uma idéia da importância do diagnóstico espiritual precoce, pois, uma vez comprovada a existência de obsessão, o paciente vítima de alienação mental não ficará exposto à ingestão desnecessária e prolongada de psicotrópicos potentes, assim como envidar-se-ão esforços no sentido de reduzir a atuação fluídica nefasta, persistente e demorada a repercutir no campo orgânico, minando a capacidade intelectiva do sujeito. Mesmo que a obsessão espiritual seja um diagnóstico confirmado, qualquer sintoma ou sinal de enfermidade orgânica deverá ser imediatamente corrigido pelo clínico. Muita vez, um local de menor resistência no campo físico serve de porta de entrada para um obsessor. “Sendo assim, é sabido que os Espíritos malignos entram pela porta que lhes abrem as moléstias do corpo, desde que as do espírito concorram, é óbvio que, embora a cura daquelas nada influa sobre o que já entrou, embaraçará os que estão fora. E eis porque é de rigor curar-se a lesão de qualquer órgão doente dos obsidiados.” (3)

Felizmente existe uma alternativa capaz de evitar o desarranjo do instrumento cerebral em virtude da ação obsessiva: buscar o auxílio do Espiritismo com a finalidade de se promover o diagnóstico espiritual precoce, pois a medicina se encarregará de diagnosticar aquilo que se manifestar no corpo físico. “Vê-se, portanto, quanto importa, diante de um caso de loucura, fazer de pronto o diagnóstico diferencial, para que, se for obsessão, não chegue esta a desorganizar o cérebro, que é o órgão atacado pelo obsessor. Ora, não tendo a Ciência meio seguro de fazer aquele diagnóstico, mesmo porque só existe para ela a loucura, é óbvio que devemos procurar recursos, para verificarmos se existe a obsessão, no Espiritismo científico.” (4)

Na visão de Bezerra, a terapêutica medicamentosa é impositiva nos casos de lesão cerebral (foco epileptiforme, por exemplo), pois, se houver o devido controle do dano encefálico ou do metabolismo neurotransmissor, ficará minimizada a atuação obsessiva sobre a área encefálica. Poderá até permanecer a influência espiritual, porém sem os sintomas do transtorno neurológico ou psíquico. “Na maior parte dos casos, enquanto o Espírito obsessor não tem ainda dominado o Espírito ou a vontade de sua vítima, a cura do órgão doente fecha a porta à maléfica influência.” (5) Esse raciocínio é válido para qualquer outro órgão ou sistema do organismo; além do mais, serve de lembrete para aqueles que imaginam que os espíritos têm a obrigação de curar qualquer manifestação enfermiça ao alcance da medicina prática.

Levando-se em conta que a desobsessão espírita resulta de um esforço afinado entre as forças da Terra e do Céu, é desejável a nossa ligação com um mentor, uma inteligência que, do Plano Maior, se responsabilize pela supervisão adequada dos trabalhos desobsessivos. “O método que seguimos, sempre com resultado, é consultarmos, mediunicamente, a um Espírito, que do espaço faz a caridade de receitar para os homens doentes, sobre a natureza da alienação mental, no caso que se nos apresenta, e procedermos à contraprova do que recebemos em resposta.” (6)

Além da terapêutica médica, quando esta se impõe, e da desobsessão espiritual, objetivando a evangelização do Espírito vingativo, a outra iniciativa volta-se para o próprio obsidiado. É preciso moralizá-lo, orientá-lo, para que ele próprio, mediante circunstanciada revisão de suas atitudes, viciações e maus pendores, demonstre interesse em modificar-se. “…devem-se empregar todos os meios de moralizar o Espírito do obsidiado, fazendo-lhe ver que seus defeitos, seus vícios, seus maus sentimentos, tudo o que não é conforme com os preceitos do Evangelho, atrai para junto de si nuvens de Espíritos, que se aprazem com aqueles elementos do mal, assim como afasta de si os bons Espíritos, seus protetores, donde ficar ele a mercê dos que só não fazem mal quando não podem.” (7)

No entanto, alguém pode objetar a impossibilidade de um alienado mental comunicar-se verbalmente, o que nos impediria o diálogo moralizador. Diante de tal conjuntura, o que fazer para orientar o paciente? Bem, o bom senso nos diz que, primeiramente, deveremos cuidar do caso em caráter de emergência na tentativa de livrar o obsidiado da opressão imposta pelo obsessor. Caso consigamos afastá-lo, é bem provável que o paciente recobre, aos poucos, a sua integridade mental, tornando-se permeável às nossas sugestões moralizadoras. Porém, de acordo com Bezerra, a prática espírita nos permite alternativa, qual seja a de se evocar o Espírito do enfermo e tentar a sua moralização via mediúnica. “Já dissemos que o Espírito não enlouquece e que a loucura consiste, não na perturbação do pensamento, mas, sim, na sua manifestação. Sendo assim, e visto que os Espíritos, quer desencarnados, quer encarnados, acodem à evocação, sempre que é feita no intuito do bem, eis como se consegue moralizar um louco ou obsidiado. Em nossos trabalhos experimentais, temos tido inúmeras ocasiões de evocar o Espírito de pessoas obsidiadas, para moralizá-las, e sempre que as encontramos dóceis aos nossos conselhos, temos conseguido romper as trevas da inconsciência que as envolvia.” (8)

Como ficou visto, Bezerra de Menezes, em pretérito não muito distante, além de se distinguir na qualidade de estudioso da ciência espírita, buscava, no campo experimental, recursos significativos, tudo com o objetivo maior de bem atender os casos complexos de obsessões espirituais. Todavia, na contemporaneidade, é impositivo que os dirigentes de trabalho mediúnico se esmerem na pesquisa da obra kardeciana, para bem conhecer os meandros do assunto e as inúmeras possibilidades ao seu dispor. Estudos continuados, vontade de servir à causa do bem e honestidade de propósitos formam o trio de excelência na estrada infinita do conhecimento superior disponibilizado em favor da harmonia humana.

Vitor Ronaldo Costa

Fonte: Medicina e Espiritualidade

Bibliografia:

  • (1) MENEZES, Adolfo Bezerra de. A Loucura Sob Novo Prisma, cap. III, pág. 149, 4ª edição, FEB.
  • (2) Idem, pág. 175.
  • (3) Ibidem, pág. 179.
  • (4) Ibidem, pág. 175.
  • (5) Ibidem, pág. 178.
  • (6) Ibidem, pág. 177.
  • (7) Ibidem, pág.179.
  • (8) Ibidem, pág. 180.
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