Atendimento Fraterno na Internet

Atendimento Fraterno na Internet –
Renato Costa –

Em mais de uma ocasião, quando escrevíamos em listas espíritas, aparecia uma irmã ou um irmão reclamando que pessoas andavam escrevendo à lista para pedir auxílio espiritual e que o objetivo da lista era o estudo da Doutrina, devendo o atendimento fraterno ser feito apenas nas casas espíritas.

Sempre discordamos da opinião de tais irmãos e irmãs e várias vezes dissemos que o único motivo que nos levava a escrever em tais listas era tentar ajudar a quem necessitasse, no limite de nossas possibilidades. Infelizmente, cada vez menos necessitados passaram a procurar as listas que frequentávamos, talvez melindrados por tais comentários, o que nos acabou levando a abandoná-las.

Neste pequeno artigo tentaremos dizer o que pensamos sobre atendimento fraterno em listas e foros espíritas na Internet.

Uma pessoa passando por sérios problemas físicos ou emocionais e que ainda esteja em estágio evolutivo pouco avançado não vai pegar O Livro dos Espíritos ou O Evangelho Segundo o Espiritismo para estudar e discutir com os outros seu entendimento, em meio às suas aflições e angústias. O Senhor Jesus repreendia os eruditos fariseus por não estudarem convenientemente a Lei e os Profetas e por não colocarem em prática os ensinamentos contidos em tais obras, mas jamais disse aos homens do povo, doentes e miseráveis, que O procuravam aflitos, que fossem estudar as Escrituras, nem que procurassem ajuda nas sinagogas ou em outra parte.

Quando chega um enfartado no Pronto Socorro do hospital, o médico de plantão não o manda voltar para casa para cuidar da sua saúde, aprender a se alimentar com equilíbrio e fazer exercícios regulares. Não, primeiro ele cuida do enfartado para evitar o agravamento do quadro doentio e, somente após o doente estar fora de perigo, é que ele dá as orientações preventivas.

Pessoas que não vão a uma casa espírita por vergonha ou preguiça valem-se do anonimato da Internet para nos revelar suas mazelas e pedir conselhos. Repreendê-las, dizendo estarem elas no local inadequado, encaminhando-as, a seguir, a uma casa espírita, não só se constitui em falta de caridade cristã, como vimos, mas até na falta de um bom senso que a medicina humana possui e põe em prática.

Tal atitude, ao invés de lograr o encaminhamento do necessitado a um centro espírita, como o conselho dado procura orientar, fará, no mais das vezes, que o mesmo procure auxílio alhures na Internet, o que, talvez, se dê em listas de outras crenças onde ele seja bem recebido e amparado, mas onde não terá o esclarecimento que a Doutrina Espírita possibilita.

Quando respondemos a um questionamento de uma pessoa que se encontra em situação difícil, devemos, como Cristãos e como Espíritas, socorrê-la com o melhor que temos dentro de nós, mesmo que isso não seja mais que umas pobres palavras ou uma manifestação de carinho. Se o necessitado demorar a se equilibrar, sejamos pacientes com ele. Nossos guias espirituais estão conosco há séculos, talvez milênios, e nunca desistiram de nós.

Saibamos ser, nós, os guias daqueles que nos procuram pedindo ajuda, não importa se isso nos tomar horas, dias, meses ou seja lá o tempo que for. Somente ao vermos restabelecido um mínimo de equilíbrio emocional no necessitado é que poderemos encaminhá-lo a uma casa espírita. Caso ele vá e queira nos contar suas experiências e impressões, saibamos escutá-lo com a mesma calma e atenção com que um pai deve escutar o filho pequeno contando o que fez na escola. Um momento chegará quando nosso protegido se sentirá bem, seguro consigo mesmo, e, quando isso ocorrer, ele não mais nos procurará. Teremos feito, então, o que era esperado de nós pela espiritualidade maior.

A Internet é uma tecnologia maravilhosa que aproxima de nós pessoas fisicamente distantes, ampliando enormemente nossas oportunidades de servir. Saibamos fazer bom uso dessa tecnologia e façamos de nosso endereço de e-mail, das listas e dos foros que frequentamos uma extensão do atendimento fraterno da casa espírita.

Dizem alguns que nada iguala o olho no olho, o contato pessoal. É verdade, não há dúvida. No entanto, muitos perturbados sequer conseguem relatar a alguém os problemas cruéis que os atormentam, sentindo tamanha vergonha de si mesmos que preferem se esconder sob apelidos no anonimato das listas e foros virtuais. Aproveitemos essa oportunidade e sejamos cristãos. Como nos ensinou o Mestre, de nada vale a lâmpada escondida debaixo da mesa. Uma lista de estudos onde não há lugar para os necessitados é uma lâmpada debaixo da mesa. Coloquemos nossa lâmpada no ponto mais alto da sala para que ela espalhe claridade em todo o ambiente.

Que a nossa lista ou foro na Internet seja como a casa espírita, de porta sempre aberta para todos que a ela venham, seja por qual motivo for.

Artigo publicado originalmente em O Espírita Fluminense, Ano L, No 306, maio/junho de 2006

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